No museu da pandemia

10/06/2020

10jun2020

Definitivamente, a humanidade fracassou…, ela pensou, triste

NO MUSEU DA PANDEMIA

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No museu, mãe e filho viram muitas coisas, e a criança se impressionara com a animação que mostrava a terrível pandemia de covid-19 como uma reação da Terra às atitudes antiecológicas do Homo sapiens. E ela se horrorizou com as notícias falsas espalhadas durante o caos. Definitivamente, a humanidade fracassou…, ela pensou, triste. Na saída, o filho viu o monumento aos profissionais de saúde mortos na defesa da população e lhe sussurrou: Mãe, quero ser enfermeiro pra cuidar das pessoas na próxima pandemia. Ela não soube o que dizer. Não, tive uma ideia melhor, ele continuou, vou ensinar as pessoas a respeitarem o planeta, pra não ter outra pandemia. Ela sorriu e o abraçou, pedindo perdão em silêncio por seu pessimismo, e uma lágrima de esperança brotou em seu olho. O futuro era uma criança…

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Ricardo Kelmer 2020 – blogdokelmer.com

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MAIS MINICONTOS

AMetamorfose-01A metamorfose – Pai, filho e o fundo do poço

Desculpem o atraso – Ela, o feminismo e o BDSM

A última mensagem – Aprendendo sobre amor e perdão

Literalmente – O sentido dos textos e da vida

Prazer proibido – Essas mães e suas filhas…

Cem vezes mais – Deus é fiel, tá sabendo?

No museu da pandemia – Definitivamente, a humanidade fracassou…, ela pensou, triste

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O machismo contra o futuro do planeta

27/09/2019

27set2019

Nosso futuro como espécie passa necessariamente pela luta das mulheres por seus direitos e pela preservação do único lar que temos


O MACHISMO CONTRA O FUTURO DO PLANETA

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“É uma histérica, mal-amada”. “Ela precisa de sexo, de um homem”. “Vá fumar sua maconha lá na Suécia”. Foi com estas palavras que, nesta semana, o radialista Gustavo Negreiros, da 96FM, de Natal-RN, referiu-se a Greta Thunberg, a ativista ambiental sueca que tornou-se porta-voz dos movimentos mundiais que lutam por mudanças urgentes nas políticas climáticas governamentais e que discursou esta semana na ONU. Detalhe: Greta tem 16 anos.

A lamentável atitude do radialista, conhecido em Natal por ser fervoroso defensor de Jair Bolsonaro, é típica de uma mentalidade machista, que busca desqualificar as mulheres que ousam ter voz ativa e lutam por igualdade de gênero. Após a imensa repercussão que sua fala teve, o radialista pediu desculpas, mas não adiantou: o programa perdeu seus patrocinadores e ele foi demitido. Que sirva de lição aos misóginos.

Ao mandar Greta fumar sua maconha lá na Suécia, o radialista repete xingamentos típicos dos que associam o pensamento progressista de esquerda a devassidão e pecado. Para essas pessoas, todo socialista ou defensor da democracia é um drogado que financia o narcotráfico, exatamente como faz o governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel, ao culpar o usuário de maconha pela violência em seu estado. É um raciocínio raso, que ignora que a política proibicionista é que sustenta o tráfico de drogas, proporcionando muito lucro a policiais, advogados, juízes, políticos e até líderes de igrejas evangélicas que se aliam aos traficantes para expulsar outras religiões de suas comunidades.

Greta Thunberg, que este ano foi indicada ao Nobel da Paz, tem limitações causadas por um tipo de autismo, mas isso não a impede de liderar manifestações e discursar para multidões. Ela representa a juventude que cansou dos discursos vazios dos governantes e se organiza cada vez mais, em diversos movimentos espalhados pelo mundo, para exigir políticas mais efetivas em relação à crise ecológica. Seu discurso na ONU já é considerado por analistas internacionais um dos mais fortes da história da organização.

Isso, obviamente, desagrada aos interesses do grande capital, que em sua ganância desenfreada por lucro, não se importa com a saúde do planeta. No Brasil, o governo Bolsonaro, apoiado pelo agronegócio, pecuaristas e mineradoras, é um perfeito exemplo desse perigoso descaso. A propósito, o deputado federal Eduardo Bolsonaro, que o presidente quer emplacar como embaixador nos Estados Unidos, fez uma postagem no Twitter com informação e foto falsas sobre Greta. É uma atitude deplorável, mas, partindo da familícia, que se elegeu graças à estratégia de espalhar mentiras como a mamadeira de piroca, esse jogo sujo não surpreende. Assim como o radialista demitido e o deputado fritador de hamburguer, muitos outros misóginos da direita mundial tentam agora desqualificar Greta, até mesmo Donald Trump, com xingamentos e comentários chulos e preconceituosos.

Nosso futuro como espécie passa necessariamente pela luta das mulheres por seus direitos e pela preservação do único lar que temos. Que mais Gretas surjam. Que as crianças e adolescentes de hoje nos salvem do pesadelo maior de amanhã.
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Ricardo Kelmer 2019 – blogdokelmer.com


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VEJA O VÍDEO

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GRETA THUNBERG NA WIKIPEDIA

EDUARDO BOLSONARO PUBLICA INFORMAÇÃO E FOTO FALSAS SOBRE GRETA THUNBERG – UOL, 26.09.19

NÍVEL DO MAR AUMENTA 2,5 VEZES MAIS RAPIDAMENTE, APONTA RELATÓRIO – O Povo, 26.09.19

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LEIA MAIS NESTE BLOG

O urgente resgate do feminino – Reconhecer e integrar em si o feminino é uma questão urgente do nosso tempo, e tem implicações gerais, até mesmo no campo da ecologia

O menino e o feminino misterioso – Esse instante numinoso em que o feminino sagrado mostrou-se para mim, sob a meia-luz de seu imenso mistério

Xamanismo de vida fácil – A tradição xamânica dos povos primitivos experimenta uma espécie de retorno, atraindo o interesse de pesquisadores e curiosos

WikiLeaks e o nascimento da cidadania global – Quanto mais as pessoas se conectam à internet, mais elas se entendem como participantes ativos dos destinos do mundo e não apenas de seu país

Medo de mulher – A mulher é um imenso mistério, que o homem jamais alcançará

A mulher selvagem – Ela anda enjaulada, é verdade. Mas continua viva na alma das mulheres

Marchando com as vadias – Se ser vadia é ser livre para exercer a própria sexualidade, então todas as mulheres precisam urgentemente assumir sua vadiagem, para o seu próprio bem e o de suas filhas

> mais sobre Terra
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Um tempo para pensar no tempo

18/12/2017

18dez2017

Se pensamos sobre o tempo, logo não sabemos mais o que ele é

UM TEMPO PARA PENSAR NO TEMPO

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O tempo… Eis um tema instigante. Eu sei o que é o tempo. Você também sabe, todos sabemos. Porém, olha que curioso, se pensamos sobre o tempo, logo não sabemos mais o que ele é.

Para você, que me lê agora, o tempo vai do passado em direção ao futuro, ou vem do futuro e se faz passado? Ou você acha que o tempo não vem e nem vai para lugar algum, que ele é apenas um produto do estar-se vivo?

E o presente, quanto tempo exatamente ele dura? Um segundo? Um décimo de segundo? Um milionésimo de segundo? Tsc, tsc… Medir o tempo presente é impossível, pois qualquer medida será sempre divisível. Ou seja, o agora exato é uma mera abstração. Mas… se o passado já passou, o futuro ainda não chegou e o presente jamais será localizado, o que existe então?

Sabe as estrelas no céu? O que, de fato, você vê é a luz delas que chegou à Terra após uma viagem de muitos anos. Ou seja, o que você vê é o passado da estrela. Talvez ela já tenha desaparecido e só agora sua luz nos chegou. Aliás, tudo que você vê é passado, pois a luz emitida por qualquer objeto, inclusive essas palavras que você lê, demora um tempo, ainda que mínimo, para chegar às suas belas retinas. Na verdade, todas as suas percepções da realidade ocorrem em sua mente um tempo após seus sentidos captarem a imagem, o som, o sabor, o toque, o odor. Nem seu próprio pensamento escapa: quando você percebe que está pensando, já se passou um tempo, ainda que minimíssimo, desde o pensamento original. Isso significa que nossa consciência nunca está no mesmo tempo exato da realidade que acontece.

Vi recentemente o filme A Chegada (Arrival, do diretor Dennis Villeneuve), que é baseado no conto História da Sua Vida, de Ted Chiang, que li após ver o filme. A história é sobre a vinda de misteriosos seres extraterrestres à Terra. Uma renomada linguista é chamada pelos militares para, com ajuda de um matemático, tentar se comunicar com os alienígenas. Enquanto decifra a estranha linguagem dos visitantes, ela percebe que somente compreendendo o tempo de um modo diferente conseguirá realmente entendê-los e, assim, evitar um gravíssimo conflito internacional e definir o futuro da humanidade. Gostei muito do filme, e ainda mais porque desconfio seriamente que estamos próximos de uma descoberta decisiva sobre a natureza do tempo, e que isso poderá conduzir nossa espécie a um novo patamar evolutivo. Precisaremos que inteligências extraterrestres venham nos ensinar?

A teoria da reencarnação é uma ideia sedutora, pois admite a continuação da consciência na sequência do tempo, enquanto o corpo físico nasce, morre e renasce em vidas sucessivas. Porém, essa ideia está presa ao tempo linear, que não admite o conhecimento do futuro. Mas… e se for possível acessar o futuro, nem que seja apenas num lampejo de pensamento? Se é possível, e se existe a reencarnação, então por que não seria possível acessarmos uma vida nossa no futuro? Considerando essa possibilidade, o eu que fomos numa vida anterior poderia perfeitamente acessar esta nossa vida atual, como se fosse uma “lembrança” do futuro. Isso seria admitir que a consciência pode atuar em variados níveis de realidade espaço-temporal, uma ideia difícil de conceber, mas que é simpática a muita gente.

Inclusive gente doida como eu, que faz você ler isso tudo para, no fim, chegar à retumbante conclusão de que não sabemos absolutamente nada sobre o tempo, e que, por esse motivo, pensar sobre o tempo é a mais pura perda de tempo. Ou não?

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Ricardo Kelmer 2017 – blogdokelmer.com

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DICA DE LIVRO

O Irresistível Charme da Insanidade
Ricardo Kelmer – romance

Dois casais, nos séculos 16 e 21, vivem duas ardentes e misteriosas histórias de amor, e suas vidas se cruzam através dos tempos em momentos decisivos. Ou será o mesmo casal? Nesta história, repleta de suspense e reviravoltas, Luca é um músico obcecado pelo controle da vida, e Isadora uma viajante taoísta em busca de seu mestre e amante do século 16. A uni-los e desafiá-los, o amor que distorce a lógica do tempo e descortina as mais loucas possibilidades do ser.

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LEIA NESTE BLOG

Guia de Sobrevivência para o Fim dos Tempos (contos) – O que fazer quando de repente o inexplicável invade nossa realidade e velhas verdades se tornam inúteis? Para onde ir quando o mundo acaba?

O redemoinho do fim do mundo – É provável que estejamos à beira de um grandioso marco evolutivo, onde a Humanidade alcançará o clímax dessa aceleração das transformações

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DICA DE FILME

A CHEGADA (The Arrival, EUA, 2016)

Gênero: Ficção científica, drama, mistério
Direção: Denis Villeneuve
Roteiro: Eric Heisserer, baseado no conto História da sua vida, de Ted Chiang

Elenco: Amy Adams, Jeremy Renner, Forest Whitaker
Música: Jóhann Jóhannsson
Edição: Joe Walker

> Na Wikipedia

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TRÊILER DO FILME “A CHEGADA”

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01- muito bom! Conversas para as madrugadas… rsrs. Adorei o filme Arrival! Ana Claudia Domene Ortiz, Albuquerque-EUA – nov2017

02- Mestre! Me instigou a ver o filme! E nunca é perda de tempo ler vc! Kkkk bjks. Deise Carmo, Rio de Janeiro-RJ – nov2017

03- Amei ler isso mizifi RK. Não estou sozinha com minhas perguntas…. Zete More, Fortaleza-CE – nov2017

04- Bem precisamos de uma descoberta sobre a natureza do tempo, essa coisa que se mede em espaço… Porque a humanidade está num ponto de não retorno. Mais do que lugares para fugir ou regressar, precisamos de sair da linha reta e abraçar as curvas musculadas de Kronos. Susana Mota, Leiria-Portugal – nov2017

05- Tenho um livro aqui pra vc ler: O Espaço, o tempo e o Eu. Eu , Rômulo, Braulio Tavares e outros amigos costumávamos ler em voz alta, juntos, e conversar esses papos loucos que o “tempo” nos instiga. Isso rolava pela madrugada e só era interrompido quando eu servia um “arroz biônico”, prato delicioso feito com tudo que havia na geladeira. E a “plantinha” garantia o apetite.😎 Precisamos fazer isso juntos. Íris Medeiros, Campina Grande-PB – nov2017

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A chinesinha caçadora de Pokémons

22/08/2016

22ago2016

Essa nova mania mundial, que leva chinesinhas desesperadas a abordar escritores solitários pelas esquinas

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A CHINESINHA CAÇADORA DE POKÉMONS

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Duas da madrugada na Vila Madalena. Chego no carrinho do chinês, peço um yakissoba médio e sento no banquinho de plástico. Tem uns bons meses que não eu vou ali matar a larica de fim de noite. O carrinho fica numa esquina movimentada, e quem prepara a iguaria é um chinês de óculos, sempre compenetrado. Ele não é de muito papo, mas gostei dele de primeira. Uma noite, me disse seu nome (eu entendi Uantunkom, ou algo próximo disso) e contou, em seu esforçado português, que veio há alguns anos ao Brasil com a mulher e as duas filhas pequenas, e que sente saudade de sua terra.

Enquanto degusto meu yakissoba, servido naquelas embalagens de isopor para sanduíches, observo os agitos da rua, pessoas e carros brigando por espaço, o entra e sai dos bares. Como sempre, compõem a paisagem centenas de adolescentes embriagados e barulhentos, e me lembro que Uantunkom não nutre muita simpatia por eles. Ele também não é exatamente fã das meninas brasileiras, que lhe parecem independentes e eróticas demais, e não quer que suas filhas sejam como elas.

De repente, a filhinha mais nova dele se aproxima. Deve ter nove ou dez anos. E me pergunta: Seu celular caça Pokémons? Pergunta em bom português, olhando para mim com seus olhinhos de chinesinha linda, e surpreendo-me de vê-la tão crescida. Sorrio para ela, enternecido, respondo que não e pergunto se o celular dela não caça. Não, ele é ruim, você deixa eu caçar no seu, é só baixar o aplicativo, se quiser eu baixo pra você, qual é o seu celular, ele tem gúgol plêi?

Nesse momento, percebo estar diante de uma determinadíssima caçadora de Pokémons, essa nova mania mundial, que passará em mais alguns dias, claro, mas que atualmente leva chinesinhas desesperadas a abordar escritores solitários pelas esquinas, contrariando as ordens do pai de não perturbar os clientes. Passo meu celular para ela, e rio comigo mesmo, me divertindo com a ideia de fazer parte desse decisivo momento evolutivo da espécie humana, nossa transição para a fase Homo pokemonus.

Antes que eu finalize meu rango, a chinesinha já acessou a loja e baixou o aplicativo, numa destreza que eu jamais terei na vida. Porém, nem começa a jogar, pois seu pai a chama, acho que ele não estava gostando muito daquela história. A pequena caçadora recolhe-se a um canto e fica lá, quietinha, ela e seu celular ruim. Pago o yakissoba, agradeço a Uantunkom e vou embora. Antes, faço questão de me despedir da chinesinha, tchau, sucesso nas caçadas, viu? Ela nem me olha: faz que sim com a cabeça e continua lá, imersa em seu mundinho eletrônico particular, enquanto três meninas chegam para comer, elas e seus microvestidinhos que mais revelam que escondem.

Volto para casa caminhando sem pressa, curtindo o friozinho da madrugada e lembrando de Uantunkom e de sua luta diária para proteger as filhas dos terríveis males da cultura brasileira. Talvez ele tenha êxito na construção de sua grande muralha, afinal os chineses são conhecidos por sua férrea disciplina. Mas contra a invasão Pokémon, ah, isso ninguém pode.

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Ricardo Kelmer 2016 – blogdokelmer.com

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LEIA NESTE BLOG

MeuFuturoDePopistarCristao-02bMeu futuro de popistar cristão – Meus shows seriam superanimados, sempre acompanhados de meu time de ruivinhas cristãs de minissaia, as Noviças Viçosas

Quem poderá me salvar – Heroínas e heróis da minha vida

A celebração da putchéuris – A história fuleragem da Intocáveis Putz Band

Ser mulher não é pra qualquer um – É dada a saída, lá se vai o trenzinho. Num vagão, as Belas, abalando nos modelitos, no outro, as Madrinhas, abalando com o isopor e o estojinho de primeiro-socorro

Breg Brothers com fígado acebolado – Encher a cara, curtir dor de cotovelo e brindar a todas as vezes em que fomos cornos…

O dia em que morri no Rock in Rio – O primeiro baseado que fumei daria um filme. Um não, vários

Cauby, eu sou seu ídolo – Cauby, poderoso, tem o gesto exato pra cada momento, seja pra pedir o solo do teclado, seja pra tirar o lencinho do bolso e enxugar a testa

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01- mais um texto que julga a roupa da mulher. Nina Ka, São Paulo-SP – ago2016

RK: Obrigado por comentar, Nina Ka. Em nenhum momento o texto emite qualquer julgamento sobre a roupa das mulheres. Ele apenas reproduz a impressão que um imigrante chinês tem da cultura brasileira e do jeito de vestir das meninas que frequentam as baladinhas da Vila Madalena. Talvez você não conheça meu trabalho e minhas ideias pessoais sobre machismo, sexualidade e liberdade feminina. Se tiver interesse, em meu blog há vários textos sobre essas questões.

02- Olha… li o texto… e vi um comentario q pareceu-me mais uma parte discritiva da cena… nao vi um julgamento aí! Patrícia Hakkak, São Paulo-SP – ago2016

03- adorei muito mais o texto, leve, descontraído sobre temas tão presentes no nosso cotidiano. O novo e o antigo, um explodindo de fome do mundo, de novidade e o outro com medo deste mesmo mundo, achando que pode conter o ritmo da vida. Uma mecânica tão antiga. Como dizia Belchior “o novo sempre vem”. Linda crônica, leva a diversas reflexões. Michele SJ, Fortaleza-CE – ago2016

04- Eu amo o Yakissoba desse tiu (eu chamo ele assim) …conheci a filha mais velha dele quando era do tamanho da mais nova. Outro dia fui comer lá e ela me abordou toda falante, perguntando se eu tb era de aquário…hahaha. Achei mto legal encontrar um texto falando sobre ele! NyNa Zêni, São Paulo-SP – ago2016

05- Parabéns pela crônica, Ricardo Kelmer! Texto leve, gostoso de ler até o fim, trazendo a emoção da cena para os leitores atentos e sensíveis (adorei o homo pokemonus rsss!). Mônica Mello, Rio de Janeiro-RJ – ago2016

06- Maravilha de texto, Kelmer. Só agora li. Brennand De Sousa Bandeira, Fortaleza-CE – ago2016

07- Essa evolução para pokemonus está te caindo bem! Alexandre Domene Ortiz, Fortaleza-CE – ago2016

08- ” …microvestidinhos que mais revelam do que escondem…” achei uma lisonjeira safadeza do autor. Aí se todos fossem safadinhos iguais a vc!!!! Bjs. Michele SJ, Fortaleza-CE – ago2016

09- Muito bom !!!! Mario Rolim, Rio de Janeiro-RJ – ago2016

10- RicKelmer, você é um ponto!!!! Gíria portuguesa. … Cara, seu texto é inspirador. Ozi Garofalo, São Paulo-SP – ago2016

11- lembro bem da gente nesse chinês! Super-bom! Renata Regina, São Paulo-SP – ago2016

12- Muito bom. Liz Rabello, São Paulo-SP – ago2016

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Portugal, 2a temporada

15/07/2016

15jul2016

Trinta e cinco dias de música e literatura em terras portuguesas

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PORTUGAL, 2a TEMPORADA

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Entre 15 de maio e 19 de junho de 2016 eu estive novamente em Portugal, dessa vez com meu parceiro Felipe Breier, a realizar uma temporada musical-literária, com apresentações do Vinicius Show de Moraes e sessões de autógrafos dos meus livros, incluindo o mais recente, Versos Safadinhos para Noites Românticas ou Vice-versa.

Minha irmã Ana Érika nos hospedou em Braga, no norte do país, e nesse período nos apresentamos dez vezes em três cidades. Em Braga, as apresentações aconteceram na Associação Cultural Sol em Movimento, no restaurante Caldo Entornado, no bar Notre Dame, na livraria Mavy, na livraria Centésima Página e no Rossio Café Bar. Na Lousã, foram no Parque Carlos Reis e no 94 Bar, e na cidade do Porto, elas aconteceram nos espaços culturais Gato Vadio e Casa Bô. Fizemos também uma apresentação informal na casa dos amigos Neto e Virgínia, na Lourinhã. A capital Lisboa ficou de fora por não dispormos de bons contatos e uma estrutura de apoio suficiente lá, mas quem sabe dê certo numa futura temporada.

Fomos carinhosamente recebidos e fizemos muitas amizades. Agora, de volta, temos dentro de nós um tanto da alma portuguesa, e isso nos enriquece. Obrigado a todos que nos ajudaram. Um obrigado especial a Ana Érika, Caiote, Juliana, Susana, Andrea, Elisabete, Graça, Alex e Adriana.

A sensação é de gratificação: nossa proposta de unir música e literatura brasileiras num concerto para bares e livrarias foi bem aceita, mais do que prevíramos. Para o escritor que sou, saber que em Portugal ficarão vários livros meus e vários novos leitores, uau, isso é bom demais. E como é bom constatar que Vinicius de Moraes ainda vive na memória afetiva de boa parte do povo português. Saravá!

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> A 1a temporada (dez2015 a jan2016) está aqui:
Ibéria, 1a temporada

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PORTUGAL, mai-jun2016

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De Lisboa, eu e Felipe fomos direto para Lourinhã, no litoral, comemorar o aniversário de minha amiga Virgínia. Lá, em sua casa, apresentamos trechos do Vinicius Show de Moraes para ela, Neto e seus amigos. Que noite deliciosa! Como presente de aniversário, bom cearense que sou, levei duas garrafas de Ypióca. Que ajudei a baixar, evidentemente.

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Com Felipe, Neto e Susana no Buddha Eden, em Carvalhal. Localizado na Quinta dos Loridos, o Buddha Eden é o maior jardim oriental da Europa, com cerca de 35 hectares, e foi criado em protesto contra a destruição dos Budas Gigantes de Bamyan, um dos maiores atos de barbárie cultural da história. Com seus enormes budas, pagodes, estátuas de terracota e esculturas cuidadosamente dispostas entre a vegetação, é uma obra impressionante. Para construí-la, foram usadas mais de 6 mil toneladas de mármore e granito.

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Evoé, Baco! No Buddha Eden. Por falar em vinho, em Portugal compra-se uma ótima garrafa de vinho (cheia, evidentemente) pelo equivalente a R$ 8. Putz… Desse jeito, até quem não bebe, bebe.

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Chegamos em Portugal sem nenhuma apresentação marcada. Tudo que tínhamos era o interesse de dois bares em Braga, que eu conhecera em minha primeira temporada portuguesa (dez2015 e jan2016). Uma tarde, na livraria Centésima Página, conhecemos uma brasileira, que nos levou para conhecer a Associação Cultural Sol em Movimento. Foi lá que, dias depois, fizemos a primeira apresentação pública do Vinicius Show de Moraes e a primeira sessão de autógrafos dos meus livros. Obrigado, Carla e Ângela.

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A segunda apresentação foi no Notre Dame, no centro histórico de Braga, um bar de inspiração gótica que toca muito rock dos anos 80. Foi uma noite bastante divertida, onde portugueses e brasileiros se confraternizaram no ritmo da bossa nova e do samba e na poesia de Vinicius. Obrigado, Pedro Bacelar.

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Com Felipe, concentrando com um saboroso Douro para a apresentação/sessão de autógrafos no restaurante Caldo Entornado, no centro histórico de Braga. Obrigado, Rodrigo e Inês.

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Quarta apresentação. Livraria Mavy, em Braga. Que, na verdade, é um bar, onde funcionava uma antiga livraria, vizinho a Sé, no centro histórico. Virou um delicioso snack bar, mas manteve o nome e boa parte da estrutura da livraria. Obrigado, Filipe Morgado.

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No fim de maio acontece a Braga Romana, festa que dura cinco dias e que relembra o tempo de dois milênios atrás, quando Braga integrava o Império Romano, evocando o seu cotidiano como Bracara Augusta, a cidade-capital da província da Galícia (ou Galécia, ou Galiza). Na foto, eu e minha querida amiga e sócia Marcinha, que durante uma semana esteve conosco, a impressionar os portugueses com seu charme e sua beleza.

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Estou num bar a me esquentar com um copo de vinho do Douro, quando de repente ela passa na rua, seguida de três músicos vestidos como árabes de há dois mil anos. Ela, a sinuosa dançarina, deslizando seu poético bailado para os meus olhos subitamente fisgados. Ah, a sedução do feminino… Mais embriagante que o melhor vinho.

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Na estação de comboios de Coimbra, a caminho da Lousã.

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Em Coimbra, com Felipe e a namorada Juliana, que nos acompanhou e ajudou na produção dos eventos.

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Ela, a imponente Universidade de Coimbra. Criada em 1290 e atualmente com cerca de 20 mil alunos, ela é a mais antiga de Portugal e uma das maiores universidades do país, oferecendo todos os graus acadêmicos em arquitetura, educação, engenharia, humanidades, direito, matemática, medicina, ciências naturais, psicologia, ciências sociais e desporto.

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SAUDADES DO BRASIL NA LOUSÃ

Situada a leste de Coimbra, Lousã é uma cidadezinha pequena, ladeada por serras onde dormitam dezenas de pequeninas aldeias semi-habitadas, que hoje são atração turística junto às trilhas ecológicas da região.

Na Lousã, eu e Felipe Breier nos apresentamos em duas noites, a primeira no Parque Carlos Reis, e a segunda no 94 Bar. Fomos recebidos com aquele tipo de hospitalidade e carinho que já não encontramos nos grandes centros urbanos, aquele benquererzinho que nos cativa e não dá vontade de ir embora nunca mais para sempre. Foi lá que apresentamos pela primeira vez Saudades do Brasil em Portugal, o fado que Vinicius fez para Amália Rodrigues e que está registrado na histórica gravação feita na casa de Amália, em 1968. Não somos fadistas, obviamente, mas fizemos do jeito que nossas almas sentem a melodia e a poesia dessa obra.

Na serra, serpenteando pelas curvas da estrada e visitando as aldeias praticamente abandonadas, senti, como explicar, algo assim como se cruzasse um portal do espaçotempo, e vivi sensações estranhas, de saber-me de lá, de pressentir mistérios que jamais desvendarei, de um dia ter que voltar… Lá, na aldeia de Catarredor, conheci Ana e Carlos, que nos receberam em sua psicodélica casinha feita de pedras de xisto, e com quem papeamos gostosamente num poético fim de tarde de sexta-feira, agraciados pela deslumbrante paisagem da serra. Ao saber do motivo que nos levara a Lousã, Carlos, em sua longa barba branca de ermitão do xisto, nos contou algo incrível: em 1972, no antigo Teatro Avenida, em Coimbra, ele assistiu a um show… de quem? De Vinicius e Toquinho. Uau, e você gostou?, eu quis saber, já impressionado. E ele: Sim, claro, eles eram muito bons, e nessa noite eu vi com meus próprios olhos: Vinicius bebeu duas garrafas de uísque. E não foi direto pro hospital, né?, completei, rindo com ele, eu transbordante de gratidão por aquele inusitado encontro.

Obrigado a todos que tão bem nos acolheram e apoiaram, em especial a Susana, Graça, Elisabete e Andrea. Obrigado ao grupo de teatro Barraca Preta, aos amigos do Parque Carlos Reis e ao Zé Artur. Lousã, eu voltarei, viu? Só para me perder novamente nas curvas misteriosas do teu espaçotempo.

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A psicodélica residência de Ana e Carlos, na aldeia de Catarredor, na serra da Lousã.

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Com Susana, Elisabete e Ana. Um momento fora do tempo, na serra da Lousã.

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Carlos, o ermitão da Lousã. Em 1972 ele teve o privilégio de assistir ao show de Vinicius e Toquinho no antigo Teatro Avenida, em Coimbra. E eu tive o privilégio de conhecê-lo.

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VINICIUS AO VINHO DO PORTO

Porto é a segunda maior cidade de Portugal, com 240 mil habitantes (Lisboa, a primeira, tem 550 mil, e Braga, a terceira, tem 140 mil). É conhecida mundialmente pelo seu vinho, suas pontes e sua arquitetura contemporânea e antiga, além da Universidade do Porto e de seu principal clube de futebol, o Porto. Foi lá, vindos de três dias na Lousã, onde eu e Felipe Breier apresentamos duas vezes o Vinicius Show de Moraes.

A primeira apresentação foi no Gato Vadio, um interessante espaço cultural de inspiração anarquista, que dispõe de livraria e bar e promove eventos diversos. Ficamos superfelizes de ver o espaço lotado, todos muito respeitosos e atentos ao que cantávamos, recitávamos e falávamos. Nessa noite, dormimos no Rés da Rua, um casarão antigo onde as pessoas vivenciam a filosofia da vida compartilhada, unindo e dividindo comunitariamente custos, necessidades e alegrias (obrigado, Celestino!).

No domingo pretendíamos tocar ao cair da tarde no calçadão da Ribeira, mas após cinco dias de estrada e três apresentações, o cansaço não permitiu. Na terça, já recuperados, nos apresentamos na Casa Bô, outro casarão antigo que une artistas e adeptos de um estilo de vida ligado à ecologia e à vida simples. Lá, dispensamos microfones e nos apresentamos sentados sobre a beirada do palco, num delicioso clima intimista de sarau. Vale destacar: na plateia estava um casal vindo de Vigo, na Espanha, especialmente para ver nosso concerto. Quanta honra!

Obrigado ao pessoal do Gato Vadio, da Casa Bô e do Rés da Rua, pelo carinhoso acolhimento. Estamos muito contentes por ter levado ao Porto a arte de Vinicius de Moraes, e também por agora fazer parte da história desses espaços, onde reunem-se pessoas que, assim como Vinicius, acreditam que, sim, um outro mundo é possível. Um mundo com mais arte e respeito à vida, e menos competição. Com menos consumismo, e muito mais amizade e alegria. Saravá!

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Pelas ruas do centro de Porto, com Felipe e Juliana.

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Na livraria Centésima Página, com o CD do Vinicius Show de Moraes e o livreto Versos Safadinhos para Noites Românticas ou Vice-versa. De modo geral, os portugueses são contidos e discretos em relação ao erotismo, e a literatura erótica em Portugal não tem tanto mercado quanto no Brasil. Meu livreto causava um certo estranhamento na maioria das pessoas, um quase constrangimento, mas a curiosidade prevalecia e acabavam dando uma olhadinha… e compravam. Afinal, a humanidade se divide em dois tipos de pessoas: as que gostam de sacanagem e as que assumem que gostam de sacanagem.

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O sistema de transporte ferroviário de Portugal é de matar de inveja aos brasileiros. Ele nos faz ver como o Brasil errou feio ao priorizar os automóveis, em vez de investir e modernizar seu sistema ferroviário. Rápidos e eficientes, os comboios (trens) cruzam as regiões do país, pondo-se como ótima alternativa ao transporte rodoviário. Costuma ser um pouco mais caro, mas é muito mais seguro e ecologicamente limpo, e pode-se comprar os bilhetes pela internet, com bons descontos. Se tem wi-fi? Sim, tem.

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As duas últimas apresentações, em Braga. Primeiro, na charmosa livraria Centésima Página. Obrigado a Sofia e Helena pela oportunidade de cantar e recitar poesia na presença dos nossos ídolos, que, das estantes, enriqueceram deveras nosso concerto. Depois, no Rossio Café Bar, um aconchegante espaço onde é possível escutar música brasileira de alta qualidade. Nessa noite de despedida, cantamos e dançamos Vinicius de Moraes unindo nossos sotaques aos de portugueses, brasileiros, uruguaios e franceses, numa divertida celebração da arte e da amizade. Obrigado, Rui Carlos.

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Em Lisboa, aquela tradicional ginjinha no Largo de São Domingos. Com Neto, Virgínia, Andrea, Ana Érika e Super-Caiote Tricolor.

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Com Felipe, em Braga, brindando à nossa parceria. Nas dez apresentações que fizemos, experimentamos vários tipos de acordo com o contratante. Em alguns locais, recebemos cachê fixo (entre 60 e 150 euros), e a casa não cobrou ingresso ou couvert dos clientes. Em outros, as pessoas contribuíram voluntariamente (o velho chapéu), o que nos rendeu entre 25 e 90 euros. Houve também uma vez em que a casa cobrou ingresso, a 2 euros, que nos foi integralmente repassado e nos rendeu 40 euros. Em todas as apresentações, vendíamos nossos CDs a 5 euros (Felipe levou também o dele) e livros (entre 3 e 6 euros), e isso nos rendia um trocado a mais. Excetuando duas apresentações em Braga, recebemos abaixo da média do que geralmente recebemos no Brasil, mas, considerando que somos absolutamente desconhecidos para os portugueses e levando em conta as casas em que nos apresentamos e o momento econômico do país, o resultado final foi bom. Em Lisboa, certamente ganharíamos mais, porém lá ainda não temos bons contatos e uma estrutura de apoio suficiente.

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Domesticado em Sintra. Hummm, nem tanto. Continuo com minha velha certeza: melhor correr os riscos da liberdade que viver numa escravidão tranquila.

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Leitura obrigatória: os classificados sexuais nos jornais portugueses. Ah, é uma diliça! Prazer linguístico de primeira qualidade. Como no Brasil, alguns anúncios chamam atenção pela criatividade. “Corpo danone”, por exemplo. O que pode significar isso? Será que ela tem gosto de iogurte? Num outro anúncio, a rapariga se define “boa como milho”. Milho cozido ou assado? “Recém-divorciada” é um clássico, é daqueles termos que atiçam a imaginação do cidadão: Hummm, ela se separou agora, quer compensar o tempo perdido… Outra rapariga apela ainda mais: “carente, namorado ausente”. Uau, namorado ausente é ainda melhor que recém-divorciada, né não? Há uma que “atende sem cueca”. Ops! Calma, eu explico. Cueca, em Portugal, é roupa íntima, masculina ou feminina. Ah, bom… Dúvida sanada, imaginemos: o cidadão sobe as escadas, bate na porta, a rapariga abre e, tchan!, ela já está sem calcinha, entendeu? Taí, gostei dessa, vou ligar agora mesmo.

Os termos e os cacoetes linguísticos me divertem demais, e eles nos falam bastante sobre a cultura do país. Minete, por exemplo. O termo significa sexo oral na mulher. Lendo os anúncios, constatei que é um serviço oferecido com destaque, mais que o boquete. Fiquei intrigado, pois no Brasil prostitutas não costumam alardear a oferta desse serviço. Então fui pesquisar e descobri que para grande parte da população, o sexo oral na mulher ainda é um tabu, algo sujo ou pervertido, não praticado por mulheres sérias e honestas. Por esse motivo, é comum que os homens portugueses, principalmente os mais velhos, busquem fazê-lo com prostitutas e não com suas esposas ou namoradas. Algumas oferecem minete “à canzana”, ou seja, à moda dos cães (de quatro), o que pode significar que a rapariga também aprecia o passeio da língua pelo glorioso fiofó. Quanto ao minete com leitinho, deixo para você imaginar o que pode ser.

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De repente, numa vitrine, o Feminino Sagrado transparece para mim. E, como sempre acontece, o mundo para, e eu sou tocado pelo poder do arquétipo, e é impossível prosseguir sendo o mesmo…

Por falar em Feminino Sagrado, obrigado, moça bonita, sim, você mesmo, obrigado por tudo. Pela surpresa, a súbita e estranha cumplicidade, as horas encantadas… Aquela lua na sacada do hotel, a poética sintonia de almas e corpos, teu riso, teu choro, teu prazer… Obrigado.

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FORA TEMER EM PORTUGAL

Em nossas apresentações do Vinicius Show de Moraes em Portugal, quase sempre havia portugueses e brasileiros na plateia, e às vezes estrangeiros de outros países. Quando o ambiente permitia, incluíamos no roteiro do show comentários sobre o vergonhoso golpe de Estado que a direita armou no Brasil, e o resultado é um coro geral de “Fora Temer!”, que tomava conta do espaço, vazava para a rua e chamava a atenção de todos.

Vinicius, em 1964, viveu o golpe de Estado dos militares, e em 1969 foi expulso por eles do Itamaraty. Nessa mesma época, os portugueses viviam sob a ditadura de Salazar, da qual se libertariam em 1974, com a Revolução dos Cravos. É por isso que os portugueses democratas acompanham com preocupação os acontecimentos no Brasil e torcem para que não vingue o golpe de Temer, Cunha, Aécio e cia. E é por isso que eles gritavam conosco, engrossando o coro pró-democracia: Fora Temer!!! E não havia como não se emocionar.

Defender com firmeza a nossa democracia do outro lado do Atlântico, e ao mesmo tempo divulgar nossa música e literatura… Putz, foi uma experiência bem forte.
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Ricardo Kelmer 2016 – blogdokelmer.com

 

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LEIA NESTE BLOG

IberiaTemporada2015,2016-04aIbéria, 1a temporada – Registros de uma viagem por Portugal e Espanha

Rumo à estação simplicidade – Jurei me manter sempre no caminho, sem pesos nem apegos excessivos, pronto para pegar a estrada no momento em que a vida assim quisesse

O sonho do verdadeiro eu – Entretanto, algo me dizia que na pauliceia eu poderia viver minha vida mais verdadeira, era só insistir

Espirros e roteiros – Se antes eu tinha insônia por me preocupar demais em descobrir o que precisava fazer, hoje me delicio em abrir a janela dos quartos dos hotéis, molhar a ponta do dedo e botar no vento

O dia em que o chinlone me pegou – A arte zen de sair por aí à toa e encontrar o que se precisa

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Vinicius Show de Moraes
com Ricardo Kelmer e Felipe Breier

Este show nos traz a riqueza da vida e da obra de Vinicius de Moraes, um dos nomes mais importantes da cultura brasileira. Através das músicas, dos poemas e de fatos interessantes da vida de Vinicius, passeamos por grandes momentos da música e da poesia brasileiras e nos divertimos e nos emocionamos com a rica trajetória do homem, poeta, artista, amante, amigo e diplomata que fascinou e ainda fascina gerações no Brasil e no mundo.

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VersosSafadinhosCapa-06a

Versos Safadinhos para Noites Românticas ou Vice-versa
Ricardo Kelmer – poemas

Versos Autor de uma dezena de obras, nos gêneros romance, conto, crônica e ensaio, desta vez Ricardo Kelmer deixa a prosa de lado e envereda pela poesia. Escritos entre 1989 e 2016, os 35 poemas deste livro versam sobre amor, paixão, desejo e erotismo. Neles, o autor canta os sabores das aventuras amorosas e celebra o êxtase dionisíaco dos enlaces carnais, mas também diverte-se com os irônicos descaminhos das relações e não esquece de louvar a musa unânime dos poetas, a língua portuguesa. Os desenhos são do artista húngaro Mihály Zichy.

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Comentarios01COMENTÁRIOS
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01- Come um bacalhau ai por mim. De bacalhau vc entende. Andre Soares Pontes, Fortaleza-CE – jul2016

02- Toooooooop. Isaias Gimenez, Braga-Portugal – jul2016

03- Quando vocês vêm de novo à Lousã? Vá lá, marquem, temos saudades, soube a tão pouco… Carla F Lobo, Lousã-Portugal – jul2016

04- Pronto, já me deixaste em prantos… Saudades saudades saudades… Tens de voltar, querido amigo! As curvas e mistérios da Lousã esperam por ti… Susana X Mota, Leiria-Portugal – jul2016

05- Muito bom, Ricardo! Bonita descrição das nossas terras e gentes…e obrigada também pela visita! 3ª temporada…Novembro? Angela Duarte, Lourinhã-Portugal – jul2016

06- Ricardo, vc tá cada vez melhor. Que ótimo esse material sobre sua estada em Portugal! Abração. Luis Pellegrini, São Paulo-SP – jul2016

07- Massa… Parabéns pela temporada. Ana Vládia Lima, Fortaleza-CE – ago2016

08- Kelmer… boa noite. Foi de uma alegria imensa saber que você também é cabeça-chata. Orgulhei-me. rs “Ostra” coisa, também adorei Portugal. Acho até que conheço um pouco mais que você. Mas não tem nada de competição nisso. Agora numa coisa ganhei de 7 x 0… na safadice.  Um dia conto. Ainda é perigoso falar. Um grande abraço de um conterrâneo que curte seu trabalho. “Inté”!!! PC, Fortaleza-CE – ago2016

09- Caríssimo RK. Mais uma vez tenho a oportunidade de viajar a Portugal, nem tanto pela bolsa de pesquisa – que não tenho -, mas efetivamente por suas palavras viageiras. Roteiro de orgulhar Vinicius e Toquinho, sem dúvida, e com direito a testemunha da época e tal – que figura! As observações dos classificados são um plus antropológico e linguístico – por que não? -, sempre servido com seu bom humor. Não faltou a necessária dose de realismo, num tempo temeroso para nossa prostituída democracia. Espetáculo! Grande abraço e meu muito obrigado. Leite Jr., Fortaleza-CE – ago2016


O sonho que morreu na praia

04/09/2015

04set2015

O mar, que não liga para nacionalidades, aceitou receber o menino sonhador

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O SONHO QUE MORREU NA PRAIA

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Humanos são especialistas em separar humanos. Para isso, criam religiões e demarcam fronteiras. E elas nos convencem de que somos povos diferentes, uns eleitos por Deus, outros não, uns com visto de entrada, outros não.

Um garotinho de três anos, com seu irmão, sua mãe e seu pai. Alan, o nome dele. Fugindo do inferno na Síria. Tentando escapar do ódio religioso, que só perdoa aos que rezam para seus deuses. Alan e seu sonho de um lugar para viver, apenas isso, viver. Tentaram asilo no Canadá, mas as fronteiras infelizmente não entendem de sonhos, e menos ainda de sofrimento.

Munidos tão somente daquela que é a última a morrer, decidiram arriscar tudo. Num bote lotado de sonhadores, lançaram a sorte ao mar e tentaram chegar à Grécia. Mas nas águas da insensibilidade humana a sorte não passa de um frágil barquinho de papel. Naufragaram no litoral da Turquia. E o corpo de Alan foi parar na praia. O corpinho pequenino, estirado na areia, de roupa e sapato. Que nem as crianças que adormecem no tapete da sala, e depois as levamos para a cama.

Alan não tinha mais cama. Não tinha mais casa. Não tinha para onde ir, nenhum país rico o queria. Mas o mar, que não liga para nacionalidades, aceitou receber o menino sonhador. E as ondas foram beijar-lhe o rostinho afundado na areia, pedindo desculpas pela crueldade dos humanos.

Nas minhas lágrimas que agora mancham este texto, Alan, sinto o gosto de revolta e esperança. Revolta pelos sonhos das crianças que morrem na praia. E esperança de que seu triste destino ajude a humanidade a despertar para a verdade mais importante. Não, ela não está nos mandamentos das religiões. Nem nas leis sagradas dos países.

O fanatismo religioso e os patriotismos não a aceitam, mas essa verdade é a única que pode nos salvar neste momento. Ela parece um sonho, Alan, como o que você sonhava em seu barquinho de papel. Mas é real, e diz assim:

Somos todos um único povo. O Povo da Terra.

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Ricardo Kelmer 2015 – blogdokelmer.com

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SAIBA MAIS

ImigrantesAlanKurdi201508-14De Damasco a Bodrum – A viagem fatal do menino sírio que chocou o mundo – BBC Brasil

‘Nunca imaginei que uma foto pudesse ter esse impacto’, diz fotógrafa que clicou menino sírio – BBC Brasil

Como ajudar – Unicef, ongs e Caritas ajudam imigrantes, inclusive no Brasil – BBC Brasil

Brasil acolhe mais imigrantes sírios – BBC Brasil

10 fotos marcantes sobre o drama dos imigrantes – BBC Brasil

Para você que chora pela criança síria mas não se importa com a miséria a seu redor – Por Nathali Macedo, no Diário do Centro do Mundo

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PatriaAmadaTerra-01aPátria amada Terra – É animador ver as novas gerações convivendo mais naturalmente com essa noção de cidadania planetária

A imagem do século 20 – Vimos nossa morada flutuando no espaço. Vimos um planeta inteiro, sem divisões. Não vimos este ou aquele país: vimos o todo

WikiLeaks e o nascimento da cidadania global – Quanto mais as pessoas se conectam à internet, mais elas se entendem como participantes ativos dos destinos do mundo e não apenas de seu país

Eles estão na fronteira – Milhões de maltrapilhos famintos, perseguidos políticos, criminosos cruéis, terroristas suicidas, narcotraficantes e trombadinhas invadindo os países e quebrando tudo, estuprando nossas irmãs, matando todo mundo, o caos absoluto

A ilha – Uma fábula sobre o autoconhecimento

A Humanidade, o psicólogo e a esperança – Os acontecimentos mostram que a Humanidade está se unificando, unindo seus opostos

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COMENTÁRIOS
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01- Parabéns, pelo texto e principalmente pelos 2 últimos parágrafos!!! Isolda Mirante – set2015

02- é triste viu!!! Renata Louise Martins – set2015

03- Mensagem linda, me fez emocionar. Andreia Alencar – set2015

04- Belo texto. Suellen Gomes – set2015

05- Senhor piedade dessa crianca jesus. Juliana Silva – set2015

06- MUITO triste…Chega a ser desamnimador!!! Isolda Mirante – set2015

07- Deus cuide dessa criança pois ela e um anjo. Rafael Dos Anjos Carla Dos Anjos – set2015

08- Lindo a mensagem,mas a foto e triste. Selma Fernandes – set2015

09- E terrivel, e triste e doloroso,ver tudo isso acontecer como se fosse uma coisa qualquer sem valor, e sao ser humanos, todos temos o mesmo sentimentode dor imaginamos o seu sofrimento. Veraluciasantoscorreia Correia – set2015

10- Nossas possibilidades e sonhos se afundam nesse mundo de hipocrisia e corrupção… Triste realidade q preciso compartilhar… Marilei Moreira – set2015

11- Foi o texto mais tocante sobre o tema. O coração ficou apertado pela triste realidade…sem solução. Ma Virginia Pantani – set2015

12- Triste realidade…excelente texto! Vanessa Silveira – set2015

13- Muito triste tenho muito dó desse povo que sofre nas guerras … Ivone Ivone – set2015

14- onde esta nosso amor ao próximo?…a pior raça é a humana,pobre anjo inocente. Rayane Eduardo – set2015

15- Amém. Eliandra Nobre – set2015

16- que texto bonito. Monica Campos – set2015

17- Ah Ricardo Kelmer a imagem já nos sensibiliza ao extremo, mas suas palavras nos faz ir além… Cícera Souza Vidal – set2015

18- amigodaminhavida..mesmo sem nos falar, temos uma sincronia de pensamentos..me emocionou tb.bjao. Shirlene Holanda – set2015

19- Gostaria de saber quando e como essa guerra vai acabar… Leyla Dayane – set2015

20- Muito triste…que pecado. Andrea Pollastrini – set2015

21- Qual é o contexto do sonho de quem pega um bote e tenta atravessar o oceano com um filho de três anos para perder a vida junto com ele? Qual é sonho de quem é reprimido com crianças no colo em divisas territoriais e espremido em cercas de arame farpado? Qual o sonho de quem não tem vida na terra onde nasceu por conta da barbárie que lhe foi imposta pelos donos do mundo que lhes é negado? Thaís Guida, Rio das Ostras-RJ – set2015

22- O sonho é viver, sobreviver, escapar. Que lamentável, nós vítimas de nós mesmos. Existe coisa mais triste? Ligia Eloy, Lisboa-Portugal – set2015

23- E a humanidade que parece nunca progredir, repetindo os mesmos erros desde sempre… Ana Velasquez, Corumbá-MS – set2015

24- Até quando precisaremos de mártires para que uma causa ganhe ouvidos?  Silvana Alves, Fortaleza-CE – set2015

25- Perfeito o seu texto!!! Isadora Fontão, Rio de Janeiro-RJ – set2015

26- ótimo texto… Arnaldo Afonso, São Paulo-SP – set2015

27- Que pena ! Leonor Oliveira Moreira, Fortaleza-CE – set2015

28- Exato e sensível. ….chorando pelo povo da Terra, perdido dentro dessa “bolinha” até quando… Marialucia da Silveira, Campinas-SP – set2015

29- Belo texto caro Ricardo. Eduardo Macedo, Recife-PE – set2015

30- É lamentável. Vilma de Oliveira, Fortaleza-CE – set2015

31- meu querido irmão…Meus olhos lacrimejaram com sua cronica…A verdade é cruel e dolorida….Inventaram um Deus que sapara, uma religiao que expulsa, um sexo que não tolera…..que seres imbecis nos tornamos…. Jacques Josir Ribeiro, Santo André-SP – set2015

32- Eu e minha dor. E mais essa dor do mundo. Iris Medeiros, Campina Grande-PB – set2015

33- Sinceramente, não acredito na humanidade. Acredito em seres humanos que fazem diferença, se esforçam e inspiram outros. Mas o coletivo da raça sempre foi uma força cruel e sedenta. Triste demais. Belo texto de Ricardo Kelmer. Juliana Jucá de Vasconcellos, Fortaleza-CE – set2015

34- Ricardo, lindo e comovente esse seu preito de compaixão e respeito ao garotinho Aylan. Que destino o dessa criança! Dar a própria vida para poder emprestar seu pequeno corpo à criação de uma imagem que atravessará os tempos e ficará na história dos desatinos humanos. Luis Pellegrini, São Paulo-SP – set2015

35- Texto lindo! Santo Deus, como é lamentável a insensibilidade humana! Ana Clebia Rodrigues, Fortaleza-CE – set2015

36- Ricardo Kelmer… faço minhas suas palavras tocantes… peço aos meus amigos que mostrem para crianças… elas precisam saber que tem vida sensível, frágil e inteligente fora dos seus equipamentos e para além dos muros de suas escolas e condominios. Maria Di Lia Oliveira, Bananeira-PB – set2015

37- Por um mundo sem fronteiras. Iris Medeiros, Campina Grande-PB – set2015

38- Somos todos um unico povo. O povo da terra! Nivea Gomes, Fortaleza-CE – set2015

39- Ricardo Kelmer, como não chorar com tudo que sabemos e assistimos causados ou proveniente por toda estúpida segregação? Ivonesete Zete, Fortaleza-CE – set2015

40- Emocionante, Ricardo. Não dá pra dizer mais nada… Waldemar Falcão, Rio de Janeiro-RJ – set2015

41- Luis, suas palavras também são emocionantes. Eu diria “que coragem desse espírito aceitar essa programação”, como a minha saudosa Célia do Carmo… Waldemar Falcão, Rio de Janeiro-RJ – set2015

42- Triste muito triste,profundamente lamentável!!! Oneide Braga, Fortaleza-CE – set2015

43- Não é fácil falar com suavidade dessas facetas duras da realidade! Você o fez, Ricardo! Grata por beijar Aylan com suas palavras!! Kátia Valevski Sales Fernandes, Fortaleza-CE – set2015

44- E a face da ignorância da loucura dos seres humanos em nome de DEUS, São pedras atiradas em outras pessoas por não ser da mesma religião, seres que se acham superior pq ou outros são diferentes, matando, destruindo, a ganância, falta de respeito com natureza estamos regredindo a onde vamos parar!!!!! Michel Silva, Rio de Janeiro-RJ – set2015

45- Até quando? Diana Fontes

46- Deus só Deus. Juliana Mendes da Silva,  

47- Texto de que sanbem o que escreve Parabéns. Lucia Lucas, Cuioabá-MT – set2015

48- Belo texto para uma triste história… Paulo César Norões, Fortaleza-CE – set2015

49- Lamentável.Triste demais. Vilma de Oliveira, Fortaleza-CE – set2015

50- Cara, chorei com seu texto. Simone Orlando, Rio de Janeiro-RJ – set2015

51- Sem palavras! Vanessa Machado Monte, Fortaleza-CE – set2015

52- Capitalismo cruel, egoismo exacerbado. Deus piedade pra nós humanos!!! Zildene Feitoza, Fortaleza-CE – set2015

53- Triste e lamentável. Suely Frazão, Taubaté-SP – set2015

54- Parabéns pelo texto lindo em homenagem a esse pequeno anjo. Claudia Melo – set2015

55- Meu Deus até quando vamos ver as pessoas sofrerem assim principalmente as crianças. Belo texto, bem escrito ta de parabéns. Leticia Macedo – set2015

56- Jesus veio ensinar o amor ao próximo, e 2000 depois a humanidade ainda não aprendeu. Altemar Feitosa, Natal-RN – set2015

57- Sem comentarios!! Beta De Oliveira Damasceno – set2015

58- Será que ainda podemos acreditar na bondade humana como disse Anne Frank ? Maria Vasconcelos, Fortaleza-CE – set2015

59- Que violência. Neuda de Paula – set2015 

60- Lamentavel. Socorro Pereira, Natal-RN – set2015

61- sa na rien voire avec les religions si homme seul qui responsable de se genre d action au nom de dieu. Arimas Kadri, Constatina-Argélia – set2015

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A Nova Consciência e o desafio das discordâncias

11/02/2015

11fev2015

Nesses vinte anos de Nova Consciência, aprendi muito sobre convivência e intolerância, e sobre mim

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A NOVA CONSCIÊNCIA E O DESAFIO DAS DISCORDÂNCIAS

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Neste Carnaval de 2015, completo vinte anos de Nova Consciência. A minha primeira vez foi em 1996, e desde então passei todos os meus carnavais em Campina Grande, na Paraíba, participando do Encontro da Nova Consciência, um festival multicultural que desde 1992 celebra a diversidade dos pensamentos reunindo, durante quatro dias, representantes das artes, ciências, filosofias, religiões e tradições em dezenas de eventos paralelos, todos empenhados em buscar um futuro melhor para a humanidade e o planeta. Não conheço nada igual no Brasil. É realmente um grande acontecimento.

Para mim, a Nova Consciência é uma rara oportunidade de ter contato com variados assuntos, e também de conviver por alguns dias com muitas pessoas que pensam diferente de mim sobre muitas coisas, mas que acreditam firmemente, como eu acredito, que os diferentes podem conviver em harmonia. Aproveito o Encontro também para intercâmbios com artistas de outros estados e outros países, isso é ótimo para enriquecer minha própria arte. E, obviamente, marco presença na feira para desfrutar da gastronomia paraibana, principalmente aquele velho e bom picado que, devidamente apimentado e acompanhado de uma cervejinha gelada, sempre me leva à mundana conclusão: viver é saboroso, ardente e embriagador.

Como escritor que sou, me interessa particularmente o Encontro de Literatura Contemporânea, onde nos reunimos nós, os fervorosos adoradores da palavra escrita. E, como sou ateu, adoro participar do Encontro de Ateus e Agnósticos, que muitíssimo me agrada pelo alto nível cultural e pelo tradicional bom humor. Rir ainda é o melhor remédio.

Mas não há lei, pelo menos ainda, que impeça um ateu de ter amigos religiosos, né, e eu adoro reencontrá-los em Campina Grande. Evidentemente, o que é sagrado para eles não me toca a alma, não no sentido religioso, porém há algo mais sagrado que qualquer coisa que eu e eles pensamos: o nosso direito de crer ou não crer, e de podermos nos expressar livremente, e de podermos discordar, e até de podermos desagradar. Porque a liberdade de ser inclui, necessariamente, a liberdade de expressão.

Nesses meus vinte anos de Nova Consciência, aprendi muito sobre convivência. Aprendi também sobre intolerância, pois infelizmente a proposta do Encontro desperta ódio nas mentes que se recusam a aceitar as diferenças. Aprendi, sobretudo, que preciso muito do diferente para me harmonizar com uma certa pessoa: eu mesmo. Sim, eu. Eu que, nesse longo caminho da aceitação, tenho de conviver todos os dias com as discordâncias dentro de mim.

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Ricardo Kelmer 2015 – blogdokelmer.com
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Site do Encontro da Nova Consciência
www.novaconsciencia.com.br

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Minha programação na Nova Consciência 2015:

NovaConsciencia2015Logo-01aLançamento do livro Indecências para o Fim de Tarde

Palestra: Maconha, Satanás e o escorredor de macarrão – A liberdade de expressão e o desrespeito ao sagrado (Encontro dos Ateus e Agnósticos)

Palestra: Sensualizando no sagrado – Erotismo, religião e opressão feminina (com Ivana Bastos)

Encontro de Literatura Contemporânea

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LEIA NESTE BLOG

DiversosEIguais-01aEncontro da Nova Consciência – Diversos e iguais – Não precisamos concordar com os outros. Mas podemos aceitá-los, tanto quanto quisermos também ser aceitos

O psicólogo, a Humanidade e a esperança – Os acontecimentos mostram que a Humanidade está se unificando, unindo seus opostos

Entrevista com o ateu – Um pregador evangélico entrevista um escritor ateu

Pátria amada Terra – É animador ver as novas gerações convivendo mais naturalmente com essa noção de cidadania planetária

A imagem do século 20 – Vimos nossa morada flutuando no espaço. Vimos um planeta inteiro, sem divisões. Não vimos este ou aquele país: vim o todo

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O Reino Encantado de Jericoacoara

14/10/2014

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Perder-se em Jeri, eu recomendo. Perder-se de paixão. Perder a noção do tempo, a carteira de identidade, o medo de se experimentar…

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O REINO ENCANTADO DE JERICOACOARA

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Há certos lugares que a gente conhece e depois eles passam a morar naquele cantinho sagrado da alma, onde a gente pode se recolher quando quer descansar por uns instantes na doçura da saudade, sabe como é? Não sei se expliquei bem, mas para mim um desses lugares é Jericoacoara, no Ceará.

Quando cheguei a primeira vez em Jeri (só para os íntimos), em 1989, a pequena vila já era razoavelmente conhecida no circuito do turismo alternativo, mas não tanto como Canoa Quebrada, no litoral leste, que tinha um acesso muito mais fácil. Putz, foi amor à primeira maresia. Desde então, voltei lá algumas vezes, mas sempre é como se fosse a primeira vez. Eu estou sempre descobrindo Jeri.

Localizada a 300 quilômetros a oeste de Fortaleza e pertencente ao município de Jijoca de Jericoacoara, Jeri integra o Parque Nacional de Jericoacoara, o que impede a construção de estradas pavimentadas na região. Para chegar lá, ou você vai de helicóptero ou arrisca ir pela praia, respeitando as marés, ou enfrenta a areia das dunas (mas terá de deixar o carro numa área afastada do centro da vila). Ou então faz como a maioria, indo até Jijoca e, de lá, seguindo por quarenta minutos pelas dunas em carros especiais. O percurso, por si só, é uma autêntica preparação do espírito, um rito sagrado de iniciação para o viajante destemido ser aceito no Reino Encantado de Jericoacoara.

Sim, é uma aventura chegar lá. E estar lá é um sonho. E deixar Jeri é sempre uma tristeza por não ter ficado mais, misturada à esperança de voltar logo. Se você foi lá e não sentiu essas coisas, sinto muito, mas você não entendeu nada.

As publicações especializadas sempre elegem Jeri como uma das praias mais lindas e um dos melhores destinos do mundo para viajar. Não é nenhum exagero. Dotada de uma beleza semisselvagem, Jeri encanta por sua natureza preservada, dunas, mangues, rios e lagoas, e o mar, aquele marão imenso e azul, onde pode-se ver o sol e a lua nascerem e se porem, num poético espetáculo que é literalmente aplaudido pelas gentes abobalhadas no alto da duna, seus olhos brilhando de reverência e êxtase. Sim, um baseadinho nessas horas cai bem, mas Jeri já dá barato por si só, acredite.

Vou confessar uma falha de caráter: morro de ciúmes de Jeri. Quando vejo lá aqueles turistas tão caretas e convencionais, tenho saudade de quando apenas os malucos sabiam de Jeri. Saudade de quando não havia energia elétrica e nos hospedávamos nas próprias casinhas dos pescadores, compartilhando de sua comida e de suas histórias. Mas reconheço que é puro egoísmo essa minha nostalgia do que não tem como voltar. Hoje, Jeri vive do turismo, e, tirando certos poréns inerentes ao processo, felizmente os cuidados tomados ainda a mantêm bela e especial, harmonizada entre o simples e o moderno. Ainda.

Muitas línguas e sotaques se falam em Jeri, de tão cosmopolita que ela é, tantos os que lá aportam e não querem mais sair. Muitas línguas também se enroscam nas bocas, eheheh, tantos os convites que a brisa da noite sussurra no ouvido da gente, é um perigo. Jeri é assim, de repente um blues distante que o vento traz, uma fogueirinha que brilha na beira da praia, a noite que se insinua na poesia do luar.

O charme das pousadas, o aconchego dos cafés, os barzinhos tão graciosos… E os passeios além da vila? E aquela culinária saborosa? E os automóveis e as agências bancárias que não há? Impossível eleger o que é mais gostoso. Sem falar no clima, tanto o da Natureza como o de celebração da vida, sempre presente nos risos, brindes e olhares. Até mesmo se perder no labirinto daquelas ruazinhas de areia é bom.

Perder-se em Jeri, eu recomendo. Perder-se de paixão. Perder a noção do tempo, a carteira de identidade, o medo de se experimentar… Perca-se como eu me perdi. Porque um dia, como acontece com tudo na vida, Jeri nunca mais será o que é. E então ela virará um reino encantado dentro de você, sempre lhe chamando para voltar.

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Ricardo Kelmer 2014 – blogdokelmer.com

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MAIS SOBRE JERI

O NOME – “Jericoacoara” é um termo da língua tupi e significa “toca das tartarugas-marinhas”, por meio da junção dos termos “îurukûá” (tartaruga-marinha) e “kûara” (toca).

Parque Nacional de Jericoacoara – Com uma área de 8.850 hectares, o Parque é administrado pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio).

Impressões de viagem – Especial sobre Jeri no site do fotógrafo Fábio Arruda

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PERCA-SE EM JERI

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PousadaCasaDoAngelo-06aHOSPEDAGEM EM JERI

Pousada Casa do Ângelo – Charme rústico, aconchego, ótima localização, preço bom… Por essas e outras é que sempre me hospedo na pousada do meu amigo Ângelo Jorge, também conhecido no labirinto dos becos de Jeri por Baiano. Recomeeeendo.

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LEIA NESTE BLOG

IncultaEBelaDengosaECruel-8aInculta e bela, dengosa e cruel – Então arrumei de novo a mochila, me despedi com muitos beijos, seu hálito de vodca me soprando toda a sorte do mundo, eu barquinho de papel rio abaixo, louco para ir, doido para ficar

O desejo da Deusa – Um encontro na praia, as forças da Natureza e um deus repressor

Essa loirinha desmiolada de sol – Duvido que ela tenha uma marquinha de biquíni assim – a loirinha insiste, com a graciosidade tristonha das cidades que sabem que seus argumentos são ótimos mas que não vão adiantar

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01- Jeri e seus mistérios… aquelas ruas de areia sempre me levam de volta ao meu coração! Se eu voltar, eu fico… Susana Mota, Leiria-Portugal – abr2015

02- Parabéns pelo texto. Eu sou apaixonada por Jericoacoara. Erondina Lopes, Itapipoca-CE – mar2016

03- Nossa muito mais muito obrigada pelas suas palavras sobre esse lugar que eu simplesmente amor só apaixonada jeri e sua magia ,como nativa agradeço. Juliana Martins, Jericoacoara-CE – jun2020

04- Texto aprovadíssimo, é um documentário. Você que chegou, reconhece o valor de um lugar tão mágico e convidativo que é. Imagine que o começo a 55 anos. Quantas mudanças! Mas continua lindo. Obrigada pelo registro, real e histórico. Valdenice Albuquerque, Jericoacoara-CE – jun2020

05- Obrigada pela linda homenagem a nossa Vila ao nosso parque nacional as nossas Lagoas… #vemprajeri ser feliz e ponto. Melhor terapia do planeta e sim é um encantamento. Lunna Dourado, São Paulo – jun2020

06- Aaaahhhhh Jeri… pra mim um refúgio, um refrigério da alma… e ainda hoje sinto o mesmo encantamento de qdo eu a conheci no réveillon de 1988 para 1989!!!! Isabella Cantal, Fortaleza-CE – jun2020

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Democracia e regulação da mídia

16/08/2014

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A informação é um produto, e o mercado da informação precisa de regras, caso contrário o grupo que tem mais dinheiro monopolizará a informação, para prejuízo da sociedade em geral

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DEMOCRACIA E REGULAÇÃO DA MÍDIA
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Alguns grupos de mídia no Brasil fazem questão de associar regulação da mídia com censura. Nada mais falso. Geralmente, essa associação forçada esconde o interesse em manter as coisas como estão, ou seja, manter o mercado desregulado para que os grupos mais poderosos continuem detendo uma espécie de oligopólio da informação.

Regular nada tem a ver com censura. Há leis de regulação da mídia nos países mais democráticos do mundo, como Estados Unidos, Inglaterra e França, pois suas sociedades entendem que a concentração de poder é prejudicial para a democracia. Censura é outra coisa, e ela, sim, é que é coisa de governos opressores nesses países, só o governo tem voz. Em países sem regulação da mídia, como o Brasil, prevalece a voz dos grupos mais ricos.

Assim como os órgãos de defesa do consumidor ajudam a regular o mercado, as leis de regulação da mídia ajudam a conciliar o direito à livre expressão e os interesses individuais e coletivos. A informação é um produto (talvez o mais valioso), e o mercado da informação precisa de regras, caso contrário o grupo que tem mais dinheiro monopolizará a informação, para prejuízo da sociedade em geral.

Vamos aos exemplos. Nos Estados Unidos, grupos que publicam jornais e revistas não podem ter também canais de rádio e TV (propriedade cruzada), pois isso gera concentração de poder e prejudica a livre concorrência de mercado. Uma empresa estadunidense não pode ultrapassar certo percentual médio de audiência na mesma localidade, porque isso teria forte impacto político. Essas leis nada têm a ver com censura, mas com desconcentração de poder.

Na França, nenhum grupo pode controlar mais de 30% da mídia impressa diária. As leis francesas garantem que a mídia audiovisual reflita a diversidade da cultura do país e que as concessões de TV e rádio sigam o pluralismo político e representem também os grupos minoritários. Isso é censura? Não, é pluralidade.

Em Portugal, a ERC (Entidade Reguladora para a Comunicação Social) tem como objetivo garantir transparência na produção e veiculação dos conteúdos de comunicação, bem como o pluralismo cultural e a diversidade de expressão. As concessões de rádio e TV têm validade de 15 anos, mas são reavaliadas a cada cinco anos. Isso não é censura, mas representatividade cultural.

Regular não é censurar, mas criar leis justas para todos. A democracia necessita de regras. Por que o mercado de informação não as teria?
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Ricardo Kelmer 2014 – blogdokelmer.com

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SUGESTÕES DE SITES, JORNAIS E REVISTAS

Observatório da Imprensa – Congresso em Foco – Jornalistas Livres
Diário do Centro do Mundo – Revista Fórum – El Pais Brasil
Jornal GGN – Carta Capital – Caros Amigos – Vi o Mundo
Conversa Afiada

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SAIBA MAIS

Regulação da mídia não é censura – Por Pedro Ekman e Bia Barbosa, 03.06.14

Mudanças aceleram regulamentação da mídia no mundo – Reportagem do Opera Mundi, 2010

Por que a dívida da Globo não é manchete de jornal? – Por Bruno Marinoni, 31.07.14

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LEIA NESTE BLOG

PesquiseAntesDeAcreditar-01Pesquise antes de acreditar – O ideal para a democracia é que esse imenso poder da mídia não se concentre nas mãos de poucos

Pátria amada Terra – É animador ver as novas gerações convivendo mais naturalmente com essa noção de cidadania planetária

A imagem do século 20 – Vimos nossa morada flutuando no espaço. Vimos um planeta inteiro, sem divisões. Não vimos este ou aquele país: vimos o todo

WikiLeaks e o nascimento da cidadania global – Quanto mais as pessoas se conectam à internet, mais elas se entendem como participantes ativos dos destinos do mundo e não apenas de seu país

Eles estão na fronteira – Milhões de maltrapilhos famintos, perseguidos políticos, criminosos cruéis, terroristas suicidas, narcotraficantes e trombadinhas invadindo os países e quebrando tudo, estuprando nossas irmãs, matando todo mundo, o caos absoluto

A humanidade, o psicólogo e a esperança – Os acontecimentos mostram que a humanidade está se unificando, unindo seus opostos

Acabou a paciência – O povo está enfim deixando de ser tão conformista e alcançando um novo nível de conscientização política. É gol do Brasil

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Cubalança mas não cai

18/02/2014

18fev2014

A falta de democracia em Cuba é um grande defeito do regime, mas isso não anula as conquistas sociais realizadas pela revolução cubana

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CUBALANÇA MAS NÃO CAI

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Lá estou eu em Cuba, abril de 2006, três meses antes de Fidel baixar hospital, o irmão Raúl assumir (a presidência, gente) e o mundo inteiro voltar os olhos para o futuro da ilha. Uma semana de turismo em Havana, arriba!

Indo pelo Malecón, a beira-mar de Habana, vi um out-door sensacional e não resisti. Parei para tirar foto. Era tipo publicidade de filme, o presidente Bush feito um vampiro e os dizeres: “El Asesino ‒ Próximamente em las cortes norte-americanas”, e bem em frente à oficina de interesses estadunidenses. Sim, pois o Tio Sam não possui embaixada em Cuba. Mas em compensación não largam Guantánamo. Cara de pau…

Bueno, foi uma semana intensa. Conheci mais sobre a história da ilha, visitei locais históricos, tomei mojitos y cubanitos, ouvi salsas e boleros, andei de coco-táxi, comi nos famosos paladares. E me apaixonei pela ilha. Enquanto escrevo esta crônica, por sinal, ouço os maravilhosos cantores cubanos e me dá vontade de voltar. Na verdade, o que mais me interessava era conhecer Cuba por dentro, hablar con los cubanos, me misturar a eles. Minha porção jornalista era maior que a porção turista. E a principal conclusão que tirei foi esta: é impossível entender Cuba em apenas uma semana. O comunismo cubano, aos meus olhos, se já era estranho, revelou-se um monstrengo surreal. Bem, vivendo no Brasil, um país de outro planeta, eu já deveria estar acostumado. Mas Cuba é demais. Lá tem três moedas! Como aquilo pode funcionar? Muitos cubanos me responderam assim: não funciona.

Em tese, o regime comunista cuida dos aspectos básicos da vida do povo: fornece moradia, comida, roupa, trabalho, escola e saúde. Mas na prática não é bem assim. Como a comida não dá para o mês todo, o cubano acaba comprando comida – do governo, claro. Se o cubano quer uma casa, o governo financia, mas é tão caro que grande parte acaba morando com os pais, com os sogros… E os médicos formados, que ganham trinta dólares por mês? Dá para comprar trinta sabonetes. Você morre de fome, mas morre cheiroso.

Evidentemente, não dá para analisar os problemas do país sem considerar o embargo econômico imposto pelos Estados Unidos. O povo cubano sofre diariamente, de várias formas, por conta dessa crueldade. Rodando pela cidade, vi muita pobreza, casas desmoronando por falta de conservação. Vi pedintes, vi prostituição masculina e feminina. Boa parte dos cubanos se agarra nos turistas, literalmente, como náufrago numa boia. Muito cubano trabalha como guia. Todo cubano tem um irmão ou amigo que trabalha numa fábrica de rum ou charuto e pode conseguir mais barato e coisital. Alguns te convidam para conhecer a casa deles, na maior simpatia. Você acha isso lindo, fica encantado… mas na despedida eles te pedem um trocadinho. E não tem como não dar, né?

Felizmente em Cuba não há miséria como no Brasil, não há favelas nem crianças bandidas, o narcotráfico internacional tem pouquíssima força lá e o sistema primário de saúde, assim como a educação básica, funciona de verdade. Ay, que inveja. Mas até lá tem corrupção, essa praga tão brasileira. E o que dizer da fome insaciável do governo? Ele é sócio de tudo na ilha, até daquele quartinho que você aluga no sótão de sua casa. Veja os tais paladares. São restaurantes caseiros, permitidos pelo governo, uma forma de garantir a muitas famílias uma rendinha extra. Mas o governo não permite mais que doze mesas. E não pode servir frutos do mar, para não concorrer com os restaurantes dos hotéis. E ainda tem que pagar quatrocentos dólares de imposto por mês, com ou sem cliente… Carajo! Essa quantia lá é uma fortuna! Um sócio desse acaba incentivando o jeitinho, que nós brasileiros tão bem conhecemos: não tem no cardápio do paladar, mas, se você pedir, servem camarão e lagosta à vontade. Só não pode discriminar na conta, claro. E ainda disfarçam uma mesinha a mais ali atrás da cortina… É aquela coisa: o cubano se faz de morto e o governo faz que não vê.

A pior coisa, porém, pelo menos para mim, é a asfixiante falta de liberdade. Sei que aqui caímos na velha discussão sobre o que é mais importante, pão ou liberdade. Eu, particularmente, apesar de aplaudir de pé a revolução cubana, prefiro morrer fugindo que viver preso de barriga cheia. Se alguém se ausenta mais de um ano da ilha, perde automaticamente a cidadania cubana, sabia? Criticar o governo, então, nem pensar. O cubano tem de ser um soldado do regime, um porta-voz da sagrada revolución. É obrigado a deixar a sala de aula ou o trabalho para ir à praça escutar Fidel falar por cinco horas. Não pode acessar sites na internet e seu correio eletrônico é censurado. Ser homossexual em Cuba, até pouco tempo, podia dar cadeia.

Depois que Fidel se for, o que vai acontecer? Como el pueblo se comportará? E os cubanos de Miami? Tio Sam cessará o cruel embargo econômico? A ONU intervirá para ajudar a democratizar o país? Quem pode dizer? Mas o futuro já chegou e em breve falará oficialmente. Só espero que esse futuro mantenha as conquistas sociais trazidas pela Revolução e traga mais conforto e liberdade aos hermanos cubanos, que, mesmo com todas as dificuldades, são festivos e hospitaleiros. Ah, ia esquecendo de contar: todo turista, quando sai de Cuba, deve pagar ao governo uma taxa de vinte e cinco dólares, como presente à Revolução. Sem recibo.

Não há democracia em Cuba, é verdade, o que é um grande defeito do regime, mas isso não anula as conquistas sociais realizadas pela revolução cubana, conquistas que mesmo países ricos e democratas jamais conseguiram. Talvez a implantação da democracia em Cuba trouxesse também o risco de algum tipo de piora nos indicadores sociais, tão arduamente conquistados, é, talvez, mas, ao meu ver, é algo que deveria ter acontecido. Como eu acredito na viabilidade de uma democracia socialista, torço para que os cubanos, e nós brasileiros também, possamos um dia vivê-la. Hasta la victoria, siempre.

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Ricardo Kelmer 2006 – blogdokelmer.com

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> Esta crônica integra o livro Blues da Vida Crônica

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A propaganda oficial anti-EUA é onipresente no país. Esta placa está no Malecón. Equivaleria a estar no calçadão de Copacabana, no Rio, ou na Volta da Jurema, em Fortaleza, ou na Av. Paulista, em São Paulo.

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O isolamento do regime fez, em alguns aspectos, o tempo parar em Cuba. Para os colecionadores de carros antigos, Havana é um paraíso.

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Comitê de Defesa da Revolução. Espalhados pelos bairros, os CDRs são a mais poderosa das organizações cubanas não governamentais. Eles desempenham tarefas de vigilância coletiva contra atos de desestabilização do sistema político cubano.  Também participam em tarefas de saúde, higiene, de apoio à economia e de promoção da participação cidadã. Qualquer cidadão crítico do regime tem, obviamente, ficha suja nos CDRs.

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A santeria cubana e seu sincretismo religioso. O regime comunista da ilha não tem simpatia pela religião, mas boa parte da população pratica algum tipo.

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Vendo tudo borrado com Havana Club. Ah, o rum cubano… Na porta de um bar no centro de Havana fui abordado por um simpático cubano, que era fã do Ronaldinho Gaúcho e me ofereceu um Havana Club 7 Anos por U$ 10, uma pechincha que ele conseguia por ser amigos dos donos do bar. Empolgado, entreguei-lhe a grana, ele entrou no bar e fiquei esperando. Tô esperando até hoje, eu e meu chapéu de otário.

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Enchendo el cabezón com Bucanero.

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Os famosos paladares. Comida caseira, gostosa e barata.

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Uma família cubana.

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Mojitos com Christina no Malecón.

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BuenaVistaSocialClub1999CarnegieHall-01Buena Vista Social Club

Eu já sabia da existência do disco produzido por Ry Cooder. Aliás, eu já conhecia Ry Cooder pela trilha sonora dos filmes Paris Texas e Crossroads (A Encruzilhada). Porém, nunca havia procurado escutar as músicas. Após esta minha viagem a Cuba, baixei as músicas e… foi paixão imediata. A partir daí esse disco tornou-se trilha sonora da minha própria vida. O disco foi gravado em 1996, em Havana (e lançado em 1997), a partir da ideia de Ry Cooder de reunir músicos da era de ouro da música cubana. O nome do disco era uma homenagem ao Buena Vista Social Club, um lendário clube de Havana dos anos 1940-1950, onde esses músicos se apresentavam. O curioso é que vários deles estavam afastados dos palcos, alguns já aposentados, e o sucesso mundial instantâneo do disco os fez retomar a carreira, levando-os a se apresentar em vários países. Eles todos chegaram a tocar juntos em 10.07.98, no Carnegie Hall em Nova York, numa apresentação antológica que foi registrada em disco (2006) e consta no documentário Buena Vista Social Club, de 1999, dirigido por Win Wenders. Tanto os discos como o documentário são maravilhosos. Infelizmente a maioria dos artistas já estava em idade avançada, e um a um eles morreriam nos anos seguintes, mas felizmente puderam saborear o reconhecimento mundial de seu formidável talento.
> Baixe o disco (55mb)

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MAIS SOBRE CUBA

Cuba (Wikipedia)

Revolução Cubana (Wikipedia)

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LEIA NESTE BLOG

É a Tao coisa – Uma maneira intuitiva de compreender a realidade através da harmonia com o Tao

Rumo à estação simplicidade – Jurei me manter sempre no caminho, sem pesos nem apegos excessivos, pronto para pegar a estrada no momento em que a vida assim quisesse

Pelas coxias de Guaramiranga – Um delicioso festival de teatro na serra de Guaramiranga

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01- Recomendo … o texto , nao Cuba !!! Luciano Hamada, São Paulo – jul2015

02- Lindo! Michele SJ, Fortaleza-CE – nov2016

03- icardo Kelmer, muito bom vc compartilhar essa experiência. Realmente adorei ler! Clícia Karine Marques, Fortaleza-CE – nov2016

04- Q texto prazeroso de se ler! Shirlene Holanda, Fortaleza-CE – nov2016

05- Genial!!!! Melhor relato sobre a ilha desconheço!!! Kelzen Herbet, Fortaleza-CE – nov2016

06- Hasta Siempre Cuba.. Claudia Meirelles Bahia, Fortaleza-CE – nov2016

07- Muito bom, Ricardo! Virgínia Ludgero, Lourinhã-Portugal – nov2016

08- Atualíssimo! Cesar Veneziani, São Paulo-SP – nov2016

09- Bacana seu texto! Parabéns. Rosina Santana, Vitória da Conquista-BA – nov2016

10- Meu caro. Grande reportagem. Ótimo texto. Ailton D Angelo, São Paulo-SP – nov2016

11- Reli e mantenho minha admiração pelos teus textos Ricardo Kelmer. Sobre liberdade eu concordo muito. Ivonesete Zete, Fortaleza-CE – nov2016

12- Muito bom relato, bem verdadeiro. Ana Maria Castello, Nova Yok-EUA – nov2016

13- Sem nenhuma referencia a todo o historico da revolucao ou ideologias, nunca tive a menor vontade de ir para Cuba. A ideia de ser livre em um pais onde ninguem mais eh, de poder ir e vir qdo ninguem mais pode, sempre me causou repulsa. Nao, eu nao vou para Cuba. Otimo texto. =) Ana Claudia Domene Ortiz, Albuquerque-EUA – nov2016

RK: Tata, é certo que os cubanos não têm, ainda, a liberdade de ir e vir e nem a liberdade de expressão que nós temos, mas por que isso deveria invalidar que pessoas como eu e você, que lutamos por justiça social e liberdade, viajemos para Cuba para visitá-los? Visitar Cuba não significa necessariamente avalizar a repressão política ainda vigente lá nem os erros cometidos pelo regime. O país tem coisas lindas, e o povo cubano necessita desse intercâmbio com outras culturas. Você não acha? nov2016

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O mundo transparente e a nova cidadania

07/11/2013

07nov2013

O povo não deve temer seus governos, os governos é que devem temer o povo

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O MUNDO TRANSPARENTE E A NOVA CIDADANIA

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Primeiro, foi Julian Assange, o australiano que criou o site Wikileaks para promover o vazamento de materiais secretos, como forma de combater a corrupção nos governos e nas empresas. Assange atualmente é perseguido pelo governo dos Estados Unidos e desde 2012 se encontra refugiado na embaixada do Equador em Londres.

Depois, veio Chelsea Manning (nascida Bradley Manning), a militar transexual do Exército dos Estados Unidos, que revelou documentos secretos sobre as guerras do Iraque e do Afeganistão e informações diplomáticas que expuseram a podridão do governo dos Estados Unidos. Manning foi presa, teve negados seus direitos constitucionais e foi condenada a 35 anos de cadeia.

E agora, surge Edward Snowden, estadunidense ex-funcionário da CIA que denunciou à imprensa os programas que Tio Sam, sob pretexto de combater o terrorismo, usa para espionar a internet e as ligações telefônicas de cidadãos seus e de outros países. Snowden refugiou-se em Hong Kong, depois na Rússia, e está sendo raivosamente perseguido pelo governo Obama, que não o perdoa por ter revelado a verdade.

Esses três casos são três furos na velha estrutura de sigilo e espionagem dos Estados. Por enquanto, os governos conseguem tapar um ou outro, mas em breve surgirão outros furos e será impossível conter tanto vazamento, pois o mundo é cada vez mais transparente, e até para os governos está difícil esconder suas ações, mesmo as mais secretas.

As facilidades das comunicações e dos transportes estão tornando as sociedades cada vez mais interconectadas. Atualmente, os países se organizam em blocos geopolíticos, dissolvendo suas fronteiras, e a internet, permitindo o intercâmbio multicultural diário, faz nascer nas novas gerações uma revolucionária noção de cidadania global, para a qual as guerras não fazem nenhum sentido e as diferenças não são meros pretextos para conflitos. Isso tudo motiva a luta por democracia e contra governos opressores, e aponta para um possível futuro onde não teremos mais países: a Terra será a pátria de todos. Sim, ainda há muitas diferenças a serem superadas, preconceitos, fanatismos religiosos, interesses capitalistas… Mas os acontecimentos se aceleram e, apesar das resistências da velha ordem, esse futuro já está acontecendo.

Julian Assange, Chelsea Manning e Edward Snowden tiveram a coragem de denunciar o que estava errado, mesmo sabendo que o preço por desafiar os interesses de empresas e governos poderosos pode ser jamais ter uma vida tranquila. Suas belas atitudes não mudam o mundo de uma hora para outra, mas nos fazem ampliar nossa noção de cidadania, de um nível nacional para um nível global. E também fazem as pessoas no mundo inteiro começarem a se dar conta de uma verdade óbvia: o povo não deve temer seus governos, os governos é que devem temer o povo.

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Ricardo Kelmer 2013 – blogdokelmer.com

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O ATAQUE DOS HELICÓPTEROS

Em 12.07.07, na cidade de Bagdá, dois helicópteros do exército dos Estados Unidos executaram 12 homens durante um ataque surpresa. Os militares buscavam homens armados, mas confundiram dois funcionários da agência de notícias Reuters por causa de seus equipamentos e os mataram também, além de ferirem duas crianças. O site Wikileaks conseguiu o vídeo (gravado a partir da mira do helicóptero) e o divulgou em 2010, causando grande indignação em todo o mundo e contradizendo a versão do exército estadunidense mantida até então. O soldado Bradley Manning (que em 2013 viraria Chelsea Manning) foi preso sob a acusação de ter vazado o vídeo. Nesta versão do vídeo, o diálogo dos militares foi legendando em português e indicações mostram onde se encontravam os funcionários da Reuters. > Saiba mais sobre o ataque

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PatriaAmadaTerra-01aPátria amada Terra – É animador ver as novas gerações convivendo mais naturalmente com essa noção de cidadania planetária

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A ilha – Uma fábula sobre o autoconhecimento

A humanidade, o psicólogo e a esperança – Os acontecimentos mostram que a humanidade está se unificando, unindo seus opostos

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01- Muito bom Ric…o feitiço virando contra o feiticeiro… Emerson Boy Batista, São Paulo-SP – nov2013

 

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Acabou a paciência

19/06/2013

Ricardo Kelmer 2013

Cada um que protesta traz em si a frustração acumulada de tantas gerações por trabalhar dia após dia por um sistema econômico que finge querer o bem de todos mas concentra a renda

AcabouAPaciencia-01.

Vemos neste momento as manifestações enchendo as ruas das cidades brasileiras e nos perguntamos: o que está acontecendo? Sabemos que os grandes grupos de mídia têm seus interesses corporativos a defender e mostram os fatos pelo lado que lhes é mais vantajoso. Em quem deve confiar o cidadão interessado em se informar?

Errou a mídia que acusou o movimento de ter apenas jovens riquinhos brincando de fazer revolução, que reduziu os manifestantes a mera massa de manobra de partidos e que supervalorizou os atos de vandalismo cometidos por uma minoria. Sim, há riquinhos e vândalos nas manifestações mas eles não representam a imensa maioria dos manifestantes, que são pacíficos, de classe média e apartidários.

Movimento Passe Livre é o nome do grupo que, convocando protestos pelo aumento da tarifa de ônibus em São Paulo, acabou atraindo descontentes de toda parte e todos tinham algo mais para reivindicar. Como os protestos focam na melhoria do transporte público, isso forçará os governantes a priorizar essa questão em suas gestões, o que é ótimo. E como nos protestos não são poupados nem prefeitos, nem governadores e nem mesmo a presidenta, todos eles saem perdendo com as manifestações, o que é bem interessante.

Podemos ver pelos índices econômicos que o país melhorou em vários aspectos, sim. Porém, ainda há tanto a melhorar e as mudanças têm sido tão lentas que as manifestações que explodem pelo país inteiro sugerem algo que cedo ou tarde teria mesmo que acontecer: a população perdeu a paciência. O povo começa a perceber que, além do voto, o pleno exercício da cidadania inclui a fiscalização e a cobrança. Ponto para a democracia!

Raramente vimos na história uma mobilização popular de tal magnitude, espalhando-se espontaneamente e tão rápido por tantas cidades, sem lideranças definidas. A motivação inicial, que foi o preço da passagem, encontra eco mais que legítimo nas camadas populares, que precisam diariamente de transporte público, e agora os protestos miram também em questões como corrupção, reforma política, saúde, educação… Mas por que justamente agora?

As frases dos cartazes não o dizem diretamente mas arrisco afirmar que cada um que protesta traz em si a frustração acumulada de tantas gerações por trabalhar dia após dia por um sistema econômico que finge querer o bem de todos mas concentra a renda.

Revoltados por se sentirem injustiçados e não representados por seus políticos e governantes, os brasileiros parecem agora crer que podem mudar a situação indo às ruas. Se podem ou não, é o futuro que dirá, mas o presente já nos diz que o povo está enfim deixando de ser tão conformista e alcançando um novo nível de consciência política. É gol do Brasil!

Ultimamente vemos os protestos aumentando em muitos países. Com o mundo cada vez mais interconectado, a consciência coletiva passa a evoluir no mesmo ritmo e é assim que dia após dia as manifestações públicas por liberdade, democracia e direitos humanos se espalham pelo mundo. A humanidade parece exausta do capitalismo e dos atuais sistemas políticos.

A população brasileira, assim como em outros países, talvez esteja neste momento finalmente se dando conta de uma verdade óbvia: não é o povo que deve temer o governo, é o governo que deve temer o povo.

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Ricardo Kelmer 2013 – blogdokelmer.com

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AHumanidadeOPsicologoEAEsperanca-02> A humanidade, o psicólogo e a esperança – Os acontecimentos mostram que a humanidade está se unificando, unindo seus opostos

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> A imagem do século 20 – Vimos nossa morada flutuando no espaço. Vimos um planeta inteiro, sem divisõe. Não vimos este ou aquele país: vim o todo

> WikiLeaks e o nascimento da cidadania global – Quanto mais as pessoas se conectam à internet, mais elas se entendem como participantes ativos dos destinos do mundo e não apenas de seu país

> Eles estão na fronteiraMilhões de maltrapilhos famintos, perseguidos políticos, criminosos cruéis, terroristas suicidas, narcotraficantes e trombadinhas invadindo os países e quebrando tudo, estuprando nossas irmãs, matando todo mundo, o caos absoluto

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COMENTÁRIOS
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01- Disse tudo, primo!!! Vânia Dias, Fortaleza-CE – jun2013

02- Ricardo! Amei o texto! Vc disse tudo mesmo! Bjs! Isabella Furtado, Modena-Itália – jun2013

03- massa, tio! dá uma lida nesse outro texto: http://incandescencia.org/2013/06/18/isso-e-sim-sobre-20-centavos-conservadorismo-nos-movimentos-sociais. já vinha pensando sobre isso e esse texto me esclareceu algumas idéias. não concordo inteiramente com o autor, mas acho o texto valioso para o momento. hoje, por exemplo, vi o jornal da emissora cidade (eu acho) e eles faziam uma clara e obvia puxada das manifestações para um viés conservador e anti-dilma. logo após rechaçar os momentos de violência das manifestações e falar que os alvos agora são a corrupção e a violência, mostraram uma queda da dilma nas pesquisas de opinião. claro que, como diz o autor do texto, se fosse para algo mais à esquerda do PT, ótimo! mas não é! ‘é preciso estar atento e forte!’ abraço! Levy Mota, Fortaleza-CE – jun2013

04- PROPONHO UMA “nOVA CAMPANHA/MANIFESTO” INCLUSIVE, A SE ESPALHAR PELA NET COMO UM VIRAL: VAMOS REDUZIR EM PELO MENOS 50% O SALARIO DE TODA A CLASSE POLITICA,,,,,e aplica esta “economia” naquilo que o País realmente precisa… DUVIDO SE OS POLITICOS VIRIAM A PUBLICO PARA APOIAR ALGO ASSIM… E NADA JUSTIFICA OS SALARIOS ASTRONOMICOS DELES..NA-DA…. José Carlos Neves, Belo Horizonte-MG – jun2013

05- Concordo e compartilho Ricardo Kelmer Do Fim Dos Tempos. Ivonesete Rodrigues, Fortaleza-CE – jun2013

06- Dez o seu texto,mesmo!Você pergunta ao final o porquê do MPL agora,né?Inúmeras situações históricas surgiram de coisas banalíssimas.Tipo aquela máxima do mosquitinho na garganta quando já passaram até elefantes…rs.O que estou admirada é que a herança getulista dos jogos associados à política(arghhhh…isto te lembra alguma coisa,tipo Roma????),estão por um fio.O Brasil pode até AMAR futebol,mas a chancela de alienado não está mais tão aderente assim. Quase uma primavera árabe porque pode ser esquecido na entrada do outono…rs. Fateha Liza, Corumbá-MS – jun2013

07- Bacana! E o pior de tudo, Kelmer, é que entre os países emergentes, o Brasil foi o que menos cresceu economicamente, ficando atrás de Rússia, China e Índia. Ou seja, só crescemos em comparação a nós mesmos. Sobre “os movimentos”, como dizia um moderno filósofo da Revolução Francesa (Iluminismo): “Estamos saindo da menoridade, do acomodo que sempre nos assolou.”
Revolução Francesa (1789 – 1799) – Estopim: O aumento no preço do pão.
Revolução Brasileira (2013 – ) – Estopim: O aumento no preço daquilo que nos leva ao pão – o transporte público. Abraços escritor, sucesso! Rômero Barbosa Sérgio, Porto Nacional-TO – jun2013

 


Terror e êxtase na caverna

15/04/2013

15abr2013

Durante um tempo, ali fiquei, em êxtase, me sentindo parte de tudo aquilo, em paz com a caverna e comigo

TerrorEExtaseNaCaverna

TERROR E ÊXTASE NA CAVERNA

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Anos atrás fui convidado a participar de uma expedição do Ibama à gruta de Ubajara, no Ceará. Mas não seria uma visita comum, de grupos de excursão, com limites fixados para se aventurar na gruta. Participariam apenas espeleólogos, agrônomos, geólogos e arqueólogos de vários estados, e o grupo estava autorizado a ultrapassar os limites turísticos e seguir até o mais distante ponto conhecido.

De manhã cedo, o chefe da expedição reuniu o grupo de vinte e três pessoas, distribuiu capacetes, lanternas, cordas, sacos de lixo e atentou para que não deixássemos nenhum objeto lá dentro. Explicou que seguiríamos por uma via de difícil acesso rumo à Sala das Maravilhas (67m de profundidade, percurso de 1.120m), local alcançado por poucos devido ao alto grau de dificuldade. Lembrou as técnicas básicas, a posição firme do pé de apoio, manter sempre à vista o colega da frente. Apresentou-nos o guia mestre, que conhecia bem a via e seguiria à frente de todos. Então dividiu-nos em três grupos, cada um com seu guia próprio, e lá fomos nós, fila indiana, desafiar os segredos da grande caverna.

Eu já visitara a gruta como turista. Agora era diferente. Desde o início, senti uma solenidade no ar, como se realizasse algo muito importante. À medida que descíamos, o ar se tornava mais úmido e pesado e a respiração mais difícil. A caverna nos envolvia em seu manto de escuridão silenciosa e tudo em nós era concentração, esforço e cuidado. E respeito, muito respeito por tudo aquilo que a Natureza criara havia milhares de anos e que, gentilmente, nos permitia explorar.

Logo, as dificuldades começaram. Certas passagens eram tão estreitas que alguém mais gordo não passaria. As encostas enlameadas, difíceis de escalar, provocavam quedas. Havia trechos onde o teto era tão baixo que nos arrastávamos pelo chão, meio corpo dentro dágua. Cada guia, por ser mais ágil e experiente, tinha a missão de ir à frente, fixar bem a corda e aguardar que o restante de seu grupo finalizasse a passagem. Senso de equipe era fundamental: todos tinham que ajudar e ser ajudados.

Aos poucos, a tensão, o cansaço e o medo minavam as forças, forçando a desistência de alguns. Esses paravam, sentavam e ali mesmo ficavam, sempre acompanhados, para aguardar o retorno dos que prosseguiam. E eu? Eu era o próprio entusiasmo. Sentia a caverna como algo vivo, dona de uma força imensa e sabedoria própria, e isso me enchia de uma profunda reverência. Alguns passaram maus bocados, mas eu me sentia muito à vontade, como se sempre tivesse feito aquilo.

De repente, nos deparamos com um estreito buraco no chão. Já caminhávamos por três horas e estávamos cansados, mas ainda teríamos que passar por ali para alcançar o nível inferior seguinte, que enfim nos levaria ao trecho final. O guia mestre, segurando a corda-escadinha, já nos aguardava lá embaixo para auxiliar na descida. Nesse momento, algo curioso aconteceu. A espeleóloga que ia à minha frente chegou-se junto do buraco e então… ficou imóvel. Esperei que iniciasse a descida, mas, em vez disso, ela deitou-se ao chão e ficou na posição fetal, contorcendo-se. Percebi que seu corpo todo tremia e ela choramingava: “Mamãe… mamãe…”

O guia do grupo, mais experiente, entendeu logo o que se passava e me explicou: “Ela vai ficar boa, isso acontece até com os experientes. Vou ficar com ela. Daqui pra frente você assume o grupo.” Engoli em seco, sem acreditar. Guia do grupo, eu?! Em minha primeira exploração? Ele sorriu e confirmou, “Você vai conseguir”, enquanto tomava conta da mulher em sua crise de choro.

Meio atordoado com tudo aquilo, passei à frente, me aproximei do tal buraco e toquei a corda-escadinha, por onde desceria dez metros na escuridão. Segurei firme, botei os pés e… fiz a besteira de olhar para baixo. Imediatamente um estremecimento me percorreu por inteiro, corpo e alma. O coração quis sair pela boca e um pavor imenso me tomou o pensamento, impedindo qualquer raciocínio ou movimento. Quase borrei as calças. Por um instante, achei que também teria um colapso nervoso. Mas fechei os olhos e respirei fundo, tentando me acalmar. Precisava me controlar para fazer a descida com toda a atenção.

Quando finalmente toquei o chão, senti uma enorme alegria, vontade de sair gritando. Mas agora eu era o guia do grupo e precisava ajudar os outros. Depois daí vieram mais dificuldades e mais colegas desistiram, esgotados física e mentalmente. Eu continuei e, quatro horas depois do início, alcancei o destino final, com mais oito pessoas.

A Sala das Maravilhas parecia a abóbada de uma catedral. Havia pouca luz, mas vi que tinha uns quarenta metros de altura e sua beleza e imponência me faziam ridiculamente pequeno. Deitei-me ao chão, maravilhado, e fiquei quieto, olhos fechados, escutando o som musical dos pingos dágua que caíam lá de cima. Eu vencera. Superara as dificuldades, o medo e a própria desconfiança em mim. Durante um tempo, ali fiquei, em êxtase, me sentindo parte de tudo aquilo, em paz com a caverna e comigo. Tive vontade de ficar ali para sempre.

No fim da tarde, ao sairmos da gruta, eu sentia que algo havia mudado em mim. De fato, a experiência me tornaria um homem mais forte e autoconfiante. Por outro lado, me faria também mais humilde perante a Natureza. Explorar cavernas tem seus perigos, sim, mas muito mais perigoso é nos considerarmos separados da Natureza, nos julgarmos superiores e acharmos que podemos controlá-la. Se você ainda pensa assim, recomendo uma descidinha a alguma caverna. Não esqueça de manter firme o pé de apoio. E não custa nada levar papel higiênico. Mas não deixe nada lá dentro, tá?

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Ricardo Kelmer 2003 – blogdokelmer.com

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> Este texto integra o livro Blues da Vida Crônica

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CavernaUbajara-3.
A gruta de Ubajara está situada no leste do Estado do Ceará, no Parque Nacional de Ubajara, Serra da Ibiapaba, . Dista 3km do centro da cidade de Ubajara, possui uma área de 6.299 ha e é administrado pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). O acesso à gruta se dá por meio de teleférico, que desce mais 550m. Também é possível chegar à gruta pela trilha dos Cafundós, numa descida de mais de 4km. No período de janeiro a junho, a temperatura média é de 16 a 18 graus durante a noite, e entre 20 e 24 graus durante o dia. No período de julho a dezembro, a temperatura média é de 28 graus durante o dia, e de 19 graus durante a noite.

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CavernaUbajara-4.
A gruta de Ubajara tem 1.120m de extensão, dos quais 420m estão abertos ao público com o acompanhamento de guias. A gruta de Ubajara possui galerias e salas com formações de estalactites e estalagmites, como a Pedra do Sino, a Sala das Rosas, a Sala dos Retratos e a Sala das Maravilhas.

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> Mais sobre o Parque Nacional de Ubajara

360graus.terra.com.br
Blog Rotas Verdes

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Xamanismo de vida fácil – A tradição xamânica dos povos primitivos experimenta uma espécie de retorno, atraindo o interesse de pesquisadores e curiosos

Minha noite com a Jurema – Nessa noite memorável fui conduzido para dentro de mim mesmo pelo próprio espírito da planta, que me guiou, comunicou-se comigo, me assustou, me fez rir e ensinou coisas maravilhosas

A vida na encruzilhada (filme: O Elo Perdido) – Essa percepção holística da vida é que pode interromper o processo autodestrutivo que nos ameaça a todos

Carlos Castaneda (vídeo) – Especial da BBC sobre o polêmico antropólogo que estudou o xamanismo no México, escreveu vários livros e tornou-se um fenômeno do movimento Nova Era

O Elo Perdido (Missing Link) – Veja o filme. Homem-macaco tem sua família dizimada por espécie mais evoluída e vaga sozinho pelo planeta, conhecendo e encantando-se com a Natureza. Ao comer de uma planta, tem estranha experiência que o faz compreender o que aconteceu

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Seguir a boiada ou as próprias convicções

09/04/2013

09abr2013

A pior morte será sempre a das nossas próprias verdades, aquelas que nos fazem sentir mais vivos, úteis e autênticos.

SeguirABoiadaOuAsPropriasConviccoes-2

SEGUIR A BOIADA OU AS PRÓPRIAS CONVICÇÕES

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A paquistanesa Malala Yousafzai, o israelense Nathan Blanc e o russo Sergey Balovin, com seus exemplos de vida, estão mostrando ao mundo que… sim, um outro mundo é possível. À sua maneira, agindo de acordo com suas convicções pessoais, eles simbolizam a grande luta que travam nesse momento muitas pessoas em todo o planeta: a luta contra a opressão e por um mundo mais justo e harmonioso.

Malala tem 15 anos e luta contra o fanatismo religioso dos talibãs no Paquistão, que impede que as mulheres tenham educação. Nathan Blanc tem 19 anos, recusa-se a prestar o serviço militar e por isso já foi preso várias vezes pelo governo de Israel. O pintor russo Sergey Balovin tem 29 anos e tenta viver sem dinheiro, trocando sua arte por bens e serviços. São jovens que vivem em culturas diferentes, mas ousaram desafiá-las, expressando sua discordância e mantendo-se leal aos seus próprios valores. E pagando o preço por isso.

Religião, dinheiro e guerra – as três coisas têm muito a ver. Em nome delas os humanos perdem a razão, tornam-se fanáticos e se oprimem e se matam. No entanto, desde pequenos nos ensinam que elas são necessárias, que sem religião vamos para o Inferno, que com dinheiro compraremos a felicidade e que precisamos destruir quem pensa diferente de nós. O ensinamento é tão eficaz e dogmático que as pessoas não conseguem imaginar um mundo sem religião, sem dinheiro e sem inimigos e, assim, repassam os velhos dogmas aos seus filhos, e o mundo segue o mesmo, cultuando deuses misóginos, injustos e sanguinários, que exigem vidas e mais vidas em seu nome.

Sim, é defendendo ferrenhamente seus valores culturais que as sociedades se afirmam no mundo. Porém, elas também precisam ser renovadas senão envelhecem e entram em colapso. Parece contraditório, mas essa tensão permanente entre o antigo e novo é que movimenta a cultura, levando-a a explorar suas potencialidades. E é justamente para renovar a sociedade que, vindos de dentro delas mesmas, surgem os indivíduos que a contestarão e trarão os novos valores, forçando as pessoas a erguerem-se um pouco acima de sua própria cultura e a ampliar sua visão da realidade.

A vida dos contestadores, porém, não é fácil, pois não é simples libertar-se dos condicionamentos culturais e religiosos aos quais somos submetidos desde que nascemos. Eles estão tão entranhados em nosso entendimento da realidade que abandoná-los é como morrer, pois morre em nós aquilo que nos liga à cultura ao redor. Mas a pior morte será sempre a das nossas próprias verdades, aquelas que nos fazem sentir mais vivos, úteis e autênticos.

O preço a pagar pela autenticidade pode ser a incompreensão e a solidão, pois a boiada não tolera os que se diferenciam. O preço a pagar pode ser a violência, pois essa é a única linguagem dos opressores e fanáticos. Porém, para os que cultuam a liberdade de ser, é libertando-se um pouco a cada dia que o espírito se fortalece e inspira outros espíritos.

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Ricardo Kelmer 2013 – blogdokelmer.com

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SOBRE MALALA, NATHAN E SERGEY
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MalalaYousafzai-3Adolescente atacada por talibãs publicará sua história – Malala Yousafzai prossegue em sua luta contra o fanatismo religioso que impede a educação de mulheres. Ela foi baleada na cabeça em um ataque cometido no dia 09.10.13 contra o ônibus escolar no qual viajava no Vale do Swat (noroeste do Paquistão) por um grupo talibã que queria castigá-la por seu compromisso em favor da educação das meninas paquistanesas. Dias depois, foi transferida ao Reino Unido, onde foi tratada e submetida no início de fevereiro a duas cirurgias de reconstituição craniana. Em mar2013 a adolescente pôde voltar à escola, desta vez em Birmingham (centro da Inglaterra), onde a família viverá por algum tempo. Malala, que tem 15 anos, é uma das candidatas ao prêmio Nobel da Paz 2013.

UmMundoMelhorSergeyBolavin-1Artista russo vive sem dinheiro trocando retratos por bens e serviços – O artista russo Sergey Balovin encontrou uma maneira de viver pura e simplesmente de sua arte. Ele vive sem dinheiro, pintando retratos de amigos, conhecidos e desconhecidos e usando as obras para pagar alimentação, serviços, hospedagens e outras necessidades básicas diárias.

UmMundoMelhorNathanBlanc-1Israel prende jovem que se recusa a entrar no exército – Nathan Blanc tem 19 anos e nas últimas 19 semanas foi preso oito vezes por ser contra serviço militar. Nathan sente uma forte conexão com seu país, do qual tem orgulho em vários aspectos. “Mas tenho uma aversão a nacionalismo”, explica. De qualquer modo, afirma não querer “lidar com política e conflitos minha vida toda”. O jovem quer estudar ciência ou tecnologia na universidade e sabe que pode ter prejudicado de algum modo seu futuro. “Mas isso é pequeno quando comparado aos meus princípios em risco”, conclui.

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Jung – a jornada do autodescobrimento – Vídeo com um resumo da vida e das ideias de Carl Jung, o psicólogo e pensador suíço criador da teoria do inconsciente coletivo

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A Humanidade, o psicólogo e a esperança – Os acontecimentos mostram que a humanidade está se unificando, unindo seus opostos

Matrix e o Despertar do Herói, cap 5 – Se todos seguirem seu próprio caminho, não haverá mais boiada e, assim, a sociedade não conseguirá se organizar o suficiente. A diferenciação individual é um grande perigo para a sociedade coletiva, mas, por outro lado, ela precisa ser renovada

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DICA DE FILME

FILMEZeitgeist-01Zeitgeist (Direção: Peter Joseph. EUA/2007)
Este filme mostra o quanto a história é manipulada pelas elites religiosas e econômicas, que “criam” os fatos e nos fazem todos acreditarmos neles, lutarmos por eles, matarmos por eles
Veja também: Zeitgeist Addendum (2008) e Zeitgeist Moving Foward (2011)

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DICA DE LIVRO

MatrixEODespertarDoHeroiCapaEdicaoDoAutor-01Matrix e o Despertar do Herói
A jornada mítica de autorrealização em Matrix e em nossas vidas
Ricardo Kelmer, ensaio, 2005

Usando a mitologia e a psicologia do inconsciente numa linguagem descontraída, Kelmer nos revela a estrutura mitológica do enredo do filme Matrix, mostrando-o como uma reedição moderna do antigo mito da jornada do herói, e o compara ao processo individual de autorrealização, do qual fazem parte as crises do despertar, o autoconhecer-se, os conflitos internos, as autossabotagens, a experiência do amor, a morte e o renascer.

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O trem não espera quem viaja demais

16/03/2013

16mar2013

Alguns captam o recado da planta, entendendo que a trilha da liberdade existe, sim, mas deve ser localizada no cotidiano de suas vidas e, mais precisamente, em seu próprio interior

OTremNaoEsperaQuemViajaDemais-04

O TREM NÃO ESPERA QUEM VIAJA DEMAIS

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A maconha proporciona algo incrível: basta uma tragadinha para enxergar, bem à frente, a trilha da liberdade. É como se, de repente, uma trilha nítida surgisse no meio da mata espessa da vida e, ao caminhar por ela, nos libertássemos das limitações das regras sociais, abandonando a percepção padronizada da realidade e observando a vida sob um novo ângulo, bem mais interessante.

É exatamente assim, seduzidos pelo raro vislumbre dessa dimensão interior, que muitos se iniciam no uso da maconha. Porém, passado o efeito, a trilha da liberdade se dissipa feito névoa, ela que era tão nítida, tão próxima. A vida volta ao que era antes, uma mata espessa e difícil de ser vencida. Alguns captam o recado da planta, entendendo que a trilha da liberdade existe, sim, mas deve ser localizada no cotidiano de suas vidas e, mais precisamente, em seu próprio interior. Percebem que para trilharem, de fato, o caminho da liberdade, terão de livrar-se de tudo que atrapalha essa jornada interna. Terão de detectar pontos fracos e autoenganos. Terão de se comprometer com a transformação interior, autoconhecendo-se, reformulando ideias e atitudes sempre que necessário.

Fascinados com o vislumbre dessa dimensão interior que a planta lhes proporciona, muitos se frustram ao perceber que não é fácil ser livre no mundo externo do dia a dia, cheio de todo tipo de dificuldades. Muitos se cansam de procurar por si só a trilha da liberdade e então retornam à planta. Mas esquecem que ela apenas lhes faz lembrar que podem ser livres. Ela apenas mostra a trilha: cada um é que deve percorrê-la e conquistar, por si mesmo, sua própria liberdade, assumindo a responsabilidade por sua vida no dia a dia.

Sim, claro que não há nada demais em parar um pouco, fumar um baseado, relaxar, divertir-se e curtir a paisagem ao redor. A maconha também tem seu lado lúdico e ninguém é de ferro, né? O problema é o viajante relaxar demais e perder o trem, esquecer que tem de prosseguir, que há novos desafios à frente. Ele desperdiça a preciosa lição que recebeu e termina usando a maconha para fugir da realidade cotidiana, escondendo-se de seus próprios problemas e, dessa forma, criando mais um: a dependência da planta. O que era para libertar acaba virando muleta.

A maconha é isso: uma planta sagrada que pode nos reconectar à trilha interior da liberdade. Mas é bom saber que desrespeitar sua sabedoria natural leva o viajante a se acomodar na paisagem. E nada para atrasar mais uma viagem que perder o trem.

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Ricardo Kelmer 2002 – blogdokelmer.com

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> Esta crônica integra o livro A Arte Zen de Tanger Caranguejos

 

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Rio Droga de Janeiro – Série de três artigos sobre a questão da proibição das drogas

Minha noite com a JuremaNessa noite memorável fui conduzido para dentro de mim mesmo pelo próprio espírito da planta, que me guiou, comunicou-se comigo, me assustou, me fez rir e ensinou coisas maravilhosas

A Jurema e as portas da percepção (VIP) – Relato detalhado da experiência narrada em Minha Noite com a Jurema. Exclusivo para Leitor Vip. Basta digitar a senha do ano da postagem

A vida na encruzilhada (filme: O Elo Perdido) – Essa percepção holística da vida é que pode interromper o processo autodestrutivo que nos ameaça a todos

 

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DICA DE LIVRO

BaseadoNissoCapaMiragem-01aBaseado Nisso – Liberando o bom humor da maconha
Ricardo Kelmer – Contos + glossário

Os pais que decidem fumar um com o filho, ETs preocupados com a maconha terráquea, a loja que vende as mais loucas ideias… O autor reuniu em dez contos alguns dos aspectos mais engraçados e pitorescos do universo dos usuários de maconha, a planta mais polêmica do planeta. Inclui glossário de termos e expressões canábicos. O Ministério da Saúde adverte: o consumo exagerado deste livro após o almoço dá um bode desgraçado.
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DICA DE FILME

Carlos Castaneda – Especial da BBC sobre o polêmico antropólogo que estudou o xamanismo no México, escreveu vários livros e tornou-se um fenômeno do movimento Nova Era

O Elo Perdido (Missing Link, 1988)
Homem-macaco tem sua família dizimada por espécie mais evoluída e vaga sozinho pelo planeta, conhecendo e encantando-se com a Natureza. Ao comer de uma planta, tem estranha experiência que o faz compreender o que aconteceu. Roteiro e direção: Carol Hughes e David Hughes. Com Peter Elliott

 

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As encarnações da liberdade e da opressão

24/01/2013

24jan2013

No drama da existência humana liberdade e opressão sempre duelarão, e o que decidimos agora reforçará a um ou a outro lado no futuro

AsEncarnacoesDaLiberdadeEDaOpressao-2

AS ENCARNAÇÕES DA LIBERDADE E DA OPRESSÃO

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Todas as vidas, de todos os tempos, estão interconectadas. Esta é a mensagem básica do filme A Viagem (Cloud Atlas, baseado no livro Cloud Atlas Sextet, de David Mitchell), dos diretores Lilly Wachowski, Lana Wachowski e Tom Tykwer. As seis histórias que ele conta, passadas em épocas e lugares diferentes, ligam-se entre si pelas decisões individuais dos personagens que, sem saber, provocam drásticas mudanças nas vidas futuras e na própria história da Humanidade. O fato dos atores viverem vários personagens sugere que, de algum modo, somos todos os que nos antecederam e nos antecederão. Instigante, né?

Uma a uma, as histórias são contadas, alternando-se e entrelaçando-se: a escravidão de negros no século 19, o amor proibido de dois homens, o descaso da lógica capitalista pela vida humana, o cruel confinamento de idosos, a mecanização da existência numa sociedade totalitária e a prisão da mente às crenças religiosas, e em todas as histórias as pessoas lutam para libertar-se e libertar a sociedade de forças opressoras. O filme mostra que garantia de final feliz não há, pois os sistemas sociais são fortes e quem luta contra eles geralmente termina mal – mas mostra também que no drama da existência humana liberdade e opressão sempre duelarão, e o que decidimos agora reforçará a um ou a outro lado no futuro.

Desse tema da interconexão das vidas em diferentes épocas eu, particularmente, sou bem íntimo, pois gira exatamente sobre isso a trama de meu romance O Irresistível Charme da Insanidade. Em meu livro, porém, as vidas se cruzam por meio da sensação de déjà-vu, e passado e futuro influenciam-se mutuamente, numa lógica não linear do tempo. É uma metafísica difícil de conceber, eu sei, mas desconfio que logo os avanços tecnológicos nos trarão boas surpresas sobre a natureza do espaço-tempo e sobre a noção de eu. Em A Viagem, as conexões entre as vidas estão dentro da concepção comum do tempo linear, sim, mas elas também sugerem algo nesse sentido.

As irmãs Lilly e Lana Wachowski (antes, Andy e Larry) já mostraram, como diretoras, roteiristas e produtoras, que usam o cinema para nos fazer pensar criticamente sobre o mundo em que vivemos. Em Matrix e V de Vingança, há a luta incessante pela liberdade e pelo direito de todos sabermos a verdade. Agora, com A Viagem, ao mostrar as sutis conexões entre todas as vidas, elas nos incentivam a prosseguir na luta por liberdade e verdade, para que nossos esforços sejam captados no futuro pelos que lutam pela mesma causa.

Em um mundo onde as grandes corporações, que só visam ao lucro, têm mais força que os governos e estes precisam do apoio daquelas, o que pode o cidadão comum contra essa junção de poderes que vê nele apenas um eleitor ou um consumidor? Bem, pode votar mais consciente, protestar e lutar por mais transparência nas informações, democracia e respeito aos direitos humanos. Pode lutar contra o consumo exagerado e os preconceitos. Pode, e deve, fazer sua parte. Porém…

Um futuro melhor para a Humanidade e o planeta não é garantido, mesmo que você faça a sua parte, pois há outras forças envolvidas. Em A Viagem, foram em vão todos os esforços, já que a ganância destruiu a Terra? Vale mesmo a pena lutar por coisas como liberdade e verdade? Ou é mais vantajoso seguir a lei que diz que o fraco é a carne que o forte come?

Minha resposta para essas perguntas é a cena inicial do filme: se as histórias continuam a ser contadas, é porque a luta ainda não acabou.

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Ricardo Kelmer 2013 – blogdokelmer.com

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FILMEAViagem-1A VIAGEM

Cloud Atlas, EUA/ALE/Hong Kong/Cingapura, 2012
Direção: Andy Wachowski, Tom Tykwer, Lana Wachowski
Roteiro: Tom Tykwer, Andy Wachowski, Lana Wachowski
Elenco: Tom Hanks, Halle Berry, Hugo Weaving, Jim Sturgess, Susan Sarandon, Hugh Grant, Ben Whishaw, Keith David, Jim Broadbent, James D’Arcy, Doona Bae
Produção: Stefan Arndt, Grant Hill, Tom Tykwer, Andy Wachowski, Lana Wachowski
Fotografia: Frank Griebe, John Toll
Trilha Sonora: Reinhold Heil, Johnny Klimek, Tom Tykwer
Duração: 172 min
Distribuidora: Imagem Filmes
Estúdio: Anarchos Productions / Media Asia Films / X-Filme Creative Pool / Asacine Produções / Five Drops / A Company Filmproduktionsgesellschaft

Treiler do filme

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Jung – a jornada do autodescobrimento – Vídeo com um resumo da vida e das ideias de Carl Jung, o psicólogo e pensador suíço criador da teoria do inconsciente coletivo

Livros: He, She, We – Os rios de nossas vidas correm, na verdade, por leitos muito, muito antigos – os mesmos leitos que outras águas, ou outras pessoas, também percorreram

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Cine Kelmer apresenta – Dicas de filmes

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DICA DE LIVRO

ICI2011Capa-01dO Irresistível Charme da Insanidade
Ricardo Kelmer, romance

Nos séculos 16 e 21, dois casais vivem duas ardentes e misteriosas histórias de amor. Ou será o mesmo casal?

Um músico obcecado pelo controle da vida. Uma viajante taoísta em busca da reencarnação de seu mestre-amante do século 16. O amor que desafia a lógica do tempo e descortina as mais loucas possibilidades do ser.

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Comentarios01 COMENTÁRIOS
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01- acho que os irmãos Wachowski são bons candidatos a dirigir o filme do Insanidade. Wanessa Bentowski, Fortaleza-CE – jan2013

02- bom cometário Ricardo, como dizia Platão discipulo de Socrates que o sucesso terreno (homicidas, tiranos,libertinos,…) e o insucesso terreno (Socrátes, atribuido a sua morte) não podem representar critérios de mensurabilidade do caráter de um homem (se justo ou se injusto) . No reino das aparências (mundo terreno, sensível) o que parece ser justo, em verdade, não o é, e o que parece ser injusto, em verdade, não o é.( Eduardo Bittar, professor da USP). Luis Carlos Linhares, Fortaleza-CE – jan2013



O novo salto quântico da consciência

05/01/2013

05jan2013

Por qual razão tantas pessoas ousam se submeter a uma experiência incerta, largando a segurança de sua mente cotidiana e desafiando o desconhecido de si mesmo?

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O NOVO SALTO QUÂNTICO DA CONSCIÊNCIA

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A cada dia, mais pesquisadores ligados ao estudo da consciência, antropologia, psicologia e botânica se debruçam sobre uma possibilidade intrigante e polêmica. É provável que as plantas psicoativas (que induzem a mente a funcionar em estados especiais) possam ter contribuído significativamente para o surgimento da autoconsciência, fator decisivo que proporcionou aos nossos ancestrais, num determinado ponto da evolução, as condições para sobreviver e gerar a incrível espécie a qual pertencemos, o Homo sapiens.

Admitir tal hipótese é mexer num vespeiro. Muita gente se indagará: “Então nós humanos só existimos porque um bando de macacos comeram umas plantinhas e ficaram doidões?” Imagino os mais religiosos: “Era só o que faltava! Deixa só Deus escutar isso!” Pois infelizmente para muita gente, e até para alguns deuses, essa hipótese vem sendo estudada com seriedade e encontra ressonância positiva no meio científico.

Quem já passou por uma experiência com as tais plantas sagradas, como a Ayahuasca, o Peiote e a Jurema, sabe perfeitamente do imenso poder que elas guardam. E sabe também que elas não se prestam a um consumo recreativo, exatamente porque podem tocar muito fundo em nosso interior, abalando nossa compreensão da realidade e de nós mesmos e nos fazendo emergir da experiência profundamente transformados. Xamãs e pajés do mundo inteiro as utilizam há milhares de anos em contextos religiosos e terapêuticos. Atualmente, médicos e pesquisadores unem medicina acadêmica com antiquíssimas práticas xamânicas que envolvem o uso de plantas psicoativas e, com essa curiosa união, obtêm resultados animadores na cura de doenças, como a dependência química.

No Brasil, proliferam-se seitas que em seus rituais utilizam chás à base dessas plantas, chamando a atenção de estudiosos para o emergente fenômeno. Toma-se o chá para entrar num estado de consciência não ordinário, onde é possível viver experiências sensoriais e cognitivas as mais diversas. Há quem encontre pessoas vivas ou mortas, santos, entidades animais ou espíritos de plantas. Há os que experimentam capacidades psíquicas incomuns ou vivenciam uma intensa sensação de união com a Natureza e tudo que existe. Há quem passe por profundas experiências de autoinvestigação psicológica ou seja tocado por revelações importantes de caráter terapêutico e que podem mudar toda uma vida. Pode não acontecer nada, mas também pode ser prazeroso ou doloroso. Depende de cada um e de seu momento. Alguns religiosos radicais, sempre obcecados, diriam que é coisa do demônio. Alguns psicólogos talvez usassem o termo “terapia de choque”.

Por que a crescente procura atual pelas plantas de poder dos xamãs? Por qual razão tantas pessoas ousam se submeter a uma experiência incerta, largando a segurança de sua mente cotidiana e desafiando o desconhecido de si mesmo? Minha impressão é que isso tudo talvez signifique uma forma de religação à Natureza. Religação, sim, porque nós também fazemos parte da Natureza, mas infelizmente passamos a nos ver separados dela, nos distanciamos da sabedoria natural do planeta e agora, perdidos num mundo caótico e insano, buscamos experiências que nos reconectem às nossas verdades mais profundas. Entendo isso como um anseio natural e legítimo de uma espécie adoecida: o anseio de cura, liberdade, totalidade e harmonia com a Mãe Terra.

Por minha própria experiência, sei que plantas psicoativas podem ser muito úteis porque nos fazem olhar para dentro, nos reconectam às leis naturais e ao sagrado de nossas vidas, nos lembram de nosso potencial para a autocura e ajudam a nos libertarmos de medos, culpas e bloqueios. Não há como não se transformar após um profundo encontro consigo mesmo. É por isso que quem passa por tais experiências xamânicas engrossa a legião dos que entendem o mais importante: somente a profunda mudança interior de cada um é que fará finalmente com que o mundo mude para melhor.

Talvez nesse momento as plantas sagradas estejam nos alertando para o fato que quanto mais pessoas se religarem à sua verdade mais íntima, mais próxima a humanidade estará de seu ponto de equilíbrio. Porém, na busca angustiada pela cura, muitos exageram no remédio, caindo escravos justamente daquilo que um dia elegeram como libertador. As plantas sagradas não ficam de fora desse perigo. Tenho amigos que fazem parte de seitas que utilizam tais plantas e certamente discordarão. Respeito o que eles pensam e admiro sua busca pessoal, mas como tudo mais que existe, as plantas sagradas também possuem dois lados.

Religiões, seitas e gurus funcionam muito bem para os que necessitam de regras ou se sentem mais seguros pertencendo a um grupo. Porém, há pessoas que conseguem beber em todos os ensinamentos e usufruir do melhor que eles oferecem sem ter de se enquadrar em nenhum específico. É um caminho mais solitário, evidente, e exige um contínuo estar aberto ‒ mas que recompensa quem o trilha com a liberdade que nenhum outro caminho pode oferecer. As regras da seita ou as palavras do guru podem até iluminar por um tempo, sim, mas até mesmo essa luz pode cegar para os horizontes seguintes da jornada. É isso o que ensinam as plantas de poder, que devemos abandonar as muletas e aprender a caminhar por nós mesmos.

O atual processo coletivo de reconectar-se aos valores da Natureza pelas plantas psicoativas não significa uma espécie de retrocesso evolutivo e que devemos voltar a saltar pelas árvores. Nada disso. Uma vez ultrapassados, os marcos da evolução da consciência sempre nos impulsionam para o novo, jamais para trás. Porém, a verdadeira evolução avança em forma de espiral, e é por isso que quando o caminho parece retornar a um determinado ponto, ele está sim passando novamente por lá ‒ mas num novo nível, numa nova dimensão.

Talvez essas poderosas plantas, que acompanham nossa espécie desde seu nascimento numa impressionante relação simbiótica, estejam agora nos oferecendo a preciosa oportunidade de mais um salto quântico da consciência, uma intensa transformação da mente e de sua interpretação da realidade, como fizeram nossos peludos antepassados em algum ponto de sua jornada. Agora, porém, diferente deles, possuímos razão e discernimento. Possuímos milênios e milênios de experiência sedimentados no inconsciente comum da espécie e temos nossos próprios erros para nos guiar.

Retornaremos à Mãe Terra e ao sagrado, sim, porque não há outro caminho se quisermos de fato sobreviver como espécie. Mas o faremos num novo nível, porque agora estamos mais experientes para lidar com o grande mistério da vida, esse mistério que nos maravilha e assombra cada vez que olhamos para o sem-fim do Universo lá fora ou para o infinito interior de nós mesmos.

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Ricardo Kelmer 2001 – blogdokelmer.com

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> Esta crônica integra o livro A Arte Zen de Tanger Caranguejos

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EM ITALIANO

IL NUOVO SALTO QUANTICO DELLA COSCIENZA

RK analizza le piante psicoattive e la loro importanza nel processo evolutivo della specie umana

ONovoSaltoQuanticoDaConsciencia-1Ogni giorno che passa più ricercatori legati allo studio della coscienza, antropologia, psicologia e botanica investigano su una possibilità almeno intrigante e polemica. Probabilmente le piante psicoattive (che inducono la mente a funzionare in stati speciali) possono aver contribuito di maniera significante al sorgere dell’autocoscienza, fattore decisivo che ha proporzionato ai nostri predecessori, in un determinato punto dell’evoluzione, le condizioni per sopravvivere e per generare l’incredibile specie alla quale apparteniamo: l’Homo sapiens. Ammettere tale ipotesi è come toccare un alveare. Molti si chiederanno: “Vuoi dire che noi umani esistiamo soltanto perché un gruppo di scimmie ha mangiato delle piantine e si sono sballati?”

Immagino i più religiosi: “Era quello che ci mancava! Vediamo cosa dirà Dio al sentire questo!” Per la sfortuna di molta gente, e anche di alcuni dei, questa ipotesi viene da qualche tempo studiata con serietà e trova risonanza positiva nell’ambiente scientifico.

Chi ha già avuto un’esperienza con queste “piante sacre”, come “l’ayahuasca” (tisana ricavata dal vino di Banisteriopsis caapi e dalle foglie di Psychotria viridis), il “peyote” (Lophophora williamsii e Lophophora diffusa) e la “jurema” (Mimosa tenuiflora e Mimosa verrucosa) conosce perfettamente l’incredibile potere che hanno. E sa anche che loro non servono ad un consumo ludico, esattamente perché di solito vanno molto a fondo nel nostro interiore, indebolendo la nostra comprensione della realtà e di noi stessi, e ci fanno invece emergere da quest’esperienza profondamente trasformati. “Pajés” (gli indigeni dell’Amazonia che applicano la “pajelança”)* e sciamani di tutto il mondo le utilizzano da migliaia di anni nei contesti religiosi e terapeutici. Attualmente medici e ricercatori di diversi paesi uniscono alla medicina accademica le pratiche sciamaniche che coinvolgono l’uso di piante psicoattive e, con questa curiosa unione, ottengono risultati incoraggianti nella cura di molte malattie come la dipendenza chimica.

Attualmente in Brasile c’è la proliferazione di sette e di altri gruppi dissidenti a queste sette che nei suoi rituali utilizzano tisane a base di queste piante, richiamando l’attenzione degli studiosi a questo emergente fenomeno. Si beve la tisana per entrare in uno stato di coscienza non ordinario, dove è possibile vivere le più diverse esperienze sensoriali e cognitive. Alcuni incontrano persone vive o morte, santi, entità animali o gli spiriti delle piante. Alcuni provano capacità paranormali non comuni o vivono un’intensa sensazione di unione con la Natura e con tutto quello che esiste. Alcuni passano per profonde esperienze di autoindagine psicologica così come di autoguarigione, o sono toccati da rivelazioni importanti che possono cambiare tutta la vita. Può darsi che non capiti niente, ma può essere piacevole o doloroso. Può essere infernale o divino ma sarà sempre costruttivo. Dipende da ognuno e dal suo momento. I religiosi radicali, sempre accecati, affermerebbero che è una cosa del demonio. Forse alcuni psicologi userebbero il termine “terapia d’urto”. Forse non è nient’altro che un provvidenziale rincontro con se stessi e con la sua verità più intima.

Perché la crescente ricerca delle piante di potere dei sciamani? Per quale motivo tante persone osano sottomettersi ad un’esperienza incerta, abbandonando la loro sicurezza quotidiana mentale e sfidando il lato sconosciuto di se stessi? La mia impressione è che tutto questo probabilmente significa, in ultima istanza, una forma di ricollegamento con la Natura perché, nella realtà, siamo una parte integrante. Purtroppo, è successo che ci siamo separati da lei e, per questo motivo, ci siamo allontanati troppo della saggezza del pianeta, ed adesso, persi in un mondo sempre più caotico ed insano, cerchiamo con avidità delle credenze ed esperienze che ci ricolleghino al più grande senso della vita e alle nostre verità più profonde. Capisco questo come un’ansia naturale e legittima di una specie ammalata: l’ansia di guarigione, libertà, totalità ed armonia con la Madre Terra.

Dalla mia esperienza personale, so che le piante psicoattive possono essere molto utili perché ci fanno guardare dentro, ci ricollegano alle leggi naturali e al sacro delle nostre vite, ci ricordano il nostro potenziale per l’autoguarigione e ci aiutano a liberarci dalle paure, colpe e blocchi. È impossibile non trasformarsi dopo un profondo incontro con se stessi. È per questo che chi passa per tali esperienze sciamaniche aumenta la legione di quelli che capiscono la cosa più importante: soltanto il profondo cambiamento interiore di ognuno di noi potrà finalmente cambiare il mondo in migliore.

Forse è questo l’invito che le piante sacre fanno in questo momento alla nostra specie: più persone si ricollegano alla loro verità più intima, più l’umanità sarà vicina dal suo punto di equilibrio. D’altra parte, so anche che la specie umana è ammalata e che, nella angosciata ricerca della guarigione, è capace di esagerare nella cura. Per questo, in questa urgente ricerca di valori spirituali, è necessario soprattutto, dare priorità alla libertà e prestare attenzione al rischio sempre presente di diventare schiavi esattamente da quello che un giorno abbiamo eletto come liberatore. Le piante sacre non sono escluse da questo pericolo. Ho amici che fanno parte di sette che utilizzano tali piante e che sicuramente non saranno d’accordo. Rispetto quello che pensano e ammiro la loro ricerca personale. Però, così come tutto quello che esiste, anche le piante sacre hanno due lati. Se un lato libera, l’altro è lì pronto a schiavizzare nel caso tu sia eccessivamente legato alle piante, non rimanga attento ed equilibrato.

Religioni, sette e guru funzionano molto bene con chi ha bisogno di regole o si sente più sicuro appartenendo ad un determinato gruppo. Loro sono nella tua strada e questo deve essere rispettato. Ma esistono persone che riescono a trarre degli insegnamenti ed approfittare del meglio di quello che offrono senza dover inquadrarsi in nessuno specifico. È un cammino più solitario, evidentemente, ed esige un continuo “essere aperto” – ma, giusto per questo, ricompensa chi segue questo cammino con la libertà che nessun’altro può offrire. Sì, le regole della setta o delle parole del guru possono addirittura illuminare per un tempo, ma questa stessa luce può accecare i successivi orizzonti del processo. Il principale insegnamento delle piante di potere (così come dovrebbe essere l’insegnamento di ogni guru) è questo: dobbiamo abbandonare tutte le stampelle ed imparare a camminare da soli.

Questo attuale processo collettivo di ricollegarsi ai valori della Natura tramite le piante psicoattive non significa una forma di retrocessione evolutiva e che ci fa tornare a vivere sugli alberi. Non è niente di questo. Una volta ultrapassati, i segni dell’evoluzione della coscienza ci spingono sempre verso il nuovo, mai indietro. Succede che la vera evoluzione avanza come una espirale ed è per questo che quando il cammino sembra ritornare ad un determinato punto, nella realtà lui sta passando nuovamente lì – però in un altro livello, superiore, in un’altra dimensione.

Forse queste potente piante, che accompagnano la nostra specie dalla nascita in un’impressionante relazione simbiotica, stiano adesso offrendoci la preziosa opportunità di un altro salto quantico della coscienza, un’intensa trasformazione della mente e della sua interpretazione della realtà – come hanno fatto i nostri pelosi predecessori in qualche punto del loro processo. Adesso, però, diversamente da loro, abbiamo la ragione e il discernimento. Possediamo millenni e millenni di esperienza sedimentati nell’incosciente comune della specie ed abbiamo i nostri propri errori che ci guidano.

Ritorneremo alla Madre Terra ed al sacro, sì, perché non esiste un’altro cammino se vogliamo di fatto sopravvivere come specie. Ma lo faremmo in un nuovo livello perché adesso siamo più capaci per affrontare il grande mistero della vita, questo mistero che ci meraviglia e spaventa ogni volta che guardiamo l’infinito mondo fuori e dentro noi stessi.

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Ricardo Kelmer è scrittore, paroliere e sceneggiatore ed abita a São Paulo

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* N.T.:

PAJELANÇA: una forma di culto sciamanico esistente nella regione Nord del Brasile, con rituali d’origine indigena mescolati ad elementi dello spiritismo, cattolicismo e dei culti afro-brasiliani. I celebranti sono chiamati “pajés”, termine d’origine tupi che significa sciamano. La pajelança coinvolge canti e balli per chiamare gli spiriti, accompagnati soltanto del “maracá” (semplice strumento di percussione). La principale finalità è ottenere la guarigione di malattie fisiche. La pajelança non deve essere confusa con i credi, rituali e pratiche mediche proprie di ogni popolo indigene.

SCIAMANO: è il personaggio delle religioni tradizionali dell’Asia settentrionale, anche se esistono sciamani in altre società, come in America settentrionale ad esempio; il termine “xamã” designava determinati stregoni dell’Africa tradizionale. Secondo il credo, quando cade in stato di trance, lo sciamano è posseduto dagli spiriti che parlano e agiscono tramite lui. È la stessa cosa per il “pajé” fra gli indigeni brasiliani.

TRADUZIONE: Isabella Furtado – REVISIONE: Massimo Savigni

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MinhaNoiteComAJurema-1Minha noite com a Jurema – Nessa noite memorável fui conduzido para dentro de mim mesmo pelo próprio espírito da planta, que me guiou, comunicou-se comigo, me assustou, me fez rir e ensinou coisas maravilhosas

Xamanismo de vida fácil – A tradição xamânica dos povos primitivos experimenta uma espécie de retorno, atraindo o interesse de pesquisadores e curiosos

A vida na encruzilhada (filme: O Elo Perdido) – Essa percepção holística da vida é que pode interromper o processo autodestrutivo que nos ameaça a todos

Carlos Castaneda (vídeo) – Especial da BBC sobre o polêmico antropólogo que estudou o xamanismo no México, escreveu vários livros e tornou-se um fenômeno do movimento Nova Era. Legendado

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FILME: O Elo Perdido (Missing Link)
Um milhão de anos atrás, na África, homem-macaco tem sua família dizimada por hominídeos e ele vaga sozinho pelo planeta, conhecendo e encantando-se com a Natureza. Ao comer de uma planta, tem estranha experiência que lhe traz importantes revelações.

O Elo Perdido (Missing link, EUA, 1988)
Direção: David Hughes e Carol Hughes
Elenco: Peter Elliot, Michael Gambon, Brian Abrahams, Clive Ashley

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MISSING LINK – TRÊILER

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 COMENTÁRIOS
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01-  “…porque nós também fazemos parte da Natureza mas infelizmente passamos a nos ver separados dela, nos distanciamos da sabedoria natural do planeta e agora, perdidos num mundo caótico e insano, buscamos experiências que nos reconectem às nossas verdades mais profundas…”!!!Amei isso!!! Texto fantástico!!! Silvana Alves, Fortaleza-CE – jan2013

02- mas quando a encontramos tudo fica iluminado e na mais perfeita harmonia… sinto-me connectada com a mae natureza e por isso pareço estar feliz o tempo todo mesmo nos piores momentos… Dhara Bastos, Fortaleza-CE – jan2013


Viva Chitara

22/12/2012

22dez2012

Torço por ela, mas sei que Chitara não tem chances. Cedo ou tarde a pegarão. Mas ao menos ela terá provado o sabor da liberdade

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VIVA CHITARA

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Faz uma semana que mudei meu hábito de ler jornal. Em vez de ir direto à página esportiva, agora abro o jornal na expectativa de saber notícias sobre ela, Chitara. Não, não é nenhuma nova cantora colombiana. É a leoa que fugiu do circo no povoado de Salgado, município de Paracuru, litoral oeste do Ceará. A leoa se embrenhou na mata e o Ibama, face o perigo da situação, autorizou o abate, condenando-a à morte.

Acontece que isso faz uma semana e nada de pegarem a leoa fujona. Moradores já avistaram o animal saltando uma cerca, bebendo água na lagoa, mas até agora nada de capturarem Chitara. Polícia, bombeiro, mateiro, atirador de elite, caçador, cão farejador ‒ já mandaram o diabo atrás dela, mas toda vez que a avistam, ela dribla todo mundo e desaparece. Helicóptero dá rasantes pela mata todo dia, botam galinhas e carneiros como isca… Não tem jeito. Chitara segue solta na mata, estressando pebas, preás e cassacos e ludibriando seus perseguidores como se dissesse: Vocês mandam na selva de pedra, mas nesta aqui mando eu!

Admito que nesse jogo de caça e caçador estou torcendo descaradamente pela caça. Claro que não desejo que ela ataque alguém. Quero apenas que Chitara aproveite seus últimos dias fazendo aquilo para o qual nasceu, viver junto à Natureza, caçar outros bichos, correr livre, leve e solta por aí ao vento, exercitar seus instintos de animal selvagem… Imagino que não deve ser fácil ter que se esconder o dia inteiro de monstros metálicos voadores e fugir de bípedes cruéis que querem a todo custo assassiná-la, mas convenhamos: para Chitara isso é mil vezes melhor que passar o resto da vida entristecendo numa jaula e ainda tendo que fazer gracinhas num picadeiro de circo.

Não sei se você sabe, mas arrancaram as garras de Chitara quando ela era bebê. Ela está, portanto, sem sua principal arma de ataque e sem sua melhor defesa. Mesmo assim já resiste há mais de uma semana. No início da fuga ela foi baleada, mas mesmo ferida não se entregou. Se ao menos lhe garantissem que não a matariam, que apenas lhe aplicariam um tranquilizante e a levariam a um zoológico decente… Mas não. A ordem é atirar para matar.

Defendo Chitara porque ela não tem mais como se defender do que lhe fizeram. Defendo porque não é justo retirar um animal de seu habitat, privá-lo de sua sagrada liberdade, mutilá-lo, aprisioná-lo numa jaula para o resto da vida e ganhar dinheiro às custas de sua escravidão e sofrimento. Se nesse momento Chitara ameaça a vida de seres humanos, isso é apenas a consequência final de todos os atos de ganância e crueldade praticados pelos humanos. Eu também fugiria. Você não?

Torço por ela, mas sei que Chitara não tem chances. Cedo ou tarde a pegarão. Mas ao menos ela terá provado o sabor da liberdade. Talvez no instante em que você lê esta crônica, Chitara já esteja morta, uma bala de grosso calibre alojada em seu corpo. Lerei a notícia com tristeza, sim, mas com esperança. Talvez a história de Chitara se transforme em lenda para as crianças daquelas bandas. Então imagino-as sentadinhas ao redor da avó, noite de lua, escutando atentas a história da valente leoa fugitiva e, em sua pura compreensão de criança, captando aquilo que a maioria dos adultos já esqueceu: melhor viver os riscos da liberdade que morrer numa escravidão tranquila.

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Ricardo Kelmer 2001 – blogdokelmer.com

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Esta crônica integra o livro A Arte Zen de Tanger Caranguejos

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SAIBA MAIS

VivaChitara-2Leoa é ferida à bala, mas consegue fugir – Diário do Nordeste, 30.11.01

Leoa abatida a tiros em Paracuru – Diário do Nordeste, 07.12.01

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LEIA NESTE BLOG

A imagem do século 20 – Vimos nossa morada flutuando no espaço. Vimos um planeta inteiro, sem divisões. Não vimos este ou aquele país: vimos o todo

A mensagem de Avatar ao Povo da Terra – Temos de compreender o que os antigos já sabiam e nós esquecemos: a Terra é um ser vivo e nós fazemos parte dele

Pátria amada Terra – É animador ver as novas gerações convivendo mais naturalmente com essa noção de cidadania planetária

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Comentarios01COMENTÁRIOS
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01- Nãaaaaoooo! Chitara free! Marta Crisóstomo, Brasília-DF – dez2012

02- Boa, Kelmer!!! E, para ser sincero, penso que muitos de nós, arrogantes bípedes autointitulados “sapiens”, vivem em condições semelhantes às de Chitara. CHITARA FREE!!!! Haroldo José Barros, Recife-PE – dez2012

03- Ricardo Kelmer Do Fim Dos Tempos, arrebentando como sempre!!! Viva Chitara!!! Kelzen Herbet, Fortaleza-CE – dez2012

04- Página esportiva, Ricardo???? Francamente… Luc Lic, São Paulo-SP – dez2012

05- que a Morte liberte Chitara, que chegue depressa e a leve com doçura… que nao possa mais ser ferida pelos homens, que seja encontrada sem vida, e melhor ainda: que nunca mais seja encontrada! Susana X Mota, Leiria-Portugal – dez2012

Adorei, querido! Vou reenviar para meus amigos!!!!!Adorei, querido! Vou reenviar para meus amigos!!!!!

O rastro luminoso da solidão

23/11/2012

23nov2012

Estaremos mesmo irremediavelmente sós, confinados aqui neste planetinha, no meio de toda a vastidão cósmica lá fora?

O RASTRO LUMINOSO DA SOLIDÃO

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Li dia desses a entrevista de um astrônomo que duvida que exista vida inteligente similar à nossa fora da Terra. Ele sustenta que os fatores astrofísicos e bioquímicos que propiciaram as condições de vida em nosso planeta são tão únicos e difíceis de ocorrer no Universo que é altamente improvável que os mesmos tenham se repetido em outra galáxia, ainda que elas existam aos bilhões, como de fato existem. A espécie humana, segundo o cientista, seria fruto de circunstâncias tão difíceis de se reproduzirem em conjunto que se poderia dizer que nossa existência se deve a um grande golpe de sorte e que, por isso, os esforços em contatar supostas inteligências extraterrestres são inúteis ‒ nós simplesmente estamos sozinhos no Universo.

Sozinhos no Universo… A frase explodiu em minha mente feito um foguete sinalizador, deixando um rastro luminoso de solidão pelo espaço sideral do pensamento. Sozinhos no imenso Mar Universo… O coração apertou, e creio ter experimentado, enquanto lia a entrevista, uma espécie de angustiante solidão cósmica. Estaremos mesmo irremediavelmente sós, confinados aqui neste planetinha, no meio de toda a vastidão cósmica lá fora? Somente nós?

Bem, mesmo que de fato não exista mais nenhuma espécie com um grau de evolução similar ao nosso, ainda assim nós humanos nos teríamos uns aos outros como sempre tivemos, e não estaríamos verdadeiramente sós, não é verdade?

Hummm, em termos. A evolução da espécie fez mudar os parâmetros. Hoje, já conhecemos todos os povos existentes e o planeta tornou-se pequeno para nossos anseios de expansão. Somos os únicos terráqueos dotados da capacidade de autoquestionamento (pelo menos assim nos vemos) e isso nos traz um tipo estranho de solidão. Agora que atingimos esse ponto de autoconhecimento, sentimos a necessidade de redefinir nosso lugar não mais em termos de planeta, mas de Universo.

Da mesma forma que a criança precisa do outro para construir sua própria definição e os povos da Terra precisaram conhecer outros povos para entenderem melhor a si mesmos, acho que a espécie humana necessita, neste momento histórico de sua evolução, confrontar-se com outra forma de inteligência para entender melhor a vida e galgar novos estágios em sua definição como espécie. Claro que ainda há muito que aprender sobre a natureza humana, mas estamos acelerando as descobertas e cada vez mais rápido as novidades surgem, num ritmo vertiginoso que faz com que a História afunile como num redemoinho, em voltas cada vez mais rápidas, cada vez mais, girando cada vez mais próximo do vórtice…

Não sei aonde chegaremos com esse tal ritmo de transformações. Talvez estejamos nos aproximando perigosamente do vórtice do redemoinho, esse ponto em que algo ocorrerá, algo que mudará a História e inclusive nossa própria compreensão do espaço e do tempo, da vida e de nós mesmos. Fará parte dessa mudança a descoberta de outros seres inteligentes no Universo? Por enquanto, temos apenas nossas próprias dúvidas a nos impulsionar rumo ao desconhecido, como sempre fizemos, com a diferença que agora tudo gira a cada dia mais rápido.

Se o cientista da entrevista estiver certo, prosseguiremos irremediavelmente sós e teremos de nos aguentar sozinhos. Mas prefiro acreditar que ele está equivocado. No fundo de minha alma grita a esperança de que não, não estamos sozinhos, e que em algum lugar lá fora existem seres mais ou menos como nós, talvez com dúvidas parecidas, talvez mais sábios, talvez até saibam de nós…

Não sei. Tudo são dúvidas que faço ecoar por meio dessas linhas, exatamente como a espécie humana também faz com seus foguetes espaciais, lançando à escuridão do espaço nossa ardente incerteza, feito um sinalizador que sobe aos céus e, em seu rastro luminoso, não se cansa de repetir a mesma pergunta angustiante: há alguém mais aí fora?

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Ricardo Kelmer 2000 – blogdokelmer.com

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> Esta crônica integra o livro A Arte Zen de Tanger Caranguejos

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FILME: O ELO PERDIDO (Missing Link)
Um milhão de anos atrás, na África, homem-macaco tem sua família dizimada por hominídeos e ele vaga sozinho pelo planeta, conhecendo e encantando-se com a Natureza. Ao comer de uma planta, tem estranha experiência que lhe traz importantes revelações.

O Elo Perdido (Missing link, EUA, 1988)
Direção: David and Carol Hughes
Elenco: Peter Elliot, Michael Gambon, Brian Abrahams e Clive Ashley

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As quarenta raposas

27/02/2012

27fev2012

Um silêncio vindo de fora do tempo caiu sobre sua figura altiva, e naquele eterno segundo ela foi o anjo vingador: belo, justo e implacável

AS QUARENTA RAPOSAS

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O desfile chegara ao fim. A última modelo concluíra sua performance e a plateia ainda aplaudia, quando de repente cessaram a música e as luzes. Os aplausos silenciaram e ficaram todos em expectativa. Foi nesse exato instante, no vácuo dos pensamentos, que o anjo da morte surgiu, e sua presença arrepiou a todos. Surgiu no início da passarela. Parecia ser apenas mais uma modelo num casaco de pele da coleção de inverno. Mas não era. Mais tarde a produção simplesmente não saberia explicar quem era aquela mulher. A equipe de modelos também não a reconheceu, e os seguranças balbuciaram desculpas.

Ela postou-se à entrada, séria, e cravou seus olhos negros por sobre a plateia. Um frisson correu pelo ambiente. Um vento frio cruzou o salão. Mas não se ouviu nenhum rumor, absolutamente nada, e flash nenhum foi disparado. A vida ficou suspensa e nada mais existiu. Um silêncio vindo de fora do tempo caiu sobre sua figura altiva, e naquele eterno segundo ela foi o anjo vingador: belo, justo e implacável.

E, no entanto, era linda, irresistivelmente linda… E sua figura atraía os olhos feito ímã. O casaco de pele de cor castanho deixava à mostra seus joelhos e os pés tocavam descalços a passarela. O rosto tinha traços indígenas sul-americanos e o cabelo negro descia numa trança pelas costas. E era rude e imperturbável seu olhar.

Pôs-se então a caminhar. Seu andar lento e seguro seguiu pelo silêncio frio da passarela, como se pisasse o interior de cada um. E em cada um o negrume dos seus olhos cravou-se sem dó, como um justiceiro que desnuda os pensares e nada escapa de seu julgamento. De repente, todos sentiram-se indignos, e era como se sua presença os enchesse a todos de uma dolorosa vergonha, vinda de algum lugar dentro deles mesmos.

Completado o percurso, ela parou e levou as mãos às costas. De um gesto libertou os longos cabelos, que espalharam-se pelo ar e assentaram-se sobre os ombros, pousando macios nas costas. Nesse momento a música disparou e as luzes coloridas voltaram a piscar. E o angustiante silêncio foi finalmente preenchido.

Agora era o ritmo frenético da música em alto volume. Agora eram as cores dos holofotes, piscando alucinadas. Seu passo tornou-se mais rápido. Ela percorreu o segundo corredor, perpendicular ao primeiro. E desabotoou o pesado casaco. Após o derradeiro botão, começou a girar, a girar, e seu casaco, acompanhando o movimento, parecia uma hélice. Aos olhos pasmos de todos surgiu o seu corpo nu, inteiramente nu. E ninguém conseguiu desviar o olhar daquele exótico bailado.

As primeiras gotas de sangue salpicaram os fotógrafos à beira da passarela, eles que depois perceberiam não terem feito foto alguma. O sangue bateu-lhes no rosto, no peito e atingiu os equipamentos. Surpresos, contorceram-se agoniados e cheios de nojo enquanto os primeiros gritos explodiam na plateia. Nas mesas mais atrás aquelas pessoas finamente vestidas viram, de um segundo para outro, suas roupas respingadas de sangue e também seus rostos e as taças de champanhe.

Enquanto ela girava e girava na passarela, o terror explodiu num grande rumor abafado pela música estrondosa. Rostos ensanguentados, semblantes apavorados. Roupas salpicadas de vermelho e gritos de pavor. Uns choravam descontrolados, sem compreender de onde vinha tanto sangue, outros corriam pela multidão sem saber para onde ir. Era de repente um imenso pesadelo, absurdo e real.

Então ela parou de girar. Livrou-se do casaco. Seu corpo nu surgiu inteiro e vigoroso sob o piscar das luzes. E ela caminhou para o lugar por onde entrara. O corpo nu avançou em passos serenos e decididos enquanto o braço arrastava atrás de si o pesado casaco, feito uma longa cauda castanha, deixando pelo chão um largo rastro de sangue.

Ela chegou ao início da passarela e foi recebida pelo estilista idealizador da coleção, que tentou falar, mas nada conseguiu dizer. Seu olho negro o atingiu em cheio, imobilizando-o, e por um momento ele viu não uma mulher, mas um bicho. Ela depositou pesadamente em seus braços o casaco ensopado de sangue, e antes de sumir para sempre, disse, bem perto de seu ouvido, para que a música não o impedisse de compreender o mais importante:

– É preciso matar quarenta raposas para fazer um casaco desses.

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Ricardo Kelmer 1996 – blogdokelmer.com

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vtcapa21x308-01> Este texto integra o livro Vocês Terráqueas – Seduções e perdições do feminino

 

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