. Pior seria, Luíza
Não ter sofrido
Da saudade que inferniza
Pior ter morrido
Sem nunca em ti amanhecido
Pior seria não te amar, Luíza
Nosso caso de amor e de polícia
Não te amar, Luíza
Noites vis de ciúme e de sevícia
Não te amar, Luíza
A brisa fria no cais da despedida
Nosso futuro que agoniza
No mar vazio do teu olhar…
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. Alguns acertos de minha glamurosa vida desmantelada nasceram de coisas que deram errado, preciosamente errado. Um exemplo: Para Belchior com Amor, que é o único livro publicado sobre Antonio Carlos Belchior com ele ainda vivo. Foi assim:
Propus ao meu parceiro musical Felipe Breier, em 2015, que criássemos um show para celebrar os 70 anos de Belchior, e, para minha alegria, ele topou. O show estrearia em outubro de 2016 e contemplaria música, poesia e filosofia do bardo bigodudo de Sobral. Seria algo como o Vinicius Show de Moraes, que Felipe e eu apresentamos por quatro anos no Brasil e em Portugal. Então, criei o roteiro e começamos a montar o show. Porém, o vento virou: a três meses da estreia meu parceiro foi aprovado para um mestrado em Portugal, e lá foi morar. E o show morreu, buááá!!!
Ah, mas eu queria tanto homenagear meu ídolo… Sabe, eu sentia que era hora de retribuir os belos momentos que vivi embalado por sua poesia. Então, tive outra ideia. Um livro. Reunindo vários escritores. Que escreveriam textos literários inspirados em suas canções. Sim, um livro, tudo a ver, afinal Belchior é um literato. Mas o tempo era curtíssimo, meros dois meses. Uma editora teria que ser mui irresponsável para topar uma doidice dessa. E, assim, eu mesmo me irresponsabilizei por tudo.
Lancei a ideia do Para Belchior com Amor para uns chegados e reuni catorze fãs do poeta, todos cearenses, esse povo gaiato que acha que a capital do Ceará é o mundo. Alguns tiveram poucos dias para escrever, mas todos deram cabo da missão, ufa. O projeto gráfico e a capa eu mesmo tive que fazer, em minhas sofríveis limitações. Consegui uma ajuda da AFIM (Associação dos Fiscais dos Município de Fortaleza) graças a minha amiga Andrea Oliveira e, tchum, encomendei à gráfica mil e quinhentos exemplares.
O plano era fazer lançamentos em bares, por todo o outubro, com músicos a tocar Belchior. Nomeei o projeto Belchior Sete Zero, chamei os amigos Marta Pinheiro, Rogers Tabosa e Moacir Bedê para me ajudar na produção e com eles o projeto cresceu. Foram duas dezenas de eventos em Fortaleza, em bares, faculdades e espaços como Theatro José de Alencar, Centro Cultural Banco do Nordeste, CUCA e Espaço O Povo de Cultura & Arte. Vários artistas se apresentaram, e o dramaturgo Ricardo Guilherme criou uma peça especialmente para o projeto. Foi tudo lindo, e foi um sucesso.
Se satisfiz meu desejo de homenagear o ídolo? Sim. Na verdade, o que realizamos em outubro de 2016, misturando literatura, música e teatro e unindo várias instituições de peso foi a maior homenagem que Belchior recebeu em vida. Não interessava se ele um dia voltaria aos palcos ou se seguiria em seu misterioso autoexílio – o objetivo era homenageá-lo e celebrar sua arte, e assim fizemos. O livro segue na segunda edição, vendido apenas em eventos e pela internet. Infelizmente, não conseguimos apoio para lançá-lo em Sobral, mas quem sabe isso ainda acontece. E, cá entre nós, em breve poderemos ter novidades na tela do cinema.
E Belchior chegou a ler o livro? Sim! Segundo Edna, sua viúva, ele leu e adorou, e queria organizar uma tradução para o espanhol. Uau… Quanto a outros livros sobre nosso rapaz latino-americano, que venham mais, pois sua arte e sua filosofia dão muito pano para manga e tinta para tatuagem. E, como sempre ocorre com os que têm vida rica de significados, é inevitável brotarem polêmicas.
Com o Para Belchior com Amor, aprendi tudo outra vez: não há tempo para ficar reclamando. A vida é o que é, justa ou desumana. O que fazemos dela é o que importa.
Obrigado, meu poeta. Por sangrar em nossa carne, com a faca da vida torta, a tua poesia livre e triunfante.
Neste livro, organizado pelo escritor Ricardo Kelmer e lançado em 2016, o poeta, cantor e compositor cearense Belchior é homenageado por catorze autores conterrâneos, que escreveram contos, crônicas e cartas inspirados em suas músicas, as mesmas que tanto encantaram os mais velhos e continuam a encantar os mais novos. Literatura para celebrar um notável literato. Ele que soube, como poucos, harmonizar música e poesia, e que fez de sua obra e sua vida um intenso canto de amor, liberdade, questionamento e rebeldia. Salve Belchior!
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O dia em que entendi Belchior – Ele já não tinha metas, estava finalmente livre para deixar a roda-viva que nos entorpece diariamente com a sedução das falsas necessidades
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Hoje esses jovens se sentem órfãos de seu cantador das coisas do porão. Mas trazem tatuado na alma e no corpo o que Belchior lhes ensinou
ESSES JOVENS QUE RESGATARAM BELCHIOR
. Belchior, o bardo bigodudo dos ideais libertários, amado pelos rebeldes românticos de novas e velhas idades, morreu em pleno correr de um golpe em seu país. Não foi um golpe militar, mas um golpe parlamentar, com apoio da grande mídia, do STF e dos barões do capital. Isso é muito significativo. Se quando vivo, a poesia de Belchior já habitava as mentes dos que lutam por um Brasil socialmente justo e inclusivo, sua morte nesse momento torna ainda mais forte essa ligação.
Você pode até dizer que eu estou por fora, que estou inventando. Bem, então você não entendeu Belchior. Leia sua poesia e verá que está lá em seus versos, ecoando sempre, um grito de resistência contra a opressão do sistema sobre o indivíduo, que sufoca seus sonhos e robotiza sua existência. É uma poesia de protesto e inconformismo, que nos alerta para a exploração capitalista que gera escravos assalariados e para a hipnose midiática que gera zumbis do consumo. A poesia de Belchior é anárquica, pois em vez do poder, defende a supremacia do amor, do prazer e da paixão. É um grito latino-americano que brota da dor das minorias e dos excluídos, de todos que não comungam com o deus mercado e vomitam a ração diária fornecida pela mídia poderosa. É a rubra poesia dos que sangram, mas não se deixam enquadrar.
Mas o novo sempre vem. E foram os jovens da era da internet que redescobriram Belchior, resgatando-o do limbo para o qual a grande mídia quis relegá-lo. Durante esses anos, eles sonharam com sua volta e desejaram ardentemente vê-lo num palco a cantar e protestar com eles…
Infelizmente, isso não será possível, e hoje esses jovens se sentem órfãos de seu cantador das coisas do porão. Mas trazem tatuado na alma e no corpo o que Belchior lhes ensinou. Por isso, agora exibem seu rosto em camisetas, postam seus versos nas redes e tocam nas rodas as suas belas canções. São os mesmos jovens que não querem mais viver num mundo no qual uma minoria cínica e insensível detém a maioria da riqueza. São os mesmos jovens que hoje lutam por oportunidades iguais para todos. Os mesmos jovens que já entenderam que por enquanto eles venceram e o sinal está fechado, sim, mas na ferida viva de seus corações eles captaram muito bem o que um velho compositor cearense lhes dizia: o novo sempre vem.
Lançado em 2016, Para Belchior com Amor chega à sua terceira edição. Organizada por Ricardo Kelmer e Alan Mendonça, esta edição foi enriquecida com ilustrações e novos autores, com mais contos, crônicas e cartas inspirados em canções de Belchior. O livro traz 24 textos de 23 autores cearenses, e conta com a participação especial de Vannick Belchior, filha caçula do rapaz latino-americano de Sobral, que escreveu uma bela carta para seu pai. Em 2021, ela iniciou-se profissionalmente como cantora, interpretando o repertório de Belchior.
Literatura para celebrar um notável literato. Ele que soube, como poucos, harmonizar música e poesia, e que fez de sua obra e sua vida um intenso canto de amor, liberdade, questionamento e rebeldia. Salve Belchior!
O dia em que entendi Belchior– Ele já não tinha metas, estava finalmente livre para deixar a roda-viva que nos entorpece diariamente com a sedução das falsas necessidades
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MAIS SOBRE BELCHIOR
O Belchior que a crítica vulgar não viu (Alberto Sartorelli) – Canções do compositor cearense debateram, desde os anos 1970, a alienação, as relações mercantis e a própria indústria cultural. Mas alguns procuraram enquadrá-lo como apenas um rapaz romântico
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Laura Canoura – Como nuestros padres Laura Canoura (2 de janeiro de 1957, Montevidéu) é uma compositora e cantora da música popular uruguaia. Com mais de 25 anos de trajetória artística é uma das principais solistas femininas desse país.
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COMENTÁRIOS .
01- Fantástico texto meu Caro Ricardo Kelmer. Antonio Carlos De Freitas, Fortaleza-CE – mai2017
02- Fora Temer e Viva Belchior!!! Paulo Henrique Carvalho, Fortaleza-CE – mai2017
03- No rs … nas paredes do banheiro, nas folhas mortas e verdes que caiem pelo chão , sendo gerson ou não, vida longa … Stefenson Pinheiro, Fortaleza-CE – mai2017
10- Eu fiquei calado qdo vi amigos direitistas confessos postando frases e músicas do Belchior. Isso me fez lembrar de uma pesquisa dando conta que esse pessoal tem sérios problemas de cognição. Henrique Baima, Fortaleza-CE – mai2017
11- Ricardo, incrível!!!! Amei muito esse texto. Sensacional! Vannick Belchior, Fortaleza-CE – mai2017
12- Lindooooooooooooooo, lindo meu mais lindo Bel, sempre vai lutar dentro de nós, nos dar folego para gritar!, Beleterno! Bertha Alves, São Paulo-SP – mai2017
14- Lindo texto. Que presente conhecer vocês em meio ao meu maior vazio. Perder esse cara é perder um pedaço de mim, mas eu prometi na beirada daquele caixão que gritaria suas músicas em meus shows até o final da minha vida! Também sou como ele, jovem que desce do norte pra cidade grande! Também sinto essa loucura na ferida viva do meu coração. A verdade dele, desde que o conheci passou ser minha verdade e eu nunca poderei deixar de grita-la. Eternizei Alucinação na pele ontem e sempre pensei que quando ele visse ele iria rir da minha tatuagem, acabei não fazendo com ele em vida. Uma pena que não deu Meu Belchis! Amor eterno… Luta eterna. Daya Ananias, Rio de Janeiro-RJ – mai2017
15- Fora Temer! Ana Lucia Santos, Recife-PE – mai2017
16- Esse é o verdadeiro Belchior, nosso Bel que tinha a coragem de escrever composições que desafiavam a época, gerações… Belchior da irreverência, autenticidade, escrevia e fala de si em suas letras! O político, o crítico, o homem comum, o amante, poeta, o boêmio, o romântico, solitário, o ser filósofo… Bom você escreve Ricardo Kelmer com e da vida as suas escritas e é por isso que te admiro e sou sua fã! E Fora Temer. Aline Saraiva, Fortaleza-CE – mai2017
22- Eu quero que este canto torto feito faca corte a carne de vocês sempre sempre sempre. Angela Belchior, Fortaleza-CE – mai2017
23- Parabéns pelo belíssimo texto!!! Realmente as músicas de Belchior são lindas e tocam na alma. Ele deixará saudades, mas estará eternizado em nossos corações!! Denizia Caetano, Rio de Janeiro-RJ – mai2017
24- que maravilha! sempre tive uma ligação muito intensa com o trabalho do Belchior. Quando morava no Rio, início de sucesso do Belchior, eu ia ao teatro todas as noites, em todos os shows. Sempre falava com ele no camarim, onde sempre fui bem recebido, e de quem tive o incentivo de escrever e produzir as minhas letras e canções. Hoje só poesia. Parabéns, Kelmer, texto maravilhoso.Carlos Kahê, Itabuna-BA – mai2019
25- “Que as lágrimas dos jovens são fortes como um segredo, podem fazer renascer um mal antigo…” Heldemarcio Leite Ferreira, Recife-PE – mai2019
Ele já não tinha metas, estava finalmente livre para deixar a roda-viva que nos entorpece diariamente com a sedução das falsas necessidades
O DIA EM QUE ENTENDI BELCHIOR
. Um dia, pelos idos de 1984, meu velho amigo Alberto Perdigão me apresentou certa música de Belchior. Eu tinha vinte anos e já amava o bardo bigodudo, e subia o som no último volume quando o rádio tocava Coração Selvagem. Mas a música que Alberto me mostrou era outra, chamava-se Ypê, do disco Objeto Direto, de 1980. Lembro que ela me soou estranhamente bela, e em suas palavras parecia reluzir algo precioso, mas que eu sentia ser incapaz de alcançar.
Trinta e dois anos depois, em 2016, enquanto fazia pesquisas para o livro Para Belchior com Amor, topei com Ypê novamente, dessa vez na internet. Não a reconheci pelo título. Pus para tocar no You Tube e… imediatamente lembrei daquele dia. E para lá fui transportado. De repente, eu era outra vez aquele eu, o garoto bobo e deslumbrado com a vida que se abre em horizontes caleidoscópicos de infinitas possibilidades. O rio da vida não volta, é verdade, mas o continuum de suas águas é um mantra que tem o poder de nos levar para tempos que jamais se foram.
Como traduzir a íntima e poderosa revelação que Ypê agora me trazia? De repente, eu era o mesmo garoto de trinta anos antes, porque, na verdade, nunca deixei de sê-lo, mas ao mesmo tempo era outro porque agora eu simplesmente… me dava conta disso. Eu envelheci, mas continuo naquele dia, ouvindo meu amigo a cantarolar Ypê, a minha ignorância juvenil fascinada com as reluzentes novidades da vida. Reescutar esta música me pôs novamente frente à enigmática dançarina de pedra e me trouxe dias de metafísico assombro, em que o que fui e o que serei se harmonizaram no único tempo possível, o eu sou.
Após dias mergulhado em Ypê, voltei à tona e contemplei a obra de Belchior com um novo olhar. E sua trajetória floriu de um diferente significado. Sabe, eu entendi Belchior. Entendi como se entende algo ridiculamente óbvio. Sim, são bem visíveis a beleza e a sabedoria contidas em suas canções, mas, putz, ninguém cria algo como Ypê sem antes alcançar a verdade que habita, discreta, o fundo escuro do rio. Ninguém escreve um poema como esse, tão filosoficamente profundo e exato, tão misteriosamente simples, sem ter chegado à harmonia fundamental, aquela que transcende o tempo e os opostos, e nos faz ser um com o eus que somos e tudo que há. Belchior tinha apenas 34 anos, tão moço… Mas, ali, o poeta já havia cruzado o portal. E somente agora, tanto tempo depois, eu o entendia.
Feito o bodisatva da filosofia oriental, o poeta iluminou-se e ficou mais um tempo entre nós. E depois? Talvez Belchior tenha percebido que nada mais de relevante tinha para falar. Sua arte já o havia dito, e continua a dizer. Ele já não tinha metas, estava finalmente livre para deixar a roda-viva que nos entorpece diariamente com a sedução das falsas necessidades. E então o poeta se foi.
Para onde? Foi-se. Por aí. Algum tempo-lugar onde agora ele será o que sempre foi: um lindo ipê que apenasmente flora, apenso ao pé da serra.
. Ricardo Kelmer 2017 – blogdokelmer.com
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YPÊ Belchior
Contemplo o rio que corre parado E a dançarina de pedra que evolui Completamente, sem metas, sentado Não tenho sido, eu sou, não serei, nem fui A mente quer ser, mas querendo, erra (a gente quer ter, mas querendo, era) Pois só sem desejos é que se vive o agora Vede: o pé do ypê apenasmente flora Revolucionariamente apenso ao pé da serra
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Belchior – Ypê gravação original, álbum Objeto Direto (1980)
Lançado em 2016, Para Belchior com Amor chega à sua terceira edição. Organizada por Ricardo Kelmer e Alan Mendonça, esta edição foi enriquecida com ilustrações e novos autores, com mais contos, crônicas e cartas inspirados em canções de Belchior. O livro traz 24 textos de 23 autores cearenses, e conta com a participação especial de Vannick Belchior, filha caçula do rapaz latino-americano de Sobral, que escreveu uma bela carta para seu pai. Em 2021, ela iniciou-se profissionalmente como cantora, interpretando o repertório de Belchior.
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É a Tao coisa – Uma maneira intuitiva de compreender a realidade através da harmonia com o Tao
Rumo à estação simplicidade – Jurei me manter sempre no caminho, sem pesos nem apegos excessivos, pronto para pegar a estrada no momento em que a vida assim quisesse
Espirros e roteiros – Se antes eu tinha insônia por me preocupar demais em descobrir o que precisava fazer, hoje me delicio em abrir a janela dos quartos dos hotéis, molhar a ponta do dedo e botar no vento
É proibido fazer blues na praia – Arriscar outros movimentos, sem ficar determinando de antemão que é impossível, não pode não senhor
I Ching das patricinhas – Se alguém procura revelações com pressa e sem seriedade, jamais terá as revelações
Andarilho – Eu sempre fui andarilho / Mas é assim que prefiro / Viver desse vento que eu sou
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COMENTÁRIOS .
01- Minha canção preferida. Pablo Kaique, abr2017
02- Enfim ….. Michele SJ, abr2017
03- Poxa! Que texto! Jose Tavares De Araujo Neto, abr2017
04- Que coisa linda, Kelmito! Marta Pinheiro, abr2017
06- Tocada com suas palavras, Kelmer. Neyane Macedo Infurna, abr2017
07- Perdeu o medo de abrir a porta. Sands Nepomuceno de Andrade, abr2017
08- Que pena, sumiu, e agora ele volta, sem vida.Tanto que pedimos ,Volta Bechior, e ele voltou. Vilma de Oliveira, abr2017
09- homenagem linda….. texto precioso… abraços…… o homem do nan nan nan nan nan nan….como dizia minha filha ao me repetir tantas vezes a mesma música… que amava e amo… Maria Allves, abr2017
10- Rica, tuas crônicas sempre tocantes e maravilhosas. Ouvimos Ypê repetidas vezes hoje. Se brotar um ao pé de onde será o aqui jaz, podem me culpar. Fabiana Vasconcelos, abr2017
11- Lindo seu texto, vou compartilhar também. Rosina Santana, abr20176
12- Linda Mente Brasileira.. Claudia Meirelles Bahia, abr2017
13- Lindo! Cecilia Eckmann Oliveira, abr2017
14- “A mente quer ser mas querendo erra…” 💓 Zete More, abr2017
15- Ricardo Kelmer estou a beber Ipê e celebrar Belchior. Fábio Bonfim, abr2017
16- #belchiorimortal. Sheler Souza, abr2017
17- Lindo!! Ypê, a minha favorita!! 😦 Helena Lima, abr2017
26- Tudo está tão triste, acabou esperança de vê-lo novamente no palco,tive a grande sorte de ir em vários shows dele. Marli Costa Ferreira, abr2017
27- Lindo isso q vc escreveu. Eliana Braga, abr2017
28- Belchior nos deixou belas letras…e você meu querido escreve como poucos.. nos leva as lágrimas… Onde está Belchior ? Agora com todos nós … podemos conversar em oração …..ele encontrará a paz… Regia Alves, abr2017
29- Comovidissima! Bela lembranca … Silvana Marques, abr2017
30- Wellington Alves olha que lindo , não tem como não lembrar de você…… Regia Alves, abr2017
31- Tomei muitas curtindo o professor Belchior, saudades,que descanse em paz. Wellington Alves, abr2017
32- Obrigada Ricardo Kelmer. Criss Maria Boscaratto, abr2017
33- Enfim sua volta p simplesmente … ir! Márcia Matos, abr2017
36- 👏🏻 👏🏻 👏🏻 👏🏻 👏🏻 👏🏻 👏🏻 texto lindo e profundo! Ana Paula Castro, abr2017
37- Perfeito! Ele foi o bardo, o menestrel e o monge budista de toda uma geração anterior a nossa, e tb tocou nosso coração com a força dos verdadeiros poetas! 👏🏻 👏🏻 👏🏻 👏🏻 que encontre sua paz! 🙏🏻 🙏🏻 🙏🏻 😢 Isa Magalhães, abr2017
38- 👏 👏 👏 Marcos Luiz, abr2017
39- Valeuuuuuuuu cara! Maria Sá Xavier, abr2017
40- Maravilhoso seu texto Ricardo Kelmer!! O poema é lindo como todos os outros! Compartilhei. Sandra Macedo, abr2017
43- Se entende Belchior, porque ele canta muito bem “eu sou como você”… Ninha Alvarenga, abr2017
44- “Ninguém escreve um poema como esse, tão filosoficamente profundo e exato, tão misteriosamente simples” Disse tudo. Aderbal Nogueira, abr2017
45- texto maravilhoso, meu caro Ricardo Kelmer… Carlos Emílio C. Lima, abr2017
46- Lindissimo texto. Waldete Freitas, abr2017
47- 😢 👏 👏 👏 👏 👏 👏 👏 Celia Dos Santos, abr2017
48- Belo texto e bela homenagem Ricardo Kelmer #BelchiorEterno. César Espíndola, abr2017
49- Caralho Ricardo, como senti a morte desse moço! Maior representante da minha linda junventude!! Sandra Samm, abr2017
50- Querido, sábias palavras. Linda sua reflexão “…Ninguém escreve um poema como esse, tão filosoficamente profundo e exato, tão misteriosamente simples, sem ter chegado à harmonia fundamental…” Que dia triste! Lúcia Menezes, abr2017
51- Coisa linda, me arrepiei, chorei… Linda Homenagem, precisamos todos rejuvenescer” 👏 👏 👏 👏 Lucia Padua, abr2017
56- meu caro kelmer… nessa madrugada, falei com o shirlene sobre você, que tem ficado pouco em sp, para se dedicar ao projeto belchior 70 anos, essa mistura de show, literatura e teatro em homenagem a ele, a ele vivo e muito merecedor da iniciativa que lhe realçava o imenso talento. …. no caminho para casa, viemos no carro com verônica dirigindo, eu ao seu lado, e kita, selma e marici nos bancos traseiros. Eu e Verônica viemos cantando várias música do bel. enquanto eles conversavam lá atrás. Nem imaginávamos essa notícia triste que o domingo nos traria. Prometi tirar no violão ‘Brasileiramente, linda, oh yeah, oh yeah’.. E vou tirar. claro. …. …… um grane abraço! Arnaldo Afonso, abr2017
58- Nossa, que liiinda homenagem!!! Verdade Ricardo Kelmer!!! O rio da vida não volta, porém o contínuo de suas águas têm o poder de nos levar para tempos que jamais se foram. Nazare Moreira, abr2017
59- Belíssimo texto! Foi meu primeiro impulso, escrever isso antes de ler os outros comentários e correr o risco de ser influenciado pela opinião alheia! Francisco Carlos Rodrigues, abr2017
60- Kelmer! Além da linda homenagem ao nosso grande poeta que nos deixa, o seu texto está cada vez melhor! Francisco Carlos Rodrigues, abr2017
61- Talvez eu morra jovem, alguma curva no caminho… Obrigado, Belchior! Ricardo Sergio Alves, abr2017
62- Q texto leve para este dia.beijo e abraço carinhos. Shirlene Holanda, abr2017
63- Deslumbrante…! Carla Cavalcante, abr2017
64- Essa partida eu senti. 😢 texto foda como sempre, Kelmer! Ana Cristina Martins, abr2017
65- Caramba como você escreve bem! Fascinante! ! Tina Holanda, abr2017
66- Meus sentimentos a família Belchior 😭 Enedina Pedro Henrique, abr2017
67- Meu parceirim Ricardo Kelmer. Você já contribuiu demais com sua homenagem a Belchior, com seu recente livro, em que vários escritores escrevem sobre nosso grande compositor. E essa sua crônica está demais. Parabéns. Solidário na tristeza. Joaquim Ernesto, abr2017
68- Essa doeu. Pra valer. Joaquim Ernesto, abr2017
69- Ricardo Kelmer, que texto lindo!!! Parafraseando Pessoa, como são velozes os dias que se passam na ribeira desse ou daquele rio. Talvez, por isso, seja tão importante o cultivo do “ypê que flora ao pé da serra” para além “da sedução das falsas necessidades”. Um abraço solidário!!! Lenha Diógenes, abr2017
70- Que lindo!!!! Manuella Surette Perdigao, abr2017
71- Que música. Fernanda Beirão Olajfa, abr2017
72- Texto lindo! Bela homenagem a esse grande artista. Rilza Araripe, abr2017
73- Que texto amigoRicardo Kelmer! ❤ Hoje não é mesmo dia para tristezas e sim para lembrar do quão vivo Belchior está em nossos dias! #Belchiorvive ☝ ☝ Lílian Martins, abr2017
74- Peço licença pra compartilhar… Wilkie Martins, abr2017
75- Lindíssimas palavras para dizer um pouco do nosso maravilhoso poeta. Que tristeza a sua partida… Mas ele sempre estará no coração de quem sente a poesia rebelde… Jacqueline Aragão, abr2017
76- Muito me honra ser citado em texto tão verdadeiro e tão lindo. Alberto Perdigão, abr2017
77- Admito que chorei : Lindo! Lia Aderaldo Demétrio, abr2017
78- Essa é uma das músicas de minha preferência. Castelo Branco, abr2017
79- Meus sentimentos mais sinceros Angela Belchior! Sabemos que ele voltou p casa, fique em paz! Cristina Luz, abr2017
80- Grande lindo poeta! Del Montenegro, abr2017
81- Sempre são belas, amarei sempre. Nila Ramalho, abr2017
82- Lindo, amigo! ❤ Esther Alcântara, abr2017
83- Linda Homenagem! Homem Inteligente, músicas com as letras que falam com a alma. Maria Aparecida Brigido, abr2017
84- Lindo!! Soraya Leao Rangel, abr2017
85- Juro q lembrei de vc qdo vi essa notícia Ricardo Kelmer … linda homenagem ! Hilbana Aquino, abr2017
88- Que tecitura de palavras, amigo! Soa poesia. Sinonímia de Ypê… Partilhando. Marcos Melo Maracatu, abr2017
89- Bela verdade,belo texto Ricardo Kelmer,grato por me apresentar ypê que não existia para mim. Agora existe. Curto Belchior, estive com duas vezes. Inocêncio Melo, abr2017
90- Kelmer, seu livro está me fazendo companhia e ajudando a aceitar. Vivamos o agora. Braulio Tavares, abr2017
91- Que pena… Fiquei mais triste ainda com essa perda. Marcia Soares Fernandes, abr2017
92- Meio Alberto Caieiro, não? Brennand De Sousa Bandeira, abr2017
93- Querido Ricardo. Seu texto é mais que maravilhoso. Transcende tudo que sentimos. Marcia Soares Fernandes, abr2017
94- Vou compartilhar. Eglê Kohlrausch, abr2017
95- Lindo, Kelmer! Isabela Alvarenga Porto Lima, abr2017
96- Lindo mesmo!!!!! Andrea Bezerra Zokvic, abr2017
97- Larissa Luana Sergiana Nayara Marilia acho que precisamos conhecer melhor Belchior. Ravena Uchoa, abr2017
98- Sensacional a crônica sobre o dia que entendeu Belchior a partir do entendimento da letra de Ype. Sim, realmente…. Esse deve ter sido o último registro da compreensão necessária para ultrapassar o portal: “Não tenho sido, eu sou, não serei nem fui.”. Flávio Magalhães, Rio de Janeiro-RJ – jul2019
99- Que massa, tio. Belo texto. É isso. O Bel já sabia tudo e disse tudo. Ypê é muito foda. Eu ouvi hoje pela primeira vez. Aliás, o disco todo é muito bom! Levy Mota, Fortaleza-CE – out2019
100- Excelente!!! Igualmente a você foi também um amigo que me apresentou em 1976 o disco ALUCINAÇÃO. Fiquei sem entender a mensagem das canções, só tinha 13 anos de idade. Mas fui ouvindo naquele tempo quando tocava no rádio e passei a apreciar e depois fã. Até hoje e para sempre. Ediana Ferreira, Fortaleza-CE – mai2020
101- Emocionado, em prantos! Que delicadeza de post! De fato, Belchior simplesmente florou, nos deixando, no aroma sublime de sua vasta e profunda obra, rumos a seguir e caminhos a indicar. Valeu, Célio Feitosa, abraços e canções. Carlos Alberto Caetano Ribeiro, Belo Horizonte-MG – mai2020
102- E a dançarina de pedra que evolui. Pura poesia…! Expedito Alencar, Fortaleza-CE – mai2020
103- Uma belíssima homenagem. Campelo Neto, Pedro II-PI – mai2020
104- Eu tinha 16 anos em 1980, foi a primeira vez que ouvi Ypê, fiquei encantado sem saber exatamente o porque… Ao ler sua crônica, voltei aquela tarde de 40 anos atrás quando aquela canção/poesia me tocou tão profundamente. Voltando aos tempos de hoje, depois de ler sua crônica, o encantamento aumentou de uma forma melhor, mais completa, mais vívido. Obrigado por sua sensibilidade, vou mandar-lhe um e-mail, quero um exemplar físico do livro e se possível, autografado. Muito obrigado, por esta madrugada… Adrião Albuquerque, Recife-PE – mai2020
105- Vou pegar carona no texto e sensibilidade incrível de Ricardo Kelmer pra dizer algo dessa canção. Sempre que preciso, corro pra ouvi-la. E ela já tocou por aqui essa semana, nesse tempo estranho de recolhimento forçado. Ypê diz do mais sublime estágio da condição humana, a condição do compreender, finalmente, a filosofia da existência. Nela, Bel vai profundo no inconsciente e meu Deus, conseguiu essa proeza ainda aos 34 anos, a idade que tenho hoje!! Puxa! Pois bem. O recolhimento tem sido dolorido, tem exigido muito de mim, que olhe pra mim, que contemple o meu rio. Mas também têm sido de uma alquimia incrível! O recolhimento tem me dado o norte. Tem me ensinado sobre os meandros. Tem me dito que eu também sonho em ser ypê e que um dia, apenas floresça, revolucionariamente, apenso ao pé da serra. Ah!! Belchior, obrigada!!! E vou correndo ouvi-la! Aline Matias, Fortaleza-CE – mai2020
106- Bom dia!!! Não sei a razão de chegar a sua página. Fui conduzida pela música Ypê. Essa pérola. Li seu artigo e me senti perfeitamente representada em sua fala. Disse isso a um amigo outro dia: Como uma menina de 15 anos se encantou por aquele rapaz, latino americano? O que me dizia falas como ” E eu quero é que esse canto torto, feito faca, corte a carne de você. ” Não entendia nada, mas me parecia a melhor forma de canção. Contrária a meus amigos em uma cidade com 4000 habitantes, segui a vida amando Belchior. Como você, muito mais tarde, compreendi a mensagem. A ruptura com esses desejos que nos impedem de viver. Lendo seu artigo entendi que o despertar não é somente meu, ele será coletivo. Namastê. Marli Abduani, Piedade de Ponte Nova-MG – mar2021
Uma homenagem a Aloísio Sansão, com quem dividi cachaças, músicas e muitas risadas nas noites decadentes da Praia de Iracema
O HOMEM QUE PREFERIA SATANÁS
. Peguei a vodca no balcão da Órbita, virei de uma golada e fui para o palco. Era o lançamento de meu livro de contos Guia de Sobrevivência para o Fim dos Tempos, maio de 2000. No caminho deixei a máquina com alguém e pedi que tirasse a foto daquele encontro especial. Então subi no palco, agradeci a presença do público e dei um abraço nele, que me dera a honra de se apresentar em meu lançamento, tocando umas músicas ao violão. Clic! A foto eu guardo comigo, um pequeno e singelo tesouro. É a prova de que nossos caminhos se cruzaram nessa vida loca.
Aloísio Sansão, o nome dele. Conhecemo-nos numa daquelas noites dengosas e decadentes da Praia de Iracema, durante um show da banda Matutaia. Eu sabia dele por causa de uma música sua que gerara polêmica com o Pirata Bar sobre direitos autorais. Depois li algo sobre ele numa pequena matéria do caderno cultural do jornal. E agora a Matutaia andava tocando duas músicas dele, Paranormal e Pecado da Vida. Naqueles primeiros dias do novo século a música eletrônica já imperava nas madrugadas de Fortaleza com seu tunts-tunts-tum, nos lembrando que o mundo estava diferente, estava todo modernizado… mas o bom e velho roquenrou seguia vivo. E muito bem representado nas músicas de Sansão.
Rápido como quem trepa em cajueiro para roubar caju para vender lá na feirinha, eu me encantei com Sansão. Descobri nele um cara simples, doce, o sorriso tímido. Ele era muito pobre e morava numa construção abandonada da Praia de Iracema. Trabalhava como pintor de parede, fazendo bicos. Mas seu grande trabalho era sua música, e nisso ele era muito rico. Eu adorava encontrá-lo pelas ruas, ele, seu velho violão e o fiel amigo Fofão, um cão grande e peludo que sempre o acompanhava. Eu sentava com ele na birosca e ouvia as histórias de sua vida incerta, suas aventuras por aí, a mulher que um dia o abandonou para seguir um caminhoneiro… Ele falou da vida e dos assuntos sociais. Reclamou da Amazônia e das igrejas universais. E disse que se Deus era desse jeito, ele preferia Satanás. Eu também, Sansão.
Nossos encontros se davam ali, nas ruas sujas e confusas da Praia de Iracema, entre patricinhas despudoradas e batidas policiais. Ele também percebia que tudo aquilo era um mundo de fantasia e ria de tanta loucura e de quanto tudo aquilo era natural, tão normal, tudo simplesmente genial. Nós dois descendo uma cachacinha, ele tocando suas músicas, todas incríveis, forró, brega, rock e até ópera. Em certos momentos me lembra Raul Seixas, outras vezes Elvis e em outras Odair José. Para no meio, conta como fez a música, ri das lembranças e volta a tocar. Peço mais uma dose para brindamos à sua arte. Depois comemos o velho cai-duro de carne moída e Sansão divide o seu com Fofão.
Relembro agora o quanto me agradeceu por tê-lo convidado para cantar no lançamento de meu livro. E como se desculpou por ter ficado nervoso e não ter cantado as músicas que eu mais gostava. Tá, eu desculpo, mas só se você tomar mais uma comigo. E lá vamos nós para o balcão, ele me contando da morena de sorriso agraciado que de longe viu seu passado e quis logo conquistá-lo. Sansão e suas histórias.
Chamei meu amigo Toinho Martan para conhecê-lo, e ele também se encantou. Nossa banda, a Intocáveis Putz Band, já não existia, e, ansiosos por voltar a compor e agitar, pensamos em ter Sansão como parceiro. Combinei com Sansão de levá-lo ao estúdio, registrar suas músicas maravilhosas. Mas ele nunca compareceu. E não apareceu mais nas noites da Praia de Iracema. Lamentei que não estivesse disposto, eu tinha tantos planos… A verdade, e eu só saberia depois, é que Sansão estava muito doente e passava dias internado. A Matutaia chegou a promover um show para ajudá-lo. Mas já era tarde.
Lamentavelmente parece que sua vasta produção se perdeu para sempre, com exceção de alguns registros, como os feitos pela Matutaia em seu CD Matutaia É Rock. Em certas noites, quando caminho pelas ruas da Praia de Iracema, tenho a sensação que as músicas de Sansão ainda estão por ali, esperando que o dono volte, do mesmo jeito que seu cão Fofão que, durante vários dias após sua morte foi visto circulando a praça, desnorteado e tristonho.
. Ricardo Kelmer 2007 – blogdokelmer.com
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com Aloísio Sansão (Órbita Bar, Fortaleza, mai2000)
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Matutaia – Paranormal (2000)
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Matutaia – Pecado da Vida (2000)
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COMENTÁRIOS .
01-
Bom ver você assim, entusiasmado. Quem já passou por essa vida e não viveu, pode ser mais, mas sabe menos que você….
Um conto inspirado na música de Belchior e no poema de Dante Alighieri
DIVINA COMÉDIA HUMANA Ou: O amor é uma coisa mais exótica que um conto em terza rima
. A sombria floresta de Beatriz anunciou-se naquela tarde de sábado, num ponto de ônibus do centro, após ela sair do culto na igreja. Anunciou-se nos olhos do atraente moço de porte atlético que lhe pediu informação. Com simpatia, ela lhe explicou que ônibus deveria tomar, e era o mesmo que ela tomaria, ora veja. E juntos sentaram, ele com sua mochila vermelha, ela com a bíblia ao colo, quase a mão dele em sua mão. Chamava-se Antonio, e Beatriz soube que estudava filosofia, mas gostava mesmo era de ser goleiro, e nos fins de semana jogava por times de bairro, e ela achou isso tão lindo… Ele desceu primeiro, mas antes do ônibus os separar, correu até embaixo da janela e a convidou, Vai me ver jogar amanhã, e ela seguiu o resto do percurso a conversar manhosa com as estrelas, enquanto em seu peito borbulhava a nascente do rio a que chamam os poetas perdição.
Eu te amo, eu te amo, ela disse e repetiu ao ouvido dele, sussurrando baixinho. Lá fora, a última estrela se despedia e o amanhecer clareava aos poucos a suíte do Dante motel. Eu te quero tanto, meu goleirão, ela murmurou, lembrando que horas antes o admirava embaixo das traves, e reparou que, dormindo, ele parecia um anjinho. Beatriz beijou-o nos olhos e agradeceu ao seu deus pela dádiva daquele amor imenso, que surgira num bobo encontro casual, e agora, um ano depois, a instalara definitivamente no céu. Então Antonio se aconchegou e Beatriz sentiu a urgência de seu desejo, e ela nem sabia mais quantas vezes nas últimas horas haviam se amado. Ele a beijou com ardência, depois a virou de costas para ele e aguardou que ela se preparasse, e ela, percebendo vazio o tubo de lubrificante, não teve dúvidas: Ah, vai sem gel.
Um dia Antonio sumiu, simplesmente sumiu, sem deixar um mísero bilhete, sem que houvesse discussão ou algo que pudesse deixá-lo bravo. Só pode ser uma brincadeira, ele sempre gostou de me pregar peças…, Beatriz disse para si mesma, sem encontrar explicação convincente. Mas as semanas se passaram e ele não voltou, e da vida fez-se o limbo, a angustiante espera da definição que não vinha, a existência uma peça suspensa em pleno ato. O que fazer com o amor que tanto dá sentido ao tempo, e depois, de uma hora para outra, parece que disso se arrepende? Era o que pensava quando, pesquisando os sites de futebol de bairro, soube que Antonio jogaria naquele tarde em outra cidade ‒ e para lá Beatriz se mandou. Torceu por ele o jogo inteiro, no alambrado encostadinha, engasgada num choro que ela segurou firme… até vê-lo tomar um gol no fim da partida, e foi exatamente aí que ela entendeu que estava tudo acabado, que a eternidade daquele amor se desmanchara no ar, feito uma estrela cadente.
Na floresta escura dos meses seguintes, sonhava à noite com Antonio, ele jogando e ela torcendo, mas ele sempre olhava para ela no momento errado e, angustiado, tomava o gol. Solidão e desamparo foram suas companhias inseparáveis, e nem as orações na igreja trouxeram luz aos subterrâneos do seu desgraçado ser. Então, na agência lotérica em que trabalhava, no nono subsolo do shopping, ah, e como combinavam com sua alma os subsolos, um dia o sol voltou. Uma antiga amiga de colégio, Carla o nome dela, após receber o troco da mega-sena, a reconheceu: Beatriz, é você? Daí, foi o chope após o expediente, as boas lembranças colegiais revividas com alegria, mais dois chopes, tantas coisas para contar, outro chope ‒ era a velha amizade que retornava. Um mês depois, quando Carla precisou dormir em seu apartamento, e a amizade já cedia espaço aos carinhos e estes à sedução, elas consumaram na cama, abençoadas pela noite estrelada, aquilo que em seus corpos ansiava por acontecer.
Ironias do destino: amigas de colégio, anos sem se ver, e agora lá estão elas tornadas outra vez adolescentes, peles coladas noite e dia, ternamente apaixonadas. Beatriz frita os bolinhos prediletos de Carla, que desenha corações coloridos no caderno de Beatriz, que, da janela do quarto, suspira feliz para as estrelas, recuperada de seu passado sofredor. Porém, naquela noite na igreja, o pastor bradou enfático: A mulher nasceu para o homem, e aquela que desobedece às leis divinas sucumbirá na condenação, para sempre amaldiçoada!!! Ela voltou para casa e buscou dormir, mas as leis divinas não permitiram, e foi assim que abandonou a igreja, trocando-a por outra que a aceitava, a ela e seu pecaminoso amor. E tudo se resolveu, mas só até o dia em que o fantasma do passado ressurgiu na tela do celular: era Antonio, que dizia ter errado, implorava por perdão e pedia encarecidamente um encontro. Assustada, Beatriz desligou, mas ele insistiu e ela teve de explicar que seu amor agora era de outra pessoa, e que ele a esquecesse, por favor.
Bastou aquele telefonema para castigar as certezas de Beatriz, substituindo a paz celestial que Carla trouxera aos seus dias por aquele pesadelo dos demônios. O amor que, ao custo de um mar de lágrimas ferventes, jurava haver esquecido, voltava para lembrá-la daquilo que tão bem ela sabia. Sim, apesar de tudo ainda amava Antonio, sim, e agora a profundidade desse amor vinha assombrá-la num íntimo e cruel confronto. Na semana seguinte, após acordar de uma noite em que não brilharam estrelas em seu céu, Beatriz foi até a cozinha, onde Carla preparava o café, respirou fundo e lhe pediu imensas desculpas por tê-la envolvido nos descaminhos de sua alma tresloucada, sua pobre alma que no amor parecia sofrer de disritmia. A cena é tão melancólica: Carla escutando a tudo em silêncio, e ao fim pegando suas coisas e indo embora, deixando no ar a pesada sombra das palavras que no peito preferiu calar. Na cozinha fica Beatriz, encostada à parede, massacrada pela tristeza de saber que fizera o que devia ser feito, enquanto na mesa o café esfria.
Nossa história bem que podia terminar aqui, com a mocinha, enfim purgada de seus pecados, vivendo com seu amado na bem-aventurança seculum seculorum ‒ mas, ai, ai, é justamente quando julgamos ter a gerência da vida que a própria vida trata de tudo bagunçar. Acertada outra vez com seu adorado goleiro, embalada novamente pela melodia das estrelas, Beatriz, surpresa, vê-se saudosa de tudo que tinha com Carla, e experimenta em si a estranha contradição de saber-se amada e amando, mas… incompleta. Antonio a abraça, compreensivo, e diz que em nenhum momento lhe exigiu exclusividade, e que se ela ainda ama a ex-namorada, ele perfeitamente entenderá. Mas se você me ama, como pode aceitar que eu ame também a outro alguém, perdeu o senso, foi?, ela pergunta, confusa, e ele explica o que aprendeu nos dias em que duelava no inferno contra sua própria possessividade: que só há salvação no amor que liberta. Naquela mesma noite, na igreja, ao ouvir o pastor pregar a fidelidade e a monogamia, Beatriz nem esperou pelo fim do sermão: ergueu-se decidida, pegou de volta o dízimo que deixara na caixinha, saiu e foi até a casa de Carla, e contou-lhe, emocionada, que havia finalmente se libertado e encontrado a iluminação de sua vida inteira. Bem, a história ainda deu umas boas voltas, é vero, mas para encurtar: Carla resistiu, resistiu, mas um dia também encontrou a luz, aleluia!, e semana passada, inclusive, aceitou ir com Beatriz ver Antonio jogar ‒ mas deu-se o direito de não aplaudir suas defesas, porque afinal ela ainda não está tão iluminada, tem que dar um tempo, né?
E assim vão os três, novos atores para essa velha comédia de sucesso chamada amor, onde ouvir as augustas estrelas não garante absolutamente nada, e, como bem nos ensina a terza rima, tudo é eterno enquanto não vem a palavra derradeira.
. Ricardo Kelmer 2016 – blogdokelmer.com
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SOBRE O CONTO – Foi com este conto que participei do livro Para Belchior com Amor (Miragem Editorial, 2016). A música que o inspirou, do mesmo nome, foi, por sua vez, inspirada no magistral poema Divina Comédia, de Dante Alighieri, um dos maiores clássicos da literatura ocidental, que Belchior pretendia traduzir para o português numa versão mais popular. Para criar meu conto, baseei-me na atmosfera dramática e na estrutura temática do poema (Inferno, Purgatório e Céu) e escrevi uma história que fala da salvação-condenação pelo amor, e suas complexidades e contradições, fazendo uso, assim como o poema, de palavras-chave como “estrela” e abusando de referências às duas obras. E como Divina Comédia foi escrito em terza rima, esse entrelaçado e dinâmico sistema rimático criado por Dante, impus-me o desafio de fazer o mesmo em meu conto. Cada parágrafo, com exceção do último, possui seis períodos, e as rimas ocorrem na última palavra de cada um deles. Ignoro se antes alguém já havia feito terza rima com prosa. Não foi fácil, mas gostei da experiência.
SOBRE A IMAGEM – A imagem que ilustra esta postagem é uma reprodução parcial do quadro Os Fantasmas de Paolo e Francesca Aparecem para Dante e Virgílio, de Ary Scheffer (1835). No poema Divina Comédia (Inferno, Canto V) Dante e Virgílio encontram num dos círculos do Inferno o casal Paolo e Francesca, condenados por seu amor adúltero. Francesca de Rimini e Paolo Malatesta viveram na Itália no sec. 13 e foram assassinados por Gianciotto Malatesta, marido de Francesca e irmão de Paolo, por eles terem se apaixonado um pelo outro.
O ANALISTA – Putz, há tanto o que dizer sobre a letra de Divina Comédia Humana… As referências ao poema de Dante Alighieri são várias, mas há mais coisas. O analista, por exemplo. Ele insiste em desqualificar as relações que não se enquadram nas sagradas regras do amor romântico tradicional. Para ele, a sensualidade e a paixão são negativas. O analista quer nos convencer de que o amor é uma coisa mais profunda que encontros casuais e transas sensuais, e que se não entendermos isso, viveremos insatisfeitos.
Se o analista está certo ou não, é algo a se discutir. Belchior, porém, rejeita ser conduzido por essa lógica racional que enquadra o amor. Ele prefere viver intensamente o que sente no momento, com ardência e paixão, com os céus e infernos inerentes, mesmo que seja breve, mesmo que não seja amor, ou mesmo que seja outro tipo de amor, pois sabe que tudo é transitório, inclusive o sagrado amor romântico tão defendido pelo analista. Belchior diz não às convenções dos sentimentos, ignora as racionalidades analíticas e dessacraliza o amor, e canta sua liberdade de amar ao seu modo profano.
Pensei em escrever para o livro Para Belchior com Amor uma análise dessa letra, mas meu lado ficcionista falou mais alto e achei mais interessante contar uma história, até porque eu queria também homenagear o poema de Dante. Mas que essa letra dá um bom estudo, ah, isso dá. E ainda há, no fim, a citação do poema Via Láctea, de Olavo Bilac.
DIVINA COMÉDIA HUMANA (Belchior)
Estava mais angustiado que um goleiro na hora do gol Quando você entrou em mim como o sol no quintal Aí um analista amigo meu Disse que desse jeito não vou ser feliz direito Porque o amor é uma coisa mais profunda Que um encontro casual Aí um analista amigo meu Disse que desse jeito não vou viver satisfeito Porque o amor é uma coisa mais profunda Que uma transa sensual
Deixando a profundidade de lado Eu quero é ficar colado à pele dela noite e dia Fazendo tudo, e de novo dizendo sim à paixão Morando na filosofia Eu quero gozar no seu céu Pode ser no seu inferno Viver a divina comédia humana onde nada é eterno
Ora, direis, ouvir estrelas, certo perdeste o senso E eu vos direi, no entanto: Enquanto houver espaço, corpo, tempo E algum modo de dizer não Eu canto
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DICAS
stelle.com.br – Site criado por Helder da Rocha com material sobre a Divina Comédia, inclusive o texto original e uma versão em prosa, em português, do poema.
Lançado em 2016, Para Belchior com Amor chega à sua terceira edição. Organizada por Ricardo Kelmer e Alan Mendonça, esta edição foi enriquecida com ilustrações e novos autores, com mais contos, crônicas e cartas inspirados em canções de Belchior. O livro traz 24 textos de 23 autores cearenses, e conta com a participação especial de Vannick Belchior, filha caçula do rapaz latino-americano de Sobral, que escreveu uma bela carta para seu pai. Em 2021, ela iniciou-se profissionalmente como cantora, interpretando o repertório de Belchior.
Literatura para celebrar um notável literato. Ele que soube, como poucos, harmonizar música e poesia, e que fez de sua obra e sua vida um intenso canto de amor, liberdade, questionamento e rebeldia. Salve Belchior!
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MAIS SOBRE BELCHIOR
O dia em que entendi Belchior (crônica) – Ele já não tinha metas, estava finalmente livre para deixar a roda-viva que nos entorpece diariamente com a sedução das falsas necessidades
Esses jovens que resgataram Belchior (crônica) – É um grito latino-americano que brota da dor das minorias e dos excluídos, de todos que não comungam com o deus mercado e vomitam a ração diária fornecida pela mídia poderosa
VENDAS Livrarias, Amazon ou direto com o autor (depósito bancário ou Pag Seguro: cartão e boleto). Impresso e eletrônico.
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Ricardo Kelmer 2016 – blogdokelmer.com
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– Acesso aos Arquivos Secretos – Descontos, promoções e sorteios exclusivos Basta enviar e-mail pra rkelmer@gmail.com com seu nome e cidade e dizendo como conheceu o Blog do Kelmer (saiba mais)
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COMENTÁRIOS .
01- Excelente! Revejo-me nessa Beatriz, nesse duelo entre a consciência moral cultivada e o chamado do outro lado do espelho, de dentro de si mesma, a ânsia de libertação, mas não o poder fazer. Precisou que Antônio a libertasse…. Ah, safado, e esqueceste-te de mandar o meu livro pelo Felipe! Susana X Mota, Leiria-Portugal – jan2017
02- Conto e livro sensacionais!!!! Caroline de Paula, Garanhuns-PE – jan2017
03- Brilhante, Ricardo Kelmer! Giba C. Carvalho, Recife-PE – jan2017
04- ele estava traduzindo.em 99 encontrei o Belchior no lançamento do CD auto Retrato e perguntei sobre a tradução ele respondeu.Por enquanto estou no inferno!..rsrs. F Moreno Set, São Paulo-SP – jan2017
05- Nao obstante, é meu conto predileto do livro! Ricardo, essa música, em especial, me marcou muito! E você a eternizou em forma literária de uma maneira magnífica. Como não admirar e ser grata? E desde a primeira vez que li, senti que era algo fundamentado e trabalhado. Esse post só só confirmou isso. Vc e Belchior: dois literatos admiráveis! Melissa Fernandes, Alfenas-MG – jan2017
06- li de novo. curti de novo. ❤ a vida traz destas bagunças malukas no meio de tantos presentes e tantas surras! né? é nosso brinde! kkkk bjs querido, volte logo pra fusta! (as cadeiras do serpentina não estão mais nem rosnando, o q dirá latindo!). Clarisse Ilgenfritz, Fortaleza-CE – jan2017
07- Caríssimo RK, fico muito feliz com o sucesso da iniciativa do livro e eventos em homenagem a Belchior. Alto nível e merecida recepção. A versão do dantesco monumento literário é realmente um desafio, mas a arte é uma experiência em diálogo no tempo e no espaço. Redobrados parabéns! Abraço do Leite Jr., Fortaleza-CE – fev2017
Trinta e cinco dias de música e literatura em terras portuguesas
PORTUGAL, 2a TEMPORADA
. Entre 15 de maio e 19 de junho de 2016 eu estive novamente em Portugal, dessa vez com meu parceiro Felipe Breier, a realizar uma temporada musical-literária, com apresentações do Vinicius Show de Moraes e sessões de autógrafos dos meus livros, incluindo o mais recente, Versos Safadinhos para Noites Românticas ou Vice-versa.
Minha irmã Ana Érika nos hospedou em Braga, no norte do país, e nesse período nos apresentamos dez vezes em três cidades. Em Braga, as apresentações aconteceram na Associação Cultural Sol em Movimento, no restaurante Caldo Entornado, no bar Notre Dame, na livraria Mavy, na livraria Centésima Página e no Rossio Café Bar. Na Lousã, foram no Parque Carlos Reis e no 94 Bar, e na cidade do Porto, elas aconteceram nos espaços culturais Gato Vadio e Casa Bô. Fizemos também uma apresentação informal na casa dos amigos Neto e Virgínia, na Lourinhã. A capital Lisboa ficou de fora por não dispormos de bons contatos e uma estrutura de apoio suficiente lá, mas quem sabe dê certo numa futura temporada.
Fomos carinhosamente recebidos e fizemos muitas amizades. Agora, de volta, temos dentro de nós um tanto da alma portuguesa, e isso nos enriquece. Obrigado a todos que nos ajudaram. Um obrigado especial a Ana Érika, Caiote, Juliana, Susana, Andrea, Elisabete, Graça, Alex e Adriana.
A sensação é de gratificação: nossa proposta de unir música e literatura brasileiras num concerto para bares e livrarias foi bem aceita, mais do que prevíramos. Para o escritor que sou, saber que em Portugal ficarão vários livros meus e vários novos leitores, uau, isso é bom demais. E como é bom constatar que Vinicius de Moraes ainda vive na memória afetiva de boa parte do povo português. Saravá!
De Lisboa, eu e Felipe fomos direto para Lourinhã, no litoral, comemorar o aniversário de minha amiga Virgínia. Lá, em sua casa, apresentamos trechos do Vinicius Show de Moraes para ela, Neto e seus amigos. Que noite deliciosa! Como presente de aniversário, bom cearense que sou, levei duas garrafas de Ypióca. Que ajudei a baixar, evidentemente.
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Com Felipe, Neto e Susana no Buddha Eden, em Carvalhal. Localizado na Quinta dos Loridos, o Buddha Eden é o maior jardim oriental da Europa, com cerca de 35 hectares, e foi criado em protesto contra a destruição dos Budas Gigantes de Bamyan, um dos maiores atos de barbárie cultural da história. Com seus enormes budas, pagodes, estátuas de terracota e esculturas cuidadosamente dispostas entre a vegetação, é uma obra impressionante. Para construí-la, foram usadas mais de 6 mil toneladas de mármore e granito.
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Evoé, Baco! No Buddha Eden. Por falar em vinho, em Portugal compra-se uma ótima garrafa de vinho (cheia, evidentemente) pelo equivalente a R$ 8. Putz… Desse jeito, até quem não bebe, bebe.
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Chegamos em Portugal sem nenhuma apresentação marcada. Tudo que tínhamos era o interesse de dois bares em Braga, que eu conhecera em minha primeira temporada portuguesa (dez2015 e jan2016). Uma tarde, na livraria Centésima Página, conhecemos uma brasileira, que nos levou para conhecer a Associação Cultural Sol em Movimento. Foi lá que, dias depois, fizemos a primeira apresentação pública do Vinicius Show de Moraes e a primeira sessão de autógrafos dos meus livros. Obrigado, Carla e Ângela.
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A segunda apresentação foi no Notre Dame, no centro histórico de Braga, um bar de inspiração gótica que toca muito rock dos anos 80. Foi uma noite bastante divertida, onde portugueses e brasileiros se confraternizaram no ritmo da bossa nova e do samba e na poesia de Vinicius. Obrigado, Pedro Bacelar.
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Com Felipe, concentrando com um saboroso Douro para a apresentação/sessão de autógrafos no restaurante Caldo Entornado, no centro histórico de Braga. Obrigado, Rodrigo e Inês.
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Quarta apresentação. Livraria Mavy, em Braga. Que, na verdade, é um bar, onde funcionava uma antiga livraria, vizinho a Sé, no centro histórico. Virou um delicioso snack bar, mas manteve o nome e boa parte da estrutura da livraria. Obrigado, Filipe Morgado.
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No fim de maio acontece a Braga Romana, festa que dura cinco dias e que relembra o tempo de dois milênios atrás, quando Braga integrava o Império Romano, evocando o seu cotidiano como Bracara Augusta, a cidade-capital da província da Galícia (ou Galécia, ou Galiza). Na foto, eu e minha querida amiga e sócia Marcinha, que durante uma semana esteve conosco, a impressionar os portugueses com seu charme e sua beleza.
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Estou num bar a me esquentar com um copo de vinho do Douro, quando de repente ela passa na rua, seguida de três músicos vestidos como árabes de há dois mil anos. Ela, a sinuosa dançarina, deslizando seu poético bailado para os meus olhos subitamente fisgados. Ah, a sedução do feminino… Mais embriagante que o melhor vinho.
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Na estação de comboios de Coimbra, a caminho da Lousã.
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Em Coimbra, com Felipe e a namorada Juliana, que nos acompanhou e ajudou na produção dos eventos.
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Ela, a imponente Universidade de Coimbra. Criada em 1290 e atualmente com cerca de 20 mil alunos, ela é a mais antiga de Portugal e uma das maiores universidades do país, oferecendo todos os graus acadêmicos em arquitetura, educação, engenharia, humanidades, direito, matemática, medicina, ciências naturais, psicologia, ciências sociais e desporto.
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SAUDADES DO BRASIL NA LOUSÃ
Situada a leste de Coimbra, Lousã é uma cidadezinha pequena, ladeada por serras onde dormitam dezenas de pequeninas aldeias semi-habitadas, que hoje são atração turística junto às trilhas ecológicas da região.
Na Lousã, eu e Felipe Breier nos apresentamos em duas noites, a primeira no Parque Carlos Reis, e a segunda no 94 Bar. Fomos recebidos com aquele tipo de hospitalidade e carinho que já não encontramos nos grandes centros urbanos, aquele benquererzinho que nos cativa e não dá vontade de ir embora nunca mais para sempre. Foi lá que apresentamos pela primeira vez Saudades do Brasil em Portugal, o fado que Vinicius fez para Amália Rodrigues e que está registrado na histórica gravação feita na casa de Amália, em 1968. Não somos fadistas, obviamente, mas fizemos do jeito que nossas almas sentem a melodia e a poesia dessa obra.
Na serra, serpenteando pelas curvas da estrada e visitando as aldeias praticamente abandonadas, senti, como explicar, algo assim como se cruzasse um portal do espaçotempo, e vivi sensações estranhas, de saber-me de lá, de pressentir mistérios que jamais desvendarei, de um dia ter que voltar… Lá, na aldeia de Catarredor, conheci Ana e Carlos, que nos receberam em sua psicodélica casinha feita de pedras de xisto, e com quem papeamos gostosamente num poético fim de tarde de sexta-feira, agraciados pela deslumbrante paisagem da serra. Ao saber do motivo que nos levara a Lousã, Carlos, em sua longa barba branca de ermitão do xisto, nos contou algo incrível: em 1972, no antigo Teatro Avenida, em Coimbra, ele assistiu a um show… de quem? De Vinicius e Toquinho. Uau, e você gostou?, eu quis saber, já impressionado. E ele: Sim, claro, eles eram muito bons, e nessa noite eu vi com meus próprios olhos: Vinicius bebeu duas garrafas de uísque. E não foi direto pro hospital, né?, completei, rindo com ele, eu transbordante de gratidão por aquele inusitado encontro.
Obrigado a todos que tão bem nos acolheram e apoiaram, em especial a Susana, Graça, Elisabete e Andrea. Obrigado ao grupo de teatro Barraca Preta, aos amigos do Parque Carlos Reis e ao Zé Artur. Lousã, eu voltarei, viu? Só para me perder novamente nas curvas misteriosas do teu espaçotempo.
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A psicodélica residência de Ana e Carlos, na aldeia de Catarredor, na serra da Lousã.
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Com Susana, Elisabete e Ana. Um momento fora do tempo, na serra da Lousã.
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Carlos, o ermitão da Lousã. Em 1972 ele teve o privilégio de assistir ao show de Vinicius e Toquinho no antigo Teatro Avenida, em Coimbra. E eu tive o privilégio de conhecê-lo.
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VINICIUS AO VINHO DO PORTO
Porto é a segunda maior cidade de Portugal, com 240 mil habitantes (Lisboa, a primeira, tem 550 mil, e Braga, a terceira, tem 140 mil). É conhecida mundialmente pelo seu vinho, suas pontes e sua arquitetura contemporânea e antiga, além da Universidade do Porto e de seu principal clube de futebol, o Porto. Foi lá, vindos de três dias na Lousã, onde eu e Felipe Breier apresentamos duas vezes o Vinicius Show de Moraes.
A primeira apresentação foi no Gato Vadio, um interessante espaço cultural de inspiração anarquista, que dispõe de livraria e bar e promove eventos diversos. Ficamos superfelizes de ver o espaço lotado, todos muito respeitosos e atentos ao que cantávamos, recitávamos e falávamos. Nessa noite, dormimos no Rés da Rua, um casarão antigo onde as pessoas vivenciam a filosofia da vida compartilhada, unindo e dividindo comunitariamente custos, necessidades e alegrias (obrigado, Celestino!).
No domingo pretendíamos tocar ao cair da tarde no calçadão da Ribeira, mas após cinco dias de estrada e três apresentações, o cansaço não permitiu. Na terça, já recuperados, nos apresentamos na Casa Bô, outro casarão antigo que une artistas e adeptos de um estilo de vida ligado à ecologia e à vida simples. Lá, dispensamos microfones e nos apresentamos sentados sobre a beirada do palco, num delicioso clima intimista de sarau. Vale destacar: na plateia estava um casal vindo de Vigo, na Espanha, especialmente para ver nosso concerto. Quanta honra!
Obrigado ao pessoal do Gato Vadio, da Casa Bô e do Rés da Rua, pelo carinhoso acolhimento. Estamos muito contentes por ter levado ao Porto a arte de Vinicius de Moraes, e também por agora fazer parte da história desses espaços, onde reunem-se pessoas que, assim como Vinicius, acreditam que, sim, um outro mundo é possível. Um mundo com mais arte e respeito à vida, e menos competição. Com menos consumismo, e muito mais amizade e alegria. Saravá!
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Pelas ruas do centro de Porto, com Felipe e Juliana.
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Na livraria Centésima Página, com o CD do Vinicius Show de Moraes e o livreto Versos Safadinhos para Noites Românticas ou Vice-versa. De modo geral, os portugueses são contidos e discretos em relação ao erotismo, e a literatura erótica em Portugal não tem tanto mercado quanto no Brasil. Meu livreto causava um certo estranhamento na maioria das pessoas, um quase constrangimento, mas a curiosidade prevalecia e acabavam dando uma olhadinha… e compravam. Afinal, a humanidade se divide em dois tipos de pessoas: as que gostam de sacanagem e as que assumem que gostam de sacanagem.
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O sistema de transporte ferroviário de Portugal é de matar de inveja aos brasileiros. Ele nos faz ver como o Brasil errou feio ao priorizar os automóveis, em vez de investir e modernizar seu sistema ferroviário. Rápidos e eficientes, os comboios (trens) cruzam as regiões do país, pondo-se como ótima alternativa ao transporte rodoviário. Costuma ser um pouco mais caro, mas é muito mais seguro e ecologicamente limpo, e pode-se comprar os bilhetes pela internet, com bons descontos. Se tem wi-fi? Sim, tem.
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As duas últimas apresentações, em Braga. Primeiro, na charmosa livraria Centésima Página. Obrigado a Sofia e Helena pela oportunidade de cantar e recitar poesia na presença dos nossos ídolos, que, das estantes, enriqueceram deveras nosso concerto. Depois, no Rossio Café Bar, um aconchegante espaço onde é possível escutar música brasileira de alta qualidade. Nessa noite de despedida, cantamos e dançamos Vinicius de Moraes unindo nossos sotaques aos de portugueses, brasileiros, uruguaios e franceses, numa divertida celebração da arte e da amizade. Obrigado, Rui Carlos.
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Em Lisboa, aquela tradicional ginjinha no Largo de São Domingos. Com Neto, Virgínia, Andrea, Ana Érika e Super-Caiote Tricolor.
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Com Felipe, em Braga, brindando à nossa parceria. Nas dez apresentações que fizemos, experimentamos vários tipos de acordo com o contratante. Em alguns locais, recebemos cachê fixo (entre 60 e 150 euros), e a casa não cobrou ingresso ou couvert dos clientes. Em outros, as pessoas contribuíram voluntariamente (o velho chapéu), o que nos rendeu entre 25 e 90 euros. Houve também uma vez em que a casa cobrou ingresso, a 2 euros, que nos foi integralmente repassado e nos rendeu 40 euros. Em todas as apresentações, vendíamos nossos CDs a 5 euros (Felipe levou também o dele) e livros (entre 3 e 6 euros), e isso nos rendia um trocado a mais. Excetuando duas apresentações em Braga, recebemos abaixo da média do que geralmente recebemos no Brasil, mas, considerando que somos absolutamente desconhecidos para os portugueses e levando em conta as casas em que nos apresentamos e o momento econômico do país, o resultado final foi bom. Em Lisboa, certamente ganharíamos mais, porém lá ainda não temos bons contatos e uma estrutura de apoio suficiente.
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Domesticado em Sintra. Hummm, nem tanto. Continuo com minha velha certeza: melhor correr os riscos da liberdade que viver numa escravidão tranquila.
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Leitura obrigatória: os classificados sexuais nos jornais portugueses. Ah, é uma diliça! Prazer linguístico de primeira qualidade. Como no Brasil, alguns anúncios chamam atenção pela criatividade. “Corpo danone”, por exemplo. O que pode significar isso? Será que ela tem gosto de iogurte? Num outro anúncio, a rapariga se define “boa como milho”. Milho cozido ou assado? “Recém-divorciada” é um clássico, é daqueles termos que atiçam a imaginação do cidadão: Hummm, ela se separou agora, quer compensar o tempo perdido… Outra rapariga apela ainda mais: “carente, namorado ausente”. Uau, namorado ausente é ainda melhor que recém-divorciada, né não? Há uma que “atende sem cueca”. Ops! Calma, eu explico. Cueca, em Portugal, é roupa íntima, masculina ou feminina. Ah, bom… Dúvida sanada, imaginemos: o cidadão sobe as escadas, bate na porta, a rapariga abre e, tchan!, ela já está sem calcinha, entendeu? Taí, gostei dessa, vou ligar agora mesmo.
Os termos e os cacoetes linguísticos me divertem demais, e eles nos falam bastante sobre a cultura do país. Minete, por exemplo. O termo significa sexo oral na mulher. Lendo os anúncios, constatei que é um serviço oferecido com destaque, mais que o boquete. Fiquei intrigado, pois no Brasil prostitutas não costumam alardear a oferta desse serviço. Então fui pesquisar e descobri que para grande parte da população, o sexo oral na mulher ainda é um tabu, algo sujo ou pervertido, não praticado por mulheres sérias e honestas. Por esse motivo, é comum que os homens portugueses, principalmente os mais velhos, busquem fazê-lo com prostitutas e não com suas esposas ou namoradas. Algumas oferecem minete “à canzana”, ou seja, à moda dos cães (de quatro), o que pode significar que a rapariga também aprecia o passeio da língua pelo glorioso fiofó. Quanto ao minete com leitinho, deixo para você imaginar o que pode ser.
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De repente, numa vitrine, o Feminino Sagrado transparece para mim. E, como sempre acontece, o mundo para, e eu sou tocado pelo poder do arquétipo, e é impossível prosseguir sendo o mesmo…
Por falar em Feminino Sagrado, obrigado, moça bonita, sim, você mesmo, obrigado por tudo. Pela surpresa, a súbita e estranha cumplicidade, as horas encantadas… Aquela lua na sacada do hotel, a poética sintonia de almas e corpos, teu riso, teu choro, teu prazer… Obrigado.
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FORA TEMER EM PORTUGAL
Em nossas apresentações do Vinicius Show de Moraes em Portugal, quase sempre havia portugueses e brasileiros na plateia, e às vezes estrangeiros de outros países. Quando o ambiente permitia, incluíamos no roteiro do show comentários sobre o vergonhoso golpe de Estado que a direita armou no Brasil, e o resultado é um coro geral de “Fora Temer!”, que tomava conta do espaço, vazava para a rua e chamava a atenção de todos.
Vinicius, em 1964, viveu o golpe de Estado dos militares, e em 1969 foi expulso por eles do Itamaraty. Nessa mesma época, os portugueses viviam sob a ditadura de Salazar, da qual se libertariam em 1974, com a Revolução dos Cravos. É por isso que os portugueses democratas acompanham com preocupação os acontecimentos no Brasil e torcem para que não vingue o golpe de Temer, Cunha, Aécio e cia. E é por isso que eles gritavam conosco, engrossando o coro pró-democracia: Fora Temer!!! E não havia como não se emocionar.
Defender com firmeza a nossa democracia do outro lado do Atlântico, e ao mesmo tempo divulgar nossa música e literatura… Putz, foi uma experiência bem forte. .
Rumo à estação simplicidade – Jurei me manter sempre no caminho, sem pesos nem apegos excessivos, pronto para pegar a estrada no momento em que a vida assim quisesse
O sonho do verdadeiro eu – Entretanto, algo me dizia que na pauliceia eu poderia viver minha vida mais verdadeira, era só insistir
Espirros e roteiros – Se antes eu tinha insônia por me preocupar demais em descobrir o que precisava fazer, hoje me delicio em abrir a janela dos quartos dos hotéis, molhar a ponta do dedo e botar no vento
Este show nos traz a riqueza da vida e da obra de Vinicius de Moraes, um dos nomes mais importantes da cultura brasileira. Através das músicas, dos poemas e de fatos interessantes da vida de Vinicius, passeamos por grandes momentos da música e da poesia brasileiras e nos divertimos e nos emocionamos com a rica trajetória do homem, poeta, artista, amante, amigo e diplomata que fascinou e ainda fascina gerações no Brasil e no mundo.
Versos Autor de uma dezena de obras, nos gêneros romance, conto, crônica e ensaio, desta vez Ricardo Kelmer deixa a prosa de lado e envereda pela poesia. Escritos entre 1989 e 2016, os 35 poemas deste livro versam sobre amor, paixão, desejo e erotismo. Neles, o autor canta os sabores das aventuras amorosas e celebra o êxtase dionisíaco dos enlaces carnais, mas também diverte-se com os irônicos descaminhos das relações e não esquece de louvar a musa unânime dos poetas, a língua portuguesa. Os desenhos são do artista húngaro Mihály Zichy.
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COMENTÁRIOS .
01- Come um bacalhau ai por mim. De bacalhau vc entende. Andre Soares Pontes, Fortaleza-CE – jul2016
03- Quando vocês vêm de novo à Lousã? Vá lá, marquem, temos saudades, soube a tão pouco… Carla F Lobo, Lousã-Portugal – jul2016
04- Pronto, já me deixaste em prantos… Saudades saudades saudades… Tens de voltar, querido amigo! As curvas e mistérios da Lousã esperam por ti… Susana X Mota, Leiria-Portugal – jul2016
05- Muito bom, Ricardo! Bonita descrição das nossas terras e gentes…e obrigada também pela visita! 3ª temporada…Novembro? Angela Duarte, Lourinhã-Portugal – jul2016
06- Ricardo, vc tá cada vez melhor. Que ótimo esse material sobre sua estada em Portugal! Abração. Luis Pellegrini, São Paulo-SP – jul2016
07- Massa… Parabéns pela temporada. Ana Vládia Lima, Fortaleza-CE – ago2016
08- Kelmer… boa noite. Foi de uma alegria imensa saber que você também é cabeça-chata. Orgulhei-me. rs “Ostra” coisa, também adorei Portugal. Acho até que conheço um pouco mais que você. Mas não tem nada de competição nisso. Agora numa coisa ganhei de 7 x 0… na safadice. Um dia conto. Ainda é perigoso falar. Um grande abraço de um conterrâneo que curte seu trabalho. “Inté”!!! PC, Fortaleza-CE – ago2016
09- Caríssimo RK. Mais uma vez tenho a oportunidade de viajar a Portugal, nem tanto pela bolsa de pesquisa – que não tenho -, mas efetivamente por suas palavras viageiras. Roteiro de orgulhar Vinicius e Toquinho, sem dúvida, e com direito a testemunha da época e tal – que figura! As observações dos classificados são um plus antropológico e linguístico – por que não? -, sempre servido com seu bom humor. Não faltou a necessária dose de realismo, num tempo temeroso para nossa prostituída democracia. Espetáculo! Grande abraço e meu muito obrigado. Leite Jr., Fortaleza-CE – ago2016
. Quando minha irmã Ana Érika me convidou para passar uma temporada em Portugal, onde ela atualmente faz doutorado na Universidade do Minho, em Braga, em princípio relutei. Dois meses parecia muito. Largar meus compromissos profissionais cotidianos e ficar dois meses na Europa? Tentador, claro, mesmo tendo somente algumas semanas para me preparar.
Mas topei. Ana vivia lá sozinha com o filhote Caio, e ter amigos e familiares por perto é sempre bom nessas situações. Para mim, particularmente, além de matar a saudade deles, seria uma ótima oportunidade de conhecer Portugal, e eu ainda poderia esticar até a Espanha, uma velha paixão kelmérica. Aliás, os dois países são cenários de meu romance O Irresistível Charme da Insanidade, que ganhara uma versão em espanhol. Eu também poderia aproveitar e fazer contatos profissionais na área editorial, ou para voltar lá depois levando o Vinicius Show de Moraes. É, tinha que topar mesmo.
Registrei a viagem com fotos e comentários quase diários no Instagram. Seguem alguns desses registros. Desculpe a qualidade das imagens, meu celular não é dos melhores para isso.
. > A 2a temporada (abr-mai2016), com a turnê do espetáculo Vinicius Show de Moraes, está aqui: Portugal, 2a temporada
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PORTUGAL-ESPANHA, dez2015-jan2016
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Peguei um voo da TAP saindo de Fortaleza, direto para Lisboa. Oito horas de voo, chegando às nove da manhã. Tomei um sonífero mas dei somente umas curtinhas cochiladas no avião, mas foi uma viagem tranquila. Ana e Caio me esperavam num apartamento em Alfama, alugado por dois dias. Foi lá que comecei a gostar de Portugal, justamente no bairro onde nasceu o fado.
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Flanando pela Baixa e molhando a mão nas águas do velho Tejo. Virado sem dormir, e mais o fuso horário (3 horas a mais que Fortaleza), eu me sentia meio lento e anestesiado, e eu sou um ser que não funciono se não tiver dormido. Mas foi um bom passeio.
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Não fui para Portugal fazer programa. Prefiro fazer isso no Brasil, você sabe, é mais seguro no país onde a gente mora. Mas aquela moça, tá vendo na foto, lá na calçada olhando para mim? Poizé, ela me fez uma proposta boa e findamos a tarde num quarto de hotel ali próximo. Foi então que aprendi o que é um minete e um broche. Em certo momento, ela se empolgou e gritou: Enfia tudo na minha peida!!! Num primeiro momento, achei que tinha escutado errado, e perguntei: Onde? E ela confirmou: Na minha peida, vai, enfia!!! E eu: Olha, moça, sem querer cortar o clima, mas… onde fica tua peida? E ela: Aqui atrás, ó, pá… Bem, no fim deu tudo certo, ela me deu três livros do Saramago e cada um saiu satisfeito para seu lado. E eu despertei. Havia adormecido e sonhado, sentado num banco na Rua Augusta. Despertei e, do outro lado da rua, a moça ainda olhava para mim…
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À noite, encontramos Andrea e Gisele, amigas brasileiras que moram em Lisboa, e que nos levaram para passear pelo Bairro Alto. Jantamos num pequeno restaurante na área do Cais do Sodré. Um aviso aos brasileiros que pretendem ir a Portugal: assim como reconhecemos um português logo que começa a falar, com os portugueses é a mesma coisa, os gajos sacam um brasileiro na metade da primeira palavra. Por isso, nem tente disfarçar.
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Pensão do Amor. Eu já havia acessado o site e lido a respeito. É um antigo prostíbulo, na área do Cais do Sodré, que foi reformado e hoje é um espaço de arte, cultura e entretenimento. A ambientação do espaço é incrível, aliando um estilo “sujo” com uma pegada cabaret-burlesco. Os antigos quartos foram adaptados e em seus espaços funcionam lojas, como uma livraria erótica e uma sex shop, além de palestras e cursos de poli dance. Há um bar, mesas e poltronas, e uma área externa com outro bar, que dá para a rua de cima.
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Na livraria Ler Devagar, da Pensão do Amor. As várias faces da lolita… Recomeeendo!, tanto o local como o romance de Vladimir Nabokov. E, claro, as lolitas que flanam graciosamente por lá, dando cada uma seu toque de charme pessoal ao arquétipo da mulher inocente-sedutora.
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Vista da janela do meu quarto, na rua Cruz de Pedra, em Braga. Ao fundo, o centro histórico. É comum ver casas abandonadas, literalmente caindo aos pedaços. E, por causa da crise econômica, que ainda persiste, abundam por todo canto lojas fechadas e placas de vende-se. Isso confere aos locais um certo ar de cidade fantasma. Ainda assim, a área central é muito charmosa.
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Passeando com Caio e a cadela Nikita. Para minha sorte, esse inverno não foi dos mais frios. Para mim, a temperatura ideal da vida nunca baixaria de 17 graus, nem subiria de 27. Mas aceito negociar.
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Um passeio pelas ruas e becos do centro histórico de Braga, em Portugal, e de repente elas surgem ao olhar, pequeninas e charmosas, as livrarias… Parecem portais mágicos, que se abrem em meio às brumas do bosque, nos convidando a entrar e se perder pelos seus encantos. Como resistir a tal perdição?
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Mesmo longe do Brasil, eu não poderia deixar de dar minha contribuição ao movimento #NaoVaiTerGolpe. Fiz a fotinha e postei no Facebook e no Instagram. Não sou petista, nem lulista, nem dilmista, mas sempre defenderei os partidos de esquerda contra os interesses do grande capital, que é insensível à questão das desigualdades sociais e que está ligado aos partidos de direita.
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Havia um Atlântico a nos separar. E mais de dez anos a temperar nossa amizade com o sabor da saudade. Meus velhos amigos Neto e Virgínia, brasileiros vivendo em Lourinhã, Portugal. Nos meus braços a Juba, filha deles, e a outra filha, Júlia, tirou a foto. Nas pontas, minha amiga e leitora querida, Susana, de Leiria, e seu namorado Ricardo. Obrigado!
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Numa taberna da cidade de Óbidos a degustar uma ginja com uma linguicinha no fogo de cachaça. Ginja, ou no diminutivo carinhoso ginjinha, é um licor obtido a partir da ginja, uma fruta parecida com cereja, muito popular em Portugal. Em Óbidos, o fruto é colhido nos ginjais da região e, após um processo de maceração que dura no mínimo um ano, é extraído o licor, que não leva corantes ou conservantes artificiais. Impossível tomar só uma dose.
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No Museu da Lourinhã, a 60km de Lisboa, estão fósseis de dinossauros de 150 milhões de anos. Este aí da foto usava boné para proteger o chifre. Deve ser parente meu.
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Passagem do ano em Braga, com Ana e Caiote. Que diferença para as festas de réveillon no Brasil… Os portugueses são, de modo geral, tão discretos e contidos. Por que, no Brasil, ficamos tão eufóricos com a passagem do ano? Por que bebemos e dançamos e nos abraçamos e enlouquecemos como se no outro dia o mundo fosse acabar?
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Viajando pelo litoral norte com Ana, Caiote, Alex, Adriana e Gabriel.
Depois daquele horizonte / Tem uma aventura pra viver / O segredo da viagem / É curtir a paisagem / Viajar no entardecer / Receber o destino com um abraço / Baseado no que pode acontecer
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Naus a singrar pelo caos de mim… Fotinha feita no calçadão da beira-mar de Póvoa de Varzim, norte de Portugal.
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Pegando emprestado o visual do Arco da Porta Nova, no centro de Braga, para participar do movimento de apoio a Chico Buarque, que foi hostilizado por conta de suas posições políticas. Usei a letra da música Tanto Mar, que Chico compôs para homenagear a Revolução dos Cravos, que em 1974 acabou com décadas de ditadura e implantou a democracia em Portugal.
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Obrigado, maninha, pela oportunidade dessa viagem. Você mora de camisola em meu coração. E esta camisola é camisola brasileira mesmo.
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Em Leiria, com Susana e Ricardo. Susana é professora de artes e acompanha meu trabalho desde 1998, quando a internet engatinhava.
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Nas viagens pelo país, usei o sistema de comboios (trem) e o de ônibus (autocarro). Ambos são eficientes e seguros. Porém, se você for usar os autocarros, não espere muita organização no momento de embarcar, principalmente na rodoviária da Rede Expresso, no Porto. Se você não ficar bem atento, não saberá onde está o ônibus que deve pegar, e quando descobrir, ele já saiu e você ficou.
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Num hotelzinho em Lisboa, ao pé do Bairro Alto. Abastecido de mapas, uísque portátil e história de Portugal. E solidão.
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Com velhos e novos amigos em Lisboa, brindando com vinho e ginjinha. Esse povo bebe muito…
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Pensão Amor. Voltei lá para conhecer melhor o espaço. Aproveitei para oferecer o Vinicius Show de Moraes, mas a casa não se interessou. Felizmente, dois bares em Braga se interessaram: o Caldo Entornado e o Notre Dame, ambos no centro histórico.
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Pesquisando sobre fado, conheci um pouco mais de sua história. E descobri Gisela João (abaixo), uma cantora de timbre especial, mui graciosa, e que nos últimos anos tem se destacado no cenário musical português. Gostei muito de seu disco de estreia. Recomendo!
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O fado Saudades do Brasil em Portugal, de Vinicius de Moraes e Homem Cristo, até hoje é bastante cantado em Portugal, inclusive pelas novas fadistas. Para nossas apresentações portuguesas do Vinicius Show de Moraes, eu e Felipe Breier o incluiremos no repertório. Gosto muito dessa versão, cantada por Kátia Guerreiro. .
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Falando em Vinicius, em 1969 ele, a caminho de Roma, passou por Lisboa e encontrou-se com Amália Rodrigues e amigos e poetas portugueses. O encontro foi registrado em disco e lançado em 1970, mas foi proibido pelo governo, sendo relançado após a queda da ditadura em 1974. Narrado por David Mourão Ferreira, e contendo declamações, improvisos, fados e bossas novas, este disco é considerado uma relíquia da música e poesia em língua portuguesa.
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Nas perambulanças por Lisboa, margeando o velho Tejo, uma esticadinha até Belém. Olha, que indescritível emoção estar no lugar em que Jesus nasceu… Será que ele chegou a comer o famoso pastel de nata?
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Anoitecer na Ribeira, às margens do rio Douro, no Porto. Programas obrigatórios, pelo menos para mim: passeio pelo centro histórico, fotinha na livraria Lello e um copo de vinho no Piolho. Percebi uma forte rivalidade cultural entre Porto e Lisboa, e não apenas no futebol. A autoidentidade portuguesa nasceu no norte, e só depois é que alastrou-se para o sul. Como o norte do país não foi tão influenciado pela dominação moura quanto o sul, isso leva os nortistas a se considerarem mais portugueses que os sulistas e a se orgulharem de suas origens celtas, assim como os galegos da Espanha, que também se originaram do povo celta.
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Meu romance literalmente cruzando fronteiras… Ah, não resisti à tentação: na estrada que vai de Braga, em Portugal, a Vigo, na Galicia (noroeste da Espanha), saltei rapidamente do carro e registrei o momento.
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Na Galícia, alugamos uma casa para seis pessoas em Escravitude, próximo a Santiago de Compostela. Usamos os serviços do AirBnb, que funcionou muito bem.
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Vai um programa literário aí, freguesa peregrina? Cobro baratinho. E sou muito discreto. A senhora nunca viu isso aqui em Santiago de Compostela? Pois tá vendo agora. A gente tem que se virar, né? Quanto custa? Custa esse livro que tá aqui na vitrine, a senhora compra pra mim? Sim, sou viciado nisso, eu assumo, e faço tudo pra manter meu vício em dia. Sim, compensa, claro que sim. Em uma hora com a senhora eu ganho a vida inteira com Fernando Pessoa ou com Florbela Espanca.
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Na localidade espanhola de Baiona, às margens do rio Minho, o rei Afonso IX cata gaivotas.
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Em terra de sapo, de cócoras com eles. Uma Estrella Galicia bem geladinha para rebater a ressaca e celebrar. Celebrar o quê? Bem, que estamos vivos. E estamos vivos para quê? Ah, aí já não sei, não me venha com essas questões a essa hora da manhã. Não sei porque estamos vivos. E nem invejo aos que o sabem. Celebremos, pois, a ignorância. Puxando Alberto Caieiro, amar é a eterna inocência, e a única inocência não pensar.
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Veja a foto. Lá adiante está o oceano Atlântico. Esse é o rio Minho, que separa o norte de Portugal da Galícia, no noroeste da Espanha. Do lado esquerdo de sua foz está a cidade portuguesa de Caminha, do lado direito, a espanhola Guarda. O percurso entre as duas localidades pode ser feito de ferry boat, de onde foi feita a foto.
Do lado esquerdo, a língua oficial é o português, e do lado direito, as línguas oficiais são o castelhano (que os brasileiros chamam de espanhol) e o galego. Português e galego se originaram do galego-português, língua que surgiu no século 9, a partir do do latim vulgar falado pelos conquistadores romanos, e são muitíssimo parecidas.
No rio, abaixo da superfície, os peixes borbulham portulego.
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Se você tirar uma foto em Portugal, são grandes as chances de Cristiano Ronaldo sair nela. Putz… O gajo tá em todo canto: jornais, revistas, outdoors, tevê, internet, nas conversas nos cafés… Impossível fingir que ele não existe. Como deve ser observar a milhões de pessoas dia e noite, a todo momento, em cada esquina de Portugal? O gajo gato CR7 sabe a resposta..
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O Paço dos Duques, em Guimarães, onde hoje funciona um museu. De estilo borgonhês, seu aspecto atual foi recriado, de forma polêmica, durante o Estado Novo, e ignora-se a arquitetura original. Foi construído no sec 15, por D. Afonso, 1.º duque de Bragança, para servir de residência quando estivesse com sua amante. Uau… É tão grande e espaçoso, com tantos aposentos e salas, que daria pra hospedar não apenas uma, mas uma centena de amantes. Isso, obviamente, se o duque tivesse disposição suficiente.
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O Castelo de Guimarães. Que não é um castelo, mas uma torre de defesa cercada por muralhas reforçadas por quatro torres. Situado no alto da colina, está ligado à fundação do Condado Portucalense e às lutas da independência de Portugal, sendo designado popularmente como berço da nacionalidade. De acordo com a tradição, aqui nasceu o primeiro rei de Portugal, D. Afonso Henriques (1112-85), na capela avizinhada ao Castelo.
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A Francesinha é um prato típico e originário da cidade do Porto. Servido e forma de sanduíche, leva linguiça, salsicha fresca, fiambre, carnes frias e bife de carne de boi (os portugueses chamam de carne de vaca) ou, em alternativa, lombo de porco assado e fatiado, coberta com queijo posteriormente derretido. É guarnecida com um molho à base de tomate, cerveja e piri-piri. Os acompanhamentos de ovo estrelado (no topo da sanduíche) e batatas fritas são facultativos. A origem do nome é controversa, mas uma versão fala da suposta pimentice das mulheres francesas.
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Quando a tarde cai, elas se olham, lânguidas. E agitam-se levemente em sua elegante dança de sedução. Pudessem andar, elas se abraçariam e sairiam rodopiando pela rua. Como não podem, trocam juras roçando-se com seus galhos e soltando as folhas como doces beijinhos largados. E o calor desse namoro sobe até as nuvens, ruborizando o céu e aquecendo o inverno.
Poizé. Ultimamente aqui em Portugal, ando com essa mania besta de olhar as árvores namorando…
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Encontro Marcado na Biblioteca bem podia ser o título de um conto erótico, né? Quem sabe um dia eu escreva, eheh. Entretanto, esta foto registra meu inesperado encontro, na biblioteca municipal de Lourinhã (60km de Lisboa, Portugal), com O Encontro Marcado, em edição portuguesa, o romance de Fernando Sabino que me deu o impulso definitivo para ser escritor. Que sensação boa encontrá-lo aqui do outro lado do Atlântico. Quanto carinho e respeito tenho por este livro!
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Tchau, Ibéria. Foram dois meses deliciosos. Espero que tenha gostado de mim. Em junho voltarei, com meu parceiro Felipe Breier, trazendo o nosso Vinicius Show de Moraes. E viva a cidadania mundial! Por um mundo sem fronteiras.
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Ricardo Kelmer 2016 – blogdokelmer.com
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Rumo à estação simplicidade – Jurei me manter sempre no caminho, sem pesos nem apegos excessivos, pronto para pegar a estrada no momento em que a vida assim quisesse
O sonho do verdadeiro eu – Entretanto, algo me dizia que na pauliceia eu poderia viver minha vida mais verdadeira, era só insistir
Espirros e roteiros – Se antes eu tinha insônia por me preocupar demais em descobrir o que precisava fazer, hoje me delicio em abrir a janela dos quartos dos hotéis, molhar a ponta do dedo e botar no vento
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COMENTÁRIOS .
01- Boa sorte no novo projeto,vai da certo! Vocês merecem. Gil Tabosa, Campina Grande-PB – fev2016
02- Se precisar de um carregador de mala que toca flauta, já sabe… Waldemar Falcão, Rio de Janeiro-RJ – fev2016
03- Que venham muitas outras, Ricardo! Se bem que nessa temporada eu mais dei trabalho que ajudei ne? Ana Claudia Domene Ortiz, Albuquerque-EUA – fev2016
04- Cú ibero lusitano. Andre Soares Pontes, Fortaleza-CE – fev2016
05- maravilha de registro, querido..ficou 10. Shirlene Holanda, São Paulo-SP – fev2016
06- Nada que agradecer… Eu é que agradeço! Volta depressa e traz o calor! Susana X Mota, Leiria-Portugal – fev2016
07- A segunda temporada e quando mesmo? Não esquecer de trazer minhas dez cordas de caranguejos vivos, lá de Parnaíba (PI)! Francisco Fontenele Veras Neto, Lourinhã-Portugal – fev2016
08- Caríssimo RK, gostei imenso, como dizem os gajos, de seu roteiro poético pela ocidental praia lusa e pelas trilhas galegas. Com direito ao novo fado e tudo mais, posso dizer que você me poupou a viagem a Portugal, caso não me saia a bolsa de pós-doutorado. Sim, estou fazendo minha pesquisa na USP, e é sobre o velho mago comunista da Azinhaga. Torço para que dê tudo certo com o impagável Vinicius que só você e o Breier sabem fazer. Leite Jr., Fortaleza-CE – fev2016
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A vida pede passagem
A viagem vai começar
Aperta o sonho contra o peito
Que não tem mais jeito de voltar
Vai, vai em frente
De repente vem a grande chance
O lance é não desperdiçar
Confia e persevera
Que a vida não espera
Quem só quer desesperar
Vai, vai, no fim dá certo Se não deu certo, então não é o fim Vai na boa, vai por mim Se errou, se perdeu, tá difícil São os ossos do ofício Viver nem sempre é cor de rosa Mas a vida é gostosa e tá a fim
Vai, vai, relaxa e goza Relaxa e goza, vai por mim
. Ricardo Kelmer 2005 – blogdokelmer.com
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> Esta é a letra da música Relaxa e Goza, uma parceria minha com Flávia Cavaca. Há uma versão experimental, com interpretação de Ana Alcântara. Ouça aqui
Mário Gomes, o poeta viralata – Era com suas errâncias quixotescas e os versos obscenos que o povo se encantava, ele lá, de paletó sem gravata, camarada e bonachão
É a Tao coisa – Uma maneira intuitiva de compreender a realidade através da harmonia com o Tao
Rumo à estação simplicidade – Jurei me manter sempre no caminho, sem pesos nem apegos excessivos, pronto para pegar a estrada no momento em que a vida assim quisesse
Andarilho – Eu sempre fui andarilho / Viver desse jeito que eu sou
Espirros e roteiros – Se antes eu tinha insônia por me preocupar demais em descobrir o que precisava fazer, hoje me delicio em abrir a janela dos quartos dos hotéis, molhar a ponta do dedo e botar no vento
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. Eu sempre fui andarilho Mas é assim que prefiro Viver desse vento que eu sou Tanto tempo que deixei a trilha Que hoje nem a minha mochila Sabe mais para onde vou
Todo dia quando acordo Sopro no ar a minha sorte E ganho tudo que preciso ter O que não preciso, que o vento leve Porque nunca se perde Quem não tem o que perder
Mário Gomes, o poeta viralata – Era com suas errâncias quixotescas e os versos obscenos que o povo se encantava, ele lá, de paletó sem gravata, camarada e bonachão
É a Tao coisa – Uma maneira intuitiva de compreender a realidade através da harmonia com o Tao
Rumo à estação simplicidade – Jurei me manter sempre no caminho, sem pesos nem apegos excessivos, pronto para pegar a estrada no momento em que a vida assim quisesse
O sonho do verdadeiro eu – Entretanto, algo me dizia que na pauliceia eu poderia viver minha vida mais verdadeira, era só insistir
Espirros e roteiros – Se antes eu tinha insônia por me preocupar demais em descobrir o que precisava fazer, hoje me delicio em abrir a janela dos quartos dos hotéis, molhar a ponta do dedo e botar no vento
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COMENTÁRIOS .
01- Torcendo por vc. Iris Medeiros, Campina Grande-PB – dez2015
02- lindo poema, muito sucesso pra vc Rica. Moacir Bedê, Fortaleza-CE – dez2015
03- meu amigo sempre admirável! torço muuui-to! Shirlene Holanda, São Paulo-SP – dez2015
09- Linda a poesia!!! Patrícia Hakkak, São Paulo-SP – out2019
10- que as trilhas se abram sempre com o sopro do vento. Lucirene Façanha, Fortaleza-CE – out2019
11- que o vento siga te levando aos lugares aonde seu verbo se espalhe, e você siga leve, divertido.. Vera Helena Sanchis Alberich Guarani-Caiowá, São Paulo-SP – out2019
12- Parabéns, Andarilho, que o vento só te leve para lugares lindos. Luciana Brasileiro de Holanda, Campina Grande-PB – out2019
13- Que o vento siga te levando sempre a lindas e divertidas descobertas.. Carla Falcão Bouth, São Paulo-SP – out2019
14- Lindo…você e o poema… Dalila Tiago, Rio de Janeiro-RJ – out2019
15- Excelente texto ! Carlos Horácio Camurça, Lisboa-Portugal – out2019
16- Poema delicioso! Tetê Du Monte, Fortaleza-CE – out2019
17- muito massa, ,Kelmer, vida longa aos andarilhos e vagabundos sábios da arte de viver. Marcelino Pequeno, Fortaleza-CE – out2019
18- Parabéns, grande Ricardo Kelmer! Esse poema lindo é mesmo a sua cara. Zélia Sales, Fortaleza-CE – out2019
19- Tua cara amigo! Te adoro viu! Felicidades! Evelane Marques Ribeiro, Fortaleza-CE – out2019
20- ”…O q não preciso q o vento leve pq nunca se perde quem não tem nada a perder…” arrasou muita saúde. Tania Castro Sales, Fortaleza-CE – out2019
Era com suas errâncias quixotescas e os versos obscenos que o povo se encantava, ele lá, de paletó sem gravata, camarada e bonachão
MÁRIO GOMES, O POETA VIRALATA
. Era um burburinho que rodava dentro da cabeça dele, sem parar. Uma noite, rodou, rodou e pariu um poema. E ele riu da própria marmota. Descobriu-se poeta.
Rapaz, trabalhar com redemoinho no juízo não dá. Veio-lhe aí a revelação, aquilo que todo cão viralata sabe: se é pelas ruas que a vida livre escorre em poesia, bebamos de sua sagrada putaria. Então batizou-se boêmio e vagabundo.
Rebelando-se contra tudo que não rima com liberdade, um dia ele fugiu do manicômio. Lá no alto, a lua se apaixonou, a andarilha do céu, e jurou protegê-lo em suas perambulanças e traquinagens. Assim, sempre sem dinheiro mas abençoado, fez-se aventureiro: em São Paulo foi preso, mas escapuliu, por se fingir cineasta para as mulheres, em Minas se atrasou e não embarcou no ônibus que viraria na estrada, e lá nos cafundós da Bahia escapou de morrer no veneno de um vatapá na encruzilhada.
Ah, ele sumia por meses, mas Fortaleza sempre o recebia de volta. Todo lascado de surras e prisões, mas uma ruma de história mirabolante para contar. À tarde, na Praça do Ferreira, o vento malandro a brincar de subir a saia das moças, era com suas errâncias quixotescas e os versos obscenos que o povo se encantava, ele lá, de paletó sem gravata, camarada e bonachão. Fiel se manteve ao ofício de sua nobre vagabundagem, vivendo sem amanhãs, e sempre o acudia um troco para a janta e o cigarro. De tanto encarnar o surreal da vida, ainda vivo virou lenda. Assim foi que um dia, ele contando orgulhoso da aposentadoria por invalidez mental, que os amigos entenderam: cidade bendita a que provê seus poetas mais puros.
Nos seus livros publicados, a arte intuitiva brincava longe dos parâmetros, feito criança travessa que, sem atinar, aponta o absurdo da existência. Era por isso que ele podia colher uvas no pé de cana até chegar o homem das laranjas. Por isso, ele, só ele, foi comido vivo em banquete por Odete, Judite e Maria Helena. Por isso que em seu braço a formiga bebia água e de sua merda uma tarde voaram borboletas. Porque só o poeta que reflete a lucidez primitiva do desconexo sabe que na vitrine a manequim tem fome.
Tua amada, cadê?, as estrelas lhe indagam na solidão das madrugadas. Ela não veio, responde magoado, e vira a cachaça. Agora, debilitado e maltrapilho, defende-se como pode de velhas assombrações, os eletrochoques, aquela virgem ingrata que lhe negou um nheco-nheco, a surra da multidão em Salvador por lhe confundirem com um bandido… Agora, veja só, lhe proíbem de recitar seus versos onde antes era aplaudido, como se atrevem? E esses moleques idiotas, que lhe acordam com pedradas, acham que é mendigo, não sabem que saiu no jornal, que o mulherio gama só de olhar? A mãe, tadinha, morrera, ela que cuidava de lhe dar os remédios que sossegavam os burburinhos, e que agora já não parem poemas. Dizem que virou espectro vagante, que é melhor ir para a casa de repouso, que morreu mês passado, ah, não entendem porra nenhuma. Aquele bar ali, outro dia lhe negaram um resto de pão que sobrou na mesa, vão tomar no cu. Felizmente, as ruas sabem quem ele é. E pode lavar a calça no banheiro do teatro. E embaixo da passarela ainda lhe deixam dormir. E descansar a carcaça. E sonhar seu sonho louco de liberdade radical…
Ele se foi numa tarde sem vento, com os fogos do ano-novo a ignorar sua partida. Como não tinha documento, não podiam liberar o corpo para o velório na biblioteca. Mas ele é o poeta Mário Gomes, os amigos tiveram de explicar. Era a sua credencial, de mais não carecia para adentrar a posteridade. Lá no alto, a lua grávida dele não quis falar. Por detrás do Universo, Jesus tomou uma com Satanás. E mais além, na Praça do Ferreira, um viralata rodou, rodou e mijou um minuto de silêncio.
. Ricardo Kelmer 2015 – blogdokelmer.com
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À memória de Mário Ferreira Gomes (Fortaleza, 23.07.1947 – Fortaleza, 31.12.2014)
Foto preto e branco da montagem: Érika Fonseca. Obrigado a todos que conheceram o poeta e registraram sua vida por meio de relatos, fotos e vídeos. Obrigado a Érika Menezes, por me comunicar da morte de Mário.
REPRODUZIRAM ESTA CRÔNICA:
Blog do Eliomar – Blog do jornalista Eliomar de Lima, jan2015
Roberto Maciel – Blog do jornalista Roberto Maciel, jan2015
Mário Gomes entrevistado na praça por Vilma Matos (2002)
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O poeta em seu nobre ofício na Praça do Ferreira
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O poeta na praça, já bem debilitado
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Com o livro de Márcio Catunda, Mário Gomes, poeta, santo e maldito
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Foto de Mika Holanda, vencedora de concurso da revista National Geographic, feita em set2014, cem dias antes de sua morte
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Mural com fotos de Mário em seu velório
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Os muros da cidade celebram Mário Gomes (Praia de Iracema)
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Ensaio biográfico de Márcio Catunda e cordel sobre Mário Gomes, de Rouxinol do Rinaré
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CRÔNICA
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AO MESTRE VAGABUNDO, COM CARINHO Ricardo Kelmer, 2015
. Nos anos 1980, em Fortaleza, corriam histórias divertidas sobre um tal Mário Gomes e sua poesia mirabolante. Elas me alcançaram na faculdade ou em alguma mesa de bar. Eu não sabia se eram reais e nem se Mário existia de fato ou era um personagem da imaginação popular. Ou seja, ele para mim era uma lenda, como certamente o era para muitas pessoas.
Provavelmente, cheguei a vê-lo em algum evento cultural ou em algum bar, ou nas Rodas de Poesia e Percussão, no Dragão do Mar, mas talvez não tenha associado sua imagem ao seu nome, ou talvez eu estivesse muito bêbado. Tirando o tempo em que trabalhei como contínuo, em 1982-84, e ia quase todo dia ao centro, nunca fui muito assíduo da Praça do Ferreira, mas talvez o tenha visto lá alguma vez. Será que ele chegou a ir ao Badauê, um bar que eu tinha na Praia de Iracema em 1988-89?
Deixei Fortaleza em 2004. Anos depois, numa visita à cidade, surpreendi-me de saber que era ele aquela figura comovente que passeava no Dragão do Mar, bêbado e maltrapilho, discursando sozinho, e nos anos seguintes voltei a vê-lo por lá, deslizando solitário pelas noites, às vezes acompanhado da jornalista Ethel de Paula. Em 2013-14, acompanhei à distância a piora de seu estado, mas sabia que pouco podia ser feito, por sua recusa em deixar as ruas e tratar da saúde.
Naquela tarde de 31 de dezembro, eu estava em casa, em São Paulo, quando fui avisado de sua morte por minha amiga Érika Menezes. Eu sabia que dias antes ele fora encontrado desmaiado no Dragão, e que enfim o convenceram a ir para o hospital. Senti uma súbita tristeza e chorei. Tomei uma dose de uísque e homenageei o poeta, gargarejando um verso seu: Como era gostoso esse Mário Gomes! E fui buscar na internet o poema inteiro, para recitar. Putz… Bastaram poucos minutos de pesquisa para descobrir o imensamente quanto eu não sabia quem era Mário Gomes. Fiquei envergonhado da minha ignorância e ali mesmo comecei a catar tudo sobre ele, entrevistas, relatos de quem o via nas ruas, vídeos, a biografia de Marcio Catunda… Quanto mais descobria, mais me fascinavam sua história e sua arte. Perdi o ânimo para a festa do réveillon ‒ a vontade era de estar em Fortaleza e ajudar nas preparações para o velório.
Descobri um grandioso personagem, a perfeita encarnação do arquétipo do louco malandro, presente em tantas culturas do mundo. Ao ser avesso a regras e limites e recusar-se a trabalhar, Mário personificou o vagabundo que todos, no fundo, temos vontade de ser. Flanar livre por aí pelas ruas, fazendo poesia e vivendo incríveis aventuras, aceitando o que lhe dessem como ajuda e sem importunar ninguém, era essa a sua bela filosofia. Desconfio que um dia sua vida virará filme, uma comédia dramática burlesca, e estreará no Cine São Luís, na Praça do Ferreira. Nada mais justo.
Durante sete dias, me alimentei de Mário, quase não saí de casa, e, ao fim, vomitei a crônica Mário Gomes, o Poeta Viralata. Era o mínimo que eu tinha a fazer por sua memória, mas sei que meu texto não apagará minha sensação de débito com o poeta, por conhecê-lo somente após já ter ido embora. Quanto aos seus problemas mentais, talvez eles não lhe permitissem ter a exata consciência de sua condição, dos riscos de viver assim, da morte iminente na próxima esquina. Ou o contrário, talvez Mário soubesse mais que todos, quem pode ter certeza? Quem pode julgá-lo? E quem está livre de morrer na próxima esquina?
Não tenho a mesma coragem que Mário, mas busco todos os dias priorizar a minha liberdade e viver para a minha arte. Não durmo nas ruas, mas conheço a grande incerteza do tempo para quem decidiu ser escritor na vida. Mário Gomes se foi, e seu exemplo agora me fortalece em minha própria loucura. Obrigado, mestre vagabundo.
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ANDARILHO Ricardo Kelmer, 2015
Eu sempre fui andarilho Mas é assim que prefiro Viver desse vento que eu sou Tanto tempo que deixei a trilha Que hoje nem a minha mochila Sabe mais para onde vou
Todo dia quando acordo Sopro no ar a minha sorte E ganho tudo que preciso ter O que não preciso, que o vento leve Porque nunca se perde Quem não tem o que perder
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O poema Andarilho integra a trilogia que fiz em homenagem a Mário Gomes, com as crônicas Mário Gomes, o poeta viralata e Ao mestre vagabundo, com carinho. O poema foi inspirado numa fala de Mário, durante a gravação da matéria Poeta de Rua, da TV O Povo, de Fortaleza, em 2009. Tomei a liberdade de transcrever a fala em formato de poema e dei-lhe o título de Mora. Fiz isso para destacar o quanto Mário Gomes vivia a poesia, naturalmente, em sua vida cotidiana, mesmo tendo, nos últimos anos, deixado de escrever e publicar. Quando comparo os dois poemas, o dele se revela tão autêntico e o meu me soa tão artificial… Talvez por que Mário era poesia em estado bruto.
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MORA Mário Gomes
Eu sempre fui andarilho Eu sempre andei do jeito que eu sou Eu nunca mudei minha personalidade Esse negócio de dizer que eu moro na rua é papo furado Se por acaso eu tô por aí, com muito sono, embriagado O que é que tem eu dormir? Eu moro na rua por quê? Eu moro na rua onde? A gente mora dentro de si, rapaz A gente mora dentro da cuca da gente Eu moro em qualquer canto onde eu chegar O que é morar? Agora eu que te pergunto: o que quer dizer morar? .
VEJA O VÍDEO
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Foto de Raymundo Netto
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POEMAS DE MÁRIO GOMES
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SOU UM CACHORRO VIRA-LATA
Sou um cachorro vira-lata Não tenho residência fixa Não tenho responsabilidades Não tenho dono. Mas, também, não me falta sexo Porque conheço lindas cadelas De tipos diversos. Onde chego procuro alimentos Fumo na hora em que me é propício Um cigarrinho com filtro ou sem. Sou um cachorro fiel e valente (Só na aparência) Pois, sou um cachorro vira-lata.
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ANTROPOFAGISMO
Eu, sem ser antropófago, já saboreei muita gente por aí. Minhas preferências são os esbeltos violônicos corpos femininos: a mulher. Ah! Se a humanidade fosse toda antropófoga como eu teria o prazer de ser devorado em um banquete ou bacanal de lindas garotas sexys, histéricas, eróticas e eu, em cima de uma mesa qualquer totalmente nu. Assado ou cozido. Recheado de cebolas, tomates e farofas. Enquanto Odete espetava um dos meus esverdeados olhos que outrora foram profanos, Judite arrancava minha língua e mastigava furiosamente. Depois Maria Helena pegava uma faquinha de mesa e cortava delicadamente meu pênis ereto e dizia entre-dentes: – Como é gostoso esse Mário Gomes.
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UMA VIOLENTA ORGIA UNIVERSAL
Olhei o sol. Me irritei E larguei a mão na cara dele. No qual ele ficou Desacordado por 12 horas ininterruptas. Dei um ponta-pé nos ovos da terra. Afastei São Jorge E mantive relações sexuais com a lua. Pisoteei o cadáver de satanás Numa esquina encontrei-me com Deus E saímos abraçados: rindo e cantando…. Chovia
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METAMORFOSE
Ontem, Ao meio-dia, Comi um prato de lagartas Passei a tarde defecando borboletas.
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AÇÃO GIGANTESCA
Beijei a boca da noite E engoli milhões de estrelas. Fiquei iluminado. Bebi toda a água do oceano. Devorei as florestas. A Humanidade ajoelhou-se aos meus pés, Pensando que era a hora do Juízo Final. Apertei, com as mãos, a terra, Derretendo-a. As aves em sua totalidade, Voaram para o Além. Os animais caíram do abismo espacial. Dei uma gargalhada cínica E fui descansar na primeira nuvem Que passava naquele dia Em que o sol me olhava assustadoramente. Fui dormir o sono da eternidade. E me acordei mil anos depois, Por detrás do Universo.
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A LOUCA E O MANEQUIM
A menina louca, maltrapilha e suja, Parou em frente à vitrine da Casa Parente, E estática olhava para um manequim feminino. Olhou… olhou… pensou… pensou… Dado momento perguntou: “ta com fome, égua?” Esta pergunta causou-me Certa impressão, o poeta, Que também já conversou com os manequins. Eu dissera: “se fosse realmente mulher Como és de gesso, Te daria um prato de comida.” Será que essa louca é A personificação da poesia?
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QUANDO EU MORRER
Quando eu morrer Irão distribuir minhas camisas, Minhas calças, minhas meias, meus sapatos. As cuecas jogarão fora. Ninguém usa cueca de defunto. Irão vasculhar minha gaveta. Vão encontrar muita poesia, Documentos e documentários. Só sei dizer Que foi gostoso viver. Sentir o amor e proteção de minha mãe. De conhecer meus irmãos, meus amigos. De ver de perto as mulheres. Só posso deixar escrito: “obrigado vida”.
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LIVROS PUBLICADOS
Lamentos do Ego (1981)
Aprendizes da Morte (1982, com Márcio Catunda e Cristiane Marinho)
Emoção Poética (1983)
Resquícios de uma Paisagem da Vida (1988)
Devaneios das Lamentações (1991, com Márcio Catunda)
Terno de Poesia (1997, com Alcides Pinto)
Uma Violenta Orgia Universal (1999, antologia poética)
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Mário Gomes na Casa Juvenal Galeno (Semana da Poesia, 2010)
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SAIBA MAIS
Mário Gomes Poeta – Blog em homenagem ao poeta, com poemas, depoimentos, vídeos e reprodução do livro Mário Gomes, poeta, santo e maldito, de Marcio Catunda
O sonho do verdadeiro eu – Entretanto, algo me dizia que na pauliceia eu poderia viver minha vida mais verdadeira, era só insistir
O mundo real da arte – O momento em que a magia do teatro se revela paradoxalmente em toda sua plenitude, expondo tanto sua maquiagem quanto seu avesso
O último blues de Lily – A lua nascendo no mar e os blues na voz de uma Lily que se rebola e se rebela e não ouve ninguém chamar
Pelas coxias de Guaramiranga – Entre uma peça e outra sempre dá tempo de cruzar uns olhares, nativos e forasteiros, e exercitar o roteiro das abordagens
Crimes de paixão – Detetive investiga estranhos crimes envolvendo personagens típicos da boêmia Praia de Iracema e descobre que alguém pretende matar a noite
10- Só mesmo poetas pra entender e falar sobre poetas. Parabéns pelo texto Ricardo Kelmer, posso compartilhar? Márcia Rodrigues, Fortaleza-CE – jan2015
12- Seus textos agarram a gente pelos olhos e nos puxa pela sonoridade das palavras bem ditas! Tenho gostado. Bjs. Ana Maria Costa Lima, Fortaleza-CE – jan2015
13- Nesse pré carnaval eu quero musicar um samba em homenagem ao bêbado e o vagabundo. Quem se habilita em escrever uma letra? O título já foi dado pelo Ricardo. André Marinho, Fortaleza-CE – jan2015
14- Perfeito. Willa Lima,Fortaleza-CE – jan2015
15- ei, tio! tá foda, a crônica! me arrepiei todo como o final. e a impressão que dá é que a crônica nasce Ricardo Kelmer e vai morrendo Mario Gomes. parabéns!! Levy Mota, Fortaleza-CE – jan2015
16- Oi Ricardo. Adorei a crônica. Eu o vi, várias vezes, pelo centro. Nem desconfiava que era o Poeta Mario Gomes até que soube de sua morte pelo jornal e a foto que ilustrava. O mundo ficou um pouco menos louco e, consequentemente, mais chato. Abraços. Fabiano Brilhante, Fortaleza-CE – jan2015
17- tá é lindo, esse texto/essa homenagem. Shirlene Holanda, São Paulo-SP – jan2015
18- É de arrepiar!! Linda homenagem… Izadora Castelo, Fortaleza-CE – jan2015
19- Acho que vou trocar essa dissertação pelos textos do Kelmer e do Ricardo Guilherme – e não quero troco rsrs Ai, ai, como é gostoso mesmo esse Mário Gomes devorando a gente ao avesso!!! rs. Ethel de Paula, Fortaleza-CE – jan2015
21- O encontro dos poetas …… João Moreira, Fortaleza-CE – jan2015
22- Sempre que ia ao Dragão o observava e respeitava seu espaço…interessante era que ele não pedia nada. Ando por lá desde que foi inaugurado, mas de 2006 pra cá foi que soube que ele era poeta, desde então sempre que o via ia logo dizendo: ” óh ú poeta!” Nem sempre ele falava, mas sempre ele sorria… Tiago Bandeira, Fortaleza-CE – jan2015
23- Ei, eu tinha lido no Eliomar. 🙂 Me deu saudades! beijo. Verônica Guedes, Fortaleza-CE – jan2015
24- Cara, q texto lindo! Bela forma de homenagear o poeta. Que a sua poesia seja eterna! Mariela Mei, Campinas-SP – jan2015
25- massa kelmer! bela homenagem ao mais rico dos poetas de fustaleza! um dia chegamos lá… Marcos Maia, São Paulo-SP – jan2015
26- Que lindo Ricardo! Grande homenagem a um grande poeta. Ana Claudia Domene Ortiz, Albuquerque-EUA – jan2015
27- Lindo coMtexto! Sugiro que juntem todas as homenagens feitas à ele em versos, poemas e divagações e organizem em um livro. .. será delicioso bebê-las e devorá-las. Gratidão! Abçs. Maria Castro, Fortaleza-CE – jan2015
28- Muito bem elaborado. Parabéns, Ricardo! Rejane Porto Cult, Fortaleza-CE – jan2015
29- Muito bom! Alexandre Domene Ortiz, Fortaleza-CE – jan2015
30- chorei. parabens pelo texto. de uma delicadeza incrivel. Dimitri Bitu de Araújo, Fortaleza-CE – jan2015
31- Sempre com sensibilidade pra escrever sobre outras sensibilidades Ricardo Kelmer. Belissimo texto. Ivonesete Zete, Fortaleza-CE – jan2015
32- Mt bom! Belíssimo e emocionante texto! A morte do poeta me comoveu bastante. Eu que também escrevo meus versos, de tão comovido escrevi também um poema em homenagem ao grande Mario Gomes. João Batista Júnior, Fortaleza-CE – jan2015
33- Adorei! Regina Zamora, São Paulo-SP – jan2015
34- Parabéns, Ricardo, bela homenagem! Antonio Martins, Maceió-AL – jan2015
36- legal, kelmer… um brinde ao poeta!…. abração! Arnaldo Afonso, São Paulo-SP – jan2015
37- Boa. Olhai Christiane Glasner. Ruth Hernández Boscán, no se si comprenderas, pero dos de tus pasiones en una persona: poesia y psique. Jose Paulo Araujo, Caracas-Venezuela – jan2015
38- Quando as latas tinham poesia. Alberto Perdigão, Fortaleza-CE – jan2015
39- Fantástica homenagem do meu amigo Ricardo Kelmer ao poeta Mário Gomes, que todos víamos pelo Dragão do Mar, embarcado em sua loucura, sempre elegantemente maltrapilho, chamava a atenção. Fica a letra, rastro no mundo e na história da cidade. Ronald de Paula, Fortaleza-CE – jan2015
Essa música eu fiz para uma mulher que eu quero esquecer
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Teófilo é um amigo muito querido, que conheci em 2005, quando eu morava no Rio de Janeiro e ele estava na cidade fazendo shows. A amizade rolou fácil e a parceria musical surgiu naturalmente. Além de Jardim das Ilusões, compusemos Estações, Poemas de Saliva e Gostosa Demais. Teófilo, que também assina Teófilo Lima, é um dos músicos mais criativos e talentosos que conheci.
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JARDIM DAS ILUSÕES Ricardo Kelmer e Teófilo .
Levei o teu campari emprestado
Devolvo depois com correção
Que pena, não deu certo, valeu
Beberei à nossa separação
O amor que tu me deste era de vidro
E isso que fizeste… um papelão
Trocaste nosso jardim de ternura
Pela aventura insana da paixão
Não te incomodes de regar nossa camélia
Ela definhou de aflição
As hortênsias murcharam na janela
E o amor-perfeito já não crê em ilusão
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COMENTÁRIOS .
01- Muito bom. Celso Junior, São Paulo-SP – set2014
02- Adorei a dor de corno love you Ricardo Kelmer. Dorah Andrade, São Paulo-SP – set2014
03- bom demais, Ricardo Kelmer Cabeça de cuia da silva!! Teofilo Lima, Parnaíba-PI – set2014
. Prosa, meu amor Tua boca me pede bem dengosa E eu, que só quero um pretexto Cedo à luxúria do texto E me deito em prosa pra você
Minha prosa, meu amor Nasce de entranhas murmurantes E pulsa na veia da palavra urgente Num crescente espasmo de ânsia louca… Eu fecho os olhos, estremeço E proso em tua boca
Ah, a prosa toda que jorra A prosa expulsa que tua boca aprova A prosa que escorre da boca A boca que absorve toda prosa
E essa exaustão derramada que vem depois Esse morno e suave entorpecer Onde descanso no beijo grato da tua boca E provo o gosto da minha prosa por você
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COMENTÁRIOS .
01- a prosa ….. Jacques Josir Ribeiro, Santo André-SP – jul2014
O vídeo abaixo é o registro da homenagem que fizemos a Alberto Marsicano. Aconteceu durante o show da banda Cabruêra, no 23° Encontro da Nova Consciência (Campina Grande-PB). Participam também os músicos Waldemar Falcão, Baixinho do Pandeiro e Vitor Harres, e o vídeo foi gravado por Antonio Carlos Harres, o Bola. O poema que interpreto foi parido no camarim, momentos antes de subir ao palco.
Alberto Marsicano nasceu em São Paulo, 31.01.1952, e morreu em 18.08.2013, em São Paulo. Era músico, tradutor, escritor, filósofo e professor. Foi um dos introdutores do Sitar indiano no Brasil, instrumento que requer muitos anos de estudo e dedicação. Era presença constante no Encontro da Nova Consciência. .
O VOO ETERNO DO PÁSSARO PSICODÉLICO
Ricardo Kelmer 2014 .
Feito um satélite desorbitado
Nos céus da nova consciência
Lá se vai o pássaro psicodélico
Com seu bêbado voar poético
E sua alva cabeleira
Mas na cantiga certeira da cítara alucinante
A vida é um sonho andante que não segue planos…
Ouçam! Estão ouvindo? Vocês viram?
O pássaro psicodélico passou por perto
Ouçam! Nas asas do transe o som se chama Alberto
E sobre as mentes da plateia consciente
Seu voo sagrado flutua eternamente
E a música estremece de prazer insano
O gozo do voo se chama Alberto Marsicano
Os ensaboados da Nova Consciência – Desde seu início, o encontro prioriza o diálogo e a troca sadia de experiências, buscando o fio de unidade que permeia todas as coisas
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COMENTÁRIOS
01- poxa que massa, dia desse foi o aniversario dele, ele chegou a me dar o cd cabruera que ele tocou, justa homenagem! Felipe Maia, São Paulo-SP – mar2014
02- Muito foda! Lembrei da primeira apresentação dele que eu vi na nova consciência. Sempre foi uma figura ímpar do evento. Encantador! Tayane Cristine, Campina Grande-PB – ago2014
. A música Blues de Luz Neon, que integra a trilha sonora do romance O Irresistível Charme da Insanidade, ganhou um novo clipe. A música é de autoria minha e de meu parceirim Joaquim Ernesto, e a interpretação é de Lucio Ricardo, um dos melhores cantores que conheço. A letra foi criada em 2001, e a melodia em 2004, assim como a gravação. A edição do vídeo, bem caseiro por sinal, é deste autor que vos fala. Quem sabe um dia farão um clipe que preste.
No romance, um trecho da letra aparece no capítulo 7, quando Luca está numa puta fossa por causa de Isadora, que o abandonou. Ele chega em casa bêbado, deita no sofá com o violão, serve uma dose de uísque e dedilha uns acordes da música. A versão em inglês desse romance, com tradução de Téo Lorent, será publicada em 2014. .
BLUES DE LUZ NEON
(Ricardo Kelmer e Joaquim Ernesto)
Quando esse blues
Tocar no sonho do seu coração
Devagar você vai despertar
Na madrugada
Bem de mansinho, assim
Vai lembrar de mim
Abra a janela do quarto
Lá fora no meio da rua brilha um letreiro
O luminoso do nosso amor é vermelho
Então sinta, viaje
Voe nesse tom
Foi pra você, meu bem, que eu compus
Esse blues de luz neon .
Um músico obcecado pelo controle da vida. Uma viajante taoísta em busca da reencarnação de seu mestre-amante do século 16. O amor que desafia a lógica do tempo e descortina as mais loucas possibilidades do ser.
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COMENTÁRIOS .
01- Adoro esta música! Lígia Eloy, Lisboa-Portugal – fev2011
02- virei sua leitorinha e sua ouvintezinha rsrsrs. Renata Regina, São Paulo-SP – fev2011
03- A musica é tão gostosa e tão fascinante quanto o livro. Parabéns Kelmer por tanta criatividade! Maria do Carmo Antunes, São Paulo-SP – fev2011
04- Blues de Luz Neon é bárbaro, muy sensual. A tua fêmea de dentro não é moleza não – uma demônia linda, ninfeta, erótica, sexy, sedutora e muuuuy perigosa. Com este tipo de demônia quem é que pode? Até o diabo enlouquece. 😉 Patrícia Lobo, Salvador-BA – fev2011
Úmida flor do lábio, impura e bela
Tão resplandescente na alcova escura
É ela quem guia minha procura
Sou eu quem voo a vida em torno dela
Quero-me no bem me quer de suas pétalas
E na doce vertigem dessa altura
Extasiar meu olhar na formosura
Dos tons rosados de sua aquarela
Sobre ela faço de mim mil beijos
Eu inteiro sou um anseio que cresce
Atraído pelo odor do desejo
Da rosa que me envolve com ardor…
E a vida se bendiz no gozo agreste
Do pouso do pássaro em sua flor
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Ricardo Kelmer 2013 – blogdokelmer.com
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> Úmida Flor do Lábio é uma paródia de Língua Portuguesa, poema de Olavo Bilac (1865 – 1918), jornalista e poeta brasileiro, membro fundador da Academia Brasileira de Letras.
> Mais poemas e músicas
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COMENTÁRIOS .
01- Uau! Lembrei do Bandeira ! Muito bom. Danielle Alves, Fortaleza-CE – dez2013
02- Maravilhosa descrição…lindo ! Marialucia da Silveira, Campinas-SP – dez2013
03- Esse meu amigo se supera a cada poema. Russana Melo, Fortaleza-CE – dez2013
04- Assim com lindo poema desejo à todos uma ótima tarde! Dani Flor de Liz, Caucaia-CE – dez2013
Are you a lucky little lady in the city of light? Or just another lost angel?… City of night. (The Doors) .
Bem-aventurada a noite e todos os seus embalos e alcovas Todos os bares sobretudo os malditos e mais ainda os de balcão As danceterias esfumaçadas de disputadíssimo metro quadrado onde brilham DJs de gosto discutível e os dançarinos de ocasião Os neons coloridos dos cruzamentos cosmopolitas Os motéis e suas filas de espera constrangedoras e nem sempre contidas Os cabarés de periferia com suas adoráveis máquinas de música e a luz lilás do ambiente, tão indefectível As esquinas lascivamente habitadas de pernas à mostra e olhares convidativos Os inferninhos regados a uísque e cocaína dos ricos apartamentos da orla costeira E os incansáveis concursos gay que sobrevivem quase clandestinos e sem glamour para os sonhos de cinderela de tantas bonecas borralheiras
Bem-aventurado o bolero ritmo sagrado de todas as penumbras e das melhores dores-de-cotovelo Bem-aventurados os que uma vez na vida sucumbiram a uma paixão sem zelo e sem par rodopiando lentamente de rosto colado e a voz rouca de Elis contando falseado de um bandeide no calcanhar…
Bem-aventuradas todas as festas mesmo as de 15 anos e outras mais comedidas porque festa é o que nos resta Infinitamente mais bem-aventuradas porém aquelas festas louquíssimas onde exigem fantasia os convidados são selecionados a bebida não falta o som não deixa ninguém parado a fila para o banheiro é uma das atrações há um segundo andar na casa fertilizando travessas imaginações o vizinho apareceu para reclamar e acabou ficando tá todo mundo superafins (solteiros, solteiríssimos, casados e os nem tão casados assim) estão presentes pelo menos uma dúzia de vivas lendas do primeiro escalão de sua agenda e no outro dia você acorda atordoado num quarto que não é o seu não lembra que horas saiu da festa e muito menos o que naquela cama aconteceu… mas toda apreensão se evapora quando surge à porta do quarto insinuante e bem-humorado aquele anjo maravilhoso do seu sonho lhe dando bom-dia e empunhando uma cerveja estupidamente bem-vinda porque hoje é sábado afinal e você não tem compromisso e além disso seu anjo maravilhoso continua bem disposto e maravilhosamente irreal
Bem-aventurados os garçons e garçonetes em seu glorioso e incompreendido ofício Os cantores e músicos da noite que nunca perderão a velha esperança de ver a vida lhes reconhecer os méritos finalmente méritos diariamente abafados pelas conversas nas mesas e pelo barulho da churrasqueira bem ao lado ou ainda pelos aplausos longos e entusiasmados a músicas que nunca são as suas… Os esforçados transformistas de boate de terceira As dançarinas de strip-tease e os atores e atrizes de sexo explícito já cansados de explicar que é um trabalho como outro qualquer As lindas e promissoras modelos de rosto e corpo cultivados que os emprestam a ricos executivos por um jantar naquele restaurante badaladíssimo e depois um bom vinho num 5 estrelas reservado E as menininhas que encurtam ao máximo suas saias e sua adolescência para os caprichos fartos de estrangeiros deslumbrados
Bem-aventuradas todas as prostitutas sobretudo as pobres saco de pancada das sociedades hipócritas de todos os tempos Bem-aventuradas por todos os séculos e séculos elas que são do mundo lixo, vício e benefício elas que (ao lado dos palhaços) terão sempre o mais puro dos ofícios Bem-aventurados os garotos e garotas de programa versões mais destiladas da eterna profissão termos mais requintados pra mesmíssima coisa curso inevitável da democratização sexual Bem-aventurada a não mais exclusividade do aluguel do prazer aos prostíbulos e praças mal afamadas que bom vê-lo com outras roupas! que bom sabê-lo em outras camadas! Bem-aventurado, por extensão, o telefone que os solicita e as solicita com discrição
Bem-aventurados mais ainda os travestis Bombástica personificação do inconformismo à ditadura genética! Exótica e sensual indignação da alma ao legado do corpo imposto! Seres tão cruéis à nossa vã necessidade de tudo explicar Eles que são elas e que desafiam e abordam insolentes nas esquinas o pudor do mundo e envergonham a sagrada decência da família e instigam curiosidade e luxúria com seus corpos inadmissivelmente belos tão androginamente profanos Eles que são elas anjos noturnos do apocalipse sexual urbano prisma expiatório de sentimentos vários o mais puro amor o ódio mais sanguinário Eles que são elas própria contradição do sexo e sua mais alta idolatria Buscada redenção do pecado original: Adão e Eva num só Para lembrar que um sempre se descobrirá no outro que é o que sabemos quando amamos Para lembrar que do homem nasceu a mulher e se um está no outro é porque ambos estão em você mesmo se não quiser
Bem-aventurados enfim todos vós que atentais contra a moral e os bons costumes Vós que dais de comer à obscenidade e à alegria Vós que instigais a carícia e a polícia e que emprestais ao profano vossa poesia Vós que sacudis a pasmaceira dos tempos e assaltais a mesmice e violentais a pudicícia e fazeis sangrar a pestilenta carne da demagogia Deus vos proteja e vos guarde (sempre à noite) um lugar e um altar em sua incompreensível sabedoria
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Ricardo Kelmer 1993 – blogdokelmer.com
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SOBRE ESTE POEMA – Nos shows da Intocáveis Putz Band (Fortaleza-CE), em 1994, quando eu ainda integrava a banda, usávamos este poema num dos números, vestidos como monges medievais. Enquanto a banda fazia um instrumental psicodélico e de intensidade crescente, eu recitava trechos do poema, pregando para a plateia, num clima denso e sombrio. Era o momento sacro-profano do show. As reações do público eram curiosas: algumas pessoas se assustavam, outras se identificavam bastante e havia até quem chorasse emocionado. O Manifesto das Bem-Aventuranças não foi gravado no único disco que a banda lançou, em 1999.
O íncubo – Íncubos eram demônios que invadiam o sono das mulheres para copular com elas – uma difundida crença medieval. Mas… e se ainda
O último homem do mundo – O sonho de Agenor é que todas as mulheres do mundo o desejem. Para isso ele está disposto a fazer um pacto com o diabo. Mas há um velho ditado que diz: cuidado com o que deseja pois você pode conseguir…
A entrega – memórias eróticas (Toni Bentley, Editora Objetiva/2005) – A bailarina filosofa sobre sua profunda experiência de amor, submissão e salvação pelo sexo anal
As taras de Lara – Desde pequena que Lara só pensa naquilo. E ai do homem que não a satisfaz
Um ano na seca – O que pode acontecer a um homem após doze meses sem sexo?
O último homem do mundo – O sonho de Agenor é que todas as mulheres do mundo o desejem. Para isso ele está disposto a fazer um pacto com o diabo. Mas há um velho ditado que diz: cuidado com o que deseja pois você pode conseguir…
Por trás do sexo anal (1) – Se esotérico significa a parte mais oculta de uma tradição ou ensinamento, aquilo que somente iniciados alcançam após muito estudo e dedicação, então o sexo anal é o lado esotérico do sexo
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COMENTÁRIOS .
01- Uma hora de palmas e em pé ainda não seria o bastante…..simplesmente genial. Fabiano Brilhante, Fortaleza-CE – nov2013
02- Quanta blasfêmia… Sei que você é um poeta, e que vê beleza e arte na vida boêmica, mas não use o nome de Deus em vão, para que não te sobrevenha nenhuma maldicão “Não vos enganeis, de Deus não se zomba, pois tudo o que o homem semear, isto também ceifará”. (Gálatas 6:7). Clara Haugland, Fortaleza-CE – nov2013
03- sae satanas……. evem pra igrja punk do f.d.s…. capeta…… Bispo Xines, São Paulo-SP – nov2013
04- Clara, não discuta.O Kelmer só deseja provocar, chamar a atenção… É nisso que se transformou o ato de pensar, isso não nos deve surpreender. Somente sendo idiota se faz uma provocação como essa. Deus já disse que o Reino dos Céus é para todos, todos aqueles que o quiserem, e só quererão os que se arrependerem, os que estão cansados, dispostos à buscar sabedoria. Kelmer está por aí fazendo literatura sem fazer literatura, pensando sem pensar muito bem ou muito demoradamente. O que sei é que um testemunho como este em nada altera, em nada influência… Chega! Já demos audiência demais. Max Honorato, Nilópolis-RJ – nov2013
05- que as diferenças sejam respeitadas e a diversidade de pensamentos livre!!! evoé. Marina Caires, São Paulo-SP – nov2013.
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A 14a edição do Cabaré Soçaite em Fortaleza aconteceu em 05.10.13, na Órbita, na Praia de Iracema. Agora eu tenho um sócio, meu sobrinho Levy Mota (ator e fotógrafo), que antes trabalhou na festa como filmador e assistente de produção. Como a festa cresceu e exige bastante dedicação, e eu tenho a carreira literária e os shows para cuidar, eu precisaria mesmo ter um sócio, caso contrário não ia dar conta de tudo.
A festa foi ótima e a quantidade de pessoas visualmente produzidas foi recorde. Como os prêmios do concurso Musa e Muso do Cabaré estão cada vez melhores, as mulheres e os homens capricharam ainda mais nos figurinos, o que fez a festa ficar mais bonita.
O DJ dessa vez foram dois: Cé da Silva (Cesinha) e Erick Amorim, que estrearam no Cabaré, misturando muito bem suas sugestões musicais à trilha oficial. O VJ Marcio Maahs comandou o telão e as luzes. A banda foi a Diamante Cor de Rosa, fazendo um show ainda melhor que o de 2011. O grupo U´Pabo! participou novamente com dois números coreografados, muito sensuais. Fadinha, sempre malvada, deu seu show à parte, com dois números – e o chicotinho, é claro. Os vencedores do concurso Musa e Muso do Cabaré ganharam um fim de semana na Praia das Fontes, em Beberibe-CE (Hotel das Falésias), crédito na Clínica Estética Corpo em Evidência e nos bares parceiros, Passe Livre Órbita com validade de 30 dias e ingressos para a próxima edição.
As pessoas que foram com visual sensual ou fantasia de qualquer tema tiveram desconto no ingresso. No estúdio, Rildson Valmont fotografou para o concurso Foto Curtição (as fotos mais curtidas ganharam prêmios como viagem para Jericoacoara (Pousada Casa do Ângelo), ensaio fotográfico com Rildson Valmont, vale-compra na Sex Shop Seducción Art, livro O Irresistível Charme da Insanidade, Passe Livre Órbita com validade de 30 dias e ingressos para a próxima edição.
Tivemos também a lojinha da festa (valeu, Raissa Castro), com acessórios e camisetas. Chiquinho Jr fotografou a festa e Victor Augusto filmou. Levy Mota (fotos) e eu (filmagem) contribuímos. Obrigado a todos
A próxima edição em Fortaleza deverá ser em mar2014, novamente na Órbita. E a 3a edição paulistana ainda não tem data pra acontecer. Se você deseja sugerir um local, entre em contato.
FOTOS OFICIAIS Francisco Junior. Clique pra ampliar.
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O Mestre de Cerimônias Korsário Kelmer e sua irresistível
assistente de Palco, Fadinha
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Banda Diamante Cor de Rosa de volta ao Cabaré Soçaite com seu contagioso mix de pop, rock, brega e clássicos infantis.
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Claudine Albuquerque, pro deleite de nossos ouvidos e olhos.
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Trio Caçapa Certa. Como prestar atenção nas bolas?
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Estúdio da festa, uma atração de pernas à parte.
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Trio Encarnado. Apoio: Pernil Sadia.
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Enquanto isso, ela estremece a passarela do balcão…
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Palco liberado pra você brilhar. Quarteto As Deslumbrosas.
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Palco liberado pra você brilhar. Mas não precisava tanto…
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Palco liberado pra você brilhar. E a plateia babar.
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Olhares admirados, dinheiro na meia… Seja você a diva da noite.
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Palco liberado pra você viver sua fantasia de pobre star.
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Cuidado Chapeuzinho, esse lobo é um chicoteador de mocinhas…
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As divas do estúdio, aiai…
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O irresistível charme das porteiras do Cabaré.
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Corsário Kelmer e os DJs Cé da Silva e Erick Amorim
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Concurso Musa do Cabaré. Uma delas ganhará um fim de semana no Hotel das Falésias (Praia das Fontes-CE), entre outros prêmios.
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Concurso Musa do Cabaré. As mulheres mais desejadas da festa.
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Concurso Musa do Cabaré. A dança da campeã, We are the champions, my friend…
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Júri dos concursos Musa e Muso do Cabaré. Missão difícil.
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Concurso Muso do Cabaré. Um deles ganhará um fim de semana no Hotel das Falésias (Praia das Fontes-CE), entre outros prêmios.
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Concurso Muso do Cabaré. Os finalistas na hora da decisão.
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Concurso Muso do Cabaré. O Muso feliz da vida.
Grupo U´Pabo! homenageando o filme Burlesque.
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Fadinha e sua doce mania de maltratar os casais.
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.MAIS FOTOS
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CONCURSO FOTO CURTIÇÃO
Fotos oficiais no estúdio da festa: Rildson Valmont Prêmios para as fotos mais curtidas na página oficial no Facebook: Fim de semana em Jericoacoara (Pousada Casa do Ângelo) + crédito na Clínica Estética Corpo em Evidência + livro O Irresistível Charme da Insanidade + crédito nos bares parceiros + Passe Livre Órbita (com acomp, validade 30 dias) + ingressos para a próxima edição + vale-compra na Sex Shop Seducción Art
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TELÃO LITERÁRIO O telão da festa exibe trechos de filmes, vídeos das edições anteriores e também poemas sobre erotismo e paixão.
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BAR Daniel Perroni Ratto
Quero a gota do teu suor
Sua saliva
Quero o que há de melhor
Sua malícia!
Ela quer a mão no corpo
o beijo quente
o estado lascivo
que embriaga o ego.
Sua pele doce
Queima como uma bala!
Faz estrago
no meu coração.
Me diga então
o que fazer
pra sair desse chão!
Um bar, o barulho fechado
aquele encontro desencontrado
me deixou sem ação.
A intenção que ela veste
sedenta de sabores
Senta, despe e mete!
O íncubo – Íncubos eram demônios que invadiam o sono das mulheres para copular com elas – uma difundida crença medieval. Mas… e se ainda existirem?
Lolita, Lolita – Ela é uma garotinha encantadora. E eu poderia ser seu pai. Mas não sou
A gota dágua – A tarde chuvosa e a força urgente do desejo. Ela deveria resistir mas…
A torta de chocolate – Sexo e chocolate. Para muita gente as duas coisas têm tudo a ver. Para Celina era bem mais que isso…
O mistério da cearense pornô da California – Uma artista linda e gostosa, intelectual e transgressora, que adora perversões e, entre uma e outra orgia, luta pela liberação feminina
As taras de Lara – Desde pequena que Lara só pensa naquilo. E ai do homem que não a satisfaz
Um ano na seca – O que pode acontecer a um homem após doze meses sem sexo?
O último homem do mundo – O sonho de Agenor é que todas as mulheres do mundo o desejem. Para isso ele está disposto a fazer um pacto com o diabo. Mas há um velho ditado que diz: cuidado com o que deseja pois você pode conseguir…
Uma advogada que adora fazer sexo por dinheiro… Um ser misterioso e sensual que invade o sono das mulheres… Os fetiches de um casal e sua devotada e canina escrava sexual… Uma sacerdotisa pagã e seu cavaleiro num ritual de fertilidade na floresta… A adolescente que consegue um encontro especial com seu ídolo maior, o próprio pai… Seja provocando risos e reflexões, chocando nossa moralidade ou instigando nossas fantasias, inclusive as que nem sabíamos possuir, as indecências destes 23 contos querem isso mesmo: lambuzar, agredir, provocar e surpreender a sua imaginação.
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COMENTÁRIOS .
01- Claudine Albuquerque usando corset de aço da Metal Fatality. Alinne Madelon,Fortaleza-CE – out2013
02- Só vim me manifestar agora, maaaas… Só pra dizer que, pela quarta vez, adorei a festa, me diverti muuuito, dancei pacas, sensualizei horrooooores com o boy -haha- reencontrei pessoas que adoro, enfim! Ricardo Kelmer, cada vez a festa fica melhor! P.s.: – tem como não amar a Diamante, hein?- Kaliza Holanda, Fortaleza-CE – out2013
03- parabéns ao fotógrafo!!! Bruna Braun, Fortaleza-CE – out2013
04- Festa deliciosaaaaaaaaaaaaaa!!!! Parabéns a toda produção mais uma vez… Perfeitooooo!! Agora um pouco de Sensualidade… hehehehhee SQN! Tiago Coelho, Fortaleza-CE – out2013
05- Ricardo Kelmer, mais uma vez obrigada pela a linda festa! Estive lá sim, apesar de não ter falado com vc, pois vc estava bem ocupado. Passamos pouco tempo lá, mais valeu muito, sabe como é né, o clima esquentou, fomos fazer festa em outro lugar. kkkkkk Afinal, vamos pro Cabaré para ativar as nossas fantasias! rsrsrsrs Bjos e até a próxima edição! Renata Kelly, Fortaleza-CE – out2013
. Dona de mim já não sou mais
Quando aos teus pés me ajoelho assim
E em teu olho a chama do desejo atiça
A mulher louca e submissa que há em mim
De bom grado já não me pertenço
Docilmente me submeto à vontade tua
Se me queres agora toda nua, eu obedeço
E de quatro te ofereço minha carne crua
Bate, meu senhor, faz-me o rabo em brasa
Marca em mim o juramento da servidão
Ser sempre a escrava grata e obediente
E amar o peso ardente da tua mão
Bate, meu senhor, é minha pele que implora
O estalo do bom chicote nesta noite
Hoje sou eu a mulher mais livre e poderosa
Plena da dor gozosa do teu açoite
A torta de chocolate – Sexo e chocolate. Para muita gente as duas coisas têm tudo a ver. Para Celina era bem mais que isso…
O íncubo – Íncubos eram demônios que invadiam o sono das mulheres para copular com elas, uma difundida crença medieval. Mas… e se ainda existirem?
Bettie Page, nós te amamos – Ela é um ícone da moda, da arte erótica e também do universo BDSM, inspirando artistas e fetichistas
A entrega – memórias eróticas (Toni Bentley, Editora Objetiva/2005) – Num relato autobiográfico, a bailarina filosofa sobre sua profunda experiência de amor e salvação pela submissão no sexo anal
As taras de Lara – Desde pequena que Lara só pensa naquilo. E ai do homem que não a satisfaz
Um ano na seca – O que pode acontecer a um homem após doze meses sem sexo?
O último homem do mundo – O sonho de Agenor é que todas as mulheres do mundo o desejem. Para isso ele está disposto a fazer um pacto com o diabo. Mas há um velho ditado que diz: cuidado com o que deseja pois você pode conseguir…
Por trás do sexo anal (1) – Se esotérico significa a parte mais oculta de uma tradição ou ensinamento, aquilo que somente iniciados alcançam após muito estudo e dedicação, então o sexo anal é o lado esotérico do sexo
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Pela maciez sonora dos fonemas De formas acetinadas Que a língua deslize
As arestas silábicas Que a pronúncia obstaculizam A língua sensibilize
E no subentende-se das reticências Onde a linguagem se insinua Que a língua dance nua
E mexa-se, revire-se, contorça-se Lambendo-se ao prazer do ritmo E no sabor do som deleitoso Salive de gozo em êxtase linguístico
Ao silenciar dos versos que findam Que descanse a língua de sua lida E, enfim, adormeça, desmaiada e lânguida Desmilinguida
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Ricardo Kelmer 2012 – blogdokelmer.com
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> Postagem no Facebook – Esse poema foi postado em meu mural no Facebook em 02.05.13 com a chamada “Em homenagem ao Dia da Língua Portuguesa, 5 de maio”. Quatro dias depois, ela já havia sido compartilhada por mais de cem pessoas. Fiquei agradavelmente surpreso com isso e muito feliz por chamar a atenção para a importância da valorização de nossa língua.
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COMENTÁRIOS .
01- estou me deliciando com a sua língua!!!!…rsrsrs. Sandra Regina, São Paulo-SP – mai2013
02- Pfvr, amei o poema inteiro (é lógico), mas essa parte ”…E no subentende-se das reticências Onde a linguagem se insinua Que a língua dance nua E mexa-se, revire-se, contorça-se Lambendo-se ao prazer do ritmo E no sabor do som deleitoso Salive de gozo em êxtase linguístico…” é tudibom e mais um pouco. Herlene Santos, Fortaleza-CE – mai2013
03- Isso é que é tratar bem a FLOR do Lácio. Kelsen Bravos, Fortaleza-CE – mai2013
04- A flor do Lácio, enfim desabrochou, rs. Lindo poema! Mirtes Waleska Sulpino, Boqueirão-PB – mai2013
05- Nossa!!!E salve a língua! 🙂 Flávia Regina Galdino, São Paulo-SP – mai2013
06- “Virge Maria! Nossassinhora!” Óia o poema q ele me oferece! rs Amoooooooooooooo. Joyce Néia, São Paulo-SP – mai2013
07- ui… Vlado Lima,São Paulo-SP – mai2013
08- eita, lascou-se! muito bom! Ana Cristina Martins, São Paulo-SP – mai2013
09- virei fã!! quando vc virá a Fortaleza?? gostaria de assistir um de seus ‘shows’. Débora Araújo, Fortaleza-CE – mai2013
10- Estupendo!!! Osvaldo Tsutomu Higa, São Paulo-SP, mai2013
11- Lindo poema! Gostoso poema. “Ao silenciar dos versos que findam Que descanse a língua de sua lida E, enfim, adormeça, desmaiada e lânguida Desmilinguida”. Demais… Fhatima Maria,Fortaleza-CE – mai2013
12- Que lindo poema. Eu já estava pensando besteira, quero dizer, pensando em delícias, coisa boa. kkkkkkk. Renata Kelly, Fortaleza-CE – mai2013
13- Lindissimo, Ricardo! No meu caso, nao sei se somos amantes ou estamos travando uma batalha cruel! 🙂 Ana Claudia Domene Ortiz, San Diego-EUA – mai2013
14- Linda homenagem à nossa língua, Ricardo! Não tenho fragmento preferido porque amei tudo, tudinho! Dalu Menezes, Fortaleza-CE – mai2013
16- Eita, que línguo, digo, lindo. Dá para trocar a foto que ilustra o poema. Tá me deixando gago. Alberto Perdigão, Fortaleza-CE – mai2013
17- Nossa, eu arrepiei!! “Ao silenciar dos versos que findam Que descanse a língua de sua lida E, enfim, adormeça, desmaiada e lânguida Desmilinguida” Uauuuu”. Jessika Thaís, Fortaleza-CE – mai2013
Escritor, ateu, socialista, antifascista. Amante da arte, devoto do feminino, ébrio de blues. Fortaleza Esporte Clube. Fortaleza-CE.
VIAJANDO NA MAIONESE ASTRAL
Um grupo de amigos que viveu na Dinamarca do sec. 14 se reencontra no sec. 20 no Brasil para salvar o mundo de malignas entidades do além. Resumo de filme? Não, aconteceu com o autor. Líder desse grupo aloprado, Kelmer largou uma banda de rock e lançou-se como escritor com um livro espiritualista de sucesso, que depois renegou: Quem Apagou a Luz? – Certas coisas que você deve saber sobre a morte para não dar vexame do lado de lá. As pitorescas histórias desse grupo são contadas com bom humor, entre reflexões sobre carreira literária, amores, sexo, crises existenciais, prostituição e drogas ilegais. Kelmer conta também sobre sua relação com o feminino, o xamanismo, a filosofia taoista e a psicologia junguiana e narra sua transformação de líder de jovens católicos em falso guru da nova era e, por fim, em ateu combatente do fanatismo religioso e militante antifascista.
PENSÃO DAS CRÔNICAS DADIVOSAS
Nesta seleção de textos, escritos entre 2007 e 2017, Ricardo Kelmer exercita seu ofício de cronista das coisas do mundo, ora com seu humor debochado, ora com sobriedade e apreensão, para comentar arte, literatura, comportamento, sexo, política, religião, ateísmo, futebol, gatos e, como não poderia deixar de ser, o feminino, essa grande paixão do autor, presente em boa parte desta obra.
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INDECÊNCIAS PARA O FIM DE TARDE
Contos eróticos. As indecências destas histórias querem isso mesmo: lambuzar, agredir, provocar e surpreender a sua imaginação.
Agenda
2024
Criação e venda da camiseta Persona Non Grata #PalestinaLivre
Coordenação do estande de literatura cearense nos eventos: Feira de Artesanato do Cantinho do Frango (mensal) e Babado da Cabumba (mensal)
Estreia do Safadim Pop Show, em parceria com o músico Uchôa Negro
O IRRESISTÍVEL CHARME DA INSANIDADE
Romance. Dois casais, nos séculos 16 e 21, vivem duas ardentes e misteriosas histórias de amor, e suas vidas se cruzam através dos tempos em momentos decisivos. Ou será o mesmo casal?
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GUIA DE SOBREVIVÊNCIA PARA O FIM DOS TEMPOS
Contos. O que fazer quando de repente o inexplicável invade nossa realidade e velhas verdades se tornam inúteis? Para onde ir quando o mundo acaba?
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PARA BELCHIOR COM AMOR
Organizada pelos escritores Ricardo Kelmer e Alan Mendonça, esta terceira edição foi enriquecida com ilustrações e novos autores, com mais contos, crônicas e cartas inspirados em canções de Belchior. O livro traz 24 textos de 23 autores cearenses, e conta com a participação especial da cantora Vannick Belchior, filha caçula do rapaz latino-americano de Sobral, que escreveu uma bela carta para seu pai.
Usando a mitologia e a psicologia do inconsciente numa linguagem descontraída, Kelmer nos revela a estrutura mitológica do enredo do filme Matrix, mostrando-o como uma reedição moderna do antigo mito da jornada do herói, e o compara ao processo individual de autorrealização, do qual fazem parte as crises do despertar, o autoconhecer-se, os conflitos internos, as autossabotagens, a experiência do amor, a morte e o renascer.
Ciganas, lolitas, santas, prostitutas, espiãs, sacerdotisas pagãs, entidades do além, mulheres selvagens... Em cada um dos 36 contos e crônicas deste livro, encontramos o brilho numinoso dos arquétipos femininos que fazem da mulher um ícone eterno de beleza, sensualidade, mistério… e inspiração.
Os pais que decidem fumar um com o filho, ETs preocupados com a maconha terráquea, a loja que vende as mais loucas ideias… RK reuniu em dez contos alguns dos aspectos mais engraçados e pitorescos do universo dos usuários de maconha, a planta mais polêmica do planeta. Inclui glossário de termos e expressões canábicos. O Ministério da Saúde adverte: o consumo exagerado deste livro após o almoço dá um bode desgraçado…