O cilindro da luz azul

17/08/2015

17ago2015

OCilindroDaLuzAzul-01.

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GuiaDeSobrevivenciaCAPA-1bEm sua luta para sobreviver no cenário apocalíptico de um mundo de opressão e violência, casal descobre estranhos cilindros trazidos pelo mar.

Mistério, ficção científica.

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(Este conto integra o livro Guia de Sobrevivência para o Fim dos Tempos)

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O CILINDRO DA LUZ AZUL

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LILA FECHOU A PORTA do apartamento e desceu as escadas o mais silenciosamente possível. Chegou à calçada do prédio, olhou ao redor e certificou-se de que estava só, todos já haviam se recolhido aos seus pequenos apartamentos. A escuridão da rua protegeria seus movimentos e também, assim esperava, suas perigosas intenções.

Caminhou por alguns minutos pelas ruas desertas. Havia muito lixo acumulado nas calçadas e as lâmpadas dos postes estavam quase todas quebradas. Dali podia-se escutar bem próximo os tiros e as bombas, a fronteira do bairro sendo intensamente disputada pelas gangues. No alto de um prédio um enorme cartaz anunciava a novidade em segurança pessoal, um lança-chamas que, instalado no automóvel, protege contra assaltos.

Lila parou numa esquina, agachou-se junto à parede e olhou o relógio. Eram 22 horas.

“Ele tem que aparecer, não pode falhar…”

Quando soou o alarme, vindo de um alto-falante num poste próximo, ela sentiu um calafrio – era agora uma desobediente do toque de recolher. Toque de recolher, não, “horário de descanso”, como o Controle preferia. Um desobediente podia ser preso e enquadrado como destoante. E um destoante não escapava para contar a história. Ela não tinha dúvida que era esse o fim que a esperava caso seu plano desse errado. Pois bem, pensou, apertando as mãos com ansiedade, agora era tudo ou nada.

Enquanto aguardava, lembrou de Matias. Naquele momento, ele estava deitado no sofá do apartamento esperando por ela e dependia do sucesso da operação para não morrer. Ele estava muito doente. Resistira o quanto pôde, mas agora já lhe faltavam as forças. Lila dizia que era apenas uma indisposição passageira, porém ele sabia que ela tentava apenas não assustá-lo. Ambos sabiam que Matias havia contraído a doença típica dos resistentes – mais cedo ou mais tarde, todos eles apresentavam os mesmos sinais de tristeza e desânimo. Uma fraqueza geral os impedia até de comer, e a grande maioria definhava e morria. Procurar hospitais significava entregar-se, pois o Controle já conhecia a doença. A única saída continuava sendo fugir da cidade.

Não resistir era a preferência da imensa maioria das pessoas. Numa época em que a população estava dominada pelos seus piores instintos, era sempre mais cômodo ir junto. Miséria, violência, epidemias, experimentos atômicos, poluição ambiental, ódios raciais e terrorismo religioso – o mundo sucumbira às suas próprias sombras e eram poucos os que conseguiam manter-se equilibrados no meio de toda a realidade confusa e opressiva.

Lila e Matias sabiam de amigos que conseguiram fugir da cidade. No início, ainda receberam algumas mensagens que foram lidas com alegria e esperança. No entanto, isso fora alguns anos antes, quando a perseguição aos destoantes e a vigilância das estradas ainda não eram tão fortes. Agora, escapar era quase impossível.

– Lila, você entende que o que vai fazer é muito arriscado, não é? – dissera Matias antes dela sair à rua aquela noite. – Pode ser o fim.

– Eu sei, meu amor. Mas a única coisa em que ainda podemos acreditar são aqueles sonhos.

– Não sei, sinceramente não sei mais… – respondera ele, baixando a cabeça. A doença turvava-lhe o raciocínio e a esperança.

– É nossa única chance, Matias. Se eu não voltar em duas horas, estarei numa delegacia. Ou morta. De qualquer modo não o entregarei, isso eu prometo.

– Você sabe que ninguém resiste aos métodos deles.

Ela apenas o beijou, carinhosamente, e saiu. Fechou a porta devagar e desceu as escadas em silêncio, para que os vizinhos nada percebessem.

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UM DIA, OS CILINDROS CHEGARAM. Milhares deles começaram a ser trazidos pelas ondas do mar sem que ninguém soubesse de onde vinham. Simplesmente amanheciam na areia das praias. Eram feitos de vidro transparente, tinham o tamanho de uma garrafa comum de refrigerante e pareciam conter apenas ar. Mas havia uma estranha luminosidade azulada em seu interior, um belo e instigante azul que de longe chamava a atenção.

A imprensa logo noticiou o fato, fazendo com que muitos curiosos corressem às praias. Imediatamente, o Controle entrou em ação e seus soldados vigiaram as praias, evitando que outros cilindros chegassem à população. Conseguiram também recuperar muitos dos que haviam sido recolhidos. Mas não todos.

Algum tempo depois, começaram os boatos. Eles diziam que destoantes conseguiam escapar utilizando o cilindro. No entanto, ninguém sabia explicar como faziam isso, se é que realmente faziam. O Controle fiscalizou barcos e navios, interrogou e prendeu centenas de pessoas, tudo com absoluto rigor. Entretanto, o mistério envolvendo os cilindros continuava.

Quando souberam o que estava chegando à praia, Lila e Matias lembraram imediatamente dos sonhos. Anos antes, eles sonharam, ambos e na mesma noite, com uma misteriosa luz azul pairando sobre o mar. Comentaram entre si o sonho e falaram sobre a forte aura de esperança que o envolvia. O sonho voltou outras vezes, sempre muito intenso, e eles entenderam que deviam manter a esperança e ficar atentos.

Lila ainda tentou se apoderar de algum dos cilindros, mas o Controle já enviara soldados às praias. Então ela agiu rápido e em poucos dias fez os contatos necessários, sempre com muita discrição. Precisava chegar às pessoas certas, caso contrário seria como pisar numa mina explosiva. Depois de todos os contatos realizados, passaram a aguardar. Tinham apenas que suportar até que chegasse a encomenda. Mas as semanas passavam devagar e o mundo ao redor parecia ele todo uma imensa correnteza sedutora a sussurrar: desistam, é bem melhor se entregar..

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ENTÃO, LILA O AVISTOU. O homem vinha pela calçada, protegido pelas sombras, caminhando rápido. Lila sentiu a expectativa quase explodindo seu coração. Olhou mais uma vez para um lado, para outro, para as janelas dos apartamentos. A rua estava deserta e tudo que podia fazer era torcer para que não a vissem.

– Demorei por causa dos Cães, moça. Eles já conseguiram controlar todas as entradas do bairro.

O homem retirou um embrulho do bolso do sobretudo e, com cuidado, passou a ela.

– Aqui está. Não me interessa o que pretende. Mas nunca vi ninguém me dizer a utilidade disso.

Ela guardou com cuidado o embrulho na mochila e entregou-lhe o dinheiro.

– Este mês você é a terceira pessoa que me pede esse troço.

– E as outras duas?

– Ninguém sabe.

O homem virou-se e rapidamente sumiu na escuridão da rua.

Por um instante, Lila não teve forças para sair do lugar. Finalmente, ali estava o cilindro. Era como se, depois de tantos anos, aqueles sonhos estranhos houvessem de repente se materializado em suas mãos. Teve vontade de chorar. Chorar por todo aquele tempo de resistência, por todos os perigos que passaram e por terem acreditado desde o início na mensagem de esperança dos sonhos. Então respirou profundamente e deu o primeiro passo de volta para casa.

As quadras seguintes pareceram intermináveis. Ela percebeu que algumas pessoas a viam das janelas dos prédios. Sabia que bastava uma delas ligar para um número e rapidamente uma viatura a recolheria como desobediente. E tudo estaria perdido. Sabia também que nem todos concordavam com o sistema de denúncias, mas os que discordavam não ousavam se pronunciar. Ela e Matias estavam sós, eles e todos os que ainda mantinham um mínimo de lucidez naquele inferno.

– Matias?

Deitado no sofá, Matias abriu os olhos devagar, despertando de um sono profundo.

– Está tudo bem? Estava dormindo?

– Sim – ele respondeu, ainda sonolento. Tentou lembrar o que estava sonhando… parecia ser um sonho interessante… mas não conseguiu. Então sentou-se e calculou mentalmente os movimentos da companheira pela sala. – Que bom que você voltou. Deu tudo certo?

– Sim. Aqui está o cilindro.

Lila tirou o embrulho da mochila e pôs sobre a mesa. Pela janela chegavam distantes sons de tiros e explosões. Os Cães aos poucos expulsavam todas as outras gangues do bairro. Eles logo o conseguiriam, estavam muito melhor armados e tinham o apoio dos Guerreiros de Deus, a gangue do bairro vizinho. Em breve o monopólio das drogas e das armas estaria com eles.

– E você, está bem?

– Só um pouco nervosa… Mas já está passando.

– Certificou-se de que não foi seguida?

– Não fui, fique tranquilo.

Ela sentou-se ao lado dele no sofá e o abraçou. Matias estava sem forças. Uma dieta à base de comidas mais saudáveis o ajudava a preservar o restante de lucidez, mas estava difícil encontrar bons alimentos no bairro.

– Lila, meu amor… – ele disse, e seus olhos esbranquiçados estavam úmidos. – Esse tempo todo você cuidando de mim e de você, sozinha… Arriscou-se tantas vezes…

– Ah, Matias, deixe disso – ela o interrompeu, acariciando-lhe o rosto magro e abatido. – Você deve estar com fome. Vou fazer uma sopinha bem gostosa.

Enquanto cozinhava para o companheiro, Lila lembrou do dia em que ele cansara, simplesmente cansara. Naquele dia, não adiantaram seus apelos: Matias simplesmente desistiu de nadar contra a corrente e se rendeu. Discutiram e ele terminou indo embora, deixando um bilhete em que lamentava não ser tão forte quanto ela e a incentivando a seguir, sem ele por perto a atrapalhar seus passos, ela era uma mulher forte, conseguiria sobreviver.

Dois anos depois, ela conseguiu finalmente encontrá-lo – num hospital psiquiátrico. Matias estava cego e em deplorável estado físico. Não duraria muito tempo naquele lugar, principalmente porque o Controle costumava eliminar doentes como ele. Então, gastando o resto de suas economias, ela subornou algumas autoridades e conseguiu retirá-lo de lá.

Durante meses cuidou dele até que recobrasse um pouco de suas forças e da esperança. Tentou arrumar-lhe trabalho, mas aqueles dois anos haviam deixado em Matias graves sequelas e o máximo que ele conseguiu foram subempregos clandestinos que lhe desgastaram ainda mais a saúde.

Isso acontecera quinze anos antes. Agora a cegueira já não o incomodava tanto, pois ele desenvolvera os outros sentidos e adquirira uma ótima noção do espaço, guiando-se por meio do som, do cheiro e da movimentação do ar. Mas estava cada vez mais fraco e o desânimo havia voltado. Morrer era apenas uma questão de tempo, eles sabiam. A não ser que Lila conseguisse um dos cilindros. Mas o que exatamente podiam os cilindros fazer por ele?

– O homem disse que este é o terceiro cilindro que ele vende este mês – comentou Lila, verificando de um canto da janela a rua lá embaixo. – Há outras pessoas lúcidas nesta cidade. E eu tenho certeza que todas escaparão.

– Agora que temos o cilindro, o que faremos?

– Sinceramente, não sei.

– Isso tem que servir para alguma coisa – ele falou, apalpando e cheirando o cilindro. – Mas não tem nenhuma abertura.

Então, aconteceu. Foi tudo muito rápido. De repente, para Matias, foi o barulho de porta sendo arrombada e homens gritando que eles estavam presos, não tentassem nada senão morreriam.

Matias percebeu o rápido deslocamento de ar no ambiente e compreendeu que haviam levado Lila para longe dele. Sentiu o cilindro ser puxado de suas mãos e, ao tentar reagir, um objeto moveu-se rapidamente na direção de sua cabeça. Ele ainda teve reflexo para, num mínimo movimento de pescoço, amortecer o golpe, mas mesmo assim a dor foi enorme e ele caiu, sentindo que estava prestes a desmaiar. Lila gritou, e ele percebeu que ela já estava imobilizada. Quis falar para ela não reagir, mas não conseguiu.

Caído ao chão, ficou quieto, sentindo a cabeça sangrar. Tentou reorganizar a apreensão do espaço ao redor. Eram quatro homens. Um deles estava com Lila. Outro na porta da sala. Um terceiro próximo à mesa, e certamente devia estar com o cilindro. E o quarto bem próximo, muito provavelmente o que o atingira com uma arma.

– Deus não quer violência, já basta a que existe – disse o que estava perto da mesa. – Então, vocês nos dizem para que serve o cilindro e nós deixamos vocês em paz.

– E você, logicamente, acha que nós acreditamos nisso… – respondeu Lila.

– Podemos negociar suas vidas. Na condição de vocês, isso já é muita coisa.

Então o Controle continuava sem saber manipular os cilindros, concluiu Matias, ainda imóvel no chão. Era uma boa notícia. Porém, ele e Lila também não sabiam. Sequer haviam-no aberto.

– Estamos esperando… – falou o da mesa, que parecia ser o chefe.

– Nós não sabemos para que serve – a voz de Lila soou do outro lado e, pelo ritmo e inflexão, Matias sentiu que ela estava bem atenta. Precisava ganhar um pouco mais de tempo, ainda estava grogue.

– Ah, deixe ver se entendi. Compraram um objeto, pagaram muito caro e não sabem para que serve. Isso não me parece lá muito inteligente… Cadela vagabunda!!!

O som forte e abafado de um soco doeu nos ouvidos de Matias. Escutou os gemidos de Lila e o som de seu corpo caindo ao chão. Tentou gritar, mas não teve forças.

– A cadela vagabunda tem cinco segundos para dizer como funciona o cilindro – disse o da mesa. Matias percebeu que o quarto homem se aproximava. Sentiu o cano de uma arma tocando sua cabeça. – Se não quiser, obviamente, que os miolos do ceguinho sujem o chão da sala. Cinco… Quatro…

– Mas eu já disse! – Lila gritou. – Nós não chegamos a usar!

– Três…

– Nós não sabemos, acredite em mim!

– Dois…

– Não faça isso, por favor!

– Um…

– Eu mostro… como funciona – disse Matias. A voz finalmente voltava.

– Ah, o ceguinho fala…

Matias levantou-se com dificuldade. Sentiu-se tonto e segurou-se na mesa para não cair. Perguntou onde estava o cilindro.

– Aqui está. E não tente ser esperto.

Matias recebeu o cilindro com as duas mãos, segurando firme. O homem que guardava a porta da sala continuava lá, no mesmo lugar, calculou ele. O da mesa estava ao seu lado. O terceiro continuava com Lila. O quarto homem se afastara um pouco, mas certamente ainda lhe apontava a arma.

– Estou muito fraco… não sei se vou conseguir abrir – ele disse.

– Além de cego, mentiroso.

– Ele está doente, estúpido! – gritou Lila.

Então Lila estava em pé de novo, Matias calculou rapidamente. Ela estava em pé e percebera que devia falar para que ele determinasse sua exata localização.

– Então abra você, cadela. Sem gracinhas.

Matias sentiu que o quarto homem se aproximava. Percebeu que ele pegaria o cilindro de suas mãos. Nesse exato instante entendeu que não deveria entregá-lo. Foi uma certeza estranha, como se na verdade sempre houvesse sabido disso. Então, abriu as mãos e deixou o cilindro cair…

O cilindro, porém, não chegou ao chão: o homem moveu-se rápido e o apanhou no último momento. Entendendo que nada mais restava a fazer, Matias saltou sobre o da mesa, o que parecia ser o chefe. Caiu sobre ele, abraçando-o, e os dois chocaram-se contra a parede. Suas mãos encontraram uma arma na cintura de seu oponente. Mas não conseguiu retirá-la, o outro era forte e ele estava fraco demais. O homem afastou-o de si e em seguida um golpe o atingiu no rosto, fazendo-o cair.

Tentou erguer-se, mas não conseguiu. Sentiu gosto de sangue na boca. Nesse instante, percebeu que Lila gritava e tentava alcançá-lo, mas era impedida. No chão, recebeu dois chutes. O primeiro partiu-lhe algumas costelas e o segundo arrancou-lhe vários dentes. Mais gosto de sangue. Muita dor. Mais golpes, na cabeça, no peito, por todo o corpo. E depois nada mais sentiu, nenhuma dor, nada. Apenas adormeceu, lentamente…

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– MATIAS?

Ele escutou a voz, trazida pelas ondas do mar, os sons quebrando em alguma longínqua praia de seu pensamento…

– Está tudo bem?

Ele abriu os olhos. Viu que estava deitado na cama.

– Sim, tudo bem…

– Você estava gemendo. Fiquei preocupada.

Matias sentou-se, esfregando os olhos. Reconheceu o quarto da pousada praiana onde passavam o fim de semana com amigos, o abajur ligado, o som distante do mar… E Lila ao seu lado.

– Tive um sonho… tão estranho…

– Toma, bebe um pouco – ela disse, entregando-lhe um copo dágua.

– Um mundo de autoritarismo e opressão… Era uma vida difícil, perigosa… Eu era cego, e você cuidava de mim. E havia uns cilindros esquisitos, com uma luz azul…

– E o que acontecia?

– Fomos capturados, algo assim. E nos mataram.

– Ai, que horrível.

– Acho que nunca tive um sonho tão… tão real.

– Foi só um sonho, meu amor, está tudo bem agora – ela disse, em meio a um bocejo. – Vamos dormir? Amanhã cedo vamos passear de barco com a turma.

Ele não respondeu, ainda lembrando do sonho.

– Amanhã você me conta mais. Estou morrendo de sono.

Lila puxou a coberta, aconchegando-se ao corpo de Matias. Ele esticou o braço, desligando o abajur, e o quarto ficou escuro, iluminado apenas pela luz do luar que chegava pelas frestas da janela. Ele deixou-se envolver pelo calor do corpo da namorada e tentou adormecer. As imagens e a atmosfera do sonho, porém, insistiam em voltar. A sensação de ser um cego, de ser cuidado por Lila, de resistirem juntos, tudo era muito real. E o cilindro com aquela luz misteriosa, aquele azul…

– Lila?

– Hummm…

– Olha pra mim.

Ela abriu os olhos, sonolenta, e seu rosto foi iluminado pelo luar. Ele sorriu, confirmando para si mesmo: a luz do cilindro tinha a mesma cor dos olhos dela.

– O que foi? – ela perguntou, curiosa.

– Obrigado, meu amor.

– Pelo quê?

– Por existir.

Ela riu.

– Se você não me deixar dormir, amanhã eu serei uma morta-viva…

Ela o beijou e juntou seu corpo ao dele, buscando novamente o sono. Ele sorriu, feliz. E assim adormeceu, embalado pela melodia silenciosa que exalava da presença da mulher que tanto amava.

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– MATIAS?

Deitado no sofá, Matias abriu os olhos devagar, despertando de um sono profundo.

– Está tudo bem? Estava dormindo?

– Sim – ele respondeu. Tentou lembrar o que estava sonhando. Parecia ser um sonho interessante… Mas não conseguiu. Então sentou-se e calculou mentalmente os movimentos da companheira pela sala. – Que bom que você voltou. Deu tudo certo?

– Sim, aqui está o cilindro.

Lila tirou o embrulho da mochila e pôs sobre a mesa.

– Lembrei!

– O quê?

– O sonho.

– Que sonho?

– Foi tão real. Estávamos numa pousada na praia… Era um tempo bom, nós tínhamos amigos, éramos felizes. E eu enxergava.

– E o Controle?

– Não havia Controle.

Lila sorriu, comovida.

– Talvez esse outro mundo exista.

– Ele existe, Lila. Eu sei que existe.

Matias ergueu-se e caminhou até onde ela estava, ao lado da mesa.

– Este é o cilindro? – perguntou, apalpando o embrulho.

– Sim.

Ele abriu o embrulho e pegou o cilindro com cuidado.

– A luz dentro dele está acesa?

– Sim – ela respondeu. – E é mesmo azul.

– Da cor dos seus olhos… – ele sussurrou.

– Meus olhos são castanhos, meu amor, você esqueceu?

Ele sorriu. E seu sorriso era de pura tranquilidade.

– Não. São azuis.

No instante seguinte, ele abriu as mãos, deixando o cilindro cair…

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ENQUANTO DOIS HOMENS vigiavam a porta e a janela, outro homem examinava os corpos do casal no chão.

‒ Chegamos cinco minutos atrasados ‒ disse ele.

– Estão mortos? ‒ perguntou o outro homem, ao lado da mesa.

– Sim, chefe. Nenhuma marca, nada de sangue.

– Que merda.

Enquanto os outros três homens colocavam os corpos em sacos e os levavam, o chefe abaixou-se e começou a juntar os pedaços de vidro espalhados pelo chão. Aquilo estava deixando-o louco. Era sempre a mesma coisa: destoantes inexplicavelmente mortos, sempre com a expressão serena, como se estivessem dormindo, e o maldito cilindro espatifado no chão. Ele mesmo já quebrara alguns cilindros, mas nada acontecera. Que diabo de mistério era aquele?

Pôs os pedaços de vidro dentro da valise, fechou e caminhou até a saída. Deu uma última olhada na sala, apagou a luz e saiu, batendo a porta.

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Ricardo Kelmer 1997 – blogdokelmer.com

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GuiaDeSobrevivenciaCAPA-1cEste conto integra o livro
Guia de Sobrevivência para o Fim dos Tempos

O que fazer quando de repente o inexplicável invade nossa realidade e velhas verdades se tornam inúteis? Para onde ir quando o mundo acaba? Nos nove contos que formam este livro, onde o mistério e o sobrenatural estão sempre presentes, as pessoas são surpreendidas por acontecimentos que abalam sua compreensão da realidade e de si mesmas e deflagram crises tão intensas que viram uma questão de sobrevivência. Um livro sobre apocalipses coletivos e pessoais.

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Comentarios01COMENTÁRIOS

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01- Baita texto do meu amigo Ricardo Kelmer, um dos meus preferidos, e que deixaria até o mestre Philip K. Dick pra lá de orgulhoso. Marcelo Gavini, São Paulo-SP – ago2015


O strip-tease

13/07/2015

13jul2015

OStripTease-02

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GuiaDeSobrevivenciaCAPA-1bCriaturas do futuro que voltam no tempo para garantir que elas mesmas, no passado, não cancelem o futuro – esses são os Observadores.

Fantástico, ficção-científica

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Este conto integra o livro Guia de Sobrevivência para o Fim dos Tempos

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O STRIP-TEASE

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– VOCÊ DEVIA BEBER MENOS, Zeca.

– Quer uma dose?

– Não, obrigado. Por que você anda bebendo tanto, Zeca?

– Tá na pauta, espera que vou contar.

– Tô esperando.

– Você tá muito bonita.

– Obrigado. E você, ainda farreando muito?

– Naquela época que a gente se conheceu eu tava no auge. Mas agora dei um tempo na noite.

– Aquela época faz só um ano.

– Pois é.

– …

– Gisele, eu pedi pra você vir aqui porque tenho uma coisa importante pra contar.

– Desde o início, eu sempre desconfiei que você me escondia algo.

– Vai ser a coisa mais estranha que você já escutou na vida. Vai achar que eu enlouqueci.

– Sei que muita gente acha que você é louco, mas eu sei que não é. É só um pouco excêntrico. E meio fechado.

– Vai achar sim. Mesmo assim eu vou falar.

– Zeca, eu gosto muito de você. Sei que você tem suas esquisitices, todo mundo tem. Só acho que podia se abrir um pouco mais…

– Eu sei, você já me falou isso. Eu vou lhe contar tudo. Mas tenho certeza que depois você vai dizer que preciso fazer um tratamento e não vai mais querer saber de mim.

– Você por acaso tá vendo alguém aí do seu lado?

– Como?

– Aí do seu lado tem alguém? Você fica olhando e sorrindo como se tivesse alguém aí…

– Hummm… Esse é o problema, Gisele. Tem alguém aqui do meu lado.

– Como assim?

– É exatamente sobre isso que vou lhe falar. Escute, por favor. Primeiro escute.

– Tô escutando.

– Vamos lá. Ahnn… Tudo começou numa noite em que eu estava aqui com uma garota. Foi antes de eu conhecer você. A gente tinha chegado da boate e ela tava no banheiro. E eu na cama, esperando. Foi aí que eu vi pela primeira vez. Não quer mesmo tomar nada?

– Não, obrigado.

– Ele tava sentado na cadeira da minha escrivaninha. Na hora pensei: assalto, putaquipariu. Eu nu na cama e um assaltante no meu quarto. Mas não fiquei muito nervoso não, acho que foi porque eu tava bêbado. Então falei: Ok, meu irmão, pode levar o que quiser, minha carteira taí, tem um som legal lá na sala, mas por favor não faça nada com a gente… Pois bem, quem tomou susto foi ele. Levantou, me olhou de perto e perguntou se eu realmente tava vendo ele. Era como se não estivesse acreditando. “Você tá me vendo mesmo, Zeca? Tá realmente me vendo?” Eu fiquei sem entender, achei que podia ser algum conhecido, ou que ele tava muito doidão… Então perguntei de onde me conhecia e ele levantou os braços dizendo: “Finalmente!!!” Quer continuar a ouvir?

– Claro. Eu tô ouvindo. Não era um assaltante?

– Não. Era o Observador.

– Quem?

– O Observador.

– Ah, o Observador. Deve ser novo no bairro, ainda não conheci.

– Nem queira.

– Afinal, era amigo seu?

– Era o Observador, já disse.

– Ah, sim…

– Sério, Gisele. É assim que ele mesmo se chama.

– Tá. E quem é o Observador?

– Vamos lá. Observadores são seres que vivem em outra dimensão de tempo e espaço. Levam uma vida normal por lá. Só que eles têm amigos aqui e às vezes têm de vir ajudar o amigo. Enquanto não conseguem, não podem retornar ao seu mundo, ficam presos aqui neste tempo-espaço. É isso. Pelo menos foi isso que ele me disse.

– Ah, você viu seu anjo da guarda.

– Não, não, tá mais pra demônio. Um demônio muito, muito chato.

– Era isso que você queria me falar?

– Tô falando sério, juro.

– Tá. E aí?

– Bem, isso tudo ele me explicaria depois, mas antes a garota entrou no quarto e perguntou com quem eu tava falando, e eu apontei pra ele. Mas ela não viu ninguém. Foi então que ele disse que somente eu podia vê-lo e escutá-lo, ninguém mais, que a coisa funcionava assim mesmo. O sujeito parecia superfeliz e dizia que seus dias de solidão haviam terminado. Bem, no fim a garota achou a coisa tão estranha que se vestiu e foi embora.

– E o cara?

– Ficou lá. Tentei tocar nele, mas minha mão atravessou a imagem. Aí eu disse pra mim mesmo que aquilo era um sonho muito louco e tratei de dormir. No outro dia, acordei e ele continuava me observando.

– Zeca, eu…

– Eu sei que você não tá acreditando, mas deixe eu contar até o fim. Você prometeu.

– …

– Ele disse que tinha uma missão secreta. Que era algo que dependia de mim, e que se eu fizesse a coisa certa, ele poderia ir embora.

– Olha, Zeca, eu…

– Espere…

– Eu não sei o que tá acontecendo com você, mas…

– Gisele, eu juro que é verdade. Eu não tô louco. Acho até que seria melhor se estivesse mesmo, seria mais fácil de aguentar esse pentelho o tempo todo ao meu lado…

– Quer dizer que você tá falando sério.

– Tô.

– Não tá me gozando.

– Não.

– Então diz pra mim: eu tô falando sério.

– Eu tô falando sério.

– Sem rir, Zeca!

– Desculpa, é que essa situação é meio ridícula.

– Ridícula sou eu aqui escutando essas, essas…

– Você quer ir embora?

– …

– Se quiser, pode ir na boa que eu…

– Vai, continua, eu quero escutar.

– Onde que eu parei?

– O Observador lhe disse que tinha uma missão.

– Isso. Que eu precisava fazer algo, e ele tava ali pra me ajudar a fazer esse algo.

– E você não sabia do que se tratava.

– Continuo sem saber.

– Nem desconfia?

– Bem, ele me conhece como ninguém, é incrível. Tem me feito pensar muito sobre minha vida, me faz ver onde que eu tô errando, os meus defeitos… Isso me deixa muito mal.

– Todo mundo tem defeito, Zeca.

– Mas eu é que tenho um cobrador de atitudes vinte e quatro horas por dia, infalível. É como se fosse uma parte de mim.

– Ele tá com você desde antes da gente começar a namorar?

– Sim, há um ano.

– Então quando você me conheceu ele tava junto?

– Tava. Ele não larga do meu pé, Gisele. Lembra de como a gente se conheceu?

– No balcão do Pai Herói.

– Lembra de como eu tava?

OStripTease-02– Calça preta e camisa azul. Um gato.

– Não, tô falando do meu estado.

– Bêbado, claro.

– E morrendo de rir, não era?

– Tava um tanto risonho.

– Por causa dele. Ele antecipava tudo que eu ia dizer, sabia de cor todas as minhas abordagens. “Oi. Você não se sente uma sardinha nesses bares tão lotados?” Eu abria a boca pra falar e ele falava antes. E eu começava a rir.

– Ah, era por isso?

– É um sádico gozador, me sacaneia bastante. De repente, se esconde entre as pessoas e eu acho que fiquei livre dele. Quando menos espero, surge com um comentário bem cretino. Lembra de uma vez que a gente tava numa mesa lá no Papillon e eu tive um acesso incontrolável de riso?

– Parecia um demente.

– Por causa dele. Naquela noite, ele apareceu de repente com a cabeça bem aqui do meu lado e falou assim, muito sério: “Você está olhando tanto que eu vim segurá-lo pra você não cair dentro do decote dela…”

– Meu decote?!

– Eu estourei de rir. Você tava com um decote assim bem chamativo, e aí fiquei imaginando eu caindo lá dentro… Você sem entender nada e eu morrendo de rir.

– Quer dizer que foi pelo meu decote…

– Na hora foi engraçado. Mas esse pentelho tornou minha vida um inferno. Por isso tem muita gente achando que eu sou doido.

– Muita gente mesmo.

– Pudera. No começo, até que eu me divertia, mas depois fui ficando irritado. Aí mandava a compostura pros diabos e discutia com ele na frente de quem fosse, dizia que ele não tinha o direito de fazer aquilo, que era uma coisa que ia contra a liberdade individual e a ética cósmica, e que…

– Ética cósmica?

– Eu tava desesperado, valia qualquer coisa.

– Realmente.

– Comecei a ficar com muita raiva dele. Sabe o que é ter de conviver com alguém que conhece você profundamente e vive lhe jogando seus defeitos na cara, ironizando suas atitudes? Pois é o que ele fazia. Não perdia uma oportunidade. Você se sente nu. Você não consegue se concentrar em mais nada. Vai ler um livro ou ver um filme e não consegue, é um inferno. De tanto ele falar, de um tempo pra cá comecei a perceber um bocado de coisa que tenho de mudar em mim.

– Por exemplo?

– Ah… Ele me fez ver o quanto eu tava sendo frívolo, superficial, o quanto era falso comigo mesmo. E me fez ver também o quanto sou dono da verdade.

– Ele fez isso?!

– Fez.

– E você reconheceu?!

– Tive, né? Ele não deixa passar nada. Eu tô conversando com alguém e dou uma opinião… Pronto, lá vem ele me alfinetando. No começo, eu fingia não escutar, mas a coisa ficou insuportável. Se ele fosse de carne e osso a gente já tinha saído na porrada.

– E ele sempre esteve perto, mesmo nos momentos em que a gente tava junto?

– Hum, hum.

– Até mesmo… naqueles momentos?

– Até naqueles momentos.

– Então ele me viu nua várias vezes.

– Eu não podia fazer nada, Gisele, entenda.

– Ele viu tudo?

– Ele tá pregado na minha alma, na minha energia. Também não pode fazer nada.

– Era só o que me faltava…

– Agora entende porque nunca consegui relaxar com você? Ele tava sempre perto observando… A única maneira de poder esquecer um pouco era enchendo a cara. Era mais conveniente ficar bêbado pra não pensar sobre certas coisas.

– Olha, Zeca… eu… não sei nem o que pensar. Não sei se me irrito com você, se rio dessa história absurda…

– Pode rir, não vou me importar.

– Não sei se continuo aqui escutando essas… essas loucuras… Não sei.

– Eu tinha de lhe contar.

– Por que eu? A gente não se fala há semanas.

– Foi ele quem sugeriu. Achou que você compreenderia. “Por que você não conta pra Gisa? Ela é uma pessoa sensível, pode ajudar…”

– Ele me chama de Gisa?

– É. Ainda tem essa intimidade.

– Ele tá aqui agora?

– Sentadinho aqui. Morrendo de rir dessa situação ridícula, o sádico. Pergunta algo pra ele.

– Eu?

– É, pergunta alguma coisa.

– Ah… Sei lá.

– Ele tá dizendo que você dança muito bem.

– E ele já me viu dançar?

– Ele foi comigo na apresentação do seu grupo.

– Ah… Que bom. Agradeça a ele.

– Agradeça você, ele tá ouvindo.

– Ahnn… Obrigado, seo Observador… Ai, Zeca! Essa situação realmente…

– Ah, ah, ah, ah!

– …

– Desculpa. É que foi engraçado.

– Zeca, você me chamou aqui pra conversar sério. Eu vim porque acreditei. Aí chego e você me vem com esse papo de Observador. Porra!

– …

– Zeca, se você estivesse em meu lugar, o que faria agora? Diga sinceramente.

– …

– Diga, o que você faria?

– Sinceramente? Acho que levantaria, sairia por aquela porta e tchau.

– Pois é o que vou fazer. Mas antes deixa eu dizer uma coisa: pare de beber, Zeca. Ou pelo menos diminua, se não quiser piorar tudo. E se estiver bebendo pra não ter de encarar certas coisas sobre você mesmo, então lamento dizer que tá indo pelo pior caminho.

– …

– Tchau, Zeca. E tchau pro seu amigo…

– …

– Ele tem nome?

– Eu chamo de Hóbis.

– Hóbis?

– É, Hóbis. Bonitinho, não?

– Hóbis, o Observador… Tchau, Hóbis. Não deixa o Zeca beber demais.
.

.

OStripTease-02– EU AVISEI. Não era pra você contar assim, de uma vez só. Tinha de ser devagar.

– Agora já tá feito, Hóbis.

– E se você tiver perdido a Gisa de vez?

– O que tiver de ser, será.

– Você parece que fez isso pra se livrar dela.

– Se ela gosta de mim como você diz, então ela teria entendido melhor a coisa.

– Ela precisa de tempo, Zeca.

– Agora já tá feito.

– Ligue pra ela de novo. Agora que ela já sabe de mim, deixe que pense que você é louco mesmo. Ela também não é muito normal. Não pode tomar duas cervejas que quer fazer piruetas pelo meio da rua…

– Pelo menos ela dança bem.

– Você ainda não viu nada…

– Ei! O que você sabe sobre ela que eu não sei?

– Esqueça, pensei alto. Vá, Zeca, ligue pra ela.

– Eu não posso ligar de novo, Hóbis! Você viu, ela tem certeza que eu pirei.

– Ela gosta de você.

– Eu também gosto dela. Desde o começo, você sabe. Mas só fiz besteira.

– Claro, sempre bêbado…

– Por sua causa.

– E eu tô aqui por sua causa. Então é você quem tem de fazer alguma coisa.

– E tô fazendo. Tô bebendo pra ver se morro logo de uma vez e me livro de sua chatice.

– Zeca, seu tapado imbecil. Gisa é a mulher que pode te ajudar, te incentivar a seguir o melhor caminho. Acontece que você morre de medo daquilo que mais precisa. É um tolo.

– Se ela puder, me manda pro manicômio.

– Ligue pra ela, marque um local agradável.

– Papa-Tudo Motel. Suítes com cadeira erótica.

– Marque no Spy, convide pra tomar um suco. Por favor, nada de álcool.

– Já falei pra não me pedir isso. Bebo se eu quiser.

– Como posso deixar de pedir isso, seu burro?! A bebida tá estragando sua vida.

– Quem tá estragando minha vida é você!

– É você quem estraga a minha, incompetente! Eu poderia estar em casa, com minha família! Mas não, tenho de estar aqui com você, você que prefere viver personagens em vez de ser você mesmo!

– …

– …

– Escute, Hóbis, eu já passei uma semana sem beber e não adiantou nada, você continuou me pentelhando.

– Não são sete dias sóbrios que vão resolver os seus problemas, cretino. Olhe pra dentro de você mesmo e veja o que é que tem de mudar.

– Se soubesse, eu mudaria.

– Você sabe.

– Eu não sei, já disse!

– Sabe sim!

– Se soubesse, já teria mudado só pra me livrar de você, palhaço!

– Ah, você pensa que é agradável pra mim ficar assistindo seus porres idiotas, suas abordagens sem graça, “Oi, veja só, eu um sujeito simples e você tão cheia de predicados…” Sem falar nas suas performances sexuais horrorosas…

– Então vá pra merda! Aliás, fique aí mesmo. Pouco me importa se eu morrer de um coma alcoólico. Sabendo que você vai junto, eu vou me divertir bastante. Vamos os dois pro Inferno.
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– OI, GISELE.

– Você me convidando pra tomar um suco… Você não deve estar nada bem.

– Desde aquele dia que eu tô sem beber.

– Sério?

– Sério.

– E o que aconteceu?

– Resolvi dar um tempo. O que você quer?

– Maçã. Sem açúcar, por favor.

– Então dois. O meu com.

– E aí, o Hóbis veio?

– Claro.

– Ele tá aqui?

– Sentou agora. Mas a gente não tá se falando.

– Por quê?

– Divergências. Acontece.

– Ah.

– …

– …

– Não adianta olhar pra ele, Gisele, você não pode ver.

– Olhei sem querer. Ai, Zeca, esse papo vai me botar maluca igual a você, sabia?

– Pelo menos você vai me entender.

– Quer dizer que brigaram? Ele falou algo que você não gostou?

– Vamos mudar de assunto? Você vai bem?

– Ótima.

– Tô vendo. Linda como sempre.

– Você também tá bem.

– …

– Rindo de quê, Gisele?

– Besteira.

– Diz.

– Ah, besteira. Tava pensando na ironia da coisa.

– Que coisa?

– No dia em que finalmente conheço um cara interessante, ele tem um caso com um homem invisível.

– É muito azar mesmo…

– Eu fui um pouco indelicada da última vez. Queria lhe pedir desculpas.

– Seria a reação de qualquer um.

– Eu ia telefonar pra você.

– Ia?

– Fiquei curiosa sobre o Hóbis.

– Foi?

– Fiquei pensando… Ele não dorme?

– Dorme quando eu durmo. Acorda quando eu acordo. Mas não sente fome, nem sede, não consegue fazer nada a não ser me observar.

– Não deve ser um serviço muito agradável.

– Eu não queria estar no lugar dele.

– Ele gosta de você?

– Nossa relação é estranha. A gente se gosta e se detesta. No início era pior, eu nem dormia direito com ele olhando pra mim. Imagina fazer tudo com alguém olhando, tomar banho, fazer cocô, uma punhetinha… E trepar? Impossível, né? Ou então você toma todas e esquece.

– O que ele acha dessa sua bebedeira?

– Ele diz que eu tô fugindo.

– E tá?

– Pode ser. Mas acho que seria mais fácil sem ele por perto.

– Aí você não teria chegado às conclusões que chegou sobre sua vida. Acho que o Hóbis, se é que ele existe…

– Ele existe.

– Certo. Acho que o Hóbis tá fazendo você economizar a grana que pagaria por uma boa terapia, sabia?

– E quem disse que eu pagaria por uma terapia?

– Zeca, por que você não vem passar um fim de semana comigo na serra? Ia ser tão bom.

– Sério?

– Eu ia adorar.

– Não sei, Gisele. Tenho uns trabalhos…

– Ah, Zeca, vamos, eu cozinho pra você.

– Que mais?

– Deixo você ficar com o controle da tevê.

– Não pedi sua opinião.

– Como?

– Falei com o chato aqui.

– Com o Hóbis? O que ele disse?

– Disse que se eu fosse pra serra com você, ele esqueceria por uma semana dos meus defeitos.

– …

– Olhando pra ele de novo, Gisele?

– Heim? Ah, é. Já tô me comportando como se realmente tivesse alguém aí. Acho que é uma boa proposta a dele, Zeca.

– Como que você sabe que ela tem esse CD?

– Heim?

– O cretino aqui. Tá falando besteira.

– O que ele disse?

– Pra você não esquecer de levar seu CD de músicas eróticas. Você tem um cedê assim?

– Peraí, como que ele sabe?

– É, como que você sabe disso, Hóbis? Hum… Ah, tá. Ele disse que não sabia, que foi um palpite.

– Muito estranho…

 – Não sei se a gente pode acreditar em tudo que esse maluco diz. Mas deixa ele pra lá, Gisele. Então, posso ficar mesmo com o controle da tevê?
.

.

– ELE TÁ OLHANDO AGORA?

– Com certeza.

– Tá ou não tá, Zeca?

– Ah, Gisele, eu não vou me virar agora pra ver. Tenha paciência.

– Ele não é gay, é?

– Que eu saiba, não.

– O que ele achou de mim?

– Ele gosta de você. Não percebeu lá no Spy? Era o mais animado com essa história da gente vir aqui pra serra.

– Você não se incomoda dele observar a gente transando?

– Eu já havia esquecido disso, Gisele.

– Desculpa…

– …

– …

– Vem cá, vem…

– Peraí, Zeca, Vou botar o CD de novo…

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– PARABÉNS, CHATO, você cumpriu a promessa. Uma semana caladinho.

– Fiz por nós dois, companheiro.

– Eu até consegui me concentrar em outras coisas, você viu?

– Vi. Foi uma semana bastante positiva.

– Você acha que a gente dá certo?

– A gente? Definitivamente não.

– Eu e Gisele, engraçadinho.

– Claro que sim. Não existe nada melhor pra você que essa mulher, meu rapaz. Gisa é maravilhosa. Bonita, inteligente, carinhosa… E tem um corpinho muito alinhado, cá pra nós.

– Ela dança desde os quinze.

– Você deveria pedir pra ela dançar pra você.

– Hummm… Boa ideia.

– Algo me diz que alguém tá apaixonado…

– Mais ou menos.

– Assuma, homem.

– Puta merda. Assumir o quê, Hóbis?

– Que você é doido por ela.

– Vou pensar no seu caso.

– Assuma logo, homem. Quer enganar quem?

– Hóbis, dá um tempo.

– Hoje, enquanto você falava ao telefone, encheu uma folha inteira com o nome dela, percebeu?

– Tava testando a caneta.

– Ah, sim, claro.

– …

– Então, assume ou não assume?

– Putaquipariu, Hóbis, você é um pentelho!

– Assume ou não assume?

– Já disse que vou pensar no seu caso.

– Pensar pra quê, homem? Tá na cara. Já viu sua cara no espelho? Viu?

– Eu mereço…
.

.

– NÃO QUER QUE EU SIRVA uma tacinha de vinho pra você também?

– Não, obrigado, hoje você vai beber sozinha.

– Só uma tacinha não faz mal, Zeca…

– Depois, depois.

– Então tá bom. Vou servir mais uma pra mim. Escuta, você se importaria se eu conversasse com o Hóbis também?

– Por mim, tudo bem.

– Ótimo. Hóbis, o que você tá achando do meu apartamento?

– Ele respondeu que você tem muito bom gosto.

– Humm, obrigado. E o que ele acha de nós namorarmos sério?

– Nós quem, Gisele?

– Eu e você, né, Zeca? Com o Hóbis é que não é.

– Essa pergunta não tava no roteiro…

– Ah, então tem censura pra falar com ele, é?

– Ok, ok. O que você acha disso, Hóbis?

– Eu acho uma ótima ideia!

– Gisele, não atrapalha! Você quer ou não quer que ele responda?

– Desculpa, não resisti… Vai, pergunta de novo.

– Ele tá rindo de sua imitação dele. Horrível, por sinal.

– Que bom que ele tem senso de humor.

– Até que tem. Quando não tá preocupado em me dar lições de moral.

– Ele já parou de rir?

– Ele disse que se eu não namorar, ele namora.

– Então se decidam. Não tenho a noite toda.

– Acho que você tá um pouquinho alta…

– E você tá vermelho! Falou em namoro, você perde o rebolado… Viu o meu vinho por aí?

– Hóbis tem um recado pra você.

– Oba! Sou toda ouvidos.

– Ele tá dizendo que só tem um jeito dele não olhar pra você enquanto a gente transa.

– E qual é?

– É transarmos eu, você e outra garota. Assim, em respeito a você, ele fica olhando pra ela.

– Você disse isso mesmo, Hóbis?

– Ele acaba de dizer: “Claro, meu docinho de coco…”

– Ah, quer saber? Eu não ligo se ele quiser ficar olhando pra mim… Pode olhar, viu, Hóbis.

– Pois eu ligo.

– Acho que o Hóbis não falou nada disso, seu bobo… Você é quem quer realizar essa sua fantasia da gente transar com outra mulher e fica botando palavra na boca do pobre do Hóbis…

– É sério, ele disse.

– Mentira. Você falou mesmo, Hóbis?

– Falei sim, meu sorvetinho de duas bolas…

– Deixa ele falar, Zeca!

– Tô só repetindo o que ele diz.

– Vamos, Zeca, o que ele disse?

– Ele não vai responder porque tá rolando de rir do seu porre, Gisele.

– Pois agora eu vou mostrar a ele que tenho outras qualidades… Deixa primeiro eu apagar a luz. Onde foi que eu deixei o meu vinho?

– O que é que você vai fazer?

– Uma musiquinha especial pra vocês… Dá licença, deixa eu ligar o abajur. Ah, agora tá perfeito.

– Hóbis tá dizendo que eu também devia tomar algo, que eu tô muito tenso…

– Também acho. Cadê o CD?

– Você tá quase sentada em cima dele.

– Ai! É mesmo! Hummm, deixa eu ver… Acho que é a sete… Exatamente!

– Não acredito. Você vai fazer um strip-tease pra mim?

– Pra vocês dois. Hóbis, pode sentar, viu, fique à vontade.

– Ele já sentou há muito tempo.
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OStripTease-02– ELE TÁ OLHANDO AGORA?

– Tô com preguiça de virar o pescoço.

– Ele gostou do strip?

– Não desgrudou o olho.

– Sério?

– Até se emocionou.

– E você?

– Se eu gostei? Caramba! Não vou esquecer jamais.

– …

– Você é tão linda, Gisa…

– …

– Gisa?

– Hum.

– Ainda tá valendo aquela proposta?

– Qual?

– A do namoro.
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– ZECA…

– Hum…

– Escute, tenho que ir agora, meu ônibus chegou. Quando você acordar, já não estarei mais aqui.

– Humm…

– Um abraço, amigão. Você é um cara legal. Desculpe se fui rude algumas vezes, mas é que estávamos no mesmo barco, entenda. Mas estou orgulhoso de você.

– Hummm…

– Essa mulher lhe quer bem, não a deixe ir embora. Gisa ainda vai lhe dar muitas alegrias, você vai ver, filhos maravilhosos… Agarre sua chance agora, homem. O futuro é só uma questão de escolha. E não é qualquer uma que faz um strip daquele…

– Hummmm…

– Adeus, amigão.
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– BOM DIA, meu filho.

– Bom dia, seo Nestor. Pra casa?

– Pra casa, sim, que você já deve estar com saudade, né? Um ano fora.

– Pois é. O Outro me deu trabalho.

– Imagino. Pensei até que você ia pedir prorrogação. Pegue uma cervejinha pra você aí na geladeira, meu filho.

– Obrigado. Ônibus vazio, seo Nestor.

– Esta semana está assim.

– Não tem mais ninguém pro senhor pegar?

– Tinha a Felícia. Mas ela pediu prorrogação.

– Então ela ainda não conseguiu? Que pena.

– Felícia é aquela arquiteta, você sabe.

– Sei. Veio pra garantir que a Outra dela não abandonasse o curso. Humm, cervejinha boa.

– Pois a Outra abandonou. Foi fazer Direito. Felícia só não matou a Outra porque enfim não pode.

– Dá vontade de matar mesmo.

– Mas Felícia já pediu prorrogação. Disse que não vai desistir enquanto a Outra não voltar pra Arquitetura.

– Prorrogação é faca de dois gumes. Ou a gente consegue na marra ou deixa o Outro louco, e aí não tem mais jeito. Se eu tivesse pedido prorrogação, meu Outro também enlouqueceria e acabaria deixando a Gisa escapar de vez.

– Cá pra nós, filho, acho que não veremos mais nossa amiga Felícia. A coisa pra ela está difícil.

– Isso é muito triste.

– Tenho dó quando a pessoa descobre que seu futuro será anulado. Ultimamente tem aumentado, sabe? Quando as pessoas entram neste ônibus, eu já sei que muitas não vão voltar e sinto pena. Eu não sei como é a experiência de não poder voltar, mas imagino que seja a coisa mais terrível do mundo.

– É. Mas quando a gente recebe o chamado pra vir pro passado, já sabe que sempre tem a chance de não voltar.

– O diabo é que a gente tem sempre a esperança de que o nosso futuro é o que vai vingar, né?

– É. Só de imaginar que aquele cabeça-dura podia deixar a Gisa escapulir, já me dá um frio na barriga…

– Mas me conte, como foi?

– Rapaz teimoso o meu Outro, seo Nestor.

– Ah, mas todos já fomos assim.

– E deu pra tomar todas depois que eu apareci, o senhor precisava ver.

– Se não me engano, você também gostava de um copinho…

– É, gostava.

– Foi a Gisele quem botou você no prumo.

– Verdade. Mas o Outro tava bebendo bem mais que eu.

– E ele vai ficar com ela mesmo?

– Vai. Já tá no papo.

– Então está bom. Mas me diga, como é que foi ver a Gisele mais novinha?

– Ah, seo Nestor, achei que eu ia ter um troço…

– Eheheh, imagino.

– Eu faria qualquer coisa pra garantir nossa hipótese de futuro, o senhor sabe.

– Ora se sei.

– Posso lhe contar um segredinho, seo Nestor?

– Pode, filho.

– Embarquei nessa missão porque se eu não viesse, eu e a Gisa seríamos desativados, nós e os nossos filhos. Mas eu também tava doido pra rever o strip-tease que ela fez pra mim quando a gente começou o namoro… Ah, como eu queria!

– Mas veja só!

– Ah, seo Nestor, o senhor nem imagina… Foi aquele strip que me fez namorar sério com ela.

– E ela fez de novo?

– Fez. Essa noite mesmo. Igualzinho como foi, igualzinho…

– Ah, por isso que você chegou com essa cara… Então, missão encerrada?

– Claro! Depois daquela performance, o Outro casa até amanhã se ela pedir.

– Então está bom.

– O que a gente não faz por uma mulher…

– O que não faz!

– Faz de tudo.

– Ora!

– Até aguentar a si mesmo no passado o cara aguenta.

– Aguenta.

– Até casar a gente casa, seo Nestor.

– É o que eu digo.

– Ora se não casa.

– Ora se.

– Casa mesmo.

– Casa.

– Pois é.

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Ricardo Kelmer 1997 – blogdokelmer.com

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GuiaDeSobrevivenciaCAPA-1cEste conto integra o livro
Guia de Sobrevivência para o Fim dos Tempos

O que fazer quando de repente o inexplicável invade nossa realidade e velhas verdades se tornam inúteis? Para onde ir quando o mundo acaba? Nos nove contos que formam este livro, onde o mistério e o sobrenatural estão sempre presentes, as pessoas são surpreendidas por acontecimentos que abalam sua compreensão da realidade e de si mesmas e deflagram crises tão intensas que viram uma questão de sobrevivência. Um livro sobre apocalipses coletivos e pessoais. > Mais

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Jesus e Maria Madalena convidam

09/08/2014

09ago2014

Pelo sagrado direito de um deus de se casar

JesusEMariaMadalenaConvidam-01

JESUS E MARIA MADALENA CONVIDAM

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Meu prezado deus dos cristãos. Podemos ter dois dedim de prosa? Não, sou cadastrado não. Mas olhe, é sobre seu filho. Sim, eu jurei que não ia me meter nesse babado de Jesus com Maria Madalena, mas um dia, veja o senhor, tava eu quieto no meu canto quando me chegou e-mail de um tal correio missionário não sei das quantas. O cidadão vociferava contra o filme O Código Da Vinci, conclamava os cristãos a não assistir e exigia a proibição do filme.

Ah, falou em proibir, pisou no meu calo. Lembrei da indignação que senti quando proibiram Je vous Salue, Marie e quando tentaram proibir A Última Tentação de Cristo. O senhor lembra, né? Então levantei, fui no armário e tirei de lá minha armadura de Cavaleiro da Orguli. O Senhor não conhece a Ordem dos Guardiões da Liberdade Individual? Ôxe, mas o senhor não é onisciente? Ah, tá, o senhor anda muito ocupado com o Oriente Médio, eu sei. Infelizmente, não posso falar muito sobre a Orguli, ela é meio secreta, tipo a Opus Dei, entende? Ah, tá, o senhor não quer nem ouvir falar de Opus Dei. Entendo. Bem que sempre desconfiei que se Deus existisse, ele seria mesmo contra a religião.

Decidi fazer uso da armadura de novo. Então aqui estou, descumprindo meu juramento de não entrar na fofoca, mas cumprindo o sagrado juramento da Ordem de sempre acudir ao chamado da liberdade. Não, dessa vez não é pra defender a liberdade de expressão. Agora é pra defender o direito de um deus se casar.

Apesar de não ser cristão, nasci e vivo imerso numa cultura cristã, então o tema me toca também. Por isso, o senhor não me leve a mal, mas, olhe, a história de seu filho não tá bem contada, não. Os padres dizem que ele não casou, mesmo sendo um tipão alto, forte, loiro, pele branquinha, olhos azuis… Aliás, como o senhor explica esse tipo físico naquele solzão da Palestina? Jesus tá mais pra ET do que pra galileu. Heim? Ah, é verdade, o senhor é um ET, já que não nasceu na Terra. Agora entendi.

Logicamente, a gente começa a pensar, né? O moço não casou, não teve namorada, nem filho… Ops, longe de mim insinuar que Jesus não era chegado, imagina. O que quero dizer é que a Igreja oficializou essa versão sobre a vida de Jesus pra endeusar ao máximo e humanizar ao mínimo o personagem. E inventou que Maria Madalena era puta pra desqualificar o fator feminino, e depois teve que negar que inventou, mas manteve os evangelhos e eles se contradizem, e aí a Igreja fica toda melindrada porque as pessoas questionam. Obviamente, a Igreja insistiu na solteirice de seu filho porque um Jesus casado incentivaria os discípulos a casarem também, e aí os filhos herdariam as riquezas da Igreja. Não ia dar certo, né? Oquei, o senhor não quer se meter, tudo bem.

Eu falei do fator feminino, né? Poizé. A Igreja jamais seria essa instituição masculina e patriarcal se Maria Madalena estivesse à frente do apostolado. Caça às bruxas certamente não teria havido. Se com a Maria mãe de seu filho, senhor, já foi difícil ceder e abrir espaço pra ela no panteão católico, coisa que oficialmente só aconteceu no século 20, imagine com uma mulher que a própria Igreja sempre pintou como prostituta, suja ou, na melhor das hipóteses, forte e independente? É, Maria Madalena é mesmo uma pedra no sapato.

Não sei como seria se ela e Jesus tivessem se casado e tido Jesuzinhos e Madaleninhas. No mínimo, os herdeiros estariam hoje numa briga louca pelos direitos relativos aos evangelhos. Um herdeiro de Jesus ‒ já pensou a boçalidade de um cidadão desse? Você sabe com o descendente de quem você tá falando, sabe, sabe? E Madalena, coitada dela… Não por Jesus, que me parece buona gente, mas… ter como sogro o senhor? Não deve ser fácil.

As religiões deveriam ter mais deusas. Isso traria mais equilíbrio ao mundo e ao espírito das pessoas. Mas já que não têm, vamos ao menos deixar que Jesus se case, coitado. Um gato daquele morrer vitalino! Vou até dar uma ideia à Igreja: Jesus casou com Maria Madalena, sim, mas com separação de bens. E depois se divorciaram. E os descendentes concordaram em jamais reivindicar qualquer bem. Pronto, resolvido. Ah, o senhor gostou? Ainda bem, pelo menos o senhor tem senso de humor. Aliás, já que estamos assim tão amigos, posso lhe fazer uma pergunta? Por que o senhor nunca casou?

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Ricardo Kelmer 2006 – blogdokelmer.com

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Esta crônica integra o livro Blues da Vida Crônica

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Os Barbixas: Primeira Pedra

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01- Cara, eu vi essa introdução na sua comunidade do orkut e achei simplesmente do caralho. Já até tentei rascunhar sobre o assunto, mas não sei se conseguiria ser tão ácido… Parabéns, meu velho! Marcelo Gavini, São Paulo-SP – jun2006

02- kkkkkkkkkkkkkkkkkkk É verdade! eu assisti semana passada e achei bastante coerente, tb li o livro… Algumas coisas dali eu “acreditei”, assim como tb acredito que teve um babado forte entre Santa Clara e São Francisco de Assis… não sei pq os santos da igreja católica não faziam sexo, é como se isso os tornassem menos legais 😛  Jesus cristo foi um grande revolucionário, como São Francisco de Assis tb foi e concordo que sejam lembrados e tidos como exemplo, mas pq não faziam sexo? sexo é sinônimo de imprefeição,. é algo diabólico? entaum, nós que nascemos através da relação sexual, devemos ser uns diabinhos kkkkkkkkkkkkkkkkkk Gizelle Saraiva, Natal-RN – jun2006

03- Deus criou o sexo, e Ele mesmo disse que sexo era muito bom (Gn 1.27,31); de todas as bênçãos de Deus, o sexo  foi a primeira. (Gn 1.28); a primeira missão recebida pelo homem da parte de Deus, foi a respeito do sexo e pelo sexo: “crescei-vos e multiplicai-vos”.A Igreja (me perdoem os católicos) tem uma visão míope demais da Bíblia,colocando o sexo como “o fruto proibido”.Totalmente incoerente,já que no primeiro capítulo de Gêneses,a ordem é dada para que Adão e Eva povoem a Terra e pra fazer isso,teria que ser através de quê,se não existia ainda inseminação artificial?E,desculpem mais uma vez os amigos católicos mas,mesmo sendo batizada nesta religião, eu não acredito na existência desses dois (Adão e Eva).Mas que tá lá escrito na Bíblia,isso tá! Gostei muito da crônica,pois acho que o Pai não iria punir o Filho com um castigo desses.Até porque,se Ele foi o inventor da coisa, e ainda disse que era bom,porque não permitir que Madalena,ou outra mulher, fizesse Jesus feliz sem pecado,nem culpa? Sidiany Colares Alencar, Fortaleza – CE – jun2006

04- Acho que Jesus teve um lado humano sim, meteu o chicote nos mercadores, perdeu a paciência, era humano….Mas o grande senão são os padres…como a igreja vai exigir castidade, se nem o filho de Deus resistiu..Aliás, a história de Jesus até ganharia se ele tivesse amado uma mulher… Christina Alecrim, Rio de Janeiro-RJ – jun2006

05- Sempre recebo tuas novidades e queria te parabenizar por esta crônica maravilhosa que você escreveu. Você conseguiu resumir, de forma inteligente e bem-humorada, toda a teoria do livro de Dan Brown. Continue nos brindando com tuas brilhantes idéias, Ricardo. Um grande abraço. Ana Cristina, Juiz de Fora-MG – jun2006

06- engracadissimo, perfeito, muito bom mesmo – alias, eu e o Robert estavamos falando o outro dia que alguem deveria abrir um processo contra a igreja catolica, mas um processo em que todos que quisessem pudessem aderir, em nome de todas as mulheres, indios, negros, por perdas e danos, difamacao e calunia, sem falar em tortura e assassinato… ja pensou, o maior processo de todos os tempos, suficiente para levar a falencia essa instituicao que tem feito nossos ouvidos de pinico por 2000 anos! Ta ai uma boa ideia para um texto, ne nao? Ana Claudia Domene, San Diego-EUA – mai2006

07- Quando eu morrer, quero ir direto pro inferno. Imagina? Viver sem sexo? Tô fora, tô dentro…E por aí vou. Abração. Maninho, Fortaleza-CE – set2006

JesusEMariaMadalenaConvidam-01a


O médium, o marido, o morto e a amante

20/07/2014

20jul2014

Acho que Deus deveria controlar melhor as fronteiras do Além. Tá muito esculhambado

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O MÉDIUM, O MARIDO, O MORTO E A AMANTE

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Acabo de saber da última do Ageral, o bloco do Agora Esculhambou Geral. Veja só. Uma mulher é acusada de mandar matar o amante. O advogado usa como defesa uma carta psicografada num centro espírita, ditada pelo próprio amante morto, que, do além, inocenta a amante do crime. Se a carta foi determinante, eu não sei, mas o júri inocentou a mulher.

Se a moda pega nos tribunais, já pensou? Teremos agora, além dos advogados e testemunhas, a ilustre figura do médium de defesa. E nada impede que haja também o médium de ataque. Já que é assim, proponho, pra equilibrar o time, a escalação do médium-volante. E, logicamente, vale gol espírita.

Suponhamos que você é o morto de um crime envolvido em mistério, e que você, de onde quer que esteja, pode usar um médium pra ditar uma carta. Você obviamente aproveitaria pra esclarecer as circunstâncias do seu assassinato e apontaria o criminoso, né? Pois o infeliz do amante morto, que deuzutenha, não fez isso. Chamava-se Ercy e era tabelião. E a mensagem era endereçada… ao marido de sua amante Iara. Vixe! Exatamente, Iara era casada. Mas vamos a um trecho da dita cuja: “O que mais me peza no coração é ver a Iara acusada deste feito por mentes ardilosas como as dos meus algozes. Por isso tenho estado trizte e oro diariamente em favor de nossa amiga para que a verdade prevaleça e a paz retorne aos nossos corações”.

Vamos por partes. Pesa com Z? Triste com Z? Hummm, tem algo estranho aqui. Que diabo de tabelião é esse que não sabe escrever? Ou a gente desaprende a gramática depois que desencarna? Ou o tabelião foi pro inferno e o calor de lá atrapalha a concentração? Talvez o tabelião, uma vez do lado de lá, tenha virado o Zorro do Além, ferrenho defensor das ex-amantes dezamparadas.

Tudo bem, você acha que eu tô debochando de coisa séria. Mas, gente, essa história é muito cabeluda. O pior é que infelizmente tem mais. No fim da carta, o tabelião assina: Erci. Ops! Mas o nome dele não é Ercy, com Y? Socorro, manhêêê, a gente desaprende o próprio nome depois que morre!

Tá, vamos ter mais boa vontade com o caso. Vai que o médium lá do centro comeu uma coxinha estragada e por isso psicografou a carta apressado. Conclusão natural, ou sobrenatural: a culpa dos erros gramaticais é do médium. Entendi. O médium matava as aulas de português pra receber espírito.

Mas ainda tenho dúvidas. E se o morto estiver mentindo? Vai que Iara é realmente culpada e o morto-tabelião tá tentando salvar a pele da ex-amante. Ué, por que isso não pode acontecer? Faz anos que ele morreu, passou a raiva, já perdoou a amante assassina. Cá pra nós: na verdade ele ainda a ama e, lá onde está, escreve sonetos apaixonados e sente falta daquelas noites em que bebericavam licor de jenipapo escutando Vicente Celestino e coisital… Sei lá por que Vicente Celestino. Coisa de tabelião. Pois bem, os mortos não podem mentir? Ou depois que morre, a gente, além de analfabeto, vira santo?

Acho que Deus deveria controlar melhor as fronteiras do Além. Tá muito esculhambado. O Ageral se infiltrou no mundo pós-morte ‒ onde isso vai parar? Daqui a pouco entrarão lá com celulares. Minha proposta: morto só pode se comunicar com vivo após se cadastrar no Procecom (Programa Celeste de Comunicação), ter ficha limpa e pagar a taxa no Banco do Brasil. E não custa nada incluir também no programa um cursinho básico de gramática.

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Ricardo Kelmer 2006 – blogdokelmer.com

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Comentarios01COMENTÁRIOS
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01- Muito engraçado… Com certeza tem um “zombeteiro” perto de vc, kkkkkk!!!! E o tabelião de pijama, huahuahuahua!!! So vc mesmo p me fazer rir tanto. Lua Morena, Brasília-DF – jun2006

02- amei, trocar advogados por médiuns, acho q ficará mais barato, mais emocionante e menos chato !!!!!kkkkkkkkkkkkk tomara q nenhuma advogada leia isso!!!! hehehe !!!! Marysol Rosso, Cocal-SC – jun2006

03- achei tipo assim: de muito bom gosto, inteligente, charmoso. gostei . Rosa Red, Jardins-MS – jun2006

04- Adorei o texto, com humor maravilhoso, bem conduzido. Merece entrar entrar num livro de crônicas. Jayme Akstein, Rio de Janeiro-RJ – jun2006

05- Enfim , gostei muito . Voltando àquele papo de “ discurso polifônico”, essa tua sugestão de “ controlar melhor as fronteiras do Além ”, de cadastro no “Procecom ( Programa Celeste de Comunicação )”, de exigir o sujeito (a) ter “ ficha limpa e pagar a taxa no Banco do Brasil”, me lembrou também daquele aparente improviso do Vinicius de Morais ao final de Samba da Benção – lembra? “A vida é pra valer / E não se engane não , tem uma só / Duas mesmo que é bom / Ninguém vai me dizer que tem / Sem provar muito bem provado / Com certidão passada em cartório do céu / E assinado embaixo : Deus / E com firma reconhecida!” Marcelo Pinto, Rio de Janeiro-RJ – jun2006

06- hoje entrei em seu site e li : o médium,o morto, o marido e a amante (desculpa se não for exatamente esse nome…hehe) pois é, e estou lhe escrevendo para contar que achei muito engraçado…adorei…seu trabalho é otimo…sempre dou uma espiadinha em seu site…Beijinhos. Fernanda Dias Castro, Ponta Grossa-PR – ago2006

07 – rsrsrs estive lá no seu site. a história do médium-volante é muto boa rsrsrs depois degustarei mais. aquele abraço. p.s. gostei do seu jeito de escrever. Aroeira, Belo Horizonte-MG – dez2006 

08- Olha aí Glauber Filho, isso não dá um bom roteiro? Eduardo Freire, Fortaleza-CE – jul2014

> Postagem oficial no Facebook

OMediumOMarido,OMortoEAAmante-01a


Indecências para o Fim de Tarde – Pré-venda

07/05/2014

07mai2014

Adquira antecipadamente com um bom desconto, tenha seu nome no livro e receba em casa

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INDECÊNCIAS PARA O FIM DE TARDE – PRÉ-VENDA

Tô lançando meu livro de contos eróticos Indecências para o Fim de Tarde. A versão impressa será lançada no segundo semestre (datas e locais a definir), mas como terei que bancar parte do investimento, inicio agora a pré-venda (até 30jun2014)

Os leitores que adquirirem o livro antecipadamente nesta pré-venda:
– Ganharão um bom desconto
– Seus nomes constarão na seção Galeria de Leitores Especiais do livro (opcional)
– Receberão o livro pelo correio (ou pessoalmente, no lançamento), com dedicatória
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O pagamento pode ser feito pelo Pag Seguro (cartão ou boleto) ou por depósito em conta (HSBC, Itaú, Banco do Brasil e Bradesco). Para outros países: PayPal.

O persex (liga de perna) é uma cortesia da sex shop Via Libido (vialibido.com.br).

PREÇOS (frete incluído)

OPÇÃO A: R$ 22
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IndecenciasParaOFimDeTardeCAPA-01aINDECÊNCIAS PARA O FIM DE TARDE
Ricardo Kelmer – Arte Paubrasil, 2014 – 208 pag

Os 23 contos deste livro exploram o erotismo em muitas de suas facetas. Às vezes ele é suave e místico como o luar de um ritual pagão de fertilidade na floresta. Outras vezes é divertido e canalha como a conversa de um homem com seu pênis sobre a fase de seca pela qual está passando. Também pode ser romântico e misterioso como a adolescente que decide ter um encontro muito especial com seu ídolo maior, o próprio pai. Ou pode ser perturbador como uma advogada que descobre que gosta de fazer sexo por dinheiro.

O erotismo de Ricardo Kelmer faz rir e faz refletir, às vezes choca, e, é claro, também instiga nossas fantasias, inclusive as que nem sabíamos possuir. Seja em irresistíveis fetiches de chocolate ou numa selvagem sessão de BDSM, nos encontros clandestinos de uma lolita num quarto de hotel ou no susto de um homem que descobre verdadeiramente como é estar dentro de uma mulher, as indecências destas histórias querem isso mesmo: lambuzar, agredir, provocar e surpreender a sua imaginação.

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IndecenciasParaVoceTirarARoupa-01aMuitas mulheres têm esse fetiche, o de exibirem-se anonimamente para o público. Então criei uma promoção: envio o livro e a leitorinha faz uma foto erótica com ele, sem precisar mostrar o rosto, e a foto será usada em cartazes de divulgação da obra. Você gostaria de participar? Clique aqui e saiba mais.

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LIVRETOS DO BRINDE
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Guia do Escritor Independente (dicas)
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APOIO CULTURAL

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01- Indico por q o cara é fera galera!!!!ndico por q o cara é fera galera!!!! Katie Furge, Queensland-Austrália – mai2014

02- Esse cara é genial!! um ótimo escritor. Josy Felix, São Paulo-SP – mai2014

03- Um livro instigante. Um autor inteligente e preparado ao tratar com o assunto. Um assunto polêmico no contexto sócio cultural que não pode passar despercebido no mundo atual. Um convite a uma leitura prazeirosa com uma visão política e uma reflexão cítica. Um manual para os psicologos! Um convite a leitura simplesmente! Anosha Prema, Campinas-SP – mai2014

04- Livro do Ricardo Kelmer o/ Ilana Dubiela, Fortaleza-CE – mai2014

05- Lançamento do Livro do Escritor Ricardo Kelmer. Boa Leitura! Érika Menezes, Fortaleza-CE – mai2014

06- Amei o tema, a fotografia… quero ler e deliciar-me com o conteúdo, parabéns Ricardo. Donizete de Paula, São Paulo-SP – mai2014


Terror e êxtase na caverna

15/04/2013

15abr2013

Durante um tempo, ali fiquei, em êxtase, me sentindo parte de tudo aquilo, em paz com a caverna e comigo

TerrorEExtaseNaCaverna

TERROR E ÊXTASE NA CAVERNA

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Anos atrás fui convidado a participar de uma expedição do Ibama à gruta de Ubajara, no Ceará. Mas não seria uma visita comum, de grupos de excursão, com limites fixados para se aventurar na gruta. Participariam apenas espeleólogos, agrônomos, geólogos e arqueólogos de vários estados, e o grupo estava autorizado a ultrapassar os limites turísticos e seguir até o mais distante ponto conhecido.

De manhã cedo, o chefe da expedição reuniu o grupo de vinte e três pessoas, distribuiu capacetes, lanternas, cordas, sacos de lixo e atentou para que não deixássemos nenhum objeto lá dentro. Explicou que seguiríamos por uma via de difícil acesso rumo à Sala das Maravilhas (67m de profundidade, percurso de 1.120m), local alcançado por poucos devido ao alto grau de dificuldade. Lembrou as técnicas básicas, a posição firme do pé de apoio, manter sempre à vista o colega da frente. Apresentou-nos o guia mestre, que conhecia bem a via e seguiria à frente de todos. Então dividiu-nos em três grupos, cada um com seu guia próprio, e lá fomos nós, fila indiana, desafiar os segredos da grande caverna.

Eu já visitara a gruta como turista. Agora era diferente. Desde o início, senti uma solenidade no ar, como se realizasse algo muito importante. À medida que descíamos, o ar se tornava mais úmido e pesado e a respiração mais difícil. A caverna nos envolvia em seu manto de escuridão silenciosa e tudo em nós era concentração, esforço e cuidado. E respeito, muito respeito por tudo aquilo que a Natureza criara havia milhares de anos e que, gentilmente, nos permitia explorar.

Logo, as dificuldades começaram. Certas passagens eram tão estreitas que alguém mais gordo não passaria. As encostas enlameadas, difíceis de escalar, provocavam quedas. Havia trechos onde o teto era tão baixo que nos arrastávamos pelo chão, meio corpo dentro dágua. Cada guia, por ser mais ágil e experiente, tinha a missão de ir à frente, fixar bem a corda e aguardar que o restante de seu grupo finalizasse a passagem. Senso de equipe era fundamental: todos tinham que ajudar e ser ajudados.

Aos poucos, a tensão, o cansaço e o medo minavam as forças, forçando a desistência de alguns. Esses paravam, sentavam e ali mesmo ficavam, sempre acompanhados, para aguardar o retorno dos que prosseguiam. E eu? Eu era o próprio entusiasmo. Sentia a caverna como algo vivo, dona de uma força imensa e sabedoria própria, e isso me enchia de uma profunda reverência. Alguns passaram maus bocados, mas eu me sentia muito à vontade, como se sempre tivesse feito aquilo.

De repente, nos deparamos com um estreito buraco no chão. Já caminhávamos por três horas e estávamos cansados, mas ainda teríamos que passar por ali para alcançar o nível inferior seguinte, que enfim nos levaria ao trecho final. O guia mestre, segurando a corda-escadinha, já nos aguardava lá embaixo para auxiliar na descida. Nesse momento, algo curioso aconteceu. A espeleóloga que ia à minha frente chegou-se junto do buraco e então… ficou imóvel. Esperei que iniciasse a descida, mas, em vez disso, ela deitou-se ao chão e ficou na posição fetal, contorcendo-se. Percebi que seu corpo todo tremia e ela choramingava: “Mamãe… mamãe…”

O guia do grupo, mais experiente, entendeu logo o que se passava e me explicou: “Ela vai ficar boa, isso acontece até com os experientes. Vou ficar com ela. Daqui pra frente você assume o grupo.” Engoli em seco, sem acreditar. Guia do grupo, eu?! Em minha primeira exploração? Ele sorriu e confirmou, “Você vai conseguir”, enquanto tomava conta da mulher em sua crise de choro.

Meio atordoado com tudo aquilo, passei à frente, me aproximei do tal buraco e toquei a corda-escadinha, por onde desceria dez metros na escuridão. Segurei firme, botei os pés e… fiz a besteira de olhar para baixo. Imediatamente um estremecimento me percorreu por inteiro, corpo e alma. O coração quis sair pela boca e um pavor imenso me tomou o pensamento, impedindo qualquer raciocínio ou movimento. Quase borrei as calças. Por um instante, achei que também teria um colapso nervoso. Mas fechei os olhos e respirei fundo, tentando me acalmar. Precisava me controlar para fazer a descida com toda a atenção.

Quando finalmente toquei o chão, senti uma enorme alegria, vontade de sair gritando. Mas agora eu era o guia do grupo e precisava ajudar os outros. Depois daí vieram mais dificuldades e mais colegas desistiram, esgotados física e mentalmente. Eu continuei e, quatro horas depois do início, alcancei o destino final, com mais oito pessoas.

A Sala das Maravilhas parecia a abóbada de uma catedral. Havia pouca luz, mas vi que tinha uns quarenta metros de altura e sua beleza e imponência me faziam ridiculamente pequeno. Deitei-me ao chão, maravilhado, e fiquei quieto, olhos fechados, escutando o som musical dos pingos dágua que caíam lá de cima. Eu vencera. Superara as dificuldades, o medo e a própria desconfiança em mim. Durante um tempo, ali fiquei, em êxtase, me sentindo parte de tudo aquilo, em paz com a caverna e comigo. Tive vontade de ficar ali para sempre.

No fim da tarde, ao sairmos da gruta, eu sentia que algo havia mudado em mim. De fato, a experiência me tornaria um homem mais forte e autoconfiante. Por outro lado, me faria também mais humilde perante a Natureza. Explorar cavernas tem seus perigos, sim, mas muito mais perigoso é nos considerarmos separados da Natureza, nos julgarmos superiores e acharmos que podemos controlá-la. Se você ainda pensa assim, recomendo uma descidinha a alguma caverna. Não esqueça de manter firme o pé de apoio. E não custa nada levar papel higiênico. Mas não deixe nada lá dentro, tá?

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Ricardo Kelmer 2003 – blogdokelmer.com

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> Este texto integra o livro Blues da Vida Crônica

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CavernaUbajara-3.
A gruta de Ubajara está situada no leste do Estado do Ceará, no Parque Nacional de Ubajara, Serra da Ibiapaba, . Dista 3km do centro da cidade de Ubajara, possui uma área de 6.299 ha e é administrado pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). O acesso à gruta se dá por meio de teleférico, que desce mais 550m. Também é possível chegar à gruta pela trilha dos Cafundós, numa descida de mais de 4km. No período de janeiro a junho, a temperatura média é de 16 a 18 graus durante a noite, e entre 20 e 24 graus durante o dia. No período de julho a dezembro, a temperatura média é de 28 graus durante o dia, e de 19 graus durante a noite.

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CavernaUbajara-4.
A gruta de Ubajara tem 1.120m de extensão, dos quais 420m estão abertos ao público com o acompanhamento de guias. A gruta de Ubajara possui galerias e salas com formações de estalactites e estalagmites, como a Pedra do Sino, a Sala das Rosas, a Sala dos Retratos e a Sala das Maravilhas.

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> Mais sobre o Parque Nacional de Ubajara

360graus.terra.com.br
Blog Rotas Verdes

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Xamanismo de vida fácil – A tradição xamânica dos povos primitivos experimenta uma espécie de retorno, atraindo o interesse de pesquisadores e curiosos

Minha noite com a Jurema – Nessa noite memorável fui conduzido para dentro de mim mesmo pelo próprio espírito da planta, que me guiou, comunicou-se comigo, me assustou, me fez rir e ensinou coisas maravilhosas

A vida na encruzilhada (filme: O Elo Perdido) – Essa percepção holística da vida é que pode interromper o processo autodestrutivo que nos ameaça a todos

Carlos Castaneda (vídeo) – Especial da BBC sobre o polêmico antropólogo que estudou o xamanismo no México, escreveu vários livros e tornou-se um fenômeno do movimento Nova Era

O Elo Perdido (Missing Link) – Veja o filme. Homem-macaco tem sua família dizimada por espécie mais evoluída e vaga sozinho pelo planeta, conhecendo e encantando-se com a Natureza. Ao comer de uma planta, tem estranha experiência que o faz compreender o que aconteceu

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Quando os homens não voltam para casa

18/01/2013

19jan2013

QuandoOsHomensNaoVoltamParaCasa-1.

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GuiaDeSobrevivenciaCAPA-1bJavier Viegas é tarólogo e resolve problemas do Além. Dessa vez uma moça deseja reencontrar o namorado que foi atraído por uma bela princesa para dentro de um quadro de parede.

Mistério, sobrenatural.

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(Este conto integra o livro Guia de Sobrevivência para o Fim dos Tempos)

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QUANDO OS HOMENS NÃO VOLTAM PARA CASA

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OI, LU… Por favor, leia a carta com atenção. Você é a única pessoa em quem confio. Saiba que, apesar de tudo, ainda amo você. Beijos. Junior.

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Luciane leu o bilhete intrigada. Já fazia uma semana que não tinha notícia do namorado. No escritório avisaram que ele não ia lá fazia três dias, os porteiros do prédio não sabiam dele e seu telefone não atendia. No início, pensou que Junior se chateara com a discussão que tiveram e resolvera dar um tempo. Mas aquele sumiço não fazia sentido.

Então decidira falar pessoalmente com ele. Entrou no apartamento com a chave extra que possuía. Nada viu de anormal, estava tudo em ordem. Sobre a cama, encontrou o bilhete, e ao lado, o quadro que ele tanto gostava, a princesa sentada num banco à entrada de um bosque, o mesmo quadro que originara a fatídica discussão. Nunca viu nada demais naquele quadro, mas Junior nutria por ele uma tal admiração que ela simplesmente não entendia. Pôs o bilhete de lado e começou a ler a carta.

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A margem de um lago, um pequeno ancoradouro e um bote amarrado. Um caminho que sai do ancoradouro e penetra o bosque, por entre as árvores. Logo à entrada do bosque, um banco de madeira e uma princesa muito bonita, em trajes medievais, olhando triste para a curva do caminho, como se aguardasse alguém que de repente surgirá vindo do bosque…

Encontrei o quadro numa loja de usados e gostei dele de cara. A princesa me passava uma ternura tão grande… E havia a sensação de familiaridade, era como se eu a conhecesse de algum lugar, de algum tempo. Levei o quadro e pus na sala. Você deve lembrar desse dia: eu mostrei, você olhou e riu, e disse que princesas sempre fizeram o meu tipo, e que se acaso eu encontrasse uma pela frente, não pensaria duas vezes e lhe trocaria por ela. Lembra?

Primeiro, pus o quadro no corredor, para olhar sempre que eu passasse. Depois, trouxe para o quarto e deixei ao lado da cama, para que eu adormecesse olhando para ele. Várias vezes tentei lhe dizer do quanto o quadro me fascinava. Mas você apenas zombava dos meus comentários.

Para mim, aquela princesa estava presa no bosque. Ela era triste e passava os dias sozinha, chorando de saudade de seu país. Mas havia um leve brilho de esperança em seus olhos: ela esperava pela chegada de um cavaleiro que a libertaria. Ele viria do bosque e surgiria na curva do caminho. Ele a pegaria pela mão e juntos tomariam o bote que os levaria rumo ao país da princesa. Enquanto isso não acontecia, ela aguardava cantando uma canção melancólica que se espalhava pelo bosque e um dia chegaria aos ouvidos de seu libertador.

À noite, eu acariciava o quadro como se isso pudesse amenizar o sofrimento da princesa. Tirava o vidro, passeava a ponta dos dedos por sobre o papel e quase podia sentir o relevo das árvores, a água do lago, a pele dela, o cabelo…

Então, uma noite tive um sonho. Eu estava no bosque e seguia pelo caminho entre as árvores. Estava à procura da princesa e precisava muito encontrá-la antes que anoitecesse. E só havia um jeito: guiar-me por sua canção. Mas ventava muito e a voz dela se perdia nos ventos. Tentei muitos caminhos, sabia que ela estava perto, podia sentir sua presença… mas não a encontrei. Começou a ficar escuro e eu tive medo de me perder no bosque. Então, lamentando muito não tê-la encontrado, voltei.

Acordei no meio da noite chorando. O sonho ainda estava presente no quarto e eu podia sentir o vento, ainda ouvia os ecos da canção triste. Eu estivera tão perto… Ela estava ali, em algum lugar… e eu não soube encontrá-la. Não fui bom o bastante para ser seu cavaleiro – era isso o que mais me doía.

No outro dia nem fui trabalhar, impressionado com a força do sonho. Contei para você, lembra? Pela primeira vez você escutou com atenção e, então, falou que eu já estava exagerando, e que se continuasse assim, ia ficar doido. Você levantou com o quadro na mão e saiu, dizendo que ele era de mau gosto e que ia jogá-lo no lixo.

Alcancei você na sala. Avancei e puxei o quadro de sua mão, mas ele escapou e caiu. E espatifou-se no chão. Quando vi os pedaços de vidro espalhados, fiquei transtornado, uma dor imensa no coração. Tentei juntar os pedaços e você se abaixou para me ajudar, pedindo desculpas. Mas eu lhe empurrei, com raiva, e disse que dispensava sua ajuda. Você ficou olhando para mim, assustada. Certamente devia achar que eu não estava bem da cabeça ou, então, pela primeira vez teve um vislumbre do quanto aquele quadro era importante para mim. Não sei, afinal não conversamos mais. Você bateu a porta com força e foi embora.

No dia seguinte, inventei uma desculpa e novamente não fui trabalhar, não conseguiria me concentrar. E à noite tive o segundo sonho. Estava de novo no bosque e a cantiga da princesa me chegava por entre os ventos. Ela estava mais perto que na noite anterior… Eu queria prosseguir, mas já estava escuro e eu tinha medo de ficar perdido no bosque para sempre. Dividido nessa dúvida mortal, decidi voltar, uma dor me dilacerando a alma por mais uma vez deixar a princesa sozinha.

Como da outra vez, despertei logo, tão triste que suspirava. Por alguns instantes, o quarto pareceu ser o bosque, tão real que quase toquei as folhas no chão. Rapidamente, tomei o quadro no peito, como se faz com alguém que a gente gosta tanto que tem vontade de trazer para dentro de si. Apertei a princesa contra o peito enquanto fazia força para que o sonho não fugisse. E por alguns instantes deu certo: toquei um galho, segurei-o… Mas logo o bosque sumiu e eu estava de volta ao meu quarto, eu e minha enorme tristeza. Então, falei para a princesa ser forte e aguardar só um pouco mais, eu logo a encontraria. E foi com esse pensamento que adormeci, esperançoso de que o sono me conduzisse de volta ao bosque.

Mas não voltei. Acordei pela manhã decepcionado, sem ânimo nem para comer. Não fui trabalhar. Trabalhar como, sabendo que ela ainda estava lá, sozinha naquele bosque?

Sem conseguir pensar em outra coisa, saí para dar um passeio. Olhando para o lago do parque, escutei a voz da princesa. Estava distante, eu quase não ouvia. Mas ela era sim. Fiquei radiante: aquilo era um sinal. Então, voltei para casa com a certeza de que à noite eu a encontraria.

Já é madrugada e estou com sono. Logo mais estarei com a princesa e a levarei de volta a seu país. Não se preocupe comigo, eu voltarei.

Junior

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Luciane continuou olhando para o papel. Tentava organizar as ideias, mas todo o seu pensamento era um emaranhado de interrogações girando sem parar. Que diabo afinal estava acontecendo?

De fato, no início não ligara. Com o tempo, no entanto, o interesse de Junior pelo quadro lhe botou uma pulga atrás da orelha. Mas nem de longe imaginou que a coisa pudesse chegar a tal ponto. Lembrou que nos últimos tempos ele andava mais quieto e pensativo, questionando coisas e com considerações filosóficas a respeito da vida. Talvez houvesse faltado um pouco mais de tato de sua parte para entender o que se passava. Ele dizia que precisava ficar sozinho mais tempo, e ela considerou que ele não mais a queria. Talvez não fosse nada disso. Talvez ele ainda a amasse mesmo.

Aqueles dias longe dele serviram para rever algumas ideias. Pediria desculpas e tentaria ser mais compreensiva, afinal ela o amava muito e não imaginava a vida sem ele. Claro que ele também tinha seus defeitos, mas primeiro era preciso não perdê-lo, isso agora era o mais importante. Por esse motivo, resolvera procurá-lo.

Mas agora, aquela carta… E se ele estivesse lhe aprontando uma brincadeira?, pensou, subitamente irritada. Sim, Junior bem seria capaz disso. Ela ali preocupada e ele em algum lugar por aí, rindo de sua cara. É, ele estava lhe aprontando alguma. E ela fazendo papel de boba, perdendo tempo com os delírios de um cara metido a cavaleiro garboso e sua princesa casadoira. Conheceu outra mulher e agora inventava aquela palhaçada, era isso. Pois se quisesse, que a procurasse para esclarecer a situação. Tinha mais o que fazer.

E foi embora, batendo a porta.

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QuandoOsHomensNaoVoltamParaCasa-1ELE, PORÉM, NÃO A PROCUROU. Os dias seguiram e a indefinição a deixava nervosa. Estava com saudades. E muito preocupada. Aquela carta não fazia sentido. E ainda havia a questão do trabalho: ele faltava já fazia uma semana, os colegas também estavam preocupados.

Voltou ao apartamento três dias depois. Estava decidida a chamar a polícia. Foi até o quarto e pegou o quadro sobre a cama. Então, percebeu algo tão estranho que teve de tapar a boca para não gritar. Ali, no quadro, no exato local onde o caminho fazia uma curva para entrar no bosque, ali havia uma nova figura, uma pessoa que não estava lá da última vez. E, olhando bem… era Junior.

Luciane largou o quadro sobre a cama. Um medo gelado lhe subiu a espinha. Olhou novamente o quadro. Havia mesmo um detalhe novo na paisagem, havia alguém vindo de dentro do bosque em direção à princesa. A imagem não estava nítida, mas era uma pessoa. E o rosto parecia com o de Junior, o formato, o cabelo, os olhos… Ou será que aquela pessoa sempre estivera ali? Não, impossível.

Luciane fechou os olhos e disse para si mesma, mentalmente: Junior está dentro desse quadro. Ao mesmo tempo em que resistia à ideia, sentia seu pensamento sendo atraído para ela. Junior estava naquele quadro, podia sentir isso. E quanto mais se deixava envolver pela ideia, mais absurda ela se tornava.

Olhou novamente. E se fossem dois quadros? Em sua brincadeira, Junior bem poderia ter substituído o primeiro quadro por aquele segundo. Mas não, não. Por que ele se daria ao trabalho de fazer tudo aquilo, por quê? Não fazia sentido.

Decidiu dormir no apartamento. Estava com medo, mas precisava descartar a hipótese de que seu namorado lhe pregava uma peça, ele que sempre fora muito brincalhão. Dormindo ali, talvez o surpreendesse chegando para trocar o quadro novamente. Precisava tentar.

Não conseguiu dormir de tanta ansiedade. Levantou assim que o dia clareou. A primeira coisa que fez foi pegar o quadro. E lá estava a mesma pessoa chegando pelo caminho – dessa vez, no entanto, a imagem estava mais nítida. Não havia dúvidas: era Junior sim. E ele estava bem próximo da princesa, quase tocando-a.

Luciane olhava o quadro impressionada. Da noite para o dia os contornos da figura adquiriram maiores detalhes, como se alguém houvesse retocado o quadro. Não havia engano: aquele era seu namorado… vestido feito um cavaleiro medieval.

– Junior… – murmurou, enquanto acariciava o quadro. – Junior, você está aí?

De repente, deu-se conta do que fazia e começou a chorar. Chorou pelo namorado cujo paradeiro desconhecia, e também pela possibilidade de estar sendo vítima de uma bizarra brincadeira. E chorou, principalmente, pelo medo de tudo aquilo ser verdade.

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A MOÇA DO BALCÃO suspendeu os olhos do livro que lia e olhou para Luciane.

– Bom dia. Meu namorado comprou este quadro aqui mês passado. – Luciane tirou o quadro da mochila. – Foi você quem vendeu pra ele?

– Estou lembrada, fui eu mesma. Algum defeito?

– Não, não é isso. É que… bem… Você lembra se o quadro tinha esse detalhe aqui, esse cavaleiro?

– Como assim?

– Tente lembrar, é importante.

– Não estou vendo nada de errado nele.

Luciane suspirou. Não ia ser fácil.

– Moça, eu sei que você não vai acreditar, mas…  Olha, eu tenho fortes motivos pra acreditar que meu namorado… caiu dentro desse quadro. – Pronto, falara. Estava dito. – Ele é esse cavaleiro que está vindo pelo caminho…

A atendente olhou para o quadro, e depois para ela. Viu o rosto cansado de Luciane, a expressão angustiada.

– Seu namorado… caiu dentro do quadro?

Luciane sentiu que ia chorar novamente. Controlou-se e tentou falar, mas não conseguiu. Sentia-se totalmente ridícula. A atendente continuava observando-a. A situação toda era absurda, irreal. Então, compreendeu que era inútil, estava fazendo papel de louca.

– Esqueça o que eu falei – ela disse, pondo o quadro de volta na mochila. – Não devia ter vindo aqui.

Quando se preparava para deixar a loja, um homem surgiu, vindo da sala ao lado.

– Por favor, não vá.

Luciane virou-se e viu um sujeito baixo, moreno, barrigudo. Vestia jeans, tênis e camisão estampado por fora da calça. Devia ter seus cinquenta anos. O homem tinha um olhar forte, mas amigável.

– Se não for incômodo, gostaria de ouvir sua história.

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QuandoOsHomensNaoVoltamParaCasa-1A PEQUENA SALA tinha uma luminosidade suave que vinha de um vitral colorido na janela. No ar pairava um suave cheiro de incenso. Havia objetos antigos como baús, candelabros e estatuetas, muitos livros numa estante de madeira e belos quadros pelas paredes.

Luciane sentou-se numa cadeira que parecia ter quinhentos anos de idade. Reparou no homem que sentava do outro lado da mesa. Tinha trejeitos femininos. E falava com sotaque espanhol. Olhos negros, olhar amável. Era calvo na frente, mas atrás o cabelo descia numa trança até o meio das costas. Figura exótica.

A atendente entrou trazendo uma bandeja.

– Chá de capim-santo, querida – o homem falou. – É bom pros nervos. Obrigado, Ana Isaura. Agora pode nos deixar a sós, está bem? Não atendo ninguém.

– Dona Carlota tem consulta às seis, seo Javier.

– Desmarque, mulher. Diga que minha vó menstruou e que eu saí correndo pra lá. Passar bem.

Luciane riu. Exótico e gozador.

‒ Ana Isaura começou mês passado, ainda não entrou direito no clima desse negócio. Tenho essa loja de usados, meu anjo, mas também dou consulta de tarô. E resolvo outros babados. Nunca ouviu falar do tarô do Javier?

Tarô do Javier… Onde se metera?

– Você deve estar se perguntando, onde que eu fui parar, minha Virgem, não é? Mas não se preocupe, veio ao lugar certo, eu vou ajudá-la. Vamos lá, me conte essa história direito.

Luciane pesou a situação. Certamente se tratava do maior charlatão do bairro. Aquele sotaque espanhol devia ser puro golpe de marketing. A trança enorme nas costas, o jeitão de bicha… Vai ver nem era bicha, era tudo marketing. E a túnica branca, por que não usava? Certamente para não ficar estereotipado demais. Aquela gente sabia como fazer a coisa. Bem, não custaria nada contar para ele. Para quem mais, afinal?

Então, contou que Junior comprara o quadro ali e que se afeiçoara exageradamente a ele. Falou da crise por que passava a relação, da discussão por conta do quadro e que depois ficaram sem se falar por uns dias. Javier escutava atento.

– Uma semana depois, como ele não atendia o telefone, fui até lá. E só encontrei esse quadro. Quando voltei no outro dia, Junior começou a aparecer na paisagem, vestido de cavaleiro… – ela falou e sorriu sem jeito, nervosa, esperando que Javier sorrisse também. Mas ele continuou compenetrado, olhando em seus olhos. – E aqui estou eu.

Não falara da carta. Proposital. Queria ver até onde o sujeito era mesmo bom naquelas coisas.

– O que você acha que pode ter acontecido? – ele perguntou.

Ele queria saber qual a sua própria expectativa, raciocinou Luciane. Sabendo isso, jogaria de acordo. Gente esperta.

– Pra ser sincera, não sei mesmo.

Javier pediu o quadro. Ela tirou da mochila e entregou.

– Hummm, bom gosto pra homem, heim?…

Ele segurou o quadro com as duas mãos e fechou os olhos. Por um tempo assim ficou, a cabeça reclinada para trás, num movimento circular e vagaroso, respirando fundo. Ela acompanhava com atenção seus movimentos. Sentiu vontade de rir, mas se controlou. Quando tudo se resolvesse, Junior iria lhe pagar direitinho aquele ridículo todo, ah, iria sim, o cretino.

Javier abriu os olhos.

– Babado fortíssimo, meu anjo.

– Heim?

– Olha, não deu pra ver os detalhes, mas fizeram coisa bem feita com seu namorado.

– Uma mulher?

– Mulher. Mas não deu pra ver de quem se trata.

– Taí, não sabia que eu tinha uma rival… – ela ironizou. E não teve como evitar a lembrança de algumas amigas, umas certas colegas de escritório dele… Mas não, aquele papo era conhecido. Agora o charlatão ia dizer que podia desfazer o feitiço e que cobrava tanto, mas, como simpatizou com ela, deixava por tanto…

– Essa moça é poderosa.

– Eu conheço?

– Talvez. Mas é uma velha conhecida dele.

– E o que vai acontecer?

– Ele parece que está enfeitiçado. É como se estivesse sendo atraído por ela.

Luciane lembrou da canção triste da princesa…

– Ela deve ter atraído seu namorado com este quadro. Ele veio aqui e comprou, levou pra casa. Crau! Mordeu a isca direitinho.

– Mas onde ele está agora?

– O quadro está mostrando, meu amor. A princesa representa a mulher que jogou o feitiço nele. Ele já a encontrou.

– Você quer dizer que esse cachorro está me passando um chifre por aí? – ela falou sorrindo, tentando mostrar que aquilo não a afetava. Mas se descobriu verdadeiramente irritada com a tal hipótese. Talvez aquela priminha dele que vez em quando vinha para a cidade…

– Em outras palavras… é isso mesmo.

– Mas que diabo de mulher é essa que faz um homem largar casa, trabalho, se mandar, não avisar ninguém?…

– Babado forte, meu anjo, já falei. Não crê em bruxa?

– Não.

– Pois elas existem.

Ele só podia estar inventando tudo aquilo. Mas como explicar o que acontecia com o quadro?

– Claro que você tem o direito de desconfiar de tudo que estou falando, meu bem. Acontece que enquanto você desconfia, a rival ganha terreno.

Ele pôs o quadro sobre a mesa.

– Javier, eu não sou a pessoa mais cética do mundo, pode ter certeza. Mas você há de convir que essa história parece mais uma grande loucura.

– Se é loucura, o que você está fazendo aqui?

O tom de voz dele tornara-se mais sério. O olhar agora era grave.

– Muito bem. Digamos que eu acredite. E agora?

– Agora você me faz um cheque de mil reais e podemos começar. Normalmente eu cobro dois. Mas simpatizei com seus olhos…

– Mil reais?! De jeito nenhum.

– Se você acha que seu namorado não vale isso…

– Talvez não. E se eu não tiver esse dinheiro?

– E não tem como arrumar?

– E se arrumar? Que garantia tenho de que vai dar certo?

Ele se inclinou para frente e seu olhar mudou novamente. Tornou-se mais manso e envolvente. E ela podia senti-lo feito suaves ondas… que iam e vinham dentro de seus próprios olhos…

– Vai dar certo, meu anjo.

– E se por acaso não der? – As ondas iam e vinham, iam e vinham… formando um balanço agradável… inebriante… sonolento… – Você me devolve o dinheiro?

– Eu não falho, minha querida.

Por um instante, quase se deixou levar por aquele vai e vem… Mas, subitamente, uma forte vontade se manifestou e agitou seu pensamento, pondo-a em terra firme. A sonolência sumira.

– Isso não é garantia, Javier, você sabe disso.

Ele encostou-se de volta na cadeira. Pousou os cotovelos nos encostos, juntou as mãos sobre a barriga e cruzou os dedos. Encarou-a por alguns segundos, gravemente. Já não havia ondas em seu olhar.

– E você dizendo que não acredita em bruxas…

– Como?

Impressão ou ele tentara hipnotizá-la?

– Quantos anos você tem, Luciane?

– Vinte e sete.

– Você é nova. Se quisesse, podia ser ainda uma grande bruxa. O que tem de gente precisando de serviço. Você tem jeitão, é forte… Mas sem essas ombreiras, meu anjo, por favor. Não lhe caem nada bem. Se quiser, posso ser seu estilista, você me dá dez por cento do que faturar, que tal? Estilista de bruxa. Chique.

– Eu só quero meu namorado de volta.

– Encontrei pouquíssimas mulheres com sua força. E olhe que eu já rodei muito.

– Você é desses que se aproveitam do desespero das pessoas, Javier?

– Só cobro dos que podem pagar.

– Se posso ou não, não vem ao caso. O que estou discutindo é a garantia de seu serviço.

Ele sorriu.

– Você ganhou, sorcière. Não precisa pagar nada agora. Mas se seu namorado voltar, quero mil e quinhentos.

– Mil e duzentos.

– Mil e trezentos. É pegar ou largar.

Luciane sentia-se ridícula. Aquilo não estava acontecendo. Negociando com um charlatão a volta da pessoa amada…

– Combinado.

– Sábia decisão  – ele falou, e levantou da cadeira, apontando o quadro. – Eu vou entrar hoje mesmo. E vou trazê-lo de volta.

– Vai entrar no quadro?

– Já entrei em muitos. Seu namorado não é o primeiro a cair nessa história. Mas vamos logo ao que interessa. – Ele caminhou até a porta. – Traga o quadro.

– Vamos aonde?

– Ao local do crime, lógico. – Ele abriu a porta e saiu. Ela o acompanhou. – A energia do babado ainda deve estar por lá. Vou ter de dormir uma noite no apartamento do seu namorado. Ana Isaura, vou sair mais cedo, pode fechar. Até amanhã. – Virando-se para Luciane, falou baixinho: – Você devia pensar melhor sobre ser uma bruxa…

– Não estou interessada.

– Que desperdício, meu anjo Mikael, que desperdício…

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QuandoOsHomensNaoVoltamParaCasa-1ERAM OITO HORAS quando chegaram ao apartamento. Javier entrou no quarto e procedeu como na loja: fechou os olhos e girou a cabeça, concentrando-se. Luciane observava da porta, aquele quarto lhe dava calafrios. Por um instante, ainda considerou a hipótese de desistir. Mas já havia ido longe demais.

– O portal é exatamente aqui, neste quarto – disse Javier após abrir os olhos. – Olha, vou precisar de treze velas brancas. Novas, viu? O supermercado ainda está aberto. Vou dormir no quarto, você na sala. Se quiser, pode comer alguma coisa, eu vou dormir de barriga vazia.

– E o quadro?

– Dorme comigo. Não se preocupe, vou encontrar seu namorado e ele vai voltar pra você, lindo e maravilhoso.

Meia-hora depois, Javier foi ao banheiro e trocou de roupa. Despediu-se dela e foi para o quarto, levando o quadro e as velas.

Luciane deitou no sofá da sala e manteve-se atenta. Mas não escutou nenhum som vindo do quarto. O que aconteceria? Estava exausta, os olhos pesando de tanto sono. Talvez a vizinha de baixo, talvez… O idiota bem seria capaz de se enrabichar por um tipinho daquele. Ou aquela caixa da farmácia…

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O BARULHO DO TRÂNSITO, as buzinas, os ônibus passando… Luciane despertou assustada, a claridade da manhã entrando pela fresta da janela. Eram nove horas. Dormira profundamente, como havia dias não o fazia. Levantou do sofá e correu para o quarto. Abriu a porta e não viu ninguém. No chão estavam as velas derretidas. Sobre a cama, o quadro. Aproximou-se. E viu Junior. Sentado no banco, ao lado da princesa, segurando-lhe as mãos.

– Bom dia, princesa…

O susto foi tão grande que ela tropeçou nas próprias pernas e caiu, gritando.

– Meu São Sebastião flechado, mas pra que esse escândalo, criatura? – Javier estava à porta do quarto, enxugando o rosto com uma toalha. ­– Eu, heim… Depois bicha é que é escandalosa.

– Cadê o Junior? O que aconteceu?

– Primeiro, se acalme. O mundo vai acabar mas não é hoje. O que acabou foi o papel higiênico do banheiro. Melhor providenciar.

– Já estou calma – disse ela, levantando-se.

– Vamos tomar um café que eu tenho algo muito importante pra lhe falar.

 

 

– ME ENGANEI. Isso não é coisa de gente desse mundo.

Sentado à mesa da cozinha, Javier tinha a expressão grave.

– Não?

– Eu bem que desconfiei ontem lá na loja.

– Do quê?

– A princesa perdida. Eu já soube de uns babados desses, mas nunca nenhum tinha caído em minhas mãos. Essa é a primeiríssima vez.

– Ainda não entendi – Luciane falou, servindo duas xícaras de café.

– Obrigado. Pois bem, a princesa perdida é uma princesa belíssima, a mulher mais bonita que já existiu. E olhe que entendo de beleza, já fui até jurado de concurso, sabia?

Luciane continuou séria.

– Ela é de um reino muito distante, que fica depois do lago. Um reino fora do tempo. E só um cavaleiro destemido pode ajudá-la a voltar pra casa.

Ela riu.

– Cavaleiro destemido, o Junior?! Você está brincando… Aquele frouxo morre de medo de altura.

– A princesa não o subestimou.

Luciane ficou séria novamente, lembrando da carta. Sentiu que não adiantaria muita coisa pensar em termos lógicos. Até ali se comportara como se estivesse no limite entre duas realidades, sem se decidir por nenhuma. Talvez fosse hora de se resolver.

– Essa princesa perdida, ela existe mesmo?

– Sim. Mas só pros homens.

– E por que diabo ela está fazendo isso com ele?

– Primeiro, porque ela precisa voltar pra casa, já lhe disse. E, depois, porque seu namorado se encantou com ela.

– Mas ele me ama.

– Não tem nada a ver com vocês, meu bem. É coisa dos homens.

– Aquele cachorro…

– Isso não é hora de briga. E eu não tenho vocação pra terapeuta.

– Francamente, cheguei ao fundo do poço. Ser trocada por uma princesa de papel…

– Ela é tão real quanto você, querida. Apenas vive no mundo dele, entende?

– Homem não presta mesmo! – Luciane continuava inconformada. – São todos uns fracos, não podem ver bunda se balançando na frente deles… Bunda de princesa então!

– Eu não acredito que a madona está com ciúmes.

– Ciúmes? Não seja ridículo, Javier…

– Pra ciúme, é salmo 115, viu? Sete vezes ao dia durante sete dias. Virada pra igreja de Éfeso.

Ela engoliu em seco a provocação. Estava com muita raiva e não tinha por que esconder. Se Junior não estava satisfeito com ela, por que então não a procurou antes para conversar? Mas não, saiu logo atrás da primeira que apareceu. Uma mulher de papel, do outro mundo, que ridículo.

– Diz que essa princesa tem uma voz lindíssima. Ela atrai os homens cantando, como as sereias.

– Além de princesa, cantora. Eu mereço.

– Mas tem um jeito de fazê-la parar de cantar.

– Qual é?

– Indo encontrá-la, pessoalmente. Exatamente como ele fez.

– Então chame de volta, Javier.

– Tsc, tsc. Agora não é hora.

– Por que não?

– Quando chega a hora do homem encontrar essa mulher, não se deve impedi-lo.

– Por quê?

– É uma velha lei do mundo da magia, meu amor. Não fui eu quem inventou.

– Leis existem pra serem quebradas.

– Essa eu não quebro, santa, não mesmo, olha o dedinho…

– Então o que fazemos?

– Nesse caso, nada.

– Ótimo. E ele vai ficar lá até quando?

– Não sei. Mas ele vai tentar levá-la de volta ao seu reino.

– Rola sexo nessa história? – Luciane perguntou, séria.

Javier riu.

– Estou falando sério, Javier.

– Vai depender dele.

– Então já deve estar rolando. – Ela se levantou, irritada.

– Pelo jeito, você não confia muito em seu namorado.

– Isso não é da sua conta.

– Devia se orgulhar dele. São poucos os homens que têm coragem de ir encontrar a princesa. E menos ainda os que conseguem levá-la de volta a seu reino. A maioria só quer sexo com ela. Esses, ela rejeita.

– E o que acontece com esses?

– Eles voltam e continuam os mesmos. Mas se o homem a olha além do desejo físico, ela o sagra cavaleiro de uma ordem muito especial. Ele volta outro homem, mais sábio, mais maduro.

Luciane pensou um pouco.

– Tenho que lhe mostrar uma coisa, Javier.

Ela mostrou a carta, envergonhada. Javier a leu em silêncio. Depois dobrou e entregou de volta.

– Por que você não me falou antes, dona cascavel? – ele perguntou, muito sério. – Teria me poupado trabalho.

– Desculpe. Eu só queria ver se você era bom mesmo. Agora vejo que é.

– Típico de bruxa. Bruxa que ainda tem muito que aprender. De qualquer forma, eu não posso trazê-lo de volta. Só podemos torcer pra que ele não fracasse.

– Vai ser uma torcida inútil.

– Não subestime os homens, meu anjo. Muitos partem com uma verdade e descobrem outras.

– Vou ter de ficar aqui torcendo pra que meu namorado seja forte o suficiente e resista a essa princesa? Acho muito difícil… Olha aqui a cara deles, parecem dois pombinhos apaixonados…

– Junior já deve ter sofrido um bocado com esse seu gênio, heim, menina?…

– Tenho o direito de ficar nervosa. E, além disso, estou pagando.

– Não vai mais pagar, meu bem. Ninguém pode ir lá buscar seu namorado. Aposto minha trança nisso.

– Que espécie de bruxo é você que não pode tirar um homem dos braços de uma princesa idiota?

– Ah, meu anjo, você ainda tem muito a aprender sobre magia…

– Pois me ensine. Agora quero aprender.

Javier a olhou num misto de riso e espanto.

– E pra quê, criatura louca? Não vai me dizer que é pra ir lá buscar…

– E eu poderia? – ela o interrompeu.

– Duvi-dê-o-dó. E mesmo que pudesse, eu não aconselharia.

– E se eu quisesse apenas observar?

– É arriscado.

– Por quê?

– É o mundo dela, só os homens vão lá.

– Pois eu quero ir.

Javier terminou de tomar seu café, levantou-se e lavou a xícara na pia.

– Desista, Luciane, é realmente muito arriscado.

– Eu assino um papel me responsabilizando, fique tranquilo. Apenas me diga o que tenho de fazer. Aí você cai fora e eu faço o resto.

Javier suspirou. Não era todo dia que se tinha o privilégio de ver uma bruxa daquelas em ação. No entanto…

– Quanto você quer, Javier?

Ele não respondeu.

– Eu lhe pago os mil e trezentos, está bem? E você me ensina como fazer.

– Não sei, acho melhor não facilitar…

– Mil e quinhentos.

Javier se assustou com a força das palavras dela. A bruxa enfim se revelava… Ele observou a mulher à sua frente, tão determinada que não duvidou que ela pudesse fazer mesmo o que tinha em mente. Mas o que poderia acontecer?

– Dois mil, Javier. Vai topar ou não?

Dois mil…, pensou Javier. Dava para passar quinze dias na praia comendo camarão. Bem longe daquelas loucas descabeladas atrás de homem. Mas que dia! Primeiro a princesa perdida, e agora uma bruxa ciumenta disposta a enfrentá-la, cara a cara, desrespeitar as sagradas leis da magia. Seria uma briga boa de se ver…

Mas não. Não estava disposto a patrocinar a quebra de uma lei tão forte, seu nome iria direto para o livro negro. Mas pensando melhor… também não precisava se arriscar tanto. Podia tão somente conduzi-la até o bosque, e ela que se virasse depois. Não era bruxa mesmo?

– Três mil – ele falou. – E nem pechinche porque não faço uma loucura dessas por menos.

– Combinado – Luciane sorriu, satisfeita. – Vou no banco pegar o dinheiro.

– Espera, criatura. Olha, só podemos agir à noite. Eu vou na loja e mais tarde nos encontramos aqui, tá? Mas você precisa ficar calma.

– Eu tô calma.

– Sente e olhe aqui pra lente da verdade. Aqui no meu olho, isso… – Ele a pegou pelos ombros, olhando fixamente em seus olhos. – Você me promete que não vai fazer nada, vai só assistir?

– Prometo.

– Não senti firmeza.

– Eu prometo. Juro.

– Se você desrespeitar as leis, não sei o que pode acontecer com você.

– Não vou fazer isso.

– Mostre que está ao lado de seu namorado, que confia nele. Assim como ele confiou em você, lhe contando essa história. Isso é importante. Você entende isso?

– Entendo.

– Entende mesmo?

– Sim.

Não, ela não entendia – percebeu Javier. Lógico que não entendia.

– Então pode trazer o dinheiro.

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QuandoOsHomensNaoVoltamParaCasa-1OS DOIS DEITARAM na cama de Junior, o quadro entre eles. Eram dez horas da noite.

– Lembre-se, nós vamos despertar logo após o sonho, como Junior contou na carta. O portal vai estar aberto pro bosque, e assim que surgir, nós entramos. Se demorarmos, ele some.

– É tão fácil assim?

– Fácil?! Pelas doze pétalas! Claro que não, criatura! Esse portal só se abre uma vez na vida de um homem. E vai acontecer hoje de novo porque a energia do babado ainda está por aqui. Agora vamos dormir que a noite vai ser longa.

Ele ainda duvidava que uma mulher fosse capaz de entrar naquele mundo. Mas não custava tentar.

Luciane fechou os olhos. Magia, portais, criaturas do outro mundo, tudo isso a deixara bastante excitada. Era como se uma força nova, que jamais suspeitara possuir, houvesse de repente irrompido, e aquilo lhe proporcionava uma estranha e prazerosa sensação de poder. Javier alertara sobre o perigo, mas quem corria perigo era o seu namorado nos braços de uma princesa caçadora de homem. Ela, porém, Luciane, podia trazê-lo de volta. Tinha esse poder, sim, podia senti-lo como sangue correndo sob a pele.

Talvez Javier estivesse certo. Talvez fosse mesmo uma bruxa. Se era mesmo, saberia naquela noite.

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DESPERTARAM COMO JAVIER PREVIRA. Luciane abriu os olhos na escuridão do quarto. Estava ainda sonolenta, mas pôde ver perfeitamente as árvores do bosque… Pareciam sombras, mas… estavam ali, sim, as árvores estavam ali no quarto!

– Javier?…

– Não fale agora – ele respondeu baixinho enquanto saía da cama pelo outro lado. – Ande, levante.

Ela pôs os pés no chão e ficou de pé. A sensação era de sonho, mas podia sentir, pouco a pouco, a realidade concreta do quarto se apoderando de seus sentidos, de seu pensamento, como se a chamasse de volta…

Então, viu Javier tomando a trilha de terra entre as árvores e rapidamente o seguiu.

E foi como acordar. De repente, sentiu-se desperta. Estava no bosque, caminhando. Um silêncio tão grande, tão perfeito que metia medo. As árvores, o cheiro de mato… Era tudo real e, no entanto, era tudo meio nebuloso, como num sonho. Caminhava, mas não sentia bem o chão. Tocava as árvores, mas não as sentia inteiramente. Era como se seus sentidos estivessem anestesiados. O pensamento, porém, funcionava perfeitamente.

Não podia ser verdade, pensou. Devia ser alguma espécie de sonho…

– Pare de pensar, sua boba! Se continuar questionando, você automaticamente volta!

Javier estava pasmo: ela conseguira. O que uma mulher ciumenta não fazia…

– Onde está você, Javier? – Ela o escutava, mas não o via.

– Fiquei no meio do caminho, não consigo entrar mais. Mas não se preocupe comigo. Daqui posso ver você.

– Onde eles estão?

– Concentre-se.

Luciane fechou os olhos, e de repente soube que deveria pegar à esquerda. Caminhou durante algum tempo. Não tinha mais medo. Sentia-se forte e determinada. Após uma curva, avistou o banco de madeira e, logo mais à frente, o lago e o pequeno ancoradouro. Correu para lá, ansiosa. Mas não encontrou ninguém. Apenas água e névoa. E o silêncio.

– Eles já foram, Javier!

– Então você chegou tarde, meu bem.

– Mas não devem estar muito longe… – disse ela, procurando. A névoa sobre o lago, porém, não permitia enxergar mais que alguns metros.

– Acho que foi melhor assim, Luciane.

Ela mergulhou um pé na água. Era suave e morna.

– Ei, o que está fazendo?

Ela não respondeu.

– Luciane!

Ela mergulhou o outro pé.

– Sua desmiolada, você não vai encontrar ninguém nesse nevoeiro!

Enquanto avançava, ela sentia vagamente o chão do lago sob seus pés, a água subindo devagar pelo seu corpo…

– Luciane, saia daí enquanto é tempo. Você pode nunca mais encontrar o caminho de volta.

Ela começou a nadar, e era como se nadasse em nuvens.

– Junior! – ela gritou, entrando cada vez mais na névoa, e seu grito ecoou durante um longo tempo pelo silêncio infinito do lago.

Gritou de novo, mais forte. E ficou aguardando, flutuando… Mas nada, nenhum som de volta. Nadou novamente, cada vez mais para dentro das brumas. Algum tempo depois escutou:

– Lu, é você?

– Sou eu, Junior! Estou aqui!

Luciane sentiu uma irresistível alegria tomar-lhe conta. Junior estava ali em algum lugar – ela conseguira. Desafiara as leis da magia e vencera. Javier tinha razão: era mesmo uma bruxa. E quanto não havia perdido sem saber disso?

– Onde você está, meu amor? – ela gritou, excitada.

Pouco a pouco distinguiu no meio da bruma os contornos do bote e, em pé, a figura de Junior, empurrando-o com uma longa vara. Viu sua roupa de cavaleiro, a cota de malha, a calça justa, as botas… Em outra ocasião o acharia inteiramente ridículo e teria um acesso de riso. Mas agora não. Estava lindo… Aquele era o seu homem. Apenas seu e de mais nenhuma outra mulher.

Mas havia algo estranho… Havia algo novo em Junior, uma coisa diferente… Ficou a observá-lo enquanto flutuava. Ele estava realmente mais bonito, mas havia algo mais… Havia uma dignidade. Sim, uma dignidade, uma altivez de cavaleiro, uma postura digna de alguém… a serviço de uma princesa.

Nesse instante, desapareceu a alegria do reencontro e, em seu lugar, desceu-lhe a terrível sensação de ser preterida por outra mulher. Junior nunca se portara assim por ela. E a tal princesa, onde estava?

– Lu, o que está fazendo aqui?

– Vim buscar meu namorado, ora – ela respondeu, agarrando-se ao bote.

– Luciane, não! – Era a voz de Javier. – Você não precisa subir!

Ela subiu rapidamente.

– Meu amor, o que você está fazendo? – Junior perguntou, assustado. – Não pode ficar aqui.

– Eu pergunto, Junior, eu pergunto – ela falou, muito séria, pondo-se de pé no bote. – Que diabo você está fazendo aqui enquanto eu… Aliás, cadê a vaca?

– Quem?

– A princesa fajuta.

– Não está vendo?

Luciane não via ninguém além dele.

– Deve ter se mandado quando me viu. Pelo menos sensata ela é.

– Lu, você não pode ficar aqui.

– Me diga só uma coisa: o que essa princesa tem que eu não tenho, heim? Pode falar, não vou ficar com raiva.

– A gente conversa depois, Lu. Tenho que conduzir a princesa até seu reino. Quando eu voltar, a gente…

– Não, você vai voltar agora, vamos pra casa. Você não imagina o que eu passei por causa desse seu sumiço.

– Não posso, Lu. Por favor, compreenda…

– Junior, eu admito que errei algumas vezes… Você ainda me ama?

– Lu, você está estragando tudo!

– Eu não volto sem você.

– Eu não posso voltar agora! – Junior gritou, angustiado. – Você não entende? Eu não posso!

– Então também vou. Quero conhecer esse reino.

– Luciane, sua louca excomungada! – A voz de Javier. – Saia já daí!

– Dois homens querendo mandar em mim… Um metido a cavaleiro e uma bicha doida. Era só o que faltava. Junior, como você pode estar apaixonado por uma mulher que não existe, seu bobo? Eu existo, olhe pra mim…

– Lu, vou ter de botar você pra fora desse bote…

– Eu sou uma bruxa, meu amor. Você não pode comigo.

– Luciane, não faça isso! – Javier gritou de novo.

Junior a agarrou e a imobilizou. Mas Luciane tentou escapar e os dois perderam o equilíbrio. E caíram na água, afundando rapidamente, enquanto o silêncio voltava a tomar conta do lago.

Alguns segundos depois um corpo veio à tona. Era Luciane.

– Junior! – ela gritou, desesperada. Mas não escutou nada. – Junior!!!

Nenhuma resposta. Só o silêncio do lago.

– Javier, me ajude!

Mas Javier também não respondeu. Luciane procurou o bote e não o viu. Ao seu redor a névoa, a névoa sem fim. E o silêncio infinito, aterrorizante. O silêncio ensurdecedor.

– Junior!!! – ela gritou, cada vez mais desesperada, enquanto procurava a margem e não encontrava.

Mas ninguém respondeu.

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QuandoOsHomensNaoVoltamParaCasa-1DE MANHÃ CEDO, Javier levantou. Sentia-se cansado. Ao lado da cama havia um quadro com a paisagem de um bosque, um lago com ancoradouro e um banquinho de madeira. Nem princesas nem cavaleiros.

Minutos depois, fechou a porta do apartamento e saiu. Na rua o sol brilhava forte. Ele pôs o óculos escuro, fez sinal para um táxi e entrou. Deu bom dia ao motorista, indicou-lhe o endereço e acomodou-se no banco traseiro.

Por que mulher tinha de ser tão teimosa?, pensou. Tanto aviso para nada. Uma pena. Um talento maravilhoso desperdiçado. E o moço, tão bonito… Ele abriu o bolso do casaco e conferiu o maço de dinheiro, os três mil do serviço.

Mais adiante, quando passavam pelo parque, Javier viu a multidão, um carro da polícia parado. O táxi diminuiu a velocidade. Ele aproveitou e perguntou a uma senhora o que estava acontecendo. Ela respondeu que haviam encontrado dois corpos no lago. Um rapaz e uma moça.

Javier quase pediu para o motorista parar. Mas achou melhor não. Tinha certeza que não iria gostar nada do que veria.

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Ricardo Kelmer 1997 – blogdokelmer.com

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GuiaDeSobrevivenciaCAPA-1cEste conto integra o livro
Guia de Sobrevivência para o Fim dos Tempos

O que fazer quando de repente o inexplicável invade nossa realidade e velhas verdades se tornam inúteis? Para onde ir quando o mundo acaba? Nos nove contos que formam este livro, onde o mistério e o sobrenatural estão sempre presentes, as pessoas são surpreendidas por acontecimentos que abalam sua compreensão da realidade e de si mesmas e deflagram crises tão intensas que viram uma questão de sobrevivência. Um livro sobre apocalipses coletivos e pessoais.

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Comentarios01COMENTÁRIOS

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01- A “releitura” (somente uma nova leitura) me tocou quando percebi que a jornada de Júnior “quadro a dentro” para levar a princesa de volta para o reino e que somente ele poderia fazê-lo, seria um resgate, ou uma busca de harmonização dele mesmo. Colocar esse feminino no seu lugar dentro dele. Nossa! que linda metáfora! O quanto de amor ele sentia por sua namorada, cega de raiva e ciúmes do fantasma de todos os femininos. No final a tragédia do lago trazendo na minha visão da leitura, a morte do relacionamento. Quando ele compartilha com ela sua jornada e ela não consegue perceber, deu uma dó de tudo. Dele, dela, dos feminos e masculinos distorocidos. Um conto bem masculino com muita sensiblidade. Ivonesete Rodrigues, Fortaleza-CE – dez2012

02- Muito interessante esta releitura “cega de raiva e ciúme” e quem sabe e talvez cega de amor para trazê-lo de volta à realidade! Adorei! O melhor do livro! Michele SJ, Fortaleza-CE – jan2013

03- Que texto FANTÁSTICO,Ricardo Kelmer Do Fim Dos Tempos!!!Riquíssimo!!!Por trás de tanta magia,muitas reflexões podem ser feitas tanto em relação ao comportamento feminino como o masculino,dentro de um relacionamento a dois!!!Quantas vezes,nós,mulheres,enxergamos princesas e vocês,homens,enxergam príncipes encantados que só existem nos quadros da nossa imaginação?Muitas,né?Por conta desses pensamentos lúdicos,acabamos nos aventurando por lagos perigosos e desconhecidos,nos afogando,muitas vezes, e,colocando tudo a perder!!!!Como diz a frase: o ciúme é sempre um mau conselheiro!!!! Silvana Alves, Fortaleza-CE – jan2013

04- Nesse aqui o Ricardo Kelmer Do Fim Dos Tempos quebrou tudo. Vale muito a pena ler. E o livro todo é sensacional. Marcelo Gavini, São Paulo-SP – jan2013

05- Ainda não consegui terminar de ler todos, mas este foi o que eu mais gostei! Maria do Carmo, São Paulo-SP – jan2013


Os ensaboados da nova consciência

15/01/2013

15jan2013

Desde seu início, o encontro prioriza o diálogo e a troca sadia de experiências, buscando o fio de unidade que permeia todas as coisas

OsEnsaboadosDaNovaConsciencia-1

OS ENSABOADOS DA NOVA CONSCIÊNCIA

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O Nordeste é mesmo uma terra curiosa. Nas ladeiras de Olinda chacoalha o mais divertido carnaval do planeta, e enquanto isso, a 200 km dali, na cidade serrana de Campina Grande, Paraíba, centenas de pessoas de todo o país e das mais diversas tendências se reúnem todo ano num grande evento onde se abraçam arte, filosofia, ciência e tradições. É o Encontro da Nova Consciência, um festival holístico que funciona, desde 1992, como um notável ponto de convergência da grande diversidade do pensamento humano.

Eu soube do evento em janeiro de 1996 por minha tia Liney, que de Recife me ligou para contar que sonhara que eu dava uma palestra no encontro. “Envia teu livro! Quem sabe eles te convidam…” Foi o que fiz, enviei um exemplar do Quem Apagou A Luz?, meu primeiro livro, recém-lançado. Dias depois lá estava eu dando a palestra, o sonho se realizara. O convite se repetiu, e pelos anos seguintes, no teatro municipal, falei sobre o filme Matrix, taoísmo, Jung, mitologia… Talvez minhas palavras tenham acrescentado algo de útil a alguém, mas muito mais aprendi que ensinei durante esses anos. Depois tornei-me apresentador dos eventos artísticos da noite, papel no qual me senti muito à vontade.

Em Campina Grande conheci pessoas que trouxeram mudanças significativas à minha vida. Escritores, artistas, cientistas, educadores, religiosos, líderes indígenas, gente simples do povo ‒ de todos eles absorvi conhecimentos e muitos tornaram-se meus amigos, maravilhosas amizades interdisciplinares. Foi lá também que vivenciei experiências com plantas de poder, como a ayahuasca e a jurema, e vi alargarem-se os horizontes de minha percepção da realidade e de mim mesmo.

À primeira vista, reunir tantas ideias diferentes no mesmo espaço pode soar caótico e inútil. No entanto, desde seu início, o encontro prioriza o diálogo e a troca sadia de experiências, buscando o fio de unidade que permeia todas as coisas. Isso me lembra o ato de escutar as várias testemunhas de um acontecimento: mesmo distintas entre si, as versões do mesmo fato contribuem para uma visão mais abrangente e precisa do todo.

Da plateia do teatro disparam flashes a toda hora: as pessoas querem uma recordação do dia em que sentaram à mesma mesa e se abraçaram representantes de diferentes religiões, todos acreditando que é possível sim transformar este mundo num lugar onde todas as crenças convivam em harmonia. Física quântica, psicologia, ecologia, medicina natural, educação, tarô, xamanismo – o evento é um colorido encontro das diversas versões da realidade. Lá a sociedade também discute seus problemas: loucura, alcoolismo, aids, prostituição, a questão indígena e os conflitos étnico-religiosos. Há espaço também para outros problemas como, por exemplo, decidir o melhor lugar para aguardar a chegada das naves extraterrestres que virão nos resgatar. Isso, é claro, para os que querem ser resgatados. Não sei informar quantos lugares há nessas naves, me desculpe a ignorância no assunto, mas no Encontro eu sei: tem espaço para tudo.

Lembra do ET de Varginha? Pois ele já esteve por lá, em slides. O evento também oferece passeio a sítios arqueológicos, há uma feira com vários expositores, um encontro de ateus e agnósticos e até mesmo um encontro mundial de, acredite, ex-ufólogos, só no Nordeste mesmo. Depois das palestras, debates e oficinas, vem a noite na praça, com seus bares e um grande palco onde se revezam dança, teatro, poesia, cinema e shows musicais que vão do forró ao metal mantra. Com direito a cervejinha gelada que ninguém é de ferro, né?

O evento possui um caráter naturalmente democrático, pois dele fazem parte até mesmo os que são contra. Isso pode ser aferido logo à entrada do teatro: de um lado, barulhentos e divertidos Hare Krishna, com suas roupas coloridas e instrumentos exóticos, entoando aqueles mantras dançantes, e do outro lado evangélicos distribuindo panfletos onde demonstram que esse negócio de Nova Era é coisa do demo.

No fim, vendo todas aquelas tradições, ciências, artes e filosofias dançando e celebrando de mãos dadas, vendo negros e brancos e índios, cristãos e muçulmanos entoando cânticos ao planeta e à humanidade, lembrei do festival de Woodstock. Passados 40 anos, cá estamos nós, no interior nordestino, buscando as mesmas coisas que aqueles pacíficos sonhadores: paz, amor, liberdade, união, respeito às diferenças…

Houve um ano em que fui para lá aproveitando a carona de meu amigo André Barbacena. Ele estava indo para Olinda, curtir aquele incrível carnaval que eu já conhecia de outros anos, e seguimos em seu fusca. André deu um gole na cerveja e logo enganchou seu coração na cintura de uma bela passista de frevo que descia a ladeira dos Quatro Cantos. Desejei-lhe felicidades e me despedi, combinando o reencontro para logo após o reinado de Momo. Botei a mochila nas costas e peguei o ônibus para Campina Grande, o coração no ritmo do frevo.

Na quarta-feira de cinzas lá estava eu de volta a Olinda. André, cansado mas alegre, trazia ainda uma cerveja na mão e um bocado de história para contar. Enquanto degustávamos uma tapioca com queijo, ele me falou do quanto se divertiu no bloco dos ensaboados, um bocado de gente descendo a ladeira ensaboando e passando xampu uns nos outros com um carro atrás jogando água, olha que coisa. Eu desatei a rir imaginando a cena.

Assim como nós em Campina Grande e os cabeludos de Woodstock, os ensaboados de Olinda, com sua alegoria, também desejam um mundo mais limpo, mais alegre e mais unido. Com muito frevo, amor e paz. Amém. Shalom. Oxalá. Axé.

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Ricardo Kelmer 2002 – blogdokelmer.com

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Site do evento: novaconsciencia.com.br

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LEIA NESTE BLOG

DiversosEIguais-01aEncontro da Nova Consciência – Diversos e iguais – Não precisamos concordar com os outros. Mas podemos aceitá-los, tanto quanto quisermos também ser aceitos

O psicólogo, a humanidade e a esperança – Os acontecimentos mostram que a humanidade está se unificando, unindo seus opostos

Entrevista com o ateu – Um pregador evangélico entrevista um escritor ateu

Pátria amada Terra – É animador ver as novas gerações convivendo mais naturalmente com essa noção de cidadania planetária

A imagem do século 20 – Vimos nossa morada flutuando no espaço. Vimos um planeta inteiro, sem divisões. Não vimos este ou aquele país: vimos o todo

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 01- Adoro! Paula Izabela, Juazeiro do Norte-CE – jan2013

02- gostaria de conhecer…. Dhara Bastos, Fortaleza-CE – jan2013

03- Reunião de todos os loucos do Brasil.. Andre Soares Pontes, Fortaleza-CE – jan2013

04- Lá tem espaço para mostrar trabalhos em arteterapia Kelmer? Ppue se der acho q vou programar uns dias nessa “loucura” como disse o Andre Soares3>. Izabel Castro, Fortaleza-CE – jan2013

05- “Assim como nós em Campina Grande e os cabeludos de Woodstock, os ensaboados de Olinda, com sua alegoria, também desejam um mundo mais limpo, mais alegre e mais unido. Com muito frevo, amor e paz. Amém. Shalom. Oxalá. Axé.” Esse encontro entre as diferenças é a prova de que ainda é possível extirpar o maior câncer da humanidade: a intolerância!!! Silvana Alves, Fortaleza-CE – jan2013


Fim do mundo inesquecível em Jericoacoara

01/10/2012

Ricardo Kelmer 2012

Concorra a um fim de semana pra casal numa das praias mais lindas do mundo

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Criei uma promoção pra divulgar o lançamento de meu livro de contos Guia de Sobrevivência para o Fim dos Tempos. Ela brinca com a crença que o mundo vai acabar em 21 de dezembro de 2012. A promoção acontece no Facebook e pra participar, basta compartilhar a postagem da promoção e deixar nome e cidade. Obrigado à Pousada Casa do Ângelo, que tem o saudável hábito de apoiar causas culturais. Eis o texto:

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FIM DO MUNDO INESQUECÍVEL EM JERICOACOARA
> sorteio de pacote para casal (3 dias + transporte + livro)

Se o mundo vai mesmo acabar no fim do ano, melhor estar numa praia paradisíaca, hospedado numa pousada aconchegante e acompanhado do novo livro de contos de Ricardo Kelmer. E se o mundo não acabar, você terá boas histórias pra contar…

SORTEIO – A Pousada Casa do Ângelo, em Jericoacoara-CE, sorteará um pacote de 3 dias (21 a 23.12.12) para casal, incluindo transporte ida e volta Fortaleza-Jericoacoara-Fortaleza, além de 1 exemplar do livro Guia de Sobrevivência para o Fim dos Tempos (contos fantásticos, Editora Arte Paubrasil), de Ricardo Kelmer. Para participar compartilhe esta postagem e deixe seu nome e cidade. Sorteio: 31.10.12 pela Loteria Federal. O prêmio nao é transferível. Se você curtir a página do livro, ganhará mais dois livros do autor (à sua escolha).

DESCONTO – Participantes da promoção podem adquirir o livro por R$ 22, com dedicatória e frete incluído.

LEITORES QUE ADQUIRIRAM NA PRÉ-VENDA receberão o livro pelo correio até o início de novembro

PÁGINA DO LIVRO NO FACEBOOK

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PARTICIPANTES DA PROMOÇÃO: 26
até 01.10.12, 20h

CE – Alyson Fernandes Basilio, Bruna Braun, Camila Souza, Cledson Ramos Bezerra, Danielle Freire, Esther de Paula, Fabio Oliveira, Felipe Araújo, Gustavo Lima Verde, Hawylla Gonçalves, Jefferson Roberto, Lano Lima, Letícia Silva, Linda Mascarenhas, Michele SJ, Paulo Costa, Quel Raquel, Rochelle Araujo, Sandra Alves Ribeiro, Soraya Aquino (Fortaleza), Adryanno Ferreira, Paula Izabela (Juaz. do Norte)
PB – Samantha Pimentel (Campina Grande)
PR – Ana Cristina Suzina (Ponta Grossa)
PI – Teresinha Itapirema (Parnaíba)
RR – Suely Bezerra (Boa Vista)
SP – Juliana Martins (SB do Campo), Barbara Leite, Durval Brasil, Maria Do Carmo Antunes, Maria Pimentel (São Paulo)

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SOBRE O LIVRO

Publicado originalmente em 1997, o livro foi reescrito e alguns contos mudaram bastante. Em minha opinião, ficou bem melhor. Nos nove contos que formam este livro, onde o mistério e o sobrenatural estão sempre presentes, os personagens são surpreendidos por estranhos acontecimentos que abalam sua compreensão da realidade e de si mesmos e deflagram crises tão intensas que podem se transformar numa questão de sobrevivência. Um livro sobre apocalipses pessoais.

LANÇAMENTOS – Em breve divulgarei as datas e locais dos lançamentos em São Paulo, Fortaleza e outras cidades.

> Saiba mais, leia contos e comentários

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pousadacasadoangelo.com.br

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O fim dos tempos chega primeiro aqui

10/07/2012

Ricardo Kelmer 2012

Putz, Kelmer, minha situação financeira tá horrorosa… Sério? Então parabéns, seus problemas acabaram


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Meu livro de contos fantásticos Guia de Sobrevivência para o Fim dos Tempos (Editora Artepaubrasil, 2012) será lançado em outubro. Os leitores que adquiriram com aquele descontão na pré-venda receberão o livro pelo correio, com seus nomes devidamente constantes na página Galeria de Leitores Especiais. Chique no último.

E os Leitores Vips? Diferente dos simples mortais, eles poderão adquirir o livro diretamente comigo com um bom desconto. Chique no penúltimo.

Putz, Kelmer, minha situação financeira tá horrorosa… Sério? Então parabéns, seus problemas acabaram. Você pode ler alguns contos aqui no blog ou baixar gratuitamente o piratão (pdf) pra ler no computador ou imprimir. Pode não ser chique mas funciona.

Prefiro que leiam o piratão oficial pois como enviei o livro ainda não finalizado pra algumas pessoas analisarem, versões não-autorizadas podem circular pelaí. E se você gostar do livro, repasse o arquivo aos amigos pois é assim que espero que ele se torne rapidamente conhecido. Em 2013 a editora deverá lançar o e-book oficial, com todos aqueles recursos bacanudos e coisital.

E o meu buchão aí na revista Pinheiros Vip, gostou?

SOBRE O LIVRO

Publicado originalmente em 1997, o livro foi reescrito e alguns contos mudaram bastante. Em minha opinião, ficou bem melhor.

Nos nove contos que formam este livro, onde o mistério e o sobrenatural estão sempre presentes, os personagens são surpreendidos por estranhos acontecimentos que abalam sua compreensão da realidade e de si mesmos e deflagram crises tão intensas que podem se transformar numa questão de sobrevivência. Um livro sobre apocalipses pessoais e coletivos.

RESUMO DOS CONTOS
alguns estão disponíveis p/ leitura no blog

O íncubo – Íncubos eram demônios que invadiam o sono das mulheres para copular com elas, uma difundida crença medieval. Mas… e se ainda existirem?

Quando os homens não voltam para casa – Mulher contrata os serviços de um sensitivo para reencontrar o namorado que foi atraído por uma bela princesa para dentro de um quadro de parede.

O cilindro da luz azul – Em sua luta para sobreviver num mundo apocalíptico de autoritarismo e violência, casal descobre estranhos cilindros trazidos pelo mar.

A vertigem – Dizem que seo Pepeu, o louco da cidade, possui dois bichinhos mágicos que localizam coisas perdidas e fazem as pessoas se encontrarem. Mas ele está velho e tem de passar a alguém a missão de cuidar dos bichinhos.

Pequeno incidente em Hukat – Integrante do Projeto Sapiens de Monitoramento Planetário descobre irregularidades comprometendo a evolução da espécie humana e se envolve em rebelião contra Deus, o psicomputador.

Crimes de paixão – Detetive investiga estranhos crimes envolvendo personagens típicos da boêmia Praia de Iracema e descobre que alguém pretende matar a noite.

O presente de Mariana – A cabocla Mariana, entidade da umbanda, propõe noivado ao moço Dedé. Ela garante estabilidade financeira mas em troca exige fidelidade absoluta.

Há algo de podre no 202 – Quando crianças, as primas guardavam um terrível segredo sobre o amanhecer. Agora que cresceram, o que pode acontecer?

O strip-tease – Criaturas do futuro que voltam no tempo para garantir que eles mesmos, no passado, não cancelem o futuro – esses são os Observadores.

> Saiba mais, leia comentários, baixe o piratão oficial

> Baixe outros livros kelméricos

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Comentarios01 COMENTÁRIOS
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01- Detestei te ver nu e grávido,mas reconheço que a estratégia foi ótima pra gente se manter ligado às últimas do blog.Tb não sou mulher de ¨piratão”… Hehehe.Acredita q ainda sou mocinha e ainda tenho TPM? Pois é.Acho q vc me pegou num mau dia,pobre Kelmer! Mas,apesar dos pesares, ailóviu, vc sabe disso. Bjs da loura 🙂 Mônica B, Recife-PE – jul2012

02- rapaz! to em choque! hehehe… quer dizer que no atual momento vc está de licença maternidade? hehehe… abçomano. Marcelo Ferrari, São Paulo-SP – jul2012

03- Putz Ricardo, quem é o pai? Blz, arrasou na curtição! Espero que o lançamento seja o maior sucesso e as vendas ainda mais! cheiro Amaury, Fortaleza-CE – jul2012

04- Kelmer, voce está IRRESISTÌVEL assim! UAU! Tentei postar no seu blog mas ele não deixou. Precisa CPF, RG, carta de boas intenções, jurar que eu sou eu mesma mesmo e que mais…? beijo! parabens! Beatriz Del Picchia, São Paulo-SP – jul2012

05- fio, até grávido vc fica lindo! bjão. Renata Regina, São Paulo-SP – jul2012

06- kkkkkkkkkkk… Paula Medeiros de Castro, São Paulo-SP – jul2012

07- kkkkk ‘Believe Ricardo. Krishna Eufrásio, Fortaleza-CE – jul2012

08- ‎Ricardo Kelmer,sou sua fã. Fadinha, Fortaleza-CE – jul2012

09- diabéisso tio???? kkkkkkkkk Laís Galvão, Fortaleza-CE – jul2012

10- comeu o que mesmo,kkkkkkkkkk. Luciene Maia, Fortaleza-CE – jul2012

09- kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk meu primo !!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! Ângela Dias, Fortaleza-CE – jul2012

10- Dia 06/10 seria um dia muito especial para o lançamento desse livro. Que tal? rsrsrsrsrsrs. Maria do Carmo Antunes, São Paulo-SP – jul2012

11- Vou fazer o parto. Vânia Dias, Fortaleza-CE – jul2012

12- Vou ser a madrinha??? Kkkkkkk. Karen Brochado, Fortaleza-CE – jul2012

13- Cruzes!!!!!!!!!!!!!!!!! Virgínia Ludgero, Lisboa-Portugal – jul2012

RK: Coisa boa é mulher rindo / O que pode ser mais lindo? / Só mesmo mulher gozando / Até se goza chorando / Seja no riso ou no gozo / Não tem nada mais mimoso / É tudo o que a vida quer / Ver prazer numa mulher 🙂 São Paulo-SP – jul2012


As quarenta raposas

27/02/2012

27fev2012

Um silêncio vindo de fora do tempo caiu sobre sua figura altiva, e naquele eterno segundo ela foi o anjo vingador: belo, justo e implacável

AS QUARENTA RAPOSAS

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O desfile chegara ao fim. A última modelo concluíra sua performance e a plateia ainda aplaudia, quando de repente cessaram a música e as luzes. Os aplausos silenciaram e ficaram todos em expectativa. Foi nesse exato instante, no vácuo dos pensamentos, que o anjo da morte surgiu, e sua presença arrepiou a todos. Surgiu no início da passarela. Parecia ser apenas mais uma modelo num casaco de pele da coleção de inverno. Mas não era. Mais tarde a produção simplesmente não saberia explicar quem era aquela mulher. A equipe de modelos também não a reconheceu, e os seguranças balbuciaram desculpas.

Ela postou-se à entrada, séria, e cravou seus olhos negros por sobre a plateia. Um frisson correu pelo ambiente. Um vento frio cruzou o salão. Mas não se ouviu nenhum rumor, absolutamente nada, e flash nenhum foi disparado. A vida ficou suspensa e nada mais existiu. Um silêncio vindo de fora do tempo caiu sobre sua figura altiva, e naquele eterno segundo ela foi o anjo vingador: belo, justo e implacável.

E, no entanto, era linda, irresistivelmente linda… E sua figura atraía os olhos feito ímã. O casaco de pele de cor castanho deixava à mostra seus joelhos e os pés tocavam descalços a passarela. O rosto tinha traços indígenas sul-americanos e o cabelo negro descia numa trança pelas costas. E era rude e imperturbável seu olhar.

Pôs-se então a caminhar. Seu andar lento e seguro seguiu pelo silêncio frio da passarela, como se pisasse o interior de cada um. E em cada um o negrume dos seus olhos cravou-se sem dó, como um justiceiro que desnuda os pensares e nada escapa de seu julgamento. De repente, todos sentiram-se indignos, e era como se sua presença os enchesse a todos de uma dolorosa vergonha, vinda de algum lugar dentro deles mesmos.

Completado o percurso, ela parou e levou as mãos às costas. De um gesto libertou os longos cabelos, que espalharam-se pelo ar e assentaram-se sobre os ombros, pousando macios nas costas. Nesse momento a música disparou e as luzes coloridas voltaram a piscar. E o angustiante silêncio foi finalmente preenchido.

Agora era o ritmo frenético da música em alto volume. Agora eram as cores dos holofotes, piscando alucinadas. Seu passo tornou-se mais rápido. Ela percorreu o segundo corredor, perpendicular ao primeiro. E desabotoou o pesado casaco. Após o derradeiro botão, começou a girar, a girar, e seu casaco, acompanhando o movimento, parecia uma hélice. Aos olhos pasmos de todos surgiu o seu corpo nu, inteiramente nu. E ninguém conseguiu desviar o olhar daquele exótico bailado.

As primeiras gotas de sangue salpicaram os fotógrafos à beira da passarela, eles que depois perceberiam não terem feito foto alguma. O sangue bateu-lhes no rosto, no peito e atingiu os equipamentos. Surpresos, contorceram-se agoniados e cheios de nojo enquanto os primeiros gritos explodiam na plateia. Nas mesas mais atrás aquelas pessoas finamente vestidas viram, de um segundo para outro, suas roupas respingadas de sangue e também seus rostos e as taças de champanhe.

Enquanto ela girava e girava na passarela, o terror explodiu num grande rumor abafado pela música estrondosa. Rostos ensanguentados, semblantes apavorados. Roupas salpicadas de vermelho e gritos de pavor. Uns choravam descontrolados, sem compreender de onde vinha tanto sangue, outros corriam pela multidão sem saber para onde ir. Era de repente um imenso pesadelo, absurdo e real.

Então ela parou de girar. Livrou-se do casaco. Seu corpo nu surgiu inteiro e vigoroso sob o piscar das luzes. E ela caminhou para o lugar por onde entrara. O corpo nu avançou em passos serenos e decididos enquanto o braço arrastava atrás de si o pesado casaco, feito uma longa cauda castanha, deixando pelo chão um largo rastro de sangue.

Ela chegou ao início da passarela e foi recebida pelo estilista idealizador da coleção, que tentou falar, mas nada conseguiu dizer. Seu olho negro o atingiu em cheio, imobilizando-o, e por um momento ele viu não uma mulher, mas um bicho. Ela depositou pesadamente em seus braços o casaco ensopado de sangue, e antes de sumir para sempre, disse, bem perto de seu ouvido, para que a música não o impedisse de compreender o mais importante:

– É preciso matar quarenta raposas para fazer um casaco desses.

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Ricardo Kelmer 1996 – blogdokelmer.com

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vtcapa21x308-01> Este texto integra o livro Vocês Terráqueas – Seduções e perdições do feminino

 

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LEIA NESTE BLOG

O íncubo – Íncubos eram demônios que invadiam o sono das mulheres para copular com elas, uma popular crença medieval. Mas… e se ainda existirem?

As fogueiras de Beltane – A filha da deusa está pronta. O ritual do casamento sagrado vai começar

Minha noite com a Jurema – Nessa noite memorável fui conduzido para dentro de mim mesmo pelo próprio espírito da planta, que me guiou, comunicou-se comigo, me assustou, me fez rir e ensinou coisas maravilhosas

Cristal – Ele quer falar sobre tudo que viveu ali dentro, todos aqueles anos, os amores e desamores, o quanto sofreu e fez sofrer, perdeu e se encontrou… Mas não precisa, ela já sabe

Xamanismo de vida fácil – A tradição xamânica dos povos primitivos experimenta uma espécie de retorno, atraindo o interesse de pesquisadores e curiosos

O desejo da Deusa – Um encontro na praia, as forças da Natureza e um deus repressor

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RK na Nova Consciência 2012

19/02/2012

Ricardo Kelmer 2012

Um festival multicultural que reúne arte, ciência, filosofia e tradições religiosas

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O Encontro da Nova Consciência é realizado desde 1992, durante o Carnaval, em Campina Grande, Paraíba. É um festival multicultural que reúne arte, ciência, filosofia e tradições religiosas, buscando um mundo melhor pelo caminho do respeito às diferenças. Nesta 21ª edição, farei duas palestras, participarei de duas mesas e lançarei o livro novo. Eis os horários de minhas participações:

> 6ª feira, 17fev

AUDITÓRIO SESC CENTRO
21h40 – Palestra – “A revolução do mundo autoconsciente: Cidadania global como saída para a crise evolutiva”.

> Sábado, 18fev

3º ENCONTRO DE LITERATURA CONTEMPORÂNEA
15h30 – Mesa: “Realismo fanástico, RPG e a escrita de ficção científica”. Com André de Sena (escritor, jornalista-PE) e Wander Shirukaya (escritor-PB). Mediação: Bruno Ribeiro (PB).
16h45 – Lançamento do livro “O irresistível charme da insanidade” (romance, Editora Artepaubrasil-2011).

> 2ª feira, 20fev

AUDITÓRIO SESC CENTRO
14h – Mesa – “Produção cultural independente: ou colaboramos ou evaporamos”. Com Alberto Marsicano (Citarista-SP), Rayan Lins (Coletivo Mundo-PB) e Diogo Rocha (Coletivo Natora-AL). Coord.: Arthur Pessoa (Músico-PB).

> 3ª feira, 21fev

14º ENCONTRO DE ATEUS E AGNÓSTICOS
14h – Palestra – “Ativismo ateu: chatice ou necessidade?”

2º ENCONTRO DE COMUNICAÇÃO E MÍDIAS DIGITAIS
17h – Palestra – “Internet livre x direitos autorais – Mocinhos e vilões na guerra pelo controle da cultura mundial”

ENCERRAMENTO
Leitura da crônica Medo de Mulher (dedicada às mulheres violentadas e mortas em Queimadas-PB, em 12.02.12)
> Baixe o arquivo de áudio dessa leitura (mp3, 8mb)

> Todas as noites

Na praça, é claro, curtindo os shows da programação musical, que apresenta atrações locais, de outros estados e de outros países.

PROGRAMAÇÃO COMPLETA DO EVENTO

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VÍDEO DA PALESTRA
“A revolução do mundo autoconsciente – Cidadania global como saída para a crise evolutiva”

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O Irresistível Charme da Insanidade

Um músico obcecado pelo controle da vida. Uma viajante taoísta em busca de seu mestre e amante do século 16. O amor que desafia a lógica do tempo e descortina as mais loucas possibilidades do ser.

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01- Ainda não conhecia o trabalho de Ricardo Kelmer, mas fiquei encantada de uma forma, que com certeza vou procurar suas obras para ler, principalmente seu filho mais recente, adorei o enredo… Harriet Galdino, Campina Grande-PB – fev2012



Guia de Sobrevivência para o Fim dos Tempos – Pré-venda

18/01/2012

Ricardo Kelmer 2012

Adquira antecipadamente com um ótimo desconto, tenha seu nome no livro e receba em casa, antes mesmo das livrarias


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“O que fazer quando de repente o absurdo invade nossa realidade e as velhas verdades se tornam inúteis? Para onde ir quando o mundo acaba?”

Meu livro de contos fantásticos Guia de Sobrevivência para o Fim dos Tempos será relançado este ano. E como terei que bancar parte do investimento, já iniciei a pré-venda do livro.

Adquirindo o livro antecipadamente até 10fev, você ganha desconto especial (nas livrarias custará R$ 30) e seu nome constará na obra, na seção Galeria de Leitores Especiais. E você receberá o livro pelo correio no início de abril, com dedicatória, antes mesmo das livrarias.

PREÇOS (pro mesmo endereço, frete incluído)

1 exemplar: R$ 21
2 exemplares: R$ 19 cada
3 exemplares em diante: R$ 19 cada + 1 livreto de brinde (você escolhe o livreto, veja no fim)

BANCOS PARA DEPÓSITO: HSBC, Itaú, Banco do Brasil e Bradesco. Pra participar, envie e-mail pra rkelmer(arroba)gmail.com e eu entrarei em contato informando as contas.

SOBRE O LIVRO

Publicado originalmente em 1997, o livro foi reescrito e alguns contos mudaram bastante. Em minha opinião, ficou bem melhor. Nos nove contos que formam este livro, onde o mistério e o sobrenatural estão sempre presentes, os personagens são surpreendidos por estranhos acontecimentos que abalam sua compreensão da realidade e de si mesmos e deflagram crises tão intensas que podem se transformar numa questão de sobrevivência. Um livro sobre apocalipses pessoais.

> Saiba mais, leia alguns contos, veja comentários

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LIVRETOS DO BRINDE (comprando 3 ou mais livros)
formato bolso, 48 pag

Guia do Escritor Independente (dicas)
Memórias de um Excomungado (crônicas, reflexão, humor)
Um Ano na Seca (conto, erotismo, humor)
O Ultimo Homem do Mundo (conto, terror, humor)
Blog do Kelmer (crônicas, contos)

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Reencarnação e vidas simultâneas

27/05/2011

Ricardo Kelmer 2011

A vida de Luca e Isadora no século 16 influencia suas vidas no século 21 e vice-versa, como se o “eu” existisse em mais de uma vida ao mesmo tempo
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Já pensou você descobrir que numa outra vida já viveu um grande amor com a pessoa que hoje está com você?

É sobre isso o meu romance O Irresistível Charme da Insanidade. É a história do amor maluquete do casal viajandão Luca e Isadora. Ele é um cantor de blues e ela uma mochileira taoísta que acredita ser ele a reencarnação de seu grande amor do século 16. A história se passa simultaneamente na Espanha quinhentista e nas praias do Nordeste do século 21.

Para mim, particularmente, a teoria da reencarnação não faz sentido. Mas é uma ideia que pode render boas histórias. A prova disso é o sucesso dos livros espíritas com suas histórias românticas sobre amores através dos séculos. Tem quem goste. Eu, porém, acho esses livros de uma caretice irritante, argh!, um moralismo açucarado e gosmento, o bem e o mal muito bem definidinhos, seres da luz e seres das trevas, aaaargh! Quem gosta de moralismo e caretice, vou logo avisando, é bom nem chegar perto do meu romance.

Mas voltemos à ideia. Já pensou você descobrir que numa outra vida viveu um grande amor com a pessoa que hoje está com você? Uau!!! Deve ser emocionante, heim? Bem, isso também pode render alguns probleminhas extras, pois o casal terá o dobro de motivos para brigar, além de se confundirem o tempo todo:

– Aquela fulaninha tá ligando pra você de novo.

– De novo não, naquela época não tinha telefone. E você, já deu pro Betão?

– Dei, mas foi na outra vida.

– Acho que a gente tá passando pela crise dos sete séculos…

Mas… e se a outra pessoa não acredita em reencarnação, acha essas coisas uma grande bobagem, acha que você está viajando na maionese, e aí? O que você faria? Tentaria fazer com que ela lembrasse, sugerindo, por exemplo, uma terapia de vidas passadas? Ou se conformaria e deixaria para lá? E se de repente você se pegasse agindo de forma estranha, culpando a pessoa por coisas da outra vida?

Esse é justamente o tema central do meu romance. Nele, no entanto, a ideia da reencarnação funciona como um gancho para uma outra ideia: a multidimensionalidade do ser, em que a consciência não está restrita ao corpo físico nem ao tempo presente, mas atua simultaneamente em várias dimensões do tempo-espaço. A vida de Luca e Isadora no século 16 influencia suas vidas no século 21 e vice-versa, como se o “eu” existisse em mais de uma vida ao mesmo tempo e elas estivessem conectadas.

É uma ideia bem louca, eu sei, eu sei. Mas tem seu charme, admita.

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Ricardo Kelmer 2011 – blogdokelmer.com

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O Irresistível Charme da Insanidade
Romance – Arte Paubrasil, 2011
14 x 21 cm – 160 pag – ISBN: 9788599629352

Um músico obcecado pelo controle da vida. Uma viajante taoísta em busca da reencarnação de seu mestre-amante do século 16. O amor que desafia a lógica do tempo e descortina as mais loucas possibilidades do ser.

Mais sobre o livro e trilha sonora

Para adquirir o livro

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Blues de luz neon – clipe
(da trilha sonora do romance)

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A insanidade está de volta às livrarias

29/04/2011

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Após alguns anos atuando apenas no circuito editorial alternativo, eis que tô de volta às livrarias: a Editora Arte Paubrasil acaba de lançar meu livro O Irresistível Charme da Insanidade. Os eventos de lançamento acontecerão em Fortaleza (10 a 14mai) e em São Paulo (julho). Os leitores que participaram da promoção de pré-venda receberão seus livros pelo correio no início de maio e poderão ver seus nomes na seção Galeria de Leitores Especiais (pag 157), aqui nesta postagem e na seção do livro neste blog.

A história de Luca e Isadora e seu amor que desafia a lógica do tempo foi publicada pela primeira vez em 1996, pela Editora Universalista (PR). Anos depois reescrevi a história e em 2005 publiquei alguns exemplares por conta própria, em formato de bolso (selo Miragem Editorial). Em 2010 finalmente escrevi a versão definitiva e negociei com a Editora Arte Paubrasil. A essência da história é a mesma mas houve alterações nos personagens e em algumas passagens, o final foi mudado e a narrativa ficou mais cinematográfica.

Este livro tem um diferencial: ele tem uma trilha sonora, composta especialmente pra ele por mim e meus parceiros. Se não for o primeiro, certamente é um dos primeiros casos do tipo na literatura brasileira.

A narrativa cinematográfica revela meu desejo de ver esta história transformada em filme. Vamos ver se algum produtor ou diretor se interessa…

> Mais sobre o livro e trilha sonora

> Pra adquirir o livro

> Lançamento em Fortaleza
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FALARAM DO LIVRO POR AÍ

Conexões atemporais  – Jornal Diário do Nordeste, Fortaleza, 10.05.11
O herético e o erótico segundo Ricardo Kelmer – Por Jeite Jr., 20.05.11

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LEITORES ESPECIAIS

Obrigado a todos os leitores que adquiriram este obra antecipadamente na promoção de pré-lançamento (até 24fev2011). Eles ganharam desconto, tiveram seus nomes inseridos na obra e serão os primeiros a receber o livro, pelo correio. Mais que leitores, estas pessoas são grandes incentivadoras do meu trabalho.

Mariana Melo (Maceió-AL), Thais Souza (Manaus-AM), Pat Maria (Salvador-BA), Fernando Veras (Camocim-CE), Paula Izabela (Juazeiro do Norte-CE), Alzira Aymoré, Ana Érika Galvão, Ana Karine Oliveira, Arthur Valente, Eugênio Leandro, Fabiano Brilhante, Glaucia Costa, Iana Bezerra, Marta Aurélia, Monica Fuck, Sandra Macedo, Verônica Guedes, Viviane Avelar (Fortaleza-CE), Meg Lia (Paracuru-CE), Suely Andrade (Brasília-DF), Mardônio Veras (São Luís-MA), Aluska Cavalcanti, Emerson Figueiredo (Campina Grande-PB), Christiane de Oliveira, José Maria Teixeira Jr. (João Pessoa-PB), José Carlos Neves (Belo Horizonte-MG), André de Sena, Rógeres Bessoni (Recife-PE), Joelson Maximiniano (Curitiba-PR), Gabriel Falcão, Maria Emília Lino da Silveira, Pedro Camargo, Regina Coeli Carvalho, Waldemar Falcão, Wilza Mazur (Rio de Janeiro-RJ), Larissa Azevedo (Natal-RN), Arlene Amorim, Edgar Powarczuk, Gisela Symanski (Porto Alegre-RS), Jamile Mileipe (São Carlos-SP), Virginia Mancini (Leme-SP), Antonio Venâncio, Bárbara Leite, Bia Rocha, Celia Terpins, Cesar Veneziani, Graziely Camargo, Kátia Regis Albuquerque, Juliana Cupini, Leopoldo F. Noschese, Lucilene Pacheco, Maria do Carmo Antunes, Renata Regina, Roberta Lossio e Tarcius Guedes (São Paulo-SP), Katiê Ribeiro (Plymouth-Inglaterra), Francisco Fontenele Neto (Lourinhã-Portugal), Luciana Bergstrom (Suécia).

Obrigado também: Gilvanilde Oliveira (Fortaleza-CE). Obrigado pelas observações valiosas: Rosa Emília Costa (Fortaleza-CE), Daniela Ramos (Rio de Janeiro-RJ) e Marcelo Gavini (São Paulo-SP). Obrigado por tudo: Wanessa Bento (Fortaleza-CE).

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Adriana Cardoso (Jundiaí-SP, mai2011)
estreando a seção Insanos Olhares

Envie sua foto com o livro pra rkelmer(arroba)gmail.com

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01- Uauuuuu…..Parabens pelo novo livro e que este seja um sucesso como os outros que escrevestes…..Bjs e muita paz no coração! Sandra Abou Dehn, Cuiabá-MT – mai2011

02- Parabénsss papai! Tim tim! Beijo_ ;-). Kátia Régis Albuquerque, São Paulo-SP – mai2011

03- Parabéns pelo livro… Sucesso!!! Enorme abraço. Michelle Fávero, São Paulo-SP – mai2011

04- Parabéns, querido! Vc está em SP? Eu estou passando uns dias. Só compro se for pessoalmente!!!!rsrsrssrs Beijos. Maria Theodora, Rio de Janeiro-RJ – mai2011

05- adorei saber de vc. sucesso, sempre. há braços. Iumê Colombo, Brasília-DF – mai2011

06- Viva!!! Abraço. Jamile Mileipe, São Carlos-SP – mai2011

07- VAGABUNDO-MOR! Meus Parabéns, Kelmer… Amanhã é meu aniversário (dia 4) e notícias boas como esta sua, servem como um grande presente! Muito feliz mesmo com esta notícia, garoto! Aquele Abraço. Téo Lorrent, São Paulo-SP – mai2011

08- Parabéns, Kelmer! Octávio Roggiero, São Paulo-SP – mai2011

09- Parabéns! Como não tenho champagne estou brindando com “licor de merda” para dar bastante sorte. Aguardando chegar meu exemplar. bjs. Regina Coeli, Rio de Janeiro-RJ -mai2011

10- Parabéns, muito sucesso com o livro!!! Glauco Wiltenburg Nunes, Rio de Janeiro-RJ – mai2011

11- Olá Kelmer, Fico feliz pela vitória e espero que esse livro publicado seja só o começo de muitos outros. Como escrevi para você a um tempo atrás, sou fã do seu livro “Matrix e o Despertar do Herói” e como combinado, quando você publicá-lo novamente me avisaria. Seria legal se, quem sabe, a mesma editora o publicasse também… Um grande abraço e espero ansioso por comprar esse livro com dedicatória e tudo… Jackson Cruz, Belém-PA – mai2011

12- SINCEROS E EFUSIVOS PARABÉNS! \o/ Creio que estarei presente no lançamento em São Paulo. QUEBRA TUDO! 😉 Abração. Sandro Fortunato, Natal-RN – mai2011

13- Grande Ricardo, PARABÉNS !!!! Orgulhosamente já carimbei a compra. Desejo sucesso total e apareça pelo planalto. Forte abraço. Mauro Galvão, Brasília-DF – mai2011

14- Parabens Kelmer! Mereces nao um mas uma caixa de champangne! Vai rolar ai em julho o salão de turismo e em agosto o Piaui Sampa…creio que vale a oportunidade pra divulgar seu livro… Sucesso! Marcos Fonteles, Parnaíba-PI – mai2011

15- Parabéns,querido! Muito sucesso pra vc! “Xêros” recifenses. Mônica Burkleward, Recife-PE – mai2011

16- Parabéns…vc é demais!!!!! Bj. Regina Lucia Fernandes, Fortaleza-CE – mai2011

17- Parabéns amigo! André Luis Cabral, São Paulo-SP – mai2011

18- grande ricardo, acabei de adquirir seu livro pela paubrasil. aguardo ansiosamente a chegada para devorá-lo. aquele abraço e feliz preço baixo. Aroeira, Belo Horizonte-MG – mai2011

19- Parabéns, Kelmer! Estou aguardando meu exemplar. Pela sinopse enviada, parece apetitoso. Mas… é mesmo! Qd vc vai oferecer champagne em SP? Espero q seja numa 5a feira. Abração, mestre! Maria Emília Lino da Silveira, Paraty-RJ -mai2011

20- Parabéns amigo querido!!! Orgulho!!! Bjks. Ana Karla Dubiela, Fortaleza-CE -mai2011

21- Ricardo querido, Que maravilha! felicidades e muito sucesso ai! Forte abraço daqui. Airam, Belo Horizonte-MG – mai2011

22- Que notícia boa, Ricardo! Parabéns! Caesar Moura, Rio de Janeiro-RJ – mai2011

23- deu vontade de começar a ler agora! pode ir pensando em uma dedicatória… estarei no lançamento pra comprar o meu! boa sorte! Erika Zaituni, Fortaleza-CE – mai2011

24- Tá mais pra mãe do que pra pai. Uuuups, melhor dizendo mãe/pai. Amei a capa, e mais ainda o olhar sensual e misterioso da tigresa – tua Alma. Alma que guia, inspira e borogodoza a Estrada do caminhante musical. Bárbaro, ERRIKÁ, tu é da linhagem dos fininhos mui talentosos. Senti a marca no arriar das malinhas. Nunca te vi, sempre te senti. 🙂 champanhe aberta, brindemos. Beeeeijo e reverência for ever after. Pat Maria, Salvador-BA – mai2011

25- Parabéns Kelmer, por mais essa vitória!! Grande abraço. Cecília Colares, Niterói-RJ – mai2011

26- Nuossa ! Tô ficando chique demais, com meu nome no seu livro. Vai até alavancar as vendas, rsrsrsrsrs. Volta logo, estamos com saudades! Bjs. Maria do Carmo Antunes, São Paulo-SP – mai2011



Shopping das vidas passadas

06/04/2011

06abr2011

Quer dizer que mil anos depois eis-me aqui fazendo a mesma coisa que eu fazia naquelas noites frias das estepes russas, conjeturando sobre o tempo?

SHOPPING DAS VIDAS PASSADAS

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Descobri uma vida passada minha. Foi por volta do ano 875 da era comum, numa região central da Rússia. Fui uma sacerdotisa pagã, que fazia uso da magia para curar. Eu tinha uma visão da vida voltada para a procura da verdade e da sabedoria. Através do conhecimento atingi a certeza de uma vida futura. Embora fosse vista como uma sonhadora, nunca perdi a fé.

Esta era eu. Pelo menos foi o que o Mago disse. Conheci o Mago quando passeava pelo shopping, tentando esquecer o aluguel atrasado. Deparei-me com ele à entrada de uma loja de produtos místicos e religiosos, era um boneco enorme com um cartaz pregado nele: “Conheça sua vida passada”.

Não resisti. Entrei na loja e comprei uma ficha, que enfiei na barriga do Mago. Na pequena tela de computador surgiram as orientações, digite seu nome, sexo e data de nascimento. Digitei, aguardei e saiu um papel. O Mago me dizia que eu estava viajando no tempo através dos segredos contidos nas tabelas de Rama-Mu, elaboradas pelos antigos sacerdotes da Ilha de Páscoa, e que eu poderia obter respostas para muitos de meus por quês, assim mesmo, por quês separado. Vamos relevar, talvez os sacerdotes pascoais não dominassem muito bem o português.

Li a descrição da minha vida passada, guardei o papel no bolso e saí, eu e os meus velhos porquês de sempre, que os sacerdotes não conseguiram explicar. Pelo contrário, agora eu tinha mais uma dúvida a me coçar a orelha: como aquela bruxa que eu fui conseguiu a tal da certeza da vida futura? Ela sabia que, mil anos depois, renasceria como homem?

Bruxa poderosa. Sentada diante da fogueira, ela viajou no tempo e se viu homem, vivendo num país que se chamaria Brasil, escrevendo crônicas sobre… sobre o tempo. Hummm, quer dizer que mil anos depois eis-me aqui fazendo a mesma coisa que eu fazia naquelas noites frias das estepes russas, conjeturando sobre o tempo, exercitando as possibilidades, buscando atalhos nas conexões temporais?

Se é assim, então talvez eu esteja agora fechando o círculo. A bruxa que fui acessou sua vida futura, e agora eu acesso a dela. Círculo fechado. Mas e agora? Era para acontecer algo, não? Um clarão, um raio a iluminar tudo em volta…

Hummm, talvez não seja um círculo… Talvez seja uma espiral… Isso mesmo, uma espiral que me faz passar pelo mesmo ponto de compreensão, mas num nível acima, onde mudarei minha percepção da realidade e despertarei fora da Matrix…

Uau! Captei! Meu aluguel atrasado não existe. Era tão somente criação da minha mente. Uau, uau! É isso mesmo! Agora tudo faz sentido!

Obrigado, sacerdotes da Ilha de Páscoa. Vocês não imaginam como aquele aluguel atrasado estava me tirando o sono. Ufa. Agora só preciso convencer a proprietária do apartamento a dar uma voltinha no shopping. Ela precisa bater um papo com o Mago.
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Ricardo Kelmer 2005 – blogdokelmer.com

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LEIA TAMBÉM

O redemoinho do fim do mundo – É provável que estejamos à beira de um grandioso marco evolutivo, onde a humanidade alcançará o clímax dessa aceleração das transformações

Meu fantasma predileto – Diziam que era a alma de alguém que fora escritor e que se aproveitava do ambiente literário de meu quarto para reviver antigos prazeres mundanos

Alma una (clipe musical) – Na doce magia da noite, minha alma é noiva desse ritual

Quando os homens não voltam pra casa – Javier Viegas é tarólogo e resolve problemas do Além. Dessa vez uma moça deseja reencontrar o namorado que foi supostamente atraído por uma bela princesa para dentro de um quadro de parede

O menino e o feminino misterioso – Esse instante numinoso em que o Feminino Sagrado mostrou-se para mim, sob a meia-luz de seu imenso mistério

O presente de Mariana – A cabocla Mariana, entidade da Umbanda, propõe noivado ao moço Dedé. Noivar com ela significa conseguir estabilidade financeira mas em troca ela exige fidelidade absoluta
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DICA DE LIVRO

ICI2011Capa-01dO Irresistível Charme da Insanidade

Dois casais, nos séculos 16 e 21, vivem duas ardentes e misteriosas histórias de amor, e suas vidas se cruzam através dos tempos em momentos decisivos. Ou será o mesmo casal?

Luca é um músico, obcecado pelo controle da vida, que se envolve com Isadora, uma viajante taoísta que acredita ser ele a reencarnação de seu mestre e amante do século 16. Ele inicia uma estranha aventura onde somem os limites entre sanidade e loucura, real e imaginário e, por fim, descobre que para merecer a mulher que ama terá antes de saber quem na verdade ele é.

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Comentarios01COMENTÁRIOS
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01- Parabens,Ricardo Kelmer. Vilma Galvão, Braga-Portugal – mai2015

02- rsrsrs… ….. não sei não, mas algo me diz que é melhor vc arrumar logo essa grana e pagar o aluguel… ..abs! Arnaldo Afonso, São Paulo-SP – mai2015

03- que maravilhaaa, vamos falar sobre ? Bianka Emiliano, João Pessoa-PB – mai2015

04- Saudades dos seus contos mirabolantes, Ricardo Kelmer. Kd o guru sem futuro? Ana Claudia Domene Ortiz, Albuquerque-EUA – mai2015

05- Muito bom! Fez-me lembrar um sonho recente que acordei rindo da minha viagem onírica! Adoro essa tua pegada literária surreal! Kkkkk. Ivonesete Zete, Fortaleza-CE – mai2015

06- Haha, e ela foi lá se consultar com o Mago, Ricardo?… Espero que sim. Waldemar Falcão, Rio de Janeiro-RJ – mai2015

ShoppingDasVidasPassadas-01c

 


Xamanismo de vida fácil

11/03/2011

11mar2011

A tradição xamânica dos povos primitivos experimenta uma espécie de retorno, atraindo o interesse de pesquisadores e curiosos – e desvirtuando a essência da coisa

XamanismoDeVidaFacil-03

XAMANISMO DE VIDA FÁCIL

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– Lembra do Xamanismo? Pois é, caiu na vida fácil. Dia desses ele estava lá na Vênus Lilás, todo se oferecendo!

Quem diria… O antigo sistema das sociedades primitivas, que girava em torno do xamã e sua técnica do êxtase, é o novo xodó dos místicos de fim de semana. Agora, espaços esotéricos oferecem cursos de xamanismo e muitos até formam xamãs. É como fazer um curso para tornar-se gênio.

O xamanismo, a rigor, é um fenômeno religioso originário de sociedades primitivas da Ásia central e siberiana e que tem no xamã o centro da vida mágico-religiosa da comunidade. Por dominar as técnicas do êxtase e ser capaz de acessar mais facilmente estados especiais de consciência e, com isso, transitar com fluidez pelas dimensões da realidade, aos xamãs era atribuída a competência de intermediar os mundos físico e espiritual, usando o conhecimento adquirido nas incursões ao além para ensinar, curar, realizar atos milagrosos e entreter os membros da comunidade. O xamã encarnava em si as funções de professor, sacerdote, feiticeiro, médico e até mesmo poeta e artista.

Nessas sociedades não havia curso de fim de semana para formação xamanística. Excluindo-se raras exceções, alguém se tornava xamã por vocação natural: o indivíduo era simplesmente compelido a aceitar o fato, mesmo a contragosto. Era comum também a transmissão hereditária do ofício. Em qualquer das vias, antes de ser reconhecido como xamã, o indivíduo (em geral homem) inevitavelmente passava por um delicado e doloroso processo de iniciação, que podia ser desencadeado naturalmente por uma doença ou sistematicamente ritualizado sob orientação de um xamã experiente. Isso permitia ao futuro xamã efetuar uma notável reintegração psíquica, aflorando suas potencialidades e preparando-se convenientemente para as funções que desempenharia.

Não pense que essa preparação era algo festivo. Longe disso. Como todo verdadeiro processo de iniciação, nesse também havia dúvidas, temores e sofrimentos difíceis de suportar. O futuro xamã experimentava a morte e a ressurreição místicas, padecendo sob os horrores de seu inferno íntimo para depois emergir à vida cotidiana sobrevivido e triunfante, mais sábio e mais forte. Somente se submetendo a todos os rigores desse processo de morte e renascimento pessoal é que o indivíduo podia se tornar um xamã.

Para nós, ocidentais civilizados, entendermos melhor o que se convencionou chamar xamanismo, é preciso ter sempre em mente que os antigos compreendiam a Terra como um ser vivo, dotado de uma espécie de inteligência e vontade próprias, e os seres humanos, assim como animais, plantas e minerais, eram parte integrante do imenso organismo planetário, todos igualados em importância. Mais que um ser vivo, entretanto, a Terra era a Grande Mãe, que gera e nutre todas as suas criações com amor, ensinando e guiando os seres humanos vida afora. Assim sendo, a Natureza inteira era algo sagrado, e desrespeitar suas leis era atentar contra a própria vida, contra toda a comunidade e contra a Sagrada Mãe.

O xamã, nesse contexto de espontânea interação com a Natureza, é alguém dotado de poderes especiais para manter-se num contínuo estado de comunicação com o espírito da Terra, a quem jurou obedecer e defender até o último de seus dias. Como se possuísse antenas hiper-sensíveis, o xamã está intimamente conectado à alma da Terra, e por isso vive em si mesmo o equilíbrio vital do planeta, imperceptível à maioria: se a Terra adoece, ele adoece também.

Em reconhecimento à sua lealdade e reverência, a Grande Mãe põe à disposição do xamã segredos do mundo animal, vegetal e mineral, para onde ele, em espírito, vai frequentemente em busca de informações úteis ao bem-estar da comunidade. Quanto mais ele sabe, mais servo se torna. Quanto mais se anula, mais ele pode.

Em contraste com a humildade espiritual desses antigos guardiães da tradição xamânica, muitos dos que hoje se dizem xamãs ostentam o título feito um estandarte, anunciando as maravilhas que têm para oferecer. Se de fato entendessem o que significa a função a que tanto se pretendem, jamais vestiriam a antiga tradição com roupas tão vistosas e muito menos a exibiriam em poses tão constrangedoras nas vitrines coloridas de seus cursos.

xamanismo moderno

Esse milenar sistema místico-filosófico-religioso existiu e ainda existe em inúmeras sociedades de todo o planeta, inclusive na América e no Brasil, onde os pajés são os xamãs. O advento da civilização, invadindo e exterminando as culturas nativas, empurrou as tradições xamânicas para os escombros do que restou de suas sociedades, onde mantiveram um fio de vida suficiente para chegar aos dias de hoje.

Atualmente, a cultura xamânica dos povos primitivos experimenta uma espécie de retorno, atraindo o interesse de pesquisadores e curiosos. Apesar de atrair também, como não poderia deixar de ser, os mesquinhos interesses comerciais da mentalidade consumista, por trás disso tudo pode-se captar um legítimo anseio das pessoas em religar-se a antigos valores esquecidos por nosso mundo civilizado: uma vida mais simples e fluida, em harmonia com as leis e os ciclos da Natureza e respeitando todas as formas de vida. Num mundo onde a racionalidade impõe sua ditadura aos pensamentos e a tecnologia nos torna escravos de máquinas cada vez mais autônomas, essa busca por resgatar tradições ligadas à Terra é uma reação natural da espécie humana, que começa a entender, finalmente, o imenso perigo que criamos ao nos mantermos desconectados da alma do planeta e unilateralizados em nosso racionalismo, que despreza a sabedoria natural da vida.

É um anseio genuíno, sim, que faz com que as pessoas, na melhor das intenções, busquem satisfazê-lo em livros, cursos e vivências. É uma boa notícia. Infelizmente, se a facilidade das comunicações possibilitou a disseminação rápida e maciça da informação, trouxe também a tendência à banalização de todos os temas. Bilhões de informações circulam a todo instante, mas o conteúdo da maioria não enche uma colher. É como estar numa imensa feira de produtos, cercado de vendedores, ofertas e promoções por todo lado: na urgência de adquirir algo, as pessoas não têm discernimento suficiente para ver além da embalagem.

Com o xamanismo ocorre algo parecido. Confusas na imensa feira da salvação, as pessoas tendem a comprar qualquer produto que lhes prometa coisas diferentes e sensações excitantes, e, assim, vão a vivências, frequentam cursos, batem tambor, visualizam seu animal de poder e se dizem praticantes de xamanismo quando, na verdade, estão apenas saltitando pelos aspectos mais superficiais da antiga tradição, feito alguém que molha os pés nas ondinhas da praia e nunca experimenta, de fato, o que é o mar.

Sei que é impossível reproduzir atualmente as condições em que floresceram as milenares tradições xamânicas. O mundo mudou, as circunstâncias são diferentes. Nossa cultura se desfez dos antigos ritos de passagem e a maioria dos que ainda mantemos perdeu o significado mais profundo. A mentalidade civilizatória nos desconectou do espírito da Terra e hoje parecemos um bando de zumbis a vagar pela vida à procura do sentido que um dia tanto enriquecia e guiava nossa existência. Não temos que voltar ao passado: precisamos é reencontrar o caminho perdido e vencer o atual impasse evolutivo.

Atualmente, as festas chamadas raves, que se proliferam em países do mundo inteiro, parecem incorporar aspectos da antiga tradição xamânica, ainda que distante do contexto original. Embalados pela música eletrônica que remete às hipnóticas batidas tribais e pelo êxtase provocado pelas drogas sintéticas, as pessoas alteram o funcionamento ordinário da mente e do corpo e vivenciam intensas experiências, dançando e se abraçando a noite inteira. Por proporcionar isso, os DJs que controlam a trilha sonora das festas aceitam o rótulo de tecno-xamãs ‒ mais uma ridícula deturpação da tradição.

As raves são um fenômeno recente, merecedor de análises mais aprofundadas. Porém, à primeira vista, me chamam a atenção o êxtase grupal provocado pela combinação de música e droga, a presença de fogueiras e o fato de serem comumente realizadas longe dos edifícios das grandes cidades, mais próximas à Natureza. Parecem ser uma manifestação atual das antigas tradições, feito uma necessidade que emerge, espontânea mas distorcida, das profundezas da psique coletiva.

A antiga tradição está de volta. É uma boa notícia. Mesmo deturpada pela maioria das pessoas, ela ressurge, atravessando os séculos, para nos lembrar que precisamos urgentemente integrar em nossa consciência os antigos valores e, com isso, nos tornarmos seres mais inteiros. Precisamos nos reconectar ao espírito da Terra, voltando a tratá-la com reverência e gratidão, antes que atinjamos o fatídico ponto onde a Grande Mãe, exaurida em suas forças, já não pode mais nutrir seus filhos.

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Ricardo Kelmer 2002 – blogdokelmer.com

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LEIA NESTE BLOG

Minha noite com a JuremaNessa noite memorável fui conduzido para dentro de mim mesmo pelo próprio espírito da planta, que me guiou, comunicou-se comigo, me assustou, me fez rir e ensinou coisas maravilhosas

A Jurema e as portas da percepção (VIP) – Relato detalhado da experiência narrada em Minha Noite com a Jurema. Exclusivo para Leitor Vip. Basta digitar a senha do ano da postagem

A vida na encruzilhada (filme: O Elo Perdido) – Essa percepção holística da vida é que pode interromper o processo autodestrutivo que nos ameaça a todos

O novo salto quântico da consciência – Por qual razão tantas pessoas ousam se submeter a uma experiência incerta, largando a segurança de sua mente cotidiana e desafiando o desconhecido de si mesmo?

O trem não espera quem viaja demais – Alguns captam o recado da planta, entendendo que a trilha da liberdade existe, sim, mas deve ser localizada no cotidiano de suas vidas e, mais precisamente, em seu próprio interior

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DICA DE LIVRO

BaseadoNissoCapaMiragem-01aBaseado Nisso – Liberando o bom humor da maconha
Ricardo Kelmer – contos + glossário

Os pais que decidem fumar um com o filho, ETs preocupados com a maconha terráquea, a loja que vende as mais loucas ideias… RK reuniu em dez contos alguns dos aspectos mais engraçados e pitorescos do universo dos usuários de maconha, a planta mais polêmica do planeta. Inclui glossário de termos e expressões canábicos. O Ministério da Saúde adverte: o consumo exagerado deste livro após o almoço dá um bode desgraçado.

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DICA DE FILME

Carlos Castaneda – Especial da BBC sobre o polêmico antropólogo que estudou o xamanismo no México, escreveu vários livros e tornou-se um fenômeno do movimento Nova Era. Legendado.

O Elo Perdido (Missing Link) – Homem-macaco tem sua família dizimada por espécie mais evoluída e vaga sozinho pelo planeta, conhecendo e encantando-se com a Natureza. Ao comer de uma planta, tem estranha experiência que o faz compreender o que aconteceu.

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ALMA UNA
música de Ricardo Kelmer e Flávia Cavaca

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01– Sou fã dos seus escritos, inclusive vi hoje matéria no jornal O POVO fazendo um paralelo entre as raves e o xamanismo, muito legal. Em 2001 fiz um artigo publicado no antigo site do UNDERGROOVE, sobre Musica Eletrônica vs Xamanismo, e me identifiquei com o que vc expôs na matéria. Um abraço. Angel, Fortaleza-CE – ago2007

02- Olá Ricardo, já havia lido seu texto, em abril ou maio deste ano, qdo estava pra entrar num desses cursos de xamanismo, promovidos pela Paz Géia no meu caso. Hj este texto saiu no Jornal O Povo em Fortaleza e por algum motivo uma amiga me mostrou dnovo via msn. Tenho a dizer q dos “10 Pilares” (ou módulos) que eles propunham no curso, apenas 3 eram iniciáticos e os outros se tratavam de reproduções de técnicas de livros como Medicina Vibracional, A Cura pela Energia e outras obras que já tenho certa prática efetiva em consultório como terapeuta integral (sou psicólogo, iniciado em Reiki e na tradição Rosacruz, trabalho com 4 tradições em massoterapia, Qi Gong e técnicas de visualização – este último recurso terapeutico rotulado de técnica neo-xamanica pela Paz Géia). Concordo com suas críticas, mas pondero sempre extremos e, pelo preço pago pelo curso, até que não foi tão ruim. De fato haviam os tais místicos de fim de semana, muito loucos por sinal… alguns narcisistas entusiastas… poderia me perder nessa crítica rotulando cada um que convivi no curso, inclusive algumas instrutoras não tão iniciadas… Mas tb conheci uma ou outra pessoa de grande valor, não por serem “esotéricas”, mas pela simplicidade e humildade com que buscava conhecimento e evolução espiritual em meio a tantos “escombros de nossa solidez”, em meio a evolução da mentalidade instrumental do último século, que parece “progredir” para uma vida ciborgue que transforma nosso potencial inato em dependencia material (por exemplo atrofiando potencial telepático para depender de satélites e toda cultura de virtualidade que cá em baixo se massifica nesse meio material de “comunicação em tempo real”; ou numa metáfora mais simples o de não precisarmos desenvolver nosso raciocínio fazendo contas de cabeça pela dependencia material de uma calculadora)…

Em sendo experimento vivo de seu texto, tenho a dizer (com conhecimento de causa) que a existência desses cursos tem sim um apelo material de grana para os que promovem (como qq promoção de culturas q convivem com dinheiro) mas quem investe nisso pouco se importa com esse apelo, pois tb estão investindo em algo maior. Acredito q certos cursos e pessoas têm agido de má fé, mas não são grupos peçonhentos como grupos políticos, pois têm outras “conduções” ou “influências” que os fazem preparar com dedicação tanto material. Além disso existem sim ritos iniciáticos que se adequam a nossa cultura nada pajé de ser… não haveria como sermos xamãs sem sermos “índios”, nativos de culturas q convivem com a natureza! Mas algumas culturas, fraternidades esotericas e outros grupos como UDV e Santo Daime tentam há muito, com algum sucesso (dependendo do interesse efetivo de quem se propõe adentrar conscientemente em outras dimensões) auxiliar os que sentem alguma ancestralidade nisso tudo… pajés, assim como toda comunidade humana, me parecem ser outros de nós mesmos… com grau e função evolutiva diferenciada certamente… O que vejo é que esses aparentes conflitos “de idade média” entre oq é sagrado e profano têm sido menos tumultuado q antes. Isso me soa como uma evolçução lenta, gradual e de quem realmente se interessa mais em buscar sua conecção com a unidade do universo do que em ser ou não alvo de gente oportunista afim de ganhar dinheiro. Não está em meu poder julgar a ingenuidade de quem perde dinheiro com oq não sabe utilizar, como pessoas q se abarrotam de coisas inuteis mas não conseguem parar de comprar… penso mais no ganho que cada ser humano, no limite de seu conhecimento de si, recebe ao investir num grupo e dele partilha oq lhe apraz, com quem se sente convidado à partilhar.

Agradeço de coração pela oportunidade que sua reflexão me despertou em repensar este momento de minha vida. Espero que aceite meus adendos com ternura. Lembremos que o Criticismo significa em sua origem “lançar luzes” e não meramente uma vã oposição pelo desperdício do gozo pela discussão. E foi justamente por sentir um bom equilíbrio crítico em seu texto q resolvi escrever. Meu adendo é apenas com referência aos “místicos de fim de semana”, que em nosso contexto evolutivo não merecem ser infantilizados por nosso inconsciente coletivo, pois pelo que vi (testemunho), alguns deles estão melhores que muita gente. Cordialmente. Rodrigo Sol, Fortaleza-CE – ago2007

03- kkkkkkkkkkkkkkkkkkkk ÓOOOOTIMO!!!!!!!!!!!!!!! Mônica Torres, Macaé-RJ – ago2011

04- Eita Kelmer… é de doer…rsrsrrs. Maria Sá Xavier, Niterói-RJ – ago2011

05- Passou da hora de alguém falar isso kkkkkkkkkkkkkkkkmaravilhoso seu texto, adorei!!!!!!! Silmara Oliveira, São Paulo-SP – ago2011

 


A noiva lésbica de Cristo

16/11/2010

16nov2010

Se hoje a sexualidade feminina ainda apavora a mentalidade cristã, no século 17 ela era algo absolutamente demoníaco

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A NOIVA LÉSBICA DE CRISTO

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Benedetta Carlini foi abadessa de um convento no século 17 na pequena cidade italiana de Pescia. Era uma mulher mística e visionária, que ganhou fama por seus encontros sobrenaturais com Jesus Cristo, e que em seus transes obrava milagres, sofria com estigmas em seu corpo e falava em várias línguas. Num dos transes, aceitou o pedido de Jesus e casou-se com ele em cerimônia realizada na capela do convento, diante de várias pessoas.

As autoridades eclesiásticas, desconfiadas, promoveram um inquérito, analisando detalhadamente o caso. Ao fim, a investigação concluiu que a abadessa, na verdade, era vítima de enganações do Diabo, e revelou também que ela e sua ajudante, a jovem freira Bartolomea Crivelli, mantinham relações sexuais secretas no convento. Benedetta escapou da condenação na fogueira, mas foi isolada na prisão do convento, onde ficou por 35 anos, até sua morte aos 71 anos.

A incrível história de Benedetta foi descoberta pela historiadora estadunidense Judith C. Brown no Arquivo do Estado de Florença. Impressionada com o material que encontrara, Judith o transformou no livro Atos Impuros – A vida de uma freira lésbica na Itália da Renascença, lançado em 1986. Numa ágil narrativa romanceada, Atos Impuros nos leva a acompanhar as investigações eclesiásticas sobre Benedetta, oferecendo-nos uma boa oportunidade de observar a vida social na Renascença e o cotidiano dos conventos no século 17. E também expõe o modo cruel que a Igreja Católica tinha de lidar com duas questões que até hoje lhe são bastante embaraçosas: a espiritualidade e a sexualidade femininas.

Religião é controle. Uma prova disso é que os líderes religiosos tendem a desestimular o contato direto das pessoas com a divindade, pois isso desestabiliza a hierarquia, desvalorizando o papel intermediador dos sacerdotes. Outra forma de controle religioso é a repressão da sexualidade. Como o Cristianismo é uma religião de homens que têm pavor da natureza e do feminino, eles, desde o início, buscaram reprimir e controlar a mulher, associando-a ao sexo pecaminoso. E ainda fazem isso até hoje.

Espiritualidade e sexualidade – o caso de Benedetta mexe nos dois vespeiros de uma só vez. Uma mulher que mantém uma intensa relação mística com o filho de Deus a ponto de ser eleita por ele sua noiva, que obra milagres e se torna famosa e querida entre o povo, isso era algo ameaçador demais para a estrutura de poder da Igreja, e ainda mais se essa mulher era uma abadessa e, para completar, lésbica. Se hoje a sexualidade feminina ainda apavora a mentalidade cristã, no século 17 ela era algo absolutamente demoníaco.

Apesar de toda a repressão do Cristianismo, o arquétipo do feminino livre manteve-se vivo na psique das mulheres e cada vez mais elas despertam para vivê-lo conscientemente em suas vidas. São mulheres que mantêm sua própria relação com o sagrado, sem se deixar prender por dogmas religiosos, e vivem sua verdadeira sexualidade sem a culpa que a religião insiste em lhes impor. No século 17, a mulher livre foi presa e queimada viva. Hoje, a religião não tem mais o mesmo poder de ditar o que as pessoas devem ser e como devem se relacionar com o divino. É a liberdade vencendo o medo do Inferno.

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Ricardo Kelmer 2010 – blogdokelmer.com

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LivroAtosImpuros-03

A edição de Atos Impuros que li é a da editora Brasiliense, 1987. Não encontrei nenhuma capa da edição brasileira em boa definição. Mas encontrei a capa de uma edição em italiano e outra em inglês. Há edições em português disponíveis para compra no site Estante Virtual.

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BENEDETTA (treiler)
Filme de 2021

Direção: Paul Verhoeven – Roteiro: Paul Verhoeven, David Birke
Elenco: Virginie Efira, Charlotte Rampling, Daphne Patakia

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LEIA TAMBÉM

Estrela da música cristã anuncia que é lésbica (oglobo.globo.com, 13.04.10)

Lésbica é eleita bispa na Suécia (estadao.com.br, 09.11.09)

Lésbicas se casam em igreja evangélica do Rio (meionorte.com, 08.09.10)

Bissexualidade feminina não é só uma fase de indecisão (oglobo.globo.com, 17.01.08)

Ateus.net – Ateísmo e liberdade, humor, chat e muito mais

ATEA – Assoc. Bras. de Ateus e Agnósticos – Vale a pena conhecer. Ou você tem medo de mudar de ideia?

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MAIS SOBRE SEXUALIDADE FEMININA

OIncubo-06O íncubo – Íncubos eram demônios que invadiam o sono das mulheres para copular com elas – uma difundida crença medieval. Mas… e se ainda existirem?

As fogueiras de Beltane – A sexualidade sem culpa de uma sacerdotisa pagã

Lolita, Lolita – Ela é uma garotinha encantadora. E eu poderia ser seu pai. Mas não sou

A gota dágua – A tarde chuvosa e a força urgente do desejo. Ela deveria resistir, mas…

A torta de chocolate – Sexo e chocolate. Para muita gente as duas coisas têm tudo a ver. Para Celina era bem mais que isso…

O mistério da cearense pornô da California – Uma artista linda e gostosa, intelectual e transgressora, que adora perversões e, entre uma e outra orgia, luta pela liberação feminina

Bettie Page, nós te amamos – Ela é um ícone da moda, da arte erótica e também do universo BDSM, inspirando artistas e fetichistas

Vocês Terráqueas – Seduções e perdições do feminino – Livro de contos e crônicas sobre a mulher

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AFINIDADES

Entrevista: Fundador de grupo de ‘cura de homossexuais’ que se assumiu gay – Entrevista com Sergio Viula para o site eleicoeshoje.com.br, 25.10.11

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01- Escreve demaaaaisss!!! E como é bom ler seus textos impregnados de energia da deusa mãe!!! Continue prenhe de luz de inspiração, caro irmão terráqueo!!! Bjs. Vou ver se escapo de um outro compromisso e vou pro Cabaré, que lá, sim, é lugar de mulher séria!!! Bjsss. KK, Fortaleza-CE – nov2010

02- Kelmer, texto excelente. Obrigada. Ana Paula, Fortaleza-CE – nov2010

03- Positivamente concordo com você. A sexualidade feminina ainda não se descobriu de todo, principalmente em sua relação com o sagrado. E até em nós mesmas ainda há restrições que impedem essa relação sagrada de se manifestar. Abadessa? Uma bruxa,isto sim, em sua essência na melhor acepção deste termo. A melhor acepção possível. Relações com o sagrado ATRAVÉS do sexo. Isto sim!Quando todas as mulheres e homens descobrirem isto serão de fato felizes. Fátima Braga, Recife-PE – nov2010

04- Kelmer, é a própria história “verdadeira” da beata Maria de Araújo. A mesma contada por ela nos depoimentos ao santo ofício, registrados no inquérito contra o padra cícero. Parece que são várias, não digo lésbicas, mas beatas que casavam com cristo. beijos. Veronica Guedes, Fortaleza-CE – nov2010

05- Maravilhosa crônica, Kelmer! =) beijos. Larissa Azevedo, Natal-RN – nov2010

06- Pois é, criatura daimônica, Benedetta, noiva de Cristo, era ANDRÓGINA. MEZZO MOGLIE, MEZZO UOMO. A primeira vez que li sobre ela fiquei fascinada. Que sofrimento atroz o dela, né RK? Que atrocidade separar as amantes! A separação dos AMANTES é um dor excruciante. Dor Bizarra. Patrícia Lobo, Salvador-BA – nov2010

07- Oi Ricardo, Ja ouvi falar dessa história pela parte de meu pai, afinal somos Carlini e creio que Benedetta seria uma de nossas primeiras ansestrais. Conhecidência interessante! Parabéns pelo Blog, Um abraço. Jacqueline Nappo Carlini, São Paulo-SP – nov2010

08- Vou ler esse livro!!! Ana Érika Oliveira Galvão, Fortaleza-CE – mar2014

09- “Hoje a religião não tem mais o mesmo poder de ditar o que as pessoas devem ser e como devem se relacionar com o divino.” Essa frase Ricardo Kelmer é extremamente traiçoeira… Troque “religião” por “sacerdote”, visto que a “religião” ainda opera de forma horizontal entre as massas e sem o bastão vertical (hierárquico) dos sacerdotes! História interessante que não conhecia… Téo Lorent, São Paulo-SP – mar2014

10- Essa história é incrível mesmo!! Waldemar Falcão, Rio de Janeiro-RJ – fev2016

11- Pena que perdi tua palestra amigo, mas agradeço pela marcação. Oportunidade de conhecer.  Ribamar Bezerra, Campina Grande-PB – fev2016

12- Gostei! Mas há algo em q terei de discordar: a igreja mantém o poder, quer a nível político quer económico, e também sobre a cultura e valores. Apenas o modo de o exercer é diferente. Agora os católicos até têm um papa que fala como o Dalai Lama…. Tudo para continuar a encher os cofres do Vaticano. E hoje somos menos livres que nunca, sofrendo opressão fundamentada na religião e no capitalismo. Susana X Mota, Leiria-Portugal – fev2016

13- como uma pessoa se diz que é espiritualizada com medo do inferno?o cristianismo deve muito ao ocidente. O surpreendente é como essa forma de espiritualidade se combina com tudo ou se associa com o poder e a alienação das massas e como isso tão ruim progride até hoje uma fé baseada no ego e poder. Jose Cesio Medeiros, Rio Branco-AC – fev2016

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Meu fantasma predileto

01/08/2010

01ago2010

Diziam que era a alma de alguém que fora escritor e que se aproveitava do ambiente literário de meu quarto para reviver antigos prazeres mundanos

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MEU FANTASMA PREDILETO

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Alguém aí pode me dizer onde estão os fantasmas? Onde foram parar as almas penadas que rondavam os cemitérios em noite de lua? E aqueles bichos horrendos que vinham do canto escuro aterrorizar as crianças desobedientes, onde se meteram? De repente não existem mais. Parece que não há mais lugar para eles nesse mundo de assaltantes, sequestradores, assassinos e ladrões de órgãos. Em vez de alma penada, gangues que roubam tênis de crianças e terroristas religiosos que explodem prédios e espalham gases letais em nome de seu deus.

Nas pequenas cidades do interior talvez ainda seja possível encontrar algum fantasminha, resistindo bravamente à invasão dos novos terrores coletivos. Os fantasmas certamente se sentem constrangidos em viver num mundo onde ETs sanguinários estão infiltrados entre nós. Como rivalizar com um bicho gosmento que desce de poderosas naves e implanta chips na cabeça das pessoas para monitorar a raça humana? Isso, sim, é maldade. Assustar pessoas no silêncio das madrugadas é besteira.

Lá em casa morava um fantasma. Não tenho foto dele, mas pergunte para qualquer um lá de casa e terá a confirmação. Ele se manifestava em meu quarto e já havia naturalmente se incorporado ao folclore da família. Diziam que era a alma de alguém que fora escritor e se aproveitava do ambiente literário de meu quarto para reviver antigos prazeres mundanos.

Todos da casa já haviam escutado o som de minha velha Remington, tec-tec-tec no meio da madrugada. No outro dia, ao saberem que eu sequer dormira em casa, constatavam: foi o fantasma novamente. E assim ele (ou ela, vai saber) passou a fazer parte da família. E quando algum hóspede desavisado comentava que ouvira o som de uma máquina de escrever de madrugada, minha mãe então contava do fantasma, de um jeito natural e até com certo orgulho, como uma avó fala das traquinices do neto. Todos tinham certo medo, é claro, e jamais entravam sozinhos em meu quarto à noite. Mas durante anos, ao almoço, a família reunida naqueles sagrados desentendimentos, o fantasma foi garantia de humor e descontração.

Eu, particularmente, adorava a ideia desse insólito companheiro de quarto e não sentia medo. Muitas vezes pedi-lhe encarecidamente que aparecesse, mas nunca vi nem escutei nada. Um belo dia, sumiu. Simplesmente sumiu, ninguém mais escutou o tec-tec-tec de suas visitas. Várias versões surgiram: ele cansou de tentar fazer-me um escritor de sucesso, ela não aturava as minhas namoradas, e por aí vai…

Minha versão, durante algum tempo, era que meu fantasma de estimação foi embora porque não gostou quando troquei minha máquina de escrever por um computador. Deduzi que a tecnologia o expulsara definitivamente deste mundo cada vez mais cheio de teclas e senhas digitais. Mas depois entendi que isso seria subestimar a classe dos fantasmas. E, assim, voltei à estaca zero, e o mistério do sumiço do fantasma prossegue até hoje.

Talvez os fantasmas estejam tão confusos quanto nós, tentando entender o que foi feito daquele mundo em que eles brincavam de nos assustar e nós adorávamos sentir medo. Hoje nosso medo não tem graça nenhuma.
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Ricardo Kelmer 1998 – blogdokelmer.com

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> Esta crônica integra o livro A Arte Zen de Tanger Caranguejos

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ICI2011PirataoCapa-01Piratearam meu livro novo. Eu rio ou choro? – Já que tem cópia pirata solta por aí, prefiro que você, que é leitor do meu blog, leia a pirata certa

O escritor grávido – Será um lindo bebê, digo, um lindo livrinho, sobre o mais belo de todos os temas

Você vem sempre aqui? (1) – Os termos que trazem as pessoas ao Blog do Kelmer

O dilema do escritor seboso – Certos escritores amadurecem cedo. Tenho inveja desses. Porque nunca viverão o constrangimento de não se reconhecerem em suas primeiras obras

Kelmer Com K no Toma Lá Dá Cá – Aqueles aloprados moradores do condomínio Jambalaya descobriram meu livro maldito

O pop pornográfico de RK (André de Sena) – Pode-se afirmar que Kelmer já é dono de um estilo próprio (no fundo, uma das almejadas metas de todo escritor)

Pesadelos do Além – O pior pesadelo pra um escritor é ser psicografado. Ou melhor: ser mal psicografado

O encontrão marcado – Fechei o livro, fui até a janela e olhei para o mundo lá fora. E disse baixinho, com a leveza que só as grandes revelações permitem: tenho que ser escritor

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01- Achei muitissimo bem escrito, tao engracado e tao triste ao mesmo tempo, e verdadeiro. SIMPLESMENTE O-TI-MO! Ana Claudia Domene, San Diego-EUA – jun2006

02- adorei a historia de seu fantasma predileto. Monica Campos, Fortaleza-CE – jan2016

03- Gostei. Bons tempos em que os sustos eram de mentirinha. Teo Ponciano, São Paulo-SP jan2016

04- Alguém sabe dizer onde se meteram os fantasmas? Teo Ponciano, São Paulo-SP – jan2016

05- Relembrei meus tempos de infância no interior onde cresci. As pessoas de fato se empolgavam ao contar os “causos”q envolviam fantasmas. Alguns lugares as pessoas evitavam de passar a noite. O Ribeirão era assombrado e isto alimentava a fantasia daquele povo simples e feliz. Saudade dos nossos fantasmas q nunca fizeram mal a ninguém. Carolina De Figueiredo, Içara-SC – mai2016


O herói e a princesa

26/03/2010

26mar2010

Para Ayrton Senna, herói do Reino da Terra

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O HERÓI E A PRINCESA

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Seu destino, estava escrito, seria ser um herói, nada menos que isso. Estava escrito: ser o melhor dos guerreiros, herói de todos os reinos.

Mesmo assim ele teve que lutar como todos os outros, enfrentar sua própria guerra. Teve de viver, dentro de si mesmo e por toda a vida, o mais difícil dos desafios: a autossuperação. Teve de várias vezes visitar a beira do abismo e caminhar sobre o fio que separa os mundos, morrer e renascer e morrer de novo e novamente renascer, até que finalmente estivesse preparado para cumprir o destino que lhe fora reservado. Sim, o destino fora marcado em sua alma, mas ele sabia que teria de suar e sangrar bastante para realizá-lo.

Poderia ter recusado? Não. Recusasse e o peso de tal abdicação lhe seria tão insuportável que o único remédio seria a morte. Por isso a morte espreitava sua vida, a linda princesa de seus sonhos, ela e seu vestido branco. E ele logo aprendeu a não se assustar à toa. Por isso é que, aos que os deuses marcam o destino, nada resta senão cumpri-lo.

E ele o cumpriu com a nobreza dos grandes cavaleiros. Tomou para si a bandeira da superação e a fixou no alto de sua lança. E a conduziu velozmente pelos reinos da Terra, erguendo-a bem alto para que nós todos, guerreiros de todos os reinos, nunca esquecêssemos que, da mesma forma que ele, também podemos vencer nossos limites pessoais. O grande inimigo não é do outro reino. Não, ele mora dentro de nós e se esconde por trás do medo de falhar. Ele falhou, muitas vezes, você lembra, mas cada falha logo se transformou em aprendizado, e adiante era mais uma arma poderosa com que ele abatia o inimigo.

Um dia, ela surgiu especialmente bonita, ela e seu vestido branco, a princesa de seus sonhos. Surgiu à sua frente, bem à beira do abismo, sorridente e compreensiva. Ele não sentiu medo. Por um segundo, ainda pensou em voltar, despedir-se, dizer algo para a família, os amigos, a namorada. Mas não. Tudo já havia sido dito, sua própria vida o dissera.

– Esta noite sonhei contigo – ele falou, um pouco triste, mas tranquilo. – Estavas tão linda que tive a certeza que virias me buscar.

Ela então tomou sua mão e juntos caminharam pela última vez pelo fio do abismo, ele admirando o vento nos cabelos dela, o porte digno que tanto inspirara sua vida. Mais adiante, onde o caminho faz uma curva para a esquerda, ele sumiu. Dizem que se transformou em vento e que nas manhãs de domingo visita os reinos da Terra para soprar em nossa lembrança.

Comigo ficou sua bandeira, que muitas vezes me é tão pesada que penso em desistir, que não sou digno, que definitivamente não nasci para herói. Mas então lembro dele, lembro dos momentos em que parava e ficava em silêncio, buscando em sua própria mente o caminho mágico da vitória, e então ergo a bandeira novamente, por ele, por mim, por nós todos, heróis de nossas próprias guerras.

As crianças ouvem histórias dele, admiram-se de seus feitos e em seus olhos parece rebrilhar o aço de sua lança. Pedem para contar de novo de como ele venceu quando era impossível. Mas ele não sabia que era impossível, explico, por isso que foi lá e venceu. Elas escutam com seus olhinhos brilhando e depois as ponho para dormir. Cubro-as bem porque faz frio, elas que são o futuro e que mais tarde lutarão por nós. E depois vou deitar, cansado de minha luta, a bandeira que carrego encostada à parede, esperando pela nova batalha de amanhã. Vou deitar e sonhar com uma linda princesa, a princesa que a mim um dia também virá buscar, quando chegar a minha hora.

Quando ela surgir, espero ir-me da mesma forma que ele foi: com a dignidade e o orgulho dos que cumpriram seu destino.

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Ricardo Kelmer 1999  – blogdokelmer.com

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> Este texto integra o livro A Arte Zen de Tanger Caranguejos

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LEIA TAMBÉM

Um mito a 300 km por hora – O arquétipo da jornada do herói na trajetória de Ayrton Senna
É inquietante pensar assim, mas tudo soa como uma… predestinação. Quando lembramos que Ayrton era um dos que mais lutavam pela segurança dos pilotos, que ele morreu numa cidade de nome Ímola, no dia do trabalhador e ao vivo para o mundo inteiro, tudo isso reveste sua morte de um significado mitológico de sacrifício, uma autoimolação

Instituto Ayrton Senna – Impulsionados pelo desejo do tricampeão de Fórmula 1 Ayrton Senna, sua missão é levar educação de qualidade para as redes públicas de ensino no Brasil. Atua em parceria com gestores públicos, educadores, pesquisadores e outras organizações para construir soluções concretas para os problemas da educação básica

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em italiano

L´EROE E LA PRINCIPESSA

Ricardo Kelmer

Per Ayrton Senna, eroe del Regno della Terra

Il suo destino era scritto, sarebbe stato un eroe, niente meno che questo. Era scritto: essere il migliore dei guerrieri, eroe di tutti i regni. Anche così dovette lottare con tutti gli altri, affrontare la sua propria guerra. Dovette vivere, dentro se stesso e per tutta la vita, la più difficile delle battaglie: l’autoseparazione. Dovette varie volte arrivare sull’orlo dell’abisso e camminare sul filo che separa i mondi, morire e rinascere e morire di nuovo e un’altra volta rinascere fino che finalmente fosse preparato per compiere il destino che gli fu riservato. Il destino era marcato nella sua anima ma lui sapeva che avrebbe dovuto sudare e sanguinare abbastanza per realizzarlo.

Avrebbe potuto rifiutare? No. Se lo avesse rifiutato il peso di tale abdicazione gli sarebbe stato tanto insopportabile che l’unico rimedio sarebbe stata la morte. Per questo la morte scrutava la sua vita, la bella principessa dei suoi sogni, lei e il suo vestito bianco. E lui presto apprese a non spaventarsi a caso. Per questo a coloro che gli dei marcano il destino, non resta altro che compierlo.

E lui lo ha compiuto con la nobiltà dei grandi cavalieri. Ha preso per sé la bandiera dell’auto superazione e l’ha fissata nell’alto della sua lancia. E l’ha condotta velocemente per i regni della terra, ergendola ben in alto perchè tutti noi, guerrieri di tutti i regni, mai dimenticassimo che, nello stesso suo modo, potessimo vincere anche noi i nostri limiti personali. Il grande nemico non è dell’altro regno. No, lui vive dentro di noi e si nasconde dietro alla paura di fallire. Lui ha fallito, molte volte, tu ti ricordi, ma ogni fallimento si trasformò presto in apprendistato e in futuro era una arma poderosa in più con la quale lui abbatteva il nemico.

Un giorno lei sorse particolarmente bella, lei e il suo vestito bianco, la principessa dei suoi sogni. Apparse davanti a lui, proprio all’orlo dell’abisso sorridente e comprensiva. Lui non sentì paura. Per un secondo pensò anche di tornare, disperdersi, dire qualcosa agli amici, all’innamorata. Ma no. Tutto era già stato detto, la sua stessa vita l’aveva detto.

– Questa notte ho sognato con te – disse, un pò triste ma tranquillo. – Eri tanto bella che avevo la certezza che saresti venuta a cercarmi.

Lei intanto prese la sua mano e assieme camminarono per l’ultima volta per il filo del precipizio, e ammirando il vento nei capelli di lei, il comportamento degno che tanto ispirava la sua vita. Ma davanti, dove il cammino fa una curva a sinistra, lui uscì. Dicono che si trasformò in vento e che nelle mattine della domenica visita i regni della terra per soffiare in nostro ricordo. Con me è rimasta la sua bandiera, che molte volte mi è così pesante che penso di desistere, che non sono degno, che definitivamente non sono nato per essere eroe. Ma allora mi ricordo di lui, mi ricordo dei momenti in cui si fermava e restava in silenzio, cercando nella sua stessa mente il cammino magico della vittoria, e allora la ergo nuovamente, per lui, per me, per noi tutti, eroi delle nostre stesse guerre.

I bambini ascoltano le sue storie, si stupiscono delle sue vicende e nei loro occhi sembra brillare l’acciaio della sua lancia. Chiedono per raccontare di nuovo di come abbia vinto quando era impossibile. Ma lui non sapeva che era impossibile, spiego, per questo che è stato là e ha vinto. Loro ascoltano con i loro occhietti brillanti e dopo li metto a dormire. Li copro bene perché fa freddo, loro che sono il futuro e che più tardi lotteranno per noi. E dopo vado a riposare, stanco della mia lotta, la bandiera che carico accostata alla parete, aspettando per la nuova battaglia di domani. Andrò a sdraiarmi e a sognare di una bella principessa, la principessa che verrà anche a me a cercare un giorno, quando arriverà la mia ora.

Quando lei apparirà, spero di andarmene allo stesso modo in cui è andato lui: con la dignità e l’orgoglio di chi ha compiuto il suo destino.
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Traduzione: Isabella (Fã-Clube Ayrton Senna Stella – Itália)

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VÍDEOS

AYRTON SENNA TRIBUTE

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THE RIGHT TO WIN
documentário legendado

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MAIS TEXTOS

 

AYRTON SENNA E O PODER DO MITO
Ricardo Kelmer 2014

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Algumas pessoas não se conformam que Ayrton Senna seja considerado um herói, e falam que ele ganhava muito dinheiro, levava vida boa e coisa e tal. Alegam que herói é o trabalhador anônimo, que sua para ganhar salário mínimo, heróis são os bombeiros e professores. É um raciocínio equivocado.

Cada um entende o termo herói ao seu próprio modo. Porém, numa visão mitológica, Ayrton Senna encarna perfeitamente o termo, sim, pois sua vida é um ótimo exemplo do mito da “jornada do herói”. O herói é um arquétipo, presente na psique da espécie humana, e a jornada do herói é o mito da autorrealização, que todos vivemos em nossas vidas, com mais ou menos intensidade. Mitologicamente falando, qualquer um, anônimo ou famoso, que se realize profundamente em sua vida é um herói, pois para alcançar esse ponto é necessário uma longa e difícil jornada, feita de provações, sofrimento e superação – e nem todos conseguem levá-la até o fim.

Porém, quando a autorrealização do indivíduo influencia positivamente a vida de muitos outros, entramos num nível mais abrangente do mito, onde a vida do herói torna-se a vida de todos. Nesse nível, até mesmo a morte do herói traz grandes benefícios à sociedade. Ayrton Senna exemplifica bem esse nível mais abrangente. Além de tudo que sua vida pode inspirar (coragem, talento, sacrifício, superação…), sua morte oferece dois ótimos e indiscutíveis legados: as medidas de seguranças implantadas na Fórmula 1 (após o GP de San Marino de 1994, nenhum outro piloto morreu numa corrida) e o Instituto Ayrton Senna, um sonho do piloto brasileiro que sua morte, ironicamente, ajudou a tornar realidade, e hoje é uma referência mundial no trato com a infância carente.

Pode-se não gostar de Ayrton Senna, claro, afinal ele também tinha seus defeitos, e ninguém agrada a todos. Mas a força do mito está acima dos gostares: quando um arquétipo se manifesta fortemente através da vida de alguém, como o fez com Ayrton, o mito relacionado ao arquétipo é contado e recontado, e é impossível ficar alheio ao seu poder.

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Comentarios01COMENTÁRIOS
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01- Caro Ricardo, Recebi sua crônica através da Cinthya França, e fiquei extremamente emocionada com ela. Sua crônica em homenagem ao Ayrton é belíssima e profunda, sem dúvida uma das melhores e mais belas coisas escritas sobre o Ayrton e o seu significado. Gostaria aliás de consultá-lo sobre a possibilidade de publicá-la em nosso site, pois será um verdadeiro presente para os fãs do Ayrton, principalmente no ano em que estamos homenageando o Ayrton e resgatando os seus valores. Você nos daria sua autorização? Também gostaria que você nos enviasse o seu endereço de correspondência, pois pretendo enviar-lhe uma lembrança do Ayrton. Fico no aguardo de seu retorno. Saudações cordiais. Viviane Senna, Instituto Ayrton Senna, São Paulo-SP – abr2004

02- você foi lá na Fanor, deu uma palestra sobre mito, por sinal, só fui entender melhor quando li o texto da princesa e do Airton Senna, pois tinha a idéia de que mito era tipo uma explicação para aquilo que não sabia, do mesmo jeito que usamos a palavra coisa quando não achamos a palavra certa… Dá para entender? Um exemplo: ah… chove porque (ops…??!!!) os deuses estão chorando!! Mas depois que li, vi a jornada do herói, poxa vi o quanto a palestra foi boa e que perdi muita coisa, poderia ter deixado de ser besta e ter tirado essa dúvida na hora, mas fiquei com vergonha (tudo bem, aprendi a lição). Bom… quando terminei de ler, fiquei assim, chocada, maravilhada, então entrei no site e passei a ler outros e estou adorando!! Sua escrita, sua forma de escrever, muito bacana, me atrai muito, parece que está do meu lado contando, muito bacana isso!! Bom… ganhou uma fã. Quando vim para cá novamente, tenta sempre passar lá na Fanor, ou me avise, pode ser?? Obrigada!!! Kelly Cristina, Fortaleza-CE – jul2007

03- O herói e a princesa… simplesmente, lindo! Cinthya França Oliveira, Fortaleza-CE – ago2011

04- O lado sensível dos machos: adoooro! Márcia Matos, Fortaleza-CE – ago2011

05- Valeu, Kelmer. Ayrton Senna is alive! Francisco Fontenele Veras Neto, Lourinhã-Portugal – mai2012

06- Kelmer; ele é o “Arquétipo das pistas”! Gid Trigueiro, São Paulo-SP – abr2014

07- Lindo , que saudades eternas!!! Luciana Helena Miranda – mai2015

08- Amo! Maria Eliane Cândido de Almeida, Triunfo-PE – mai2015

09- Ídolo Saudades eterna. Gercino Silva, Jaraguá-SC – mai2015

10- Inesquecível, exemplo de dignidade!!! Lê Alessandra – mai2015

11- Simplesmente lindo.Ayrton para sempre em nossos coraçoes. Lucia Silva – mai2015

12- O Mito! Fantástico !! Reylle Fernandes, Manaus-AM – mai2015

13- Ele era tudo.nossa alegria nos domingos….saudades eternas. Norma Valladão – mai2015

14- para mim a Fórmula 1 morreu com Ayrton. Susana X Mota, Leiria-Portugal – mai2015

15- Emocionante parabens. Silvia Dos Santos, Caxias do Sul-RS – mai2015

16- Muito emocionante! Lindo. Rosana Mittanck, Itapema-SC – mai2015

17- Que lindo. Marcos Arraji Brasilians Brasil, São Paulo-SP – mai2015


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