14out2014
Perder-se em Jeri, eu recomendo. Perder-se de paixão. Perder a noção do tempo, a carteira de identidade, o medo de se experimentar…
O REINO ENCANTADO DE JERICOACOARA
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Há certos lugares que a gente conhece e depois eles passam a morar naquele cantinho sagrado da alma, onde a gente pode se recolher quando quer descansar por uns instantes na doçura da saudade, sabe como é? Não sei se expliquei bem, mas para mim um desses lugares é Jericoacoara, no Ceará.
Quando cheguei a primeira vez em Jeri (só para os íntimos), em 1989, a pequena vila já era razoavelmente conhecida no circuito do turismo alternativo, mas não tanto como Canoa Quebrada, no litoral leste, que tinha um acesso muito mais fácil. Putz, foi amor à primeira maresia. Desde então, voltei lá algumas vezes, mas sempre é como se fosse a primeira vez. Eu estou sempre descobrindo Jeri.
Localizada a 300 quilômetros a oeste de Fortaleza e pertencente ao município de Jijoca de Jericoacoara, Jeri integra o Parque Nacional de Jericoacoara, o que impede a construção de estradas pavimentadas na região. Para chegar lá, ou você vai de helicóptero ou arrisca ir pela praia, respeitando as marés, ou enfrenta a areia das dunas (mas terá de deixar o carro numa área afastada do centro da vila). Ou então faz como a maioria, indo até Jijoca e, de lá, seguindo por quarenta minutos pelas dunas em carros especiais. O percurso, por si só, é uma autêntica preparação do espírito, um rito sagrado de iniciação para o viajante destemido ser aceito no Reino Encantado de Jericoacoara.
Sim, é uma aventura chegar lá. E estar lá é um sonho. E deixar Jeri é sempre uma tristeza por não ter ficado mais, misturada à esperança de voltar logo. Se você foi lá e não sentiu essas coisas, sinto muito, mas você não entendeu nada.
As publicações especializadas sempre elegem Jeri como uma das praias mais lindas e um dos melhores destinos do mundo para viajar. Não é nenhum exagero. Dotada de uma beleza semisselvagem, Jeri encanta por sua natureza preservada, dunas, mangues, rios e lagoas, e o mar, aquele marão imenso e azul, onde pode-se ver o sol e a lua nascerem e se porem, num poético espetáculo que é literalmente aplaudido pelas gentes abobalhadas no alto da duna, seus olhos brilhando de reverência e êxtase. Sim, um baseadinho nessas horas cai bem, mas Jeri já dá barato por si só, acredite.
Vou confessar uma falha de caráter: morro de ciúmes de Jeri. Quando vejo lá aqueles turistas tão caretas e convencionais, tenho saudade de quando apenas os malucos sabiam de Jeri. Saudade de quando não havia energia elétrica e nos hospedávamos nas próprias casinhas dos pescadores, compartilhando de sua comida e de suas histórias. Mas reconheço que é puro egoísmo essa minha nostalgia do que não tem como voltar. Hoje, Jeri vive do turismo, e, tirando certos poréns inerentes ao processo, felizmente os cuidados tomados ainda a mantêm bela e especial, harmonizada entre o simples e o moderno. Ainda.
Muitas línguas e sotaques se falam em Jeri, de tão cosmopolita que ela é, tantos os que lá aportam e não querem mais sair. Muitas línguas também se enroscam nas bocas, eheheh, tantos os convites que a brisa da noite sussurra no ouvido da gente, é um perigo. Jeri é assim, de repente um blues distante que o vento traz, uma fogueirinha que brilha na beira da praia, a noite que se insinua na poesia do luar.
O charme das pousadas, o aconchego dos cafés, os barzinhos tão graciosos… E os passeios além da vila? E aquela culinária saborosa? E os automóveis e as agências bancárias que não há? Impossível eleger o que é mais gostoso. Sem falar no clima, tanto o da Natureza como o de celebração da vida, sempre presente nos risos, brindes e olhares. Até mesmo se perder no labirinto daquelas ruazinhas de areia é bom.
Perder-se em Jeri, eu recomendo. Perder-se de paixão. Perder a noção do tempo, a carteira de identidade, o medo de se experimentar… Perca-se como eu me perdi. Porque um dia, como acontece com tudo na vida, Jeri nunca mais será o que é. E então ela virará um reino encantado dentro de você, sempre lhe chamando para voltar.
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Ricardo Kelmer 2014 – blogdokelmer.com
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MAIS SOBRE JERI
O NOME – “Jericoacoara” é um termo da língua tupi e significa “toca das tartarugas-marinhas”, por meio da junção dos termos “îurukûá” (tartaruga-marinha) e “kûara” (toca).
Parque Nacional de Jericoacoara – Com uma área de 8.850 hectares, o Parque é administrado pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio).
Impressões de viagem – Especial sobre Jeri no site do fotógrafo Fábio Arruda
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PERCA-SE EM JERI
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Pousada Casa do Ângelo – Charme rústico, aconchego, ótima localização, preço bom… Por essas e outras é que sempre me hospedo na pousada do meu amigo Ângelo Jorge, também conhecido no labirinto dos becos de Jeri por Baiano. Recomeeeendo.
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LEIA NESTE BLOG
Inculta e bela, dengosa e cruel – Então arrumei de novo a mochila, me despedi com muitos beijos, seu hálito de vodca me soprando toda a sorte do mundo, eu barquinho de papel rio abaixo, louco para ir, doido para ficar
O desejo da Deusa – Um encontro na praia, as forças da Natureza e um deus repressor
Essa loirinha desmiolada de sol – Duvido que ela tenha uma marquinha de biquíni assim – a loirinha insiste, com a graciosidade tristonha das cidades que sabem que seus argumentos são ótimos mas que não vão adiantar
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01- Jeri e seus mistérios… aquelas ruas de areia sempre me levam de volta ao meu coração! Se eu voltar, eu fico… Susana Mota, Leiria-Portugal – abr2015
02- Parabéns pelo texto. Eu sou apaixonada por Jericoacoara. Erondina Lopes, Itapipoca-CE – mar2016
03- Nossa muito mais muito obrigada pelas suas palavras sobre esse lugar que eu simplesmente amor só apaixonada jeri e sua magia ,como nativa agradeço. Juliana Martins, Jericoacoara-CE – jun2020
04- Texto aprovadíssimo, é um documentário. Você que chegou, reconhece o valor de um lugar tão mágico e convidativo que é. Imagine que o começo a 55 anos. Quantas mudanças! Mas continua lindo. Obrigada pelo registro, real e histórico. Valdenice Albuquerque, Jericoacoara-CE – jun2020
05- Obrigada pela linda homenagem a nossa Vila ao nosso parque nacional as nossas Lagoas… #vemprajeri ser feliz e ponto. Melhor terapia do planeta e sim é um encantamento. Lunna Dourado, São Paulo – jun2020
06- Aaaahhhhh Jeri… pra mim um refúgio, um refrigério da alma… e ainda hoje sinto o mesmo encantamento de qdo eu a conheci no réveillon de 1988 para 1989!!!! Isabella Cantal, Fortaleza-CE – jun2020
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Oi meu lindo, adorei seu texto, parecia que vc estava falando do que vivi em Jeri em 83. Era ano novo, viemos pelo mangue 3 léguas pela praia. Chegamos a noite e seguimos uma luz, era um alemão cuspindo fogo na beira da praia, imediatamente aluguei a casinha do lado da tia Baica, na frente da tia Dosa, na rua do Forró… Voltamos eu o Trança, minha irmã e o Mick. Fomos até jijoca e de la de jegue, claro que andamos
O jegue levava na bagagem roupa e um toca fita, Zé Ramalho, Raul Seixas, Elis…
Na vida cotidiana, me lembro ir buscar água para beber no meio das dunas… Eu com 2 latas de 5 litros e elas com 3 de 20, uma na cabeça, guerreiras amo de paixão. Com o tempo engravidei do meu primogênito, Yumê, sonho em japonês, foi ai que decidimos voltar pra casa da mamãe 😘
Sempre procurei vir O mais possível em Jeri, a 16 anos moro na França mas venho a cada 2 anos. Meu sonho se realizando, estou em Jeri desde dezembro e pretendo fazer meu aniversário de 60 anos no 07/02/2022. Espero vc meu lindo!
Desejo saúde amor e o mar de Jeri na porta de casa.
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