23nov2012
Estaremos mesmo irremediavelmente sós, confinados aqui neste planetinha, no meio de toda a vastidão cósmica lá fora?
O RASTRO LUMINOSO DA SOLIDÃO
.
Li dia desses a entrevista de um astrônomo que duvida que exista vida inteligente similar à nossa fora da Terra. Ele sustenta que os fatores astrofísicos e bioquímicos que propiciaram as condições de vida em nosso planeta são tão únicos e difíceis de ocorrer no Universo que é altamente improvável que os mesmos tenham se repetido em outra galáxia, ainda que elas existam aos bilhões, como de fato existem. A espécie humana, segundo o cientista, seria fruto de circunstâncias tão difíceis de se reproduzirem em conjunto que se poderia dizer que nossa existência se deve a um grande golpe de sorte e que, por isso, os esforços em contatar supostas inteligências extraterrestres são inúteis ‒ nós simplesmente estamos sozinhos no Universo.
Sozinhos no Universo… A frase explodiu em minha mente feito um foguete sinalizador, deixando um rastro luminoso de solidão pelo espaço sideral do pensamento. Sozinhos no imenso Mar Universo… O coração apertou, e creio ter experimentado, enquanto lia a entrevista, uma espécie de angustiante solidão cósmica. Estaremos mesmo irremediavelmente sós, confinados aqui neste planetinha, no meio de toda a vastidão cósmica lá fora? Somente nós?
Bem, mesmo que de fato não exista mais nenhuma espécie com um grau de evolução similar ao nosso, ainda assim nós humanos nos teríamos uns aos outros como sempre tivemos, e não estaríamos verdadeiramente sós, não é verdade?
Hummm, em termos. A evolução da espécie fez mudar os parâmetros. Hoje, já conhecemos todos os povos existentes e o planeta tornou-se pequeno para nossos anseios de expansão. Somos os únicos terráqueos dotados da capacidade de autoquestionamento (pelo menos assim nos vemos) e isso nos traz um tipo estranho de solidão. Agora que atingimos esse ponto de autoconhecimento, sentimos a necessidade de redefinir nosso lugar não mais em termos de planeta, mas de Universo.
Da mesma forma que a criança precisa do outro para construir sua própria definição e os povos da Terra precisaram conhecer outros povos para entenderem melhor a si mesmos, acho que a espécie humana necessita, neste momento histórico de sua evolução, confrontar-se com outra forma de inteligência para entender melhor a vida e galgar novos estágios em sua definição como espécie. Claro que ainda há muito que aprender sobre a natureza humana, mas estamos acelerando as descobertas e cada vez mais rápido as novidades surgem, num ritmo vertiginoso que faz com que a História afunile como num redemoinho, em voltas cada vez mais rápidas, cada vez mais, girando cada vez mais próximo do vórtice…
Não sei aonde chegaremos com esse tal ritmo de transformações. Talvez estejamos nos aproximando perigosamente do vórtice do redemoinho, esse ponto em que algo ocorrerá, algo que mudará a História e inclusive nossa própria compreensão do espaço e do tempo, da vida e de nós mesmos. Fará parte dessa mudança a descoberta de outros seres inteligentes no Universo? Por enquanto, temos apenas nossas próprias dúvidas a nos impulsionar rumo ao desconhecido, como sempre fizemos, com a diferença que agora tudo gira a cada dia mais rápido.
Se o cientista da entrevista estiver certo, prosseguiremos irremediavelmente sós e teremos de nos aguentar sozinhos. Mas prefiro acreditar que ele está equivocado. No fundo de minha alma grita a esperança de que não, não estamos sozinhos, e que em algum lugar lá fora existem seres mais ou menos como nós, talvez com dúvidas parecidas, talvez mais sábios, talvez até saibam de nós…
Não sei. Tudo são dúvidas que faço ecoar por meio dessas linhas, exatamente como a espécie humana também faz com seus foguetes espaciais, lançando à escuridão do espaço nossa ardente incerteza, feito um sinalizador que sobe aos céus e, em seu rastro luminoso, não se cansa de repetir a mesma pergunta angustiante: há alguém mais aí fora?
.
Ricardo Kelmer 2000 – blogdokelmer.com
.
> Esta crônica integra o livro A Arte Zen de Tanger Caranguejos
.
.
LEIA TAMBÉM
Deuses, humanos e androides na berlinda (filme: Blade Runner) – Como todo ser, o criador busca sempre transcender a sua própria condição, e é criando que ele faz isso
A vida na encruzilhada (filme: O Elo Perdido) – Essa percepção holística da vida é que pode interromper o processo autodestrutivo que nos ameaça a todos
Deus planta bananeira de saia (filme: Dogma) – Em Dogma, Deus passa mal bocados por conta de um dilema criado pelos próprios humanos. Santa heresia, Batman!
Minha noite com a Jurema – Nessa noite memorável fui conduzido para dentro de mim mesmo pelo próprio espírito da planta, que me guiou, comunicou-se comigo, me assustou, me fez rir e ensinou coisas maravilhosas
.
FILME: O ELO PERDIDO (Missing Link)
Um milhão de anos atrás, na África, homem-macaco tem sua família dizimada por hominídeos e ele vaga sozinho pelo planeta, conhecendo e encantando-se com a Natureza. Ao comer de uma planta, tem estranha experiência que lhe traz importantes revelações.
O Elo Perdido (Missing link, EUA, 1988)
Direção: David and Carol Hughes
Elenco: Peter Elliot, Michael Gambon, Brian Abrahams e Clive Ashley
.
.
– Acesso aos Arquivos Secretos
– Descontos, promoções e sorteios exclusivos
Basta enviar e-mail pra rkelmer@gmail.com com seu nome e cidade e dizendo como conheceu o Blog do Kelmer (saiba mais)
.
.
A pior solidão é aquela em que estamos acompanhados e nos sentimos terrivelmente sós…..muito bom pensar que haja um disco voador que possa nos tirar da solidão terrestre !
CurtirCurtir