06mai2015
Numa hora dessa, como ainda ter forças pra superar um rival que virou o jogo no fim com um jogador a menos, que já conseguiu o impossível?
O IMPROVÁVEL, O IMPOSSÍVEL E O INACREDITÁVEL
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Três de maio de 2015. Acompanharei o jogo pelo rádio, sozinho em meu apartamento aqui em São Paulo. Jogamos pelo empate, mas não tenho ilusões, sei que será difícil pra caramba. Por isso trato logo de imaginar um roteiro bem sofrido: meu time fará 1×0, no segundo tempo o rival empatará e, no fim do jogo, pênalti pra eles… que o nosso goleiro defenderá. Isso mesmo, dor e angústia até o fim. Pronto, estou preparado. Mas não. Ninguém poderia estar preparado pro que aconteceria.
O ano começou ruim pro Fortaleza Esporte Clube. O último título tricolor fora o tetracampeonato estadual de 2010. Agora, porém, o clube amargava cinco anos na Série C do Brasileiro, um pesadelo horroroso, enquanto o maior rival, Ceará, mais organizado e com mais dinheiro em caixa, se preparava pra um provável pentacampeonato. Restava ao Leão superar as próprias limitações e realizar o improvável. E, principalmente, evocar a tal “mística daquelas camisas”, uma força misteriosa e inexplicável que amedronta até o maior rival e que sempre esteve presente nas grandes conquistas do clube, mas que andava meio sumida.
Acesso a internet e ligo o rádio. Estou tão nervoso que nem lembro de beber algo pra relaxar, isso é incrível, e meu intestino, coitado, nem vou comentar. Mas a camisa tricolor está lá, hasteada no alto do armário, como a estrela-guia da esperança. No primeiro jogo das finais, um domingo antes, surpreendemos e vencemos por 2×1, revertendo a vantagem do Ceará, e agora jogamos pelo empate. Uau, estamos perto de realizar o que era improvável… A conquista da Copa do Nordeste pelo rival, quatro dias antes, o faz chegar pra esse segundo jogo com o merecido status de melhor time da região. É, não vai ser fácil. Mas estou preparado. Tsc, tsc… Ô ilusão.
O golaço de Daniel Sobralense me alivia. Agora eles têm que virar o jogo pra nos tomar o título. Mas continuo desconfiado, não pode ser assim tão facinho… Começa o segundo tempo e o jogo segue difícil, chances dos dois lados. Então eles têm um jogador expulso. Oba, ficou mais fácil. Sim, mas a desconfiança não me deixa relaxar. Chegamos aos 36 minutos. Agora só o impossível pra nos tirar o título.
E eles empatam. Aos 37 do segundo tempo. Que merda. Agora virão uns treze minutos de desespero. Segue o jogo. Mas o tempo não passa. Minhas mãos suam, o coração vai sair do peito, tenho certeza. E aos 45 eles viram o jogo. Não pode ser… Eles alcançaram o impossível. É o pior dos pesadelos pro meu Leão.
Prevejo os dias seguintes, as gozações, vai ser insuportável. Penso em desligar o rádio, me poupar dessa tortura. Mas isso seria covardia, não posso abandonar o time agora. Olho pra camisa lá no alto e me agarro ao último fiozinho de esperança. Mas numa hora dessa, como ainda ter forças pra superar um rival que virou o jogo no fim com um jogador a menos, que já conseguiu o impossível?
Quando o narrador grita o gol inacreditável de Cassiano, aos 47 minutos, demoro a crer, espero um tempo, vão anular o gol… Mas é verdade. É mágico, é inacreditável, mas é real, empatamos! O jogo termina, um jogo épico que entrará pra história. Quem poderia imaginar roteiro tão fantástico? Eu sou campeão, que maravilha! Mas ainda estou tão perplexo… Eu sei que é verdade, mas acho que não consigo acreditar que realmente aconteceu…
É um grande guerreiro aquele que realiza o improvável. É um gigante quem alcança o impossível. Mas como chamar quem consegue o inacreditável? Pode chamar de Fortaleza, é este o seu nome. Parabéns a nós tricolores. A mística daquelas camisas está de volta.
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Ricardo Kelmer 2015 – blogdokelmer.com
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> Site oficial do Fortaleza Esporte Clube
> Fortaleza Esporte Clube na Wikipedia
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CLIPE COM GOLS DAS DUAS FINAIS
edição: RK
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DETALHES DA CONQUISTA
01- Após o gol de Assisinho, aos 45 do segundo tempo, pondo o Ceará à frente do placar, enquanto seus companheiros pareciam sem forças para reagir, o lateral direito Tinga foi buscar a bola dentro do gol e a levou até o centro do gramado, posicionando-a para que o jogo recomeçasse logo. Na saída de bola, Daniel Sobralense tocou para Cassiano, que recuou para o volante Correa, e, enquanto vários jogadores avançavam para a área, ele tocou na esquerda para Wanderson (eleito o melhor lateral esquerdo do campeonato), que avançou, driblou Robinho com um giro de corpo, atraiu a marcação de mais dois adversários e fez um lançamento preciso na direita para Tinga, que cabeceou no meio para Cassiano, que entrara dez minutos antes, tocar para o gol. Tinga, que também participou do gol de Éverton, no primeiro jogo, cruzando para ele cabecear, era um dos jogadores mais questionados pela torcida, mas subiu de rendimento nas finais.
02- O goleiro Deola e o volante Dudu Cearense foram as contratações mais caras. O primeiro alternou boas atuações com falhas preocupantes, e o segundo demorou a entrar no ritmo, lesionou-se e decepcionou os que nele tanto acreditavam. Felizmente, os volantes Vinicius Hess e Auremir, ao lado de Correa, o grande maestro do time, tiveram bom rendimento e se entrosaram bem com os zagueiros e laterais, fazendo do sistema defensivo o ponto forte do time. O meio de campo melhorou com a subida de rendimento de Éverton e a chegada de Daniel Sobralense. Quanto ao ataque, nenhum dos jogadores se destacou, e esse foi o setor de pior rendimento.
03- Foram frequentes os problemas de contusão durante o campeonato, principalmente na primeira metade do certame, o que dificultou bastante o trabalho do técnico Nedo Xavier, demitido após derrota para o Ceará na segunda fase. Sem poder contar com jogadores como Romarinho e Radar, que quase não jogaram, o técnico Marcelo Chamusca também teve problemas com as contusões. Daniel Sobralense, por exemplo, precisou por duas vezes interromper sua sequência de jogos, voltando a atuar nas finais, sem muito ritmo de jogo. Seu talento, porém, compensou tudo.
04- O ressurgimento do caso David Madrigal no meio do campeonato e a polêmica decisão do TJDF-CE de excluir o Fortaleza do campeonato e rebaixá-lo para a segunda divisão, pegou a todos de surpresa. O clube agiu rápido e conseguiu o efeito suspensivo, o que lhe garantiu jogar as semifinais e as finais. O caso, porém, em vez de dificultar ainda mais a vida dos tricolores, pareceu injetar um novo ânimo no Pici e serviu para unir mais a torcida em torno do time. A solicitação de árbitro de fora para as finais, feita pelo Fortaleza, foi mais uma jogada inteligente, reforçando a ideia de que o clube, além do rival Ceará, lutava também contra a Federação e os interesses obscuros do TJDF-CE.
05- A invasão do campo por parte da torcida do Fortaleza, após o apito final, poderia ter sido evitada com a presença de mais policiais no campo, afinal era uma atitude perfeitamente previsível. A comemoração tricolor provocou a ira da torcida do Ceará, que soltou rojões sobre os torcedores tricolores no campo e invadiu o gramado para brigar. Erraram as duas torcidas. Falharam as autoridades da segurança. Perdeu o futebol e perderam os dois clubes, que tiveram de pagar pelo prejuízo dos assentos quebrado e certamente sofrerão penalidades nos tribunais.
06- FICHA TÉCNICA
– Local: Arena Castelão, Fortaleza-CE
– Data: 3 de maio de 2015, domingo, 16 horas
– Árbitro: Péricles Bassols-RJ
– Cartões amarelos: Charles, Uillian Correia, Ricardinho (Ceará); Daniel Sobralense, Deola, Pio e Lúcio Maranhão (Fortaleza)
– Cartões vermelhos: Uillian Correia (Ceará); Maranhão (Fortaleza)
– Público pagante: 50.002
– Público não-pagante: 1.000
– Renda: R$ 1.169.467,00
– ESCALAÇÕES:
FORTALEZA: Deola, Tinga, Adalberto, Lima e Wanderson; Pio (Maranhão), Auremir, Correa e Everton (Vinícius Hess); Daniel Sobralense e Lúcio Maranhão (Cassiano). Técnico: Marcelo Chamusca. BANCO: Erivélton, Genilson, Max Oliveira, Hudson, Radar, Vinícius Hess, Cassiano, Samuel, Maranhão, Márcio Diogo, Dudu Cearense e Cássio.
CEARÁ: Luis Carlos, Samuel Xavier, Gilvan, Charles e Fernandinho (Tiago Cametá); João Marcos (Robinho), Uillian Correia, Ricardinho e Marinho; Magno Alves e William (Assisinho). Técnico: Silas. BANCO: Tiago Campanaro, Sandro, Everton, Jean Cléber, Marcos Aurelio, Wellington Carvalho, Robinho, Eloir, Assisinho, Carlão e Wescley.
07- Onde você estava quando Cassiano fez o gol do título? – Na página oficial do clube no Facebook, dezenas de torcedores relatam suas experiências
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HINO DO FORTALEZA EM NOVE VERSÕES
00m00 – Original 1967 com Manoel Paiva
02m40 – Lírica com Ayla Maria e Raimundo Arraes
04m59 – Raimundo Fagner
08m44 – Reggae com banda Okolofé
12m10 – Voz e violão com Calé Alencar
14m22 – Forró com Neo Pi Neo
16m58 – Versão rock (Alexandre Carvalho. Instrumental: André Carvalho)
20m09 – Original regravação 2002
22m35 – Em francês (Voz: Giselle Café)
24m43 – Versão de Nonato Luiz (violão, com batucada nas cordas do violão)
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A mística daquelas camisas (crônica) – Eu era um menino de nove anos quando a magia daquelas camisas invadiu minha vida. Os radialistas falavam sobre a tal mística das camisas do Fortaleza Esporte Clube, mas eu ainda não podia entender o que era. No entanto, o azul-vermelho-e-branco já seduzia meus olhos de criança, e me fascinavam as histórias sobre as vitórias impossíveis.
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O hino – O primeiro hino do Fortaleza foi composto em 1959, por José Jatahy. Em 1967 é composto o hino oficial pelo poeta Jackson de Carvalho, sendo sua gravação em outubro do mesmo ano, tendo como arranjador o maestro Manuel Ferreira e como intérprete o cantor Manoel Paiva. Em entrevista à revista Veja, o cantor e compositor Chico Buarque afirma que considera o hino do Fortaleza o segundo hino mais belo do futebol brasileiro, sendo o primeiro o do seu clube, o Fluminense.
Fortaleza, clube de glória e tradição
Fortaleza, quantas vezes campeão
Fortaleza, querido idolatrado
Estás sempre guardado dentro do meu coração
Altivo, tua vida sempre foi um marco
Tua glória é lutar e vencer também
Salve o Tricolor de Aço
No campo, provaste mesmo que não tens rival
Tua turma é valente, é sensacional
Salve o Tricolor de aço
Soberbo, tua fibra representa um norte
Combativo, aguerrido, vibrante e forte
Sem demonstrar cansaço
Receba um sincero abraço da torcida tão leal
Meu Tricolor de Aço
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> Hino oficial do Fortaleza Esporte Clube
> Hino oficial (Fagner)
> Hino oficial, versão lírica (Ayla Maria e Raimundo Arraes)
> Hino oficial, versão forró (Neo Pi Neo)
> Hino oficial, versão rock (Voz: Alexandre Carvalho. Instrumentos: André Carvalho)
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01- Maravilha de crônica Kelmer! Viva o Tricolor de Aço! Bj saudoso. Madalena Bonfim, Fortaleza-CE – mai2015
02- A cronica estava linda demais e o futubol realmente surpreendeu! Michelle SJ, Fortaleza-CE – mai2015
03- Curti a crônica, não a “A mística daquelas camisas está de volta.” Rsrs. Parabéns, tricolor Kelmer. André Domene Ortiz, Fortaleza-CE – mai2015
04- Ai dentro. Carniça. Marcella Costa, Fortaleza-CE – mai2015
05- Beleza pura a crônica. Eugênio Oliveira, Fortaleza-CE – mai2015
06- Texto lindo e perfeito! Saudações tricolores! Jacqueline Moura, Fortaleza-CE – mai2015
07- Saudações Cassianas! Halder Gomes, Fortaleza-CE – mai2015
08- Parabens pela linda crônica,parabens pela vitória do Foraleza. Vilma Galvão, Fortaleza-CE – mai2015
09- bom demais, tricolor. bjo. Xico Sá, Rio de Janeiro-RJ – mai2015
10- Adorei a crônica. Saudações tricolores, tem que ser sofrido sim, porque torcer fortaleza é para os fortes, não é mesmo? Valeu! Ana Nathalia Simões, Fortaleza-CE – mai2015
11- Traduziu nossa angustia e ao mesmo tempo nossa grande conquista!!!! Parabéns a todos os tricolores!!! Eduardo Maranhão, Fortaleza-CE – mai2015
12- Caros amigos tricolores! Fantástico texto do meu amigo Ricardo Kelmer! Alfredo Junior Franco, Fortaleza-CE – mai2015
13- É isso, Ricardo Kelmer. Aproveito e coloco aqui sua observação:”A confusão e a violência entre torcedores arruaceiros entristecem o futebol, sim, mas o futebol em si é belo e emocionante. É justo separar uma coisa da outra, pois a imensa maioria dos torcedores é de bem e vai pro estádio apenas pra torcer por seu time.” Rosângela Aguiar, Fortaleza-CE – mai2015
14- O campeão voltou! Eugênio Oliveira, Fortaleza-CE – mai2015
15- Vale a leitura! Parabéns Ricardo Kelmer Fabio Mota, Fortaleza-CE – mai2015
15- Vale a leitura! Parabéns Ricardo Kelmer Fabio Mota, Fortaleza-CE – mai2015
16- Nossa.Me emocionei dnv. Otimo trabalho !! Paulo Jose, Fortaleza-CE – mai2015
17- Que texto massa!!! Todo tricolor tem que ler e conhecer Ricardo Kelmer! Mto show!!! Renata Damasceno, Fortaleza-CE – mai2015
18- Show. Stefany Sousa, Fortaleza-CE – mai2015
19- Bacana demais!!!somos tricolor de aço. Ereneide Viana, Fortaleza-CE – mai2015
20- Para os campeões ! Carlos Sampaio, Fortaleza-CE – mai2015
21- Parabéns Ricardo Kelmer. Emocionante seu texto. Senti exatamente o mesmo… Ao ler seu fantástico texto senti toda emoção de domingo mais uma vez. Esse é o nosso leão. Impossível, improvável e inacreditável! Hugo de Freitas, Fortaleza-CE – mai2015
22- O texto retrata o sentimento dos tricolores, que apesar de torcedores, sabem bem separar paixão e razão, e tinham consciência do melhor momento do rival. O receio, a desconfiança no que o time poderia fazer estavam presentes nesses tricolores e, ao que parece, o sentimento foi esse mesmo durante os 90 minutos. Marcos André, Fortaleza-CE – mai2015
23- Realmente retrata quase tudo que passei! Parabéns! Joao Batista Mota, Fortaleza-CE – mai2015
24- perfeito! AAIii meu coração!!! É verdade, meu Deus!!! Andrea Mesquita Lima, Fortaleza-CE – mai2015
25- Eu também demorei a acreditar, nem vi direito pois já estava me sentindo derrotada. Mas valeu! Bom demais!! Te amo Leão!!! Cristiane Bastos, Taíba-CE – mai2015
26- Parabéns, grande Ricardo Kelmer. Eu senti tudo isso, só que às avessas, hehehe. Augusto Caminha, Fortaleza-CE – mai2015
27- Outra foi aquela que chegamos no segundo tempo de Fortaleza e Ceará aos 35m e o Fortaleza perdia de 3×0, não é q empatou.. Andre Soares Pontes, Fortaleza-CE – mai2015
28- Emocionante! Quase me transportei pro passado naquele dia! Emoções mil, eu vivi extasiado! José Milton Fontenelle, Fortaleza-CE – mai2015
29- Como eu estou com 60 anos, essa linda crônica fez-me lembrar do inesquecível Blanchard Girão, o criador da “mística daquelas camisas”. Francisco Celio Cavalcante Marinho, Fortaleza-CE – mai2015
Voce descreveu fielmente o acontecido,mais pode acordar que é verdade,(sozinho somos fortes,juntos somos fortaleza)parabéns.
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> Tô acordando aos poucos, Givanildo. 🙂
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