LIVROS – As brumas de Avalon

asbrumasdeavalonlivro01As Brumas de Avalon
The Mists of Avalon – 1979
Marion Zimmer Bradley
Editora Imago

Romance em 4 volumes. A saga arthuriana numa visão feminina e intimista. .

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A Bretanha por volta do sec. VII, as guerras pela unificação do Reino, a realeza e seus costumes, as tramas envolvendo paixões, traições e os mais altos ideais de nobreza e lealdade e as decisões de bastidores que estabeleceram definitivamente o cristianismo na ilha, exterminando boa parte da cultura local e seus cultos à Natureza e à Deusa Mãe. Este romance mostra o lendário universo de Camelot a partir da ótica de Morgana, a meia-irmã de Arthur e sacerdotisa de Avalon, a ilha que atuava como centro do culto à Grande Deusa.

QUEDA POR BRUXAS
Ricardo Kelmer 2008

Li os quatro volumes da saga na década de 1980, eu tinha vinte e poucos anos. Poucas vezes me senti tão envolvido por um livro. É daquele tipo de história que a gente sabe desde o início que os mocinhos perderão o jogo mas mesmo assim prossegue lendo e torcendo por eles. Reflexões, risos, choros, raiva, compaixão, tesão senti de um tudo com esse romance!

Durante toda a leitura dos livros, que durou semanas, o clima místico de As Brumas de Avalon me envolveu feito uma névoa e cheguei a querer, seriamente, me comunicar com os personagens, acredita? Pois foi. Identifiquei-me tanto com Morgana, com sua luta em preservar Avalon, seu sofrimento e sua solidão, seu amor não correspondido, que me peguei desejando voltar no tempo pra me casar com ela – pra que a sacerdotisa de Avalon não terminasse seus dias triste e sozinha. Mas não pense que eu virei santo não: se eu voltasse, eu comeria e muito a Morgana, mesmo com sua fama de feiosa. Ora se não comeria! Só de imaginá-la naqueles rituais correndo nua pela floresta, com o corpo todo lambuzado de sangue de gamo…

Sim, você tá certa, querida leitora, eu era doido mesmo. Melhorei um pouco. Mas continuo tendo uma queda fudida por bruxas, por mulheres que encarnam o arquétipo do feminino selvagem: mulheres ligadas à Natureza, de alma livre, harmonizadas com seus próprios ciclos e com a sabedoria natural do planeta, mulheres que não só vivem mas celebram a vida e estão conectadas ao Sagrado. Sim, é uma visão meio mística da mulher, uma visão meio pagã, sensual – mas também é uma visão sagrada. Conheço poucos homens que compartilham essa minha visão, ver a mulher como a representação viva da própria Deusa. Mas conheço várias mulheres que encarnam maravilhosamente o feminino selvagem. Putz, como não amar, admirar e reverenciar uma Filha da Deusa?

Em 2001 foi lançada uma versão do romance para a tevê. A história teve de ser alterada, afinal seria impossível contá-la da mesma forma em linguagem de tevê e em tão pouco tempo, mas a essência da história e sua mensagem foi mantida. Eu assisti e gostei. Pode ser encontrado em locadoras.

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MINISSÉRIE PARA TEVÊ

asbrumasdeavalon03As brumas de Avalon
Uma sacerdotisa prepara o nascimento de Arthur, que viria a se tornar rei para comandar a Bretanha e salvar Avalon.

Título original: The Mists of Avalon
Gênero: Aventura
Duração: 180 minutos
Ano de lançamento (EUA): 2001
Estúdio: Warner Bros. / TNT / Stillking Films / Constantin Film Production GmbH / Wolper Organization
Distribuição: TNT
Direção: Uli Edel

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SOBRE OS FESTIVAIS DE BELTANE
Ricardo Kelmer 2008

Originalmente Beltane era um importante ritual pagão de fertilidade, realizado anualmente em várias regiões da Grã Bretanha durante a alta Idade Média. Nele festejavam-se os ciclos da Terra e se saudava o retorno da primavera, num clima de reverência à Deusa, ou ao que hoje chamamos de arquétipo da Grande Mãe. Os participantes ofereciam seu corpo pra que o mistério se realizasse através do casamento sagrado do masculino e do feminino. As crianças nascidas desse ritual eram consagradas à Deusa e destinadas a serem sacerdotes, druidas, sacerdotisas, todos defensores da Grande Mãe.

O contexto do ritual é a comunhão com o sagrado e não o sexo propriamente dito. O sexo faz parte mas está inserido num clima de entrega sagrada, de reverência à Deusa, fazer do próprio corpo o altar onde se celebram os mistérios dos ciclos, a dança das estações, a fecundidade da Mãe Terra.

A Deusa une as pessoas ao redor das fogueiras e é uma imensa honra entregar-se a um filho da Deusa ou a uma filha da Deusa. Não é a outra pessoa que importa  importante é o ato de entregar-se à Grande Mãe e através desse dispor-se, ser instrumento da sagrada celebração da fertilidade da terra e do milagre da vida. Em Beltane ninguém tem um rosto, ninguém tem um nome. Cada um é a encarnação do sagrado masculino e do sagrado feminino.

O cristianismo bem que tentou exterminar por completo as tradições da antiga religião da Deusa, imprimindo a elas um caráter pecaminoso e demoníaco, além de perseguir e matar seus seguidores durante a vigência da Santa Inquisição. Mas as tradições pagãs sobreviveram e ainda hoje os festivais de Beltane são celebrados na Europa.

virou putaria

Outro dia encontrei numa comunidade do Orkut um tópico intitulado “Quem vc levaria para as fogueiras de Beltane?” (http://www.orkut.com.br/Main#CommMsgs.aspx?cmm=1488969&tid=9037760&kw=levaria+beltane) Nas respostas tinha Axl Rose, Brad Pitt, Shakira, a minha vizinha gostosa e por aí vai… Putz, pode uma coisa dessa? Teve uma lá que disse que levaria o marido “mas botaria um bip no bolso dele”. Que bolso, minha filha, que bolso??!!

Ai, ai… Pelo jeito, as pessoas ouviram o galo cantar mas não sabem nem que bicho era. O que fiz? Deixei um recado meio indignado pra pirralhada lá, no estilo Jesus-expulsando-os-vendilhões-do-templo. Não sei se adiantou muito não…

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Ricardo Kelmer 2008 – blogdokelmer.com

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Mais sobre liberdade e o feminino selvagem:

AsFogueirasDeBeltane-03aAs fogueiras de Beltane – As fogueiras estão acesas, a filha da Deusa está pronta. O casamento sagrado vai começar

A mulher selvagem – Ela anda enjaulada, é verdade. Mas continua viva na alma das mulheres

A mulher livre e eu – A liberdade dessa mulher reluz no seu jeito de ser o que é – e ela é o que todas as outras dizem ou buscam ser, mas só dizem e buscam, enquanto ela tranquilamente… é

Em busca da mulher selvagem – Era por ela que eu sempre me apaixonava, essa mulher que era quem ela mesma desejava ser e não a mulher que a família, religião e sociedade impunham que ela fosse

Amor em liberdade – O que você ama no outro? A pessoa em si? Ou o fato dela ser sua propriedade? E como pode saber que ela é só sua?

Medo de mulher – A mulher é um imenso mistério, que o homem jamais alcançará

Alma una – Eu faço amor com a Terra / Sou a amante eterna / Do fogo, da água e do ar / Sou irmã de tudo que vive / Ninfa que brinca com a vida / Alma una com tudo que há

Quem tem medo do desejo feminino? (1) – A maternidade, a castidade e a mansidão de Nossa Senhora como bom exemplo, e a força, a independência e a liberdade sexual da puta como exemplo contrário, a ser jamais seguido.
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LIVROS

Vocês Terráqueas – Seduções e perdições do feminino – Livro de contos e crônicas sobre a mulher

Mulheres que correm com os lobos – Mitos e histórias do arquétipo da mulher selvagem (Clarissa Pinkola Estés –  Editora Rocco, 1994)

A prostituta sagrada – A face eterna do feminino (Nancy Qualls-Corbert – Editora Paulus, 1990)

As brumas de Avalon (Marion Zimmer Bradley – Editora Imago, 1979)

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COMENTÁRIOS
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23 Responses to LIVROS – As brumas de Avalon

  1. Paula disse:

    Na linha fast que a moçada anda … só podia dar nisso …rsrs….muito bem Kelmer…. tbm sou fã de Brumas de Avalon, ganhei os quatro livros de meu pai , quando existia o círculo do livro ( nem sei se existe ainda)e li duas vezes os 4 volumes é demais…a Zimmer conseguiu explorar ao máximo esse universo feminino, com todas as dores e paixões que vivemos…fico com muita pena da Morgana, quando de uma certa forma ela foi afastada de seu filho, e por uma questão de sentimetno de culpa se deixa levar por isso ….talvez se o pequeno incesto fosse amado, talvez não traíria o pobre Arthur. Aliás muitas histórias para tecer comentários…beijos

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  2. Dêzinha disse:

    Nunca entendi o q as pessoas acham de tão interessante em As Brumas de Avalon. Ou eu sou um E.T. sem cultura, ou o livro não passa de uma historinha cafona e entediante!!!

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  3. Vanessa disse:

    Sempre que lia um pouquinho e fechava o livro, a personalidade da Morgana continuava viva comigo. Os [pre]conceitos cristianizados são tratados de maneira clara e cotidiana, à moda da época. É de ficar indignado como a Viviane!

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  4. Kelmer, gostei muito do seu texto acerca de “As brumas”. Já tinha visto o filme, mas, como me identifiquei com a temática (por diversos motivos), quis ler a coleção de livros tb. A voz de uma antiga amiga ficava ecoando em minha memória “O filme não chega perto da riqueza do livro!”. Como vc, tb me vejo com a forte energia da história, mesmo depois que viro uma página e saio de dentro da leitura. É o tipo de livro que me absorve por completo. Confesso que me violenta um pouco alguém comentar, justamente aqui, que não vê beleza alguma nesta obra; contudo, o que se há de fazer? Temos de conviver com as disparidades que, ao fim e ao cabo, são os que acrescentam mais variedade à Vida. Ademais, parabéns pela página.

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  5. Elza disse:

    Brumas de Avalon – Li varios livros de Marion – Escritora fantastica – mostra a sociedade de forma Matriarcal – simplesmente divino – sou sua fã.

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  6. Claudio Augusto disse:

    muito bom este livro as brumas de avalon assisti o filme em 2004 gostei tanto da história e hoje estou lendo o romance pela primeira vez
    bem pra falar lhes a verdade já o tinha lido os quatro livros de junho a outubro de 1988
    uma obra prima máxima

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  7. socorro disse:

    oi,e a PA como vai?bj

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  8. Tatiana. disse:

    Olá! Nem sei se tu vai ler essa resposta, mas vou escrever do mesmo jeito.
    É muito raro mesmo um homem se sensibilizar a ponto de realmente gostar e curtir a trajetória das Brumas. Um ponto no teu comentário me inquieta, contudo: “se eu voltasse, eu comeria e muito a Morgana”, entendo a “brincadeira”, mas sinto que devo te lembrar que é nessas horas que se revelam os nossos (pre)conceitos já arraigados, bem como nosso caráter. Sinto também que devo te lembrar que, apesar da reverência à vida e dos rituais em que o sexo estava presente, Morgana era uma sacerdotisa da Deusa, e nisso se insere tudo o que acarreta a consciencia de um sistema duo que rege as forças da natureza – vida e morte, feminino e masculino, luz e escuridão – como complementares e indissociáveis. O que eu quero dizer é que o sexo como finalidade para afirmar poder ou posse/dominação é uma polaridade masculina cultivada e naturalizada pela sociedade patriarcal como forma de restringir justamente essas habilidades “ocultas” (que eu chamaria de inatas) das mulheres e que eles mesmos mistificaram.
    Tá ok, só deixei esse comentário porque estou em processo de “relembramento” de muitas coisas e também de releituras. Li somente uma vez as brumas quando tinha 15 anos e de lá pra cá (tenho 23 agora), li e reli muitas vezes os outros livros que fazem parte da saga, principalmente A Queda de Atlântida – que recomendo muito, caso tu ainda não tenha lido.
    Que tu mantenha teu espírito leve e mente aberta – talvez seja impossível para um escritor verdadeiro ser diferente -, mas ainda assim consciente e alerta.

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    • ricardokelmer disse:

      Adorei teu comentário, Tatiana (nome de bruxa). Vc foi muito generosa em escrever sobre meu texto com tanta atenção. Obrigado! Quanto ao “se eu voltasse, eu comeria e muito a Morgana”, fiquei realmente preocupado e voltei ao meu texto pra reler o que eu escrevi, e voltei lá disposto até a, se preciso fosse, alterar o que havia escrito. Reli e… bem, o que fiz foi uma piada em relação a duas coisas: ao fato de que eu casaria com Morgana não porque sou bonzinho e também ao fato de que Morgana passou pra história como uma mulher feia. Eu quis mostrar que, ainda que ela fosse feia, eu a desejaria sexualmente pois eu a veria além dos padrões de beleza. Mas, relendo agora, acho que minhas intenções ao fazer a piada talvez não tenham ficado tão claras quanto eu gostaria.
      Obrigado pela dica de livro. E volte sempre. 🙂

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      • Tatiana. disse:

        Oi Ricardo! Então, a tudo que me interessa dou a devida atenção, principalmente quando se trata dessa condição natural de sentir no corpo as correntes do mundo (o um é o todo e o todo é um), sistemas simbólicos de dominação e/ou preconceito moral – muitas vezes não intencional. Quanto a Morgana, eu aposto que ela era linda na verdade, mas possuía uma beleza que estava fora dos padrões da época – que seria traduzida na Guinevere – do tipo que dispensa acessórios ou disfarces, a beleza da mulher selvagem – como tu mesmo descreve na postagem homônima – e creio que é a isso que tu te refere quando diz “eu a veria alem dos padrões de beleza”.
        Fui dar uma olhada nos links para os posts indicados abaixo dessa resenha e vi toda a transformação boicotada do homem no processo para aceitar e viver seu feminino. São nessas horas que minha esperança na humanidade se renova, apesar de todas as catastrofes causadas pelo homem – em relação ao nosso planeta e às pessoas.
        Agora eu te agradeço pela dica do livro – vou procurar o Mulheres que correm com os Lobos, ele sempre me chamou a atenção, mas sempre havia outros na mesma situação. A questão é que já faz um tempo que esse livro insiste em aparecer pra mim de uma forma ou de outra.
        Um abraço, que o tua vontade sempre te guie para a luz. =)

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  9. Morgana Luna disse:

    Vi o filme mais uma vez hoje e procurando uma foto para ilustrar a minha postagem no face achei seu blog…ainda gosta de bruxas? morganaluna@live.com me adicione!

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  10. Morgana Luna disse:

    Pois é, os silfos são muito sábios…

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  11. Dinho01 disse:

    Também sou fã dessa saga em livros e depois me tornei fã da escritora Marion Zimmer Bradley. Infelizmente,na minha opinião, a mini-série não fez jus à obra. Gostaria muito que os 4 livros fossem adaptados para o cinema.

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    • ricardokelmer disse:

      > Adaptar As Brumas de Avalon pro cinema seria uma tarefa dificílima. Eu, particularmente, não acredito que isso acontecerá.

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      • dinho01 disse:

        Eu concordo que seria difícil mas não,impossível. Temos os exemplos recentes de “O senhor dos Anéis” e “As crônicas de Nárnia”. Seria bom se houvesse um movimento entre os fãs pedindo essa adaptação.Acho que Peter Jackson seria um bom nome para a direção.

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