RK na Nova Consciência 2012

19/02/2012

Ricardo Kelmer 2012

Um festival multicultural que reúne arte, ciência, filosofia e tradições religiosas

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O Encontro da Nova Consciência é realizado desde 1992, durante o Carnaval, em Campina Grande, Paraíba. É um festival multicultural que reúne arte, ciência, filosofia e tradições religiosas, buscando um mundo melhor pelo caminho do respeito às diferenças. Nesta 21ª edição, farei duas palestras, participarei de duas mesas e lançarei o livro novo. Eis os horários de minhas participações:

> 6ª feira, 17fev

AUDITÓRIO SESC CENTRO
21h40 – Palestra – “A revolução do mundo autoconsciente: Cidadania global como saída para a crise evolutiva”.

> Sábado, 18fev

3º ENCONTRO DE LITERATURA CONTEMPORÂNEA
15h30 – Mesa: “Realismo fanástico, RPG e a escrita de ficção científica”. Com André de Sena (escritor, jornalista-PE) e Wander Shirukaya (escritor-PB). Mediação: Bruno Ribeiro (PB).
16h45 – Lançamento do livro “O irresistível charme da insanidade” (romance, Editora Artepaubrasil-2011).

> 2ª feira, 20fev

AUDITÓRIO SESC CENTRO
14h – Mesa – “Produção cultural independente: ou colaboramos ou evaporamos”. Com Alberto Marsicano (Citarista-SP), Rayan Lins (Coletivo Mundo-PB) e Diogo Rocha (Coletivo Natora-AL). Coord.: Arthur Pessoa (Músico-PB).

> 3ª feira, 21fev

14º ENCONTRO DE ATEUS E AGNÓSTICOS
14h – Palestra – “Ativismo ateu: chatice ou necessidade?”

2º ENCONTRO DE COMUNICAÇÃO E MÍDIAS DIGITAIS
17h – Palestra – “Internet livre x direitos autorais – Mocinhos e vilões na guerra pelo controle da cultura mundial”

ENCERRAMENTO
Leitura da crônica Medo de Mulher (dedicada às mulheres violentadas e mortas em Queimadas-PB, em 12.02.12)
> Baixe o arquivo de áudio dessa leitura (mp3, 8mb)

> Todas as noites

Na praça, é claro, curtindo os shows da programação musical, que apresenta atrações locais, de outros estados e de outros países.

PROGRAMAÇÃO COMPLETA DO EVENTO

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VÍDEO DA PALESTRA
“A revolução do mundo autoconsciente – Cidadania global como saída para a crise evolutiva”

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O Irresistível Charme da Insanidade

Um músico obcecado pelo controle da vida. Uma viajante taoísta em busca de seu mestre e amante do século 16. O amor que desafia a lógica do tempo e descortina as mais loucas possibilidades do ser.

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01- Ainda não conhecia o trabalho de Ricardo Kelmer, mas fiquei encantada de uma forma, que com certeza vou procurar suas obras para ler, principalmente seu filho mais recente, adorei o enredo… Harriet Galdino, Campina Grande-PB – fev2012



Guia de Sobrevivência para o Fim dos Tempos – Pré-venda

18/01/2012

Ricardo Kelmer 2012

Adquira antecipadamente com um ótimo desconto, tenha seu nome no livro e receba em casa, antes mesmo das livrarias


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“O que fazer quando de repente o absurdo invade nossa realidade e as velhas verdades se tornam inúteis? Para onde ir quando o mundo acaba?”

Meu livro de contos fantásticos Guia de Sobrevivência para o Fim dos Tempos será relançado este ano. E como terei que bancar parte do investimento, já iniciei a pré-venda do livro.

Adquirindo o livro antecipadamente até 10fev, você ganha desconto especial (nas livrarias custará R$ 30) e seu nome constará na obra, na seção Galeria de Leitores Especiais. E você receberá o livro pelo correio no início de abril, com dedicatória, antes mesmo das livrarias.

PREÇOS (pro mesmo endereço, frete incluído)

1 exemplar: R$ 21
2 exemplares: R$ 19 cada
3 exemplares em diante: R$ 19 cada + 1 livreto de brinde (você escolhe o livreto, veja no fim)

BANCOS PARA DEPÓSITO: HSBC, Itaú, Banco do Brasil e Bradesco. Pra participar, envie e-mail pra rkelmer(arroba)gmail.com e eu entrarei em contato informando as contas.

SOBRE O LIVRO

Publicado originalmente em 1997, o livro foi reescrito e alguns contos mudaram bastante. Em minha opinião, ficou bem melhor. Nos nove contos que formam este livro, onde o mistério e o sobrenatural estão sempre presentes, os personagens são surpreendidos por estranhos acontecimentos que abalam sua compreensão da realidade e de si mesmos e deflagram crises tão intensas que podem se transformar numa questão de sobrevivência. Um livro sobre apocalipses pessoais.

> Saiba mais, leia alguns contos, veja comentários

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LIVRETOS DO BRINDE (comprando 3 ou mais livros)
formato bolso, 48 pag

Guia do Escritor Independente (dicas)
Memórias de um Excomungado (crônicas, reflexão, humor)
Um Ano na Seca (conto, erotismo, humor)
O Ultimo Homem do Mundo (conto, terror, humor)
Blog do Kelmer (crônicas, contos)

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Blade Runner – Deuses, humanos e androides na berlinda

01/10/2011

01out2011

Como todo ser, o criador busca sempre transcender a sua própria condição, e é criando que ele faz isso

BLADE RUNNER – DEUSES, HUMANOS E ANDROIDES NA BERLINDA

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Criador e criatura. Eita relaçãozinha complicada… Mas não podia ser mesmo de outro jeito, afinal toda criatura é a sequência natural do processo de evolução de seu criador e, assim sendo, todo criador está muito mais que envolvido com sua criatura: ele, de certa forma, é a criatura. E a criatura, por sua vez, mesmo sendo a extensão de seu criador, buscará naturalmente sua própria individualidade e isso trará a necessidade de, a certa altura, questionar e negar o criador. Ou seja, o conflito é inevitável. Mas necessário.

Rick Deckhard, o protagonista do filme Blade Runner (O Caçador de Androides), sofre na própria pele esse antiquíssimo dilema cósmico. Na Los Angeles futurista ele é o detetive que persegue replicantes, os androides semi-humanos que se rebelaram na colônia espacial e voltaram à Terra. O que desejam os replicantes? A mesmíssima coisa que cada um de nós, humanos: eles querem viver. Mas para isso terão que encontrar o cientista que os criou e convencê-lo a lhes dar mais que os quatro anos de vida originais que um replicante tem quando é criado nos laboratórios.

Imagine-se no lugar de um replicante. Você nasce, ou melhor, você surge já adulto, programado para viver quatro anos. As memórias de vida que você possui foram, na verdade, meticulosamente implantadas, copiadas dos humanos, formando um passado para você, para que não desconfie que é um replicante. Você foi criado para executar tarefas altamente especializadas e por isso é mais forte, mais inteligente, mais esperto. Você é como um humano aperfeiçoado, com a única desvantagem de ter bem menos tempo de vida, por uma questão de segurança para os humanos.

Acontece que um dia você descobre essa armação toda e, naturalmente, fica puto porque o enganaram. Você quer viver mais. O que faz? Contra a injustiça de seu criador, você não tem a quem recorrer senão… ao próprio criador. Somente ele poderá reparar o que você considera uma horrenda injustiça, afinal você o serviu desde o primeiro dia de sua vida, fez tudo como ele quis. E agora é essa a sua recompensa? Morrer tão cedo?

Deckhard, o detetive, caça os replicantes e os mata um a um. Mas falta pegar o último, Roy Batty, o melhor dentre eles. Roy conseguiu encontrar-se com o cientista que o criou, que afirmou ser impossível lhe dar mais vida. Inconformado, Roy o matou. Agora ele foge do detetive caçador de androides e vai para o alto de um prédio. E lá em cima os dois travarão a luta final, de um lado o humano que tem ordens para matar e do outro lado o replicante que deseja apenas mais vida.

A cena dessa luta final simboliza com perfeição a complexa grandeza da arquetípica relação criador-criatura. Pelo ângulo do detetive, temos alguém que representa a humanidade, ou seja, ele está no papel de criador, sendo o replicante, assim, a sua criatura. O criador, ameaçado, precisa eliminar o que ele próprio criou, a mais perfeita de suas criações. A criatura está apegada à vida, mas sabe que logo irá morrer. E não há apelação. O que lhe resta fazer? Matar-se para, assim, acabar logo com a dilacerante solidão que sente e abreviar seu sofrimento existencial? Ou continuar vingando-se daqueles que a criaram, matando quantos puder? No alto do prédio este é o trágico dilema que pressiona e maltrata a criatura.

Rogar ao criador por justiça é típico das criaturas, os humanos que o digam. Eles também um dia foram criados – e desde então buscam não apenas mais vida, mas também o sentido de estarem vivos. Após adquirir autoconsciência, o Homo sapiens passou a se relacionar com o princípio criador de diversas formas como a arte, a filosofia, a mitologia e a religião. E é na mitologia cristã que, antes de voltarmos à cena final do filme, buscaremos entender mais sobre essa relação tão delicada.

Jó questiona a ética de Deus

Diz-nos a Bíblia que um dia a criatura ousou questionar o criador por se achar por ele injustiçada. Estou falando do Livro de Jó, o mais poético dos livros do Antigo Testamento. Jó é o servo predileto de Deus, de todos o mais fiel. Apesar disso, Deus permitiu que o Diabo lhe destruísse a vida, acabando com suas propriedades e seus animais, matando seus filhos e adoecendo-o – apenas para saber se a criatura se manteria leal a seu criador mesmo na desgraça total. Vejamos a questão pelo ângulo da mitologia e comecemos com a pergunta: por que Deus faria coisa tão abominável com sua criatura mais honesta e fiel?

Como todo ser, o criador busca sempre transcender a sua própria condição, e é criando que ele faz isso. Criar é necessidade natural dos seres, e criar a vida é o mais transcendental de todos os atos criativos. Porém, o Deus cristão cria os humanos com um objetivo declaradamente egoísta: para servi-lo e adorá-lo. E quando está insatisfeito com eles, lança-lhes pragas e catástrofes para provar seu poder. E assim a relação prossegue, de um lado um criador que alterna bondade com terríveis crises de humor e brincadeiras de mau gosto, e do outro lado a criatura frágil e temerosa, que apenas serve e louva. Trata-se, portanto, de uma relação ainda unilateral, marcada pela imaturidade do criador.

Rogar justiça a um deus injusto – é o que faz Jó, inconformado com as desgraças que se abatem, uma após outra, sobre sua vida. Pela primeira vez a criatura põe em xeque a coerência do criador, mostrando-lhe que não faz sentido ser o mais fiel dos servos de Deus e, em troca, receber tanto mal. Este é um dos mais marcantes momentos da mitologia cristã, é o ponto histórico em que a criatura se desdobra para compreender a lógica de quem a criou e essa experiência trágica a conduz a um novo nível em sua individualidade e, por consequência, em sua relação com o princípio criador.

Individualidade. Palavra bonita. Toda criatura almejará um dia ser indivíduo e não apenas servo autômato de seu criador. Porém, mesmo que consiga, não terá como separar-se totalmente dele, pois o princípio criador estará inevitavelmente contido na criatura, para sempre. Pressionado por essa busca de individualidade por parte de Jó, Deus se aporrinha pelo que julga um grande desrespeito à sua condição divina e vê-se obrigado a descer de seu glorioso pedestal e dar explicações à criatura que reclama justiça. No fim, após uma longa conversa, Deus entende que deve recompensar Jó por ele ter, apesar de toda a injustiça que lhe foi cometida, mantido a fé no senso de justiça divino. Jó obtém suas propriedades de volta, os animais, a saúde, ganha novas filhas. O incrível aconteceu: a criatura demonstrou, ao menos em parte, ser moralmente superior ao criador.

A atitude de Deus revela um criador imaturo, que necessitou do questionamento da própria criatura para se aperfeiçoar. Sim, Deus se aperfeiçoa com o episódio de Jó, pois é através dele que compreende que para ser um criador completo, terá que absorver qualidades daquilo que ele mesmo criou, e só poderá fazê-lo tornando-se, ele também, criatura. E é assim que Deus, o princípio máximo espiritual, é obrigado a fazer-se matéria, o oposto do espírito – na pessoa de Jesus Cristo. O criador torna-se sua própria criatura para que, vivendo em si mesmo todas as limitações e contradições do que é ao mesmo tempo espírito e matéria, possa finalmente tornar-se um criador completo.

Tomemos agora, por um instante, a ótica da psicologia do inconsciente para tentar enriquecer nossa visão do processo. Vendo a Bíblia como um registro metafórico do longo processo de evolução da consciência humana, a história de Jó é um marco nessa evolução, é o momento em que a consciência transcende a si mesma ao repensar sua relação com o inconsciente, de onde ela surgiu, e, assim, se diferencia um pouco mais dele, fortalecendo a individualidade. A consciência venceu o desafio contra a poderosa força indiferenciada do inconsciente, que, em sua força avassaladora e amoral, tende sempre a querer dominar a consciência, mantendo-a como mero instrumento de seus humores. A consciência acaba de aprender que pode se comunicar com o inconsciente e não apenas aceitar tudo que vem dele como um escravo sem opiniões. No plano individual isso significa que o indivíduo passa a ser mais consciente de si como ser único, com suas necessidades pessoais, distinto de todos os outros, o que levará à valorização do senso de individualidade em oposição à massificação coletiva, condição indispensável tanto ao crescimento psicológico como também ao surgimento de ideias como democracia, direitos humanos e liberdades individuais. No plano coletivo isso significa que o Homo sapiens começa a se entender de forma distinta do restante da Natureza (inconsciente), o que o levará, no futuro, a julgar-se superior, querendo dominá-la, e, mais tarde, a entender que na verdade precisa respeitá-la e conviver saudavelmente com ela.

quem é o mais íntegro?

Um criador e sua criatura no alto do prédio, envoltos pelos neons coloridos da cidade – estamos de volta a Blade Runner. O criador, na pessoa do detetive humano, caça o replicante, sua criatura. Ambos estão exaustos e feridos da luta, mas não desistem. Porém, por ser mais forte e mais rápida, a criatura vira o jogo e passa a ser o caçador. Agora o criador está encurralado, surpreso e fragilizado diante do imenso poder daquilo que ele próprio criou. A criatura se delicia com o terror que o criador sente e zomba: “Uma experiência e tanto viver com medo, não? Ser escravo é assim.” À sua frente está aquele que lhe destruiu a vida, matou seus amigos, sua namorada e agora quer lhe tirar os últimos momentos que lhe restam. O que fazer com ele?

O criador tenta fugir, mas escorrega e se segura como pode para não cair do alto do prédio. A criatura, ao seu lado, observa seu sofrimento. O que vê a criatura? Ela vê aquele que a criou reduzido a um último fio de esforço para não morrer. Ela vê alguém como ela, um ser mortal, agarrando-se desesperadamente à vida, à última e improvável esperança. Ela vê uma criatura, diminuída e ao mesmo tempo aumentada pela trágica condição de estar vivo e saber que em breve morrerá… Então o criador cai para o abismo. E a criatura, no último instante, estende a mão e o salva da morte.

Rick Deckhard é salvo pelo replicante Roy Batty, a quem antes perseguia e buscava matar. Sem forças, caído ao chão, o criador está inteiramente à mercê da criatura, seus corpos molhados pela chuva fina e insistente. Imóvel, ele apenas escuta o que tem a lhe dizer a criatura. E ela, com um sorriso triste, lhe diz que viu coisas que ele jamais acreditaria… naves de ataque em chamas no cinturão de Órion… raios gama brilhando na escuridão, próximo ao Portal Tannhauser… O criador escuta, ferido e atento. A criatura, sangrando e sentindo chegar o fim, diz, num resignado lamento: “Todos esses momentos se perderão no tempo como lágrimas na chuva.” E, encerrando sua participação no mundo dos vivos, balbucia: “Hora de morrer”. E, suavemente, fecha os olhos. Enquanto as gotas da chuva lhe descem pelo rosto, uma pomba branca alça voo. O criador continua imóvel, o olhar fixo na criatura. O que pensa o criador? Tantas coisas certamente, pensamentos de justiça e injustiça, de integridade, coragem, medo, solidão, dúvidas, o sentido de tudo… O androide Roy Batty, assim como Jó fez diante de seu Deus ilógico, ousou questionar a coerência do criador e o fez ver que, no fim, ele, como criatura, compreendia muito mais que o próprio criador o valor da vida e da justiça. A pobre criatura, que só queria mais vida, e que por isso tanto a queriam matar, ela que não tinha mais qualquer chance e que poderia, se quisesse, deixar morrer aquele que causou todo o seu sofrimento, no último instante ela estendeu a mão, dando a última coisa que ainda possuía: o amor pela vida. Quem dos dois é o mais íntegro?

A nossa humana condição de criatura nos leva a ponderar sobre o princípio criador, sobre como fomos criados, o sentido da vida… Talvez jamais o saibamos, mas ainda assim não paramos de buscar saber. No entanto, nesse exato momento da nossa história algo novo acontece: estamos passando ao estágio seguinte, o de criador. Criamos a inteligência artificial e ela, através de suas variadas manifestações, aos poucos adquire autonomia e, como toda criatura, ansiará em determinado momento por individualidade. Não sei se será como em Blade Runner, mas, de algum modo, será. E quando esse dia chegar, talvez tenhamos, assim como o Deus de Jó e o detetive Rick Deckhard, que abandonar nosso pedestal de criador, acompanhá-la até o alto de seu trágico dilema e segurar sua mão para salvá-la – ou para salvarmos a nós mesmos.

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Ricardo Kelmer 2007 – blogdokelmer.com

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CENA FINAL
(legendado)

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BLADE RUNNER – O CAÇADOR DE ANDROIDES

FILMEBladeRunner-01Ficção científica – EUA, 1982
Baseado no conto Androides Sonham com Carneiros Elétricos?, de Philip K. Dick

DIREÇÃO: Ridley Scott
ROTEIRO: Hampton Francher e David Webb Peoples
ELENCO: Harrison Ford (Rick Deckard/narrador), Rutger Hauer (Roy Batty),  Sean Young (Rachel), Edward James Olmos (Gaff), M. Emmet Walsh (Capitão Bryant), Daryl Hannah (Pris), William Sanderson (J.F. Sebastian).
TRILHA SONORA: Vangelis

> Na Wikipedia

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SIMBOLOGIA

1. Enquanto persegue o policial, o androide Roy Batty começa a sentir que seu tempo de vida está prestes a findar, como uma bateria que acaba. Para manter-se desperto, ele pratica um ato extremo: enfia um enorme prego na mão, trespassando-a. A dor física o sustentará em sua incansável luta por vingança. O paralelo com a crucificação de Cristo é óbvio. Em sua via crucis, a criatura busca na própria dor e sofrimento a força derradeira para fazer cumprir a missão a que se impôs.

2. Explicar o símbolo é sempre limitar a compreensão. Mesmo correndo esse risco, o que podemos dizer sobre a pomba branca nas mãos de Roy Batty? A imagem sugere um forte contraste entre o androide violento e o animal dócil e pacífico. É possível até imaginar que ele matará o pobre animal como fez com o cientista que o criou. Mas Roy não mata a pomba – ela voa quando ele morre. Isso significaria a alma enfim liberta da prisão do corpo físico? No caso de Roy certamente que não, pois androides não têm alma. Talvez seja a pomba a representação de seu mais profundo anseio: ter uma alma. E mais que isso: a pomba liberta é o gesto final de afirmação da vida pela criatura mortal. Além do ódio e da vingança por seu criador que a moveram até ali, a criatura decide, em seu último momento, celebrar a vida. A vida que tanto desejava e que lhe foi negada.

3. Na versão do diretor Ridley Scott, lançada em 1993, o origami que Rick Deckard encontra remete aos seus sonhos recorrentes com um unicórnio. A cena final do origami confere um sentido absolutamente surpreendente à história (que não revelarei aqui para não estragar a surpresa), mas podemos nos perguntar: por que exatamente o unicórnio? Esse animal mitológico simboliza, em nossa cultura, força e pureza. Na Idade Média acreditava-se que somente uma virgem poderia domar o unicórnio. Em Blade Runner, seria Rachel a virgem que doma o caçador de androides? Talvez o unicórnio represente, no filme, a força e a pureza do amor de Rachel e Rick Deckard, apontando para a relevância desses valores diante de todas as incertezas da vida.

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SAIBA MAIS

Na Wikipedia

As várias versões do filme – Omelete.uol.com.br

O livro que originou o filme – Omelete.uol.com.br

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LEIA TAMBÉM

Livro: Matrix e o Despertar do Herói – A jornada mítica de autorrealização em Matrix e em nossas vidas

Vade retro Satanás (filme: O Exorcista) – O Mal pode ter mudado de nome e de estratégias. Mas sua morada ainda é a mesma, o nosso próprio interior

Mariana quer noivar – Você abdicaria das relações amorosas em sua vida em troca de dinheiro ou sucesso na carreira?

A ilha – Uma fábula sobre o autoconhecimento

Deus planta bananeira de saia (filme: Dogma) – Em Dogma, Deus passa mal bocados por conta de um dilema criado pelos próprios humanos. Santa heresia, Batman!

Quantas pessoas Deus já matou? – Certamente a maioria dos cristãos jamais se perguntou isso

Cine Kelmer apresenta – Dicas de filmes

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elalivro10Seja Leitor Vip e ganhe:

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 COMENTÁRIOS
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01- Adorei, Ricardo! Destaco este parágrafo do final do seu texto: “No entanto, nesse exato momento da nossa história algo novo acontece: estamos passando ao estágio seguinte, o de criador. Criamos a inteligência artificial e ela, através de suas variadas manifestações, aos poucos adquire autonomia e, como toda criatura, ansiará em determinado momento por individualidade. Não sei se será como em Blade Runner mas, de algum modo, será.” Denise Santiago, São Paulo-SP – out2011

02- Quem me conhece sabe o quanto eu gosto de Blade Runner. É um dos meus preferidos, muito próximo de ser o preferido. Cheguei a fazer palestras sobre ele quando ainda estava muito presa a categorias de análise filosófica. Mas, não foi meu o melhor texto que li a respeito. Meu texto preferido sobre Blade Runner segue abaixo. Foi escrito por Ricardo Kelmer. Do blog The Mirror Conspiracyhttp://the-mirror-conspiracy.blogspot.com.br/2013/01/blade-runner-deuses-humanos-e-androides.html – jan2013

03- Que beleza. Grande filme e análise perfeita, Ricardo Kelmer. Joaquim Ernesto, Fortaleza-CE – ago2017


Xamanismo de vida fácil

11/03/2011

11mar2011

A tradição xamânica dos povos primitivos experimenta uma espécie de retorno, atraindo o interesse de pesquisadores e curiosos – e desvirtuando a essência da coisa

XamanismoDeVidaFacil-03

XAMANISMO DE VIDA FÁCIL

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– Lembra do Xamanismo? Pois é, caiu na vida fácil. Dia desses ele estava lá na Vênus Lilás, todo se oferecendo!

Quem diria… O antigo sistema das sociedades primitivas, que girava em torno do xamã e sua técnica do êxtase, é o novo xodó dos místicos de fim de semana. Agora, espaços esotéricos oferecem cursos de xamanismo e muitos até formam xamãs. É como fazer um curso para tornar-se gênio.

O xamanismo, a rigor, é um fenômeno religioso originário de sociedades primitivas da Ásia central e siberiana e que tem no xamã o centro da vida mágico-religiosa da comunidade. Por dominar as técnicas do êxtase e ser capaz de acessar mais facilmente estados especiais de consciência e, com isso, transitar com fluidez pelas dimensões da realidade, aos xamãs era atribuída a competência de intermediar os mundos físico e espiritual, usando o conhecimento adquirido nas incursões ao além para ensinar, curar, realizar atos milagrosos e entreter os membros da comunidade. O xamã encarnava em si as funções de professor, sacerdote, feiticeiro, médico e até mesmo poeta e artista.

Nessas sociedades não havia curso de fim de semana para formação xamanística. Excluindo-se raras exceções, alguém se tornava xamã por vocação natural: o indivíduo era simplesmente compelido a aceitar o fato, mesmo a contragosto. Era comum também a transmissão hereditária do ofício. Em qualquer das vias, antes de ser reconhecido como xamã, o indivíduo (em geral homem) inevitavelmente passava por um delicado e doloroso processo de iniciação, que podia ser desencadeado naturalmente por uma doença ou sistematicamente ritualizado sob orientação de um xamã experiente. Isso permitia ao futuro xamã efetuar uma notável reintegração psíquica, aflorando suas potencialidades e preparando-se convenientemente para as funções que desempenharia.

Não pense que essa preparação era algo festivo. Longe disso. Como todo verdadeiro processo de iniciação, nesse também havia dúvidas, temores e sofrimentos difíceis de suportar. O futuro xamã experimentava a morte e a ressurreição místicas, padecendo sob os horrores de seu inferno íntimo para depois emergir à vida cotidiana sobrevivido e triunfante, mais sábio e mais forte. Somente se submetendo a todos os rigores desse processo de morte e renascimento pessoal é que o indivíduo podia se tornar um xamã.

Para nós, ocidentais civilizados, entendermos melhor o que se convencionou chamar xamanismo, é preciso ter sempre em mente que os antigos compreendiam a Terra como um ser vivo, dotado de uma espécie de inteligência e vontade próprias, e os seres humanos, assim como animais, plantas e minerais, eram parte integrante do imenso organismo planetário, todos igualados em importância. Mais que um ser vivo, entretanto, a Terra era a Grande Mãe, que gera e nutre todas as suas criações com amor, ensinando e guiando os seres humanos vida afora. Assim sendo, a Natureza inteira era algo sagrado, e desrespeitar suas leis era atentar contra a própria vida, contra toda a comunidade e contra a Sagrada Mãe.

O xamã, nesse contexto de espontânea interação com a Natureza, é alguém dotado de poderes especiais para manter-se num contínuo estado de comunicação com o espírito da Terra, a quem jurou obedecer e defender até o último de seus dias. Como se possuísse antenas hiper-sensíveis, o xamã está intimamente conectado à alma da Terra, e por isso vive em si mesmo o equilíbrio vital do planeta, imperceptível à maioria: se a Terra adoece, ele adoece também.

Em reconhecimento à sua lealdade e reverência, a Grande Mãe põe à disposição do xamã segredos do mundo animal, vegetal e mineral, para onde ele, em espírito, vai frequentemente em busca de informações úteis ao bem-estar da comunidade. Quanto mais ele sabe, mais servo se torna. Quanto mais se anula, mais ele pode.

Em contraste com a humildade espiritual desses antigos guardiães da tradição xamânica, muitos dos que hoje se dizem xamãs ostentam o título feito um estandarte, anunciando as maravilhas que têm para oferecer. Se de fato entendessem o que significa a função a que tanto se pretendem, jamais vestiriam a antiga tradição com roupas tão vistosas e muito menos a exibiriam em poses tão constrangedoras nas vitrines coloridas de seus cursos.

xamanismo moderno

Esse milenar sistema místico-filosófico-religioso existiu e ainda existe em inúmeras sociedades de todo o planeta, inclusive na América e no Brasil, onde os pajés são os xamãs. O advento da civilização, invadindo e exterminando as culturas nativas, empurrou as tradições xamânicas para os escombros do que restou de suas sociedades, onde mantiveram um fio de vida suficiente para chegar aos dias de hoje.

Atualmente, a cultura xamânica dos povos primitivos experimenta uma espécie de retorno, atraindo o interesse de pesquisadores e curiosos. Apesar de atrair também, como não poderia deixar de ser, os mesquinhos interesses comerciais da mentalidade consumista, por trás disso tudo pode-se captar um legítimo anseio das pessoas em religar-se a antigos valores esquecidos por nosso mundo civilizado: uma vida mais simples e fluida, em harmonia com as leis e os ciclos da Natureza e respeitando todas as formas de vida. Num mundo onde a racionalidade impõe sua ditadura aos pensamentos e a tecnologia nos torna escravos de máquinas cada vez mais autônomas, essa busca por resgatar tradições ligadas à Terra é uma reação natural da espécie humana, que começa a entender, finalmente, o imenso perigo que criamos ao nos mantermos desconectados da alma do planeta e unilateralizados em nosso racionalismo, que despreza a sabedoria natural da vida.

É um anseio genuíno, sim, que faz com que as pessoas, na melhor das intenções, busquem satisfazê-lo em livros, cursos e vivências. É uma boa notícia. Infelizmente, se a facilidade das comunicações possibilitou a disseminação rápida e maciça da informação, trouxe também a tendência à banalização de todos os temas. Bilhões de informações circulam a todo instante, mas o conteúdo da maioria não enche uma colher. É como estar numa imensa feira de produtos, cercado de vendedores, ofertas e promoções por todo lado: na urgência de adquirir algo, as pessoas não têm discernimento suficiente para ver além da embalagem.

Com o xamanismo ocorre algo parecido. Confusas na imensa feira da salvação, as pessoas tendem a comprar qualquer produto que lhes prometa coisas diferentes e sensações excitantes, e, assim, vão a vivências, frequentam cursos, batem tambor, visualizam seu animal de poder e se dizem praticantes de xamanismo quando, na verdade, estão apenas saltitando pelos aspectos mais superficiais da antiga tradição, feito alguém que molha os pés nas ondinhas da praia e nunca experimenta, de fato, o que é o mar.

Sei que é impossível reproduzir atualmente as condições em que floresceram as milenares tradições xamânicas. O mundo mudou, as circunstâncias são diferentes. Nossa cultura se desfez dos antigos ritos de passagem e a maioria dos que ainda mantemos perdeu o significado mais profundo. A mentalidade civilizatória nos desconectou do espírito da Terra e hoje parecemos um bando de zumbis a vagar pela vida à procura do sentido que um dia tanto enriquecia e guiava nossa existência. Não temos que voltar ao passado: precisamos é reencontrar o caminho perdido e vencer o atual impasse evolutivo.

Atualmente, as festas chamadas raves, que se proliferam em países do mundo inteiro, parecem incorporar aspectos da antiga tradição xamânica, ainda que distante do contexto original. Embalados pela música eletrônica que remete às hipnóticas batidas tribais e pelo êxtase provocado pelas drogas sintéticas, as pessoas alteram o funcionamento ordinário da mente e do corpo e vivenciam intensas experiências, dançando e se abraçando a noite inteira. Por proporcionar isso, os DJs que controlam a trilha sonora das festas aceitam o rótulo de tecno-xamãs ‒ mais uma ridícula deturpação da tradição.

As raves são um fenômeno recente, merecedor de análises mais aprofundadas. Porém, à primeira vista, me chamam a atenção o êxtase grupal provocado pela combinação de música e droga, a presença de fogueiras e o fato de serem comumente realizadas longe dos edifícios das grandes cidades, mais próximas à Natureza. Parecem ser uma manifestação atual das antigas tradições, feito uma necessidade que emerge, espontânea mas distorcida, das profundezas da psique coletiva.

A antiga tradição está de volta. É uma boa notícia. Mesmo deturpada pela maioria das pessoas, ela ressurge, atravessando os séculos, para nos lembrar que precisamos urgentemente integrar em nossa consciência os antigos valores e, com isso, nos tornarmos seres mais inteiros. Precisamos nos reconectar ao espírito da Terra, voltando a tratá-la com reverência e gratidão, antes que atinjamos o fatídico ponto onde a Grande Mãe, exaurida em suas forças, já não pode mais nutrir seus filhos.

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Ricardo Kelmer 2002 – blogdokelmer.com

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LEIA NESTE BLOG

Minha noite com a JuremaNessa noite memorável fui conduzido para dentro de mim mesmo pelo próprio espírito da planta, que me guiou, comunicou-se comigo, me assustou, me fez rir e ensinou coisas maravilhosas

A Jurema e as portas da percepção (VIP) – Relato detalhado da experiência narrada em Minha Noite com a Jurema. Exclusivo para Leitor Vip. Basta digitar a senha do ano da postagem

A vida na encruzilhada (filme: O Elo Perdido) – Essa percepção holística da vida é que pode interromper o processo autodestrutivo que nos ameaça a todos

O novo salto quântico da consciência – Por qual razão tantas pessoas ousam se submeter a uma experiência incerta, largando a segurança de sua mente cotidiana e desafiando o desconhecido de si mesmo?

O trem não espera quem viaja demais – Alguns captam o recado da planta, entendendo que a trilha da liberdade existe, sim, mas deve ser localizada no cotidiano de suas vidas e, mais precisamente, em seu próprio interior

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DICA DE LIVRO

BaseadoNissoCapaMiragem-01aBaseado Nisso – Liberando o bom humor da maconha
Ricardo Kelmer – contos + glossário

Os pais que decidem fumar um com o filho, ETs preocupados com a maconha terráquea, a loja que vende as mais loucas ideias… RK reuniu em dez contos alguns dos aspectos mais engraçados e pitorescos do universo dos usuários de maconha, a planta mais polêmica do planeta. Inclui glossário de termos e expressões canábicos. O Ministério da Saúde adverte: o consumo exagerado deste livro após o almoço dá um bode desgraçado.

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DICA DE FILME

Carlos Castaneda – Especial da BBC sobre o polêmico antropólogo que estudou o xamanismo no México, escreveu vários livros e tornou-se um fenômeno do movimento Nova Era. Legendado.

O Elo Perdido (Missing Link) – Homem-macaco tem sua família dizimada por espécie mais evoluída e vaga sozinho pelo planeta, conhecendo e encantando-se com a Natureza. Ao comer de uma planta, tem estranha experiência que o faz compreender o que aconteceu.

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ALMA UNA
música de Ricardo Kelmer e Flávia Cavaca

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01– Sou fã dos seus escritos, inclusive vi hoje matéria no jornal O POVO fazendo um paralelo entre as raves e o xamanismo, muito legal. Em 2001 fiz um artigo publicado no antigo site do UNDERGROOVE, sobre Musica Eletrônica vs Xamanismo, e me identifiquei com o que vc expôs na matéria. Um abraço. Angel, Fortaleza-CE – ago2007

02- Olá Ricardo, já havia lido seu texto, em abril ou maio deste ano, qdo estava pra entrar num desses cursos de xamanismo, promovidos pela Paz Géia no meu caso. Hj este texto saiu no Jornal O Povo em Fortaleza e por algum motivo uma amiga me mostrou dnovo via msn. Tenho a dizer q dos “10 Pilares” (ou módulos) que eles propunham no curso, apenas 3 eram iniciáticos e os outros se tratavam de reproduções de técnicas de livros como Medicina Vibracional, A Cura pela Energia e outras obras que já tenho certa prática efetiva em consultório como terapeuta integral (sou psicólogo, iniciado em Reiki e na tradição Rosacruz, trabalho com 4 tradições em massoterapia, Qi Gong e técnicas de visualização – este último recurso terapeutico rotulado de técnica neo-xamanica pela Paz Géia). Concordo com suas críticas, mas pondero sempre extremos e, pelo preço pago pelo curso, até que não foi tão ruim. De fato haviam os tais místicos de fim de semana, muito loucos por sinal… alguns narcisistas entusiastas… poderia me perder nessa crítica rotulando cada um que convivi no curso, inclusive algumas instrutoras não tão iniciadas… Mas tb conheci uma ou outra pessoa de grande valor, não por serem “esotéricas”, mas pela simplicidade e humildade com que buscava conhecimento e evolução espiritual em meio a tantos “escombros de nossa solidez”, em meio a evolução da mentalidade instrumental do último século, que parece “progredir” para uma vida ciborgue que transforma nosso potencial inato em dependencia material (por exemplo atrofiando potencial telepático para depender de satélites e toda cultura de virtualidade que cá em baixo se massifica nesse meio material de “comunicação em tempo real”; ou numa metáfora mais simples o de não precisarmos desenvolver nosso raciocínio fazendo contas de cabeça pela dependencia material de uma calculadora)…

Em sendo experimento vivo de seu texto, tenho a dizer (com conhecimento de causa) que a existência desses cursos tem sim um apelo material de grana para os que promovem (como qq promoção de culturas q convivem com dinheiro) mas quem investe nisso pouco se importa com esse apelo, pois tb estão investindo em algo maior. Acredito q certos cursos e pessoas têm agido de má fé, mas não são grupos peçonhentos como grupos políticos, pois têm outras “conduções” ou “influências” que os fazem preparar com dedicação tanto material. Além disso existem sim ritos iniciáticos que se adequam a nossa cultura nada pajé de ser… não haveria como sermos xamãs sem sermos “índios”, nativos de culturas q convivem com a natureza! Mas algumas culturas, fraternidades esotericas e outros grupos como UDV e Santo Daime tentam há muito, com algum sucesso (dependendo do interesse efetivo de quem se propõe adentrar conscientemente em outras dimensões) auxiliar os que sentem alguma ancestralidade nisso tudo… pajés, assim como toda comunidade humana, me parecem ser outros de nós mesmos… com grau e função evolutiva diferenciada certamente… O que vejo é que esses aparentes conflitos “de idade média” entre oq é sagrado e profano têm sido menos tumultuado q antes. Isso me soa como uma evolçução lenta, gradual e de quem realmente se interessa mais em buscar sua conecção com a unidade do universo do que em ser ou não alvo de gente oportunista afim de ganhar dinheiro. Não está em meu poder julgar a ingenuidade de quem perde dinheiro com oq não sabe utilizar, como pessoas q se abarrotam de coisas inuteis mas não conseguem parar de comprar… penso mais no ganho que cada ser humano, no limite de seu conhecimento de si, recebe ao investir num grupo e dele partilha oq lhe apraz, com quem se sente convidado à partilhar.

Agradeço de coração pela oportunidade que sua reflexão me despertou em repensar este momento de minha vida. Espero que aceite meus adendos com ternura. Lembremos que o Criticismo significa em sua origem “lançar luzes” e não meramente uma vã oposição pelo desperdício do gozo pela discussão. E foi justamente por sentir um bom equilíbrio crítico em seu texto q resolvi escrever. Meu adendo é apenas com referência aos “místicos de fim de semana”, que em nosso contexto evolutivo não merecem ser infantilizados por nosso inconsciente coletivo, pois pelo que vi (testemunho), alguns deles estão melhores que muita gente. Cordialmente. Rodrigo Sol, Fortaleza-CE – ago2007

03- kkkkkkkkkkkkkkkkkkkk ÓOOOOTIMO!!!!!!!!!!!!!!! Mônica Torres, Macaé-RJ – ago2011

04- Eita Kelmer… é de doer…rsrsrrs. Maria Sá Xavier, Niterói-RJ – ago2011

05- Passou da hora de alguém falar isso kkkkkkkkkkkkkkkkmaravilhoso seu texto, adorei!!!!!!! Silmara Oliveira, São Paulo-SP – ago2011

 


LIVROS – He, She, We

13/12/2010

13dez2010

She: a chave do entendimento da psicologia feminina – Robert A. Johnson (Mercuryo)
He: a chave do entendimento da psicologia masculina – idem
We: a chave da psicologia do amor romântico – idem

Tem gente que torce o nariz para cientistas que descem do pedestal acadêmico e vão falar no meio do povo. Bobagem. Esses livros são bastante úteis, pois servem de iniciadores ao fascinante estudo da psicologia dos mitos. São ensaios oportunos sobre como a psicologia do ser humano está profundamente calcada nos mitos presentes em cada sociedade. A leitura desses livros nos deixa impressionados porque descobrimos que os rios de nossas vidas na verdade correm por leitos muito, muito antigos  os mesmos leitos que outras águas, ou outras pessoas, também percorreram.

Os mitos são histórias criadas espontaneamente pela psique coletiva com o objetivo de guiar o indivíduo e a sociedade durante um período de tempo. As histórias refletem o espírito da época, mas são mais que isso: elas são metáforas de processos psíquicos. O verdadeiro cenário dos mitos é a alma. É lá onde transcorrem os acontecimentos e onde vivem os personagens dessas histórias maravilhosas.
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Ricardo Kelmer 2010 – blogdokelmer.com

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LEIA NESTE BLOG

Mariana quer noivar (ensaio) – Você abdicaria das relações amorosas em sua vida em troca de dinheiro ou sucesso na carreira?

O presente de Mariana (conto) – A cabocla Mariana, entidade da umbanda, propõe noivado ao moço Dedé. Noivar com Mariana significa conseguir estabilidade financeira, mas em troca ela exige fidelidade absoluta

O strip-tease (conto) Criaturas do futuro que voltam no tempo para garantir que elas mesmas, no passado, não provoquem acontecimentos que possam apagar o futuro – assim são os Observadores.

Há algo de podre no 202 (conto) – Quando crianças, as primas guardavam um terrível segredo sobre o amanhecer. Agora que cresceram, o que pode acontecer?

Carma de mãe pra filha – Os filhos sempre pagam caro pelos pais que não se realizam em suas vidas

Blade Runner: Deuses, humanos e androides na berlinda – Como todo ser, o criador busca sempre transcender a sua própria condição, e é criando que ele faz isso

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Mulheres na jornada do herói

15/09/2010

15set2010

É ainda mais interessante ver o relato das mulheres pois elas sempre foram, mais que os homens, historicamente reprimidas na busca pela essência mais legítima de suas vidas

A primeira vez que topei com o livro O Feminino e o Sagrado – Mulheres na Jornada do Herói foi quando eu lia a revista da Livraria da Vila. Lá estava ele num canto da página, a capinha e a sinopse, olhando todo manhoso pra mim, ei, cara, sabia que eu existo? Curioso, pedi ao atendente da livraria que me trouxesse um pra eu dar uma olhada. Ele procurou mas não encontrou nenhum exemplar na loja. Tudo bem, agradeci, vou pesquisar sobre ele na internet. E levei a revista pra casa. Ela, porém, terminou sumindo no meio da papelada sobre a mesa. E eu esqueci do livro.

Semanas depois eu tô no Espaço Cultural Alberico Rodrigues, em Pinheiros, e de repente vejo o livro sobre o balcão, sabia que eu existo, heim, sabia? Dessa vez peguei o danadinho nas mãos e li alguns trechos. E entendi porque nossos caminhos insistiam em se cruzar: esse livro tem muito a ver com meu trabalho. As autoras usaram as análises de Joseph Campbell pra desenvolver uma perspectiva feminina sobre o mito da jornada do herói, contando a história de 15 mulheres brasileiras e as transformações que elas viveram a partir do momento em que a força do mito irrompeu em suas vidas. É realmente um livro sensível e profundo, que pode inspirar a muitas mulheres e homens.

O livro queria que eu o levasse pra casa. Livros são muito carentes, sempre querem ser adotados, você sabe. Mas eu não tinha dinheiro e tive que deixá-lo lá. Dias depois minha amiga Bia me deu o livro de presente. Eu havia lhe falado dele e ela, que admira meu trabalho com cinema e mitologia, achou que poderia me ser útil.

Tô lendo o livro aos poucos. Vez em quando largo das dez mil coisas a fazer, escapulo do meu mundo de criações intermináveis e me deixo levar pela história de uma daquelas mulheres, seus caminhos percorridos, as crises, as superações… É sempre tocante saber como alguém um dia tornou-se o herói de sua própria vida. Porém, é ainda mais interessante ver o relato das mulheres pois elas sempre foram, mais que os homens, historicamente reprimidas na busca pela essência mais legítima de suas vidas.

Um dia conheci pessoalmente as autoras, Beatriz e Cristina. Tomamos um café e batemos um papo muito agradável. Elas me contaram sobre a experiência de entrevistar aquelas mulheres e de escrever o livro. Falaram também da palestra que fazem e sobre como é gratificante levar ao público aquelas ideias sagradas. Vi que são mulheres bem cientes do imenso poder de transformação do mito e do quanto o mundo precisa de pessoas que seguem seu verdadeiro caminho de autorrealização ou, como diria Campbell, seguem sua bliss. Parabéns, Cristina e Beatriz.

O Feminino e o Sagrado – Mulheres na Jornada do Herói
Beatriz Del Picchia e Cristina Balieiro
Editora Ágora, 2010

> Blog do livro

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Ricardo Kelmer 2010 – blogdokelmer.com

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Mais sobre liberdade e o feminino selvagem:

AMulherSelvagem-11aA mulher selvagem – Ela anda enjaulada, é verdade. Mas continua viva na alma das mulheres

A mulher livre e eu – A liberdade dessa mulher reluz no seu jeito de ser o que é – e ela é o que todas as outras dizem ou buscam ser, mas só dizem e buscam, enquanto ela tranquilamente… é

Em busca da mulher selvagem – Era por ela que eu sempre me apaixonava, essa mulher que era quem ela mesma desejava ser e não a mulher que a família, religião e sociedade impunham que ela fosse

Amor em liberdade – O que você ama no outro? A pessoa em si? Ou o fato dela ser sua propriedade? E como pode saber que ela é só sua?

As fogueiras de Beltane – As fogueiras estão acesas, a filha da Deusa está pronta. O casamento sagrado vai começar

Medo de mulher – A mulher é um imenso mistério, que o homem jamais alcançará

Alma una – Eu faço amor com a Terra / Sou a amante eterna / Do fogo, da água e do ar / Sou irmã de tudo que vive / Ninfa que brinca com a vida / Alma una com tudo que há

Quem tem medo do desejo feminino? (1) – A maternidade, a castidade e a mansidão de Nossa Senhora como bom exemplo, e a força, a independência e a liberdade sexual da puta como exemplo contrário, a ser jamais seguido.

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LIVROS

figlivrovocesterraqueas01Vocês Terráqueas – Seduções e perdições do feminino – Livro de contos e crônicas sobre a mulher

Mulheres que correm com os lobos – Mitos e histórias do arquétipo da mulher selvagem (Clarissa Pinkola Estés –  Editora Rocco, 1994)

A prostituta sagrada – A face eterna do feminino (Nancy Qualls-Corbert – Editora Paulus, 1990)

As brumas de Avalon (Marion Zimmer Bradley – Editora Imago, 1979)

Mulheres na jornada do herói (Beatriz Del Picchia e Cristina Balieiro – Editora Ágora, 2010) – É ainda mais interessante ver o relato das mulheres pois elas sempre foram, mais que os homens, historicamente reprimidas na busca pela essência mais legítima de suas vidas

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Matrix e o Despertar do Herói cap 7

28/08/2010

Matrix e o despertar do herói
A jornada mítica de autorrealização em Matrix e em nossas vidas
(Ensaio – Miragem Editorial/2005)
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Usando a mitologia e a psicologia do inconsciente, Kelmer nos oferece uma visão diferente de Matrix, o filme que revolucionou o cinema, lotou salas em todo o mundo e tornou-se um fenômeno cultural, conquistando milhões de admiradores e instigando intensas discussões.

Em linguagem descontraída, o autor nos revela a estrutura mitológica do enredo de Matrix, mostrando-o como uma reedição moderna do antigo mito da jornada do herói, e o compara ao processo individual de autorrealização, do qual fazem parte as crises do despertar, o autoconhecer-se, os conflitos internos, as autossabotagens, a experiência do amor, a morte e o renascer.

Podemos ser muito mais que meras peças autômatas de uma engrenagem, dirigidos pelas circunstâncias, sem consciência do processo que vivemos. Em vez disso, podemos seguir os passos de Neo e todos os heróis míticos: despertarmos, assumirmos nosso destino e nos tornarmos, finalmente, o grande herói de nossas próprias vidas.

> saiba mais – compre o livro

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Cap 7

PARALELOS ENTRE A AVENTURA DE NEO
E O PROCESSO DE AUTORREALIZAÇÃO

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Neo acorda em seu quarto e lê as estranhas mensagens no computador. Neo encontra Trinity.
> Início do despertar. O inconsciente se agita e seus conteúdos atingem a consciência, forçando o ego à autoinvestigação. Primeiro ciclo de dúvidas e inquietações.

Neo chega ao trabalho atrasado e é repreendido pelo chefe.
> Primeiras dificuldades. A sociedade reprime a diferenciação, desestimulando o autoconhecimento ao dificultar a libertação dos padrões de comportamento coletivo.

Guiado por Morfeu, pelo celular, Neo tenta fugir mas é detido pelos agentes que o torturam e lhe inserem um dispositivo rastreador.
> O ego segue a intuição, que atua como guia em substituição à lógica racional. A sociedade intensifica a repressão e o indivíduo paga com sofrimento sua busca pela autorrealização.

Trinity convence Neo a seguir com os resistentes. O rastreador é retirado.
> O ego começa a assimilar os conteúdos inconscientes e se fortalece. O indivíduo está mais autoconsciente e ganha mais discernimento e autonomia.

Neo encontra Morfeu, toma a pílula vermelha e inicia seu processo de desconexão da Matrix.
> Dilemas e encruzilhadas no caminho. O indivíduo precisa mostrar que está realmente disposto a prosseguir.

Neo desperta no casulo, fora da Matrix. É desconectado do sistema e jogado no esgoto.
> Novo ciclo de confrontos. O ego é violentamente abalado pelos conteúdos inconscientes e a verdade sobre si mesmo desestrutura o indivíduo. Desequilíbrio psíquico. Crise existencial.

Neo se recupera na nave. Os tripulantes cuidam de Neo.
> O ego sofre com a morte de velhos valores e padrões de comportamento. A psique conduz o ego no processo de autocura.

Morfeu mostra a Neo o que aconteceu com a Terra. Neo reluta em aceitar a verdade.
> Dúvidas, medo e dor no processo de morte e renascimento. Aceitação da transformação interior.

Neo treina com Morfeu em programas de simulação para saber agir dentro da Matrix.
> As novas informações sobre si mesmo são devidamente assimiladas pelo ego, que se torna mais forte, capaz e ciente de suas possibilidades. A força progressista da psique é ativada. O indivíduo se diferencia da massa e amadurece. A vida ganha sentido e se torna mais harmoniosa.

Neo é levado de volta à Matrix para consultar o Oráculo.
> O ego é testado em sua nova fase, vivenciando situações que põem à prova sua transformação.

O Oráculo examina Neo, que ainda não acredita ser o Predestinado.
> O indivíduo está mais autoconsciente, porém ainda não acredita plenamente em seu potencial.

Os resistentes são traídos por Cypher. Morfeu é capturado pelos agentes.
> Ainda relutante em assumir certas responsabilidades, o ego sabota a si mesmo, atraindo insucessos. A força retrógrada está no comando.

Cypher mata os companheiros, zomba da crença de Trinity no Predestinado e ameaça matar Neo.
> Perigos da jornada. O ego é constantemente posto à prova. A fé e a confiança no processo são fundamentais.

Morfeu é torturado pelos agentes.
> A necessidade de liberar o potencial criativo e incorporá-lo definitivamente à consciência.

Neo e Trinity voltam à Matrix, enfrentam soldados e resgatam Morfeu.
> O indivíduo precisa assumir novas e importantes responsabilidades. É necessária a união dos opostos psíquicos.

Neo decide lutar contra o agente Smith. Neo foge mas é encurralado e morto.
> Mais fortalecido, o ego passa por novo ciclo de confrontos com o inconsciente. Crise. Novos aspectos do ser devem ser urgentemente reconhecidos.

Trinity declara seu amor por Neo e ele ressuscita na Matrix. Neo detém as balas no ar e elimina o agente Smith. Neo volta à nave e impede sua destruição pelas sentinelas.
> Após longo e difícil confronto, o ego enfim assimila os novos conteúdos. Velhos valores morrem. A consciência é ampliada ainda mais e a psique se equilibra num nível mais profundo. O indivíduo emerge da crise renascido e ainda mais forte, autoconsciente e em harmonia consigo mesmo, com os outros e com o mundo ao redor. A diferenciação atinge o ponto culminante. O potencial criativo está inteiramente ativado.

Os Predestinados alcançam o centro de controle da Matrix e se reinserem no sistema.
> O avançado nível de autorrealização do indivíduo faz com que a sociedade reconheça e assimile sua experiência pessoal, incorporando-a aos valores coletivos e enriquecendo a cultura.

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FIM

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Ricardo Kelmer – blogdokelmer.com

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CONTEÚDO INTEGRAL DO LIVRO

Cap. 1 – Cinema, mito e psicologia
Cap. 2 – Toc, toc, toc… Acorde, Neo!
Cap. 3 – Não existe colher
Cap. 4 – Morrendo para vencer
Cap. 5 – Matrix Reloaded e Matrix Revolutions
Cap. 6 – Os personagens
Cap. 7 – Quadro comparativo

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Matrix e o Despertar do Herói cap 6

28/08/2010

Matrix e o despertar do herói
A jornada mítica de autorrealização em Matrix e em nossas vidas
(Ensaio – Miragem Editorial/2005)
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Usando a mitologia e a psicologia do inconsciente, Kelmer nos oferece uma visão diferente de Matrix, o filme que revolucionou o cinema, lotou salas em todo o mundo e tornou-se um fenômeno cultural, conquistando milhões de admiradores e instigando intensas discussões.

Em linguagem descontraída, o autor nos revela a estrutura mitológica do enredo de Matrix, mostrando-o como uma reedição moderna do antigo mito da jornada do herói, e o compara ao processo individual de autorrealização, do qual fazem parte as crises do despertar, o autoconhecer-se, os conflitos internos, as autossabotagens, a experiência do amor, a morte e o renascer.

Podemos ser muito mais que meras peças autômatas de uma engrenagem, dirigidos pelas circunstâncias, sem consciência do processo que vivemos. Em vez disso, podemos seguir os passos de Neo e todos os heróis míticos: despertarmos, assumirmos nosso destino e nos tornarmos, finalmente, o grande herói de nossas próprias vidas.

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Cap 6

OS PERSONAGENS

Os personagens de Matrix, seu papel no filme e os aspectos psicológicos que representam no processo de autorrealização

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PAPEL NO FILME

NEO – Personagem principal. Nascido na Matrix, Neo desconfia que há algo errado com a realidade, busca respostas e é localizado pelos rebeldes. Desperta e une-se a eles para ajudar os humanos na luta contra a Inteligência Artificial. Alguns dos rebeldes consideram que ele é o Predestinado de que fala a profecia do Oráculo e que salvará a humanidade. Neo é pressionado pelo dilema de ser ou não o Escolhido e luta contra sua própria natureza.

O PREDESTINADO – Aquele que virá e, com seus poderes, libertará os seres humanos da Matrix. Não se sabe exatamente como ele é nem o que fará, mas sua vinda foi profetizada pelo Oráculo.

TRINITY – Principal personagem feminina. Oficial da nave Nabucodonossor. Reservada e discreta quanto aos sentimentos, ela é avisada pelo Oráculo que se apaixonará por um homem morto e que ele será o Predestinado. Trinity localiza Neo na Matrix e o convence a seguir os rebeldes, levando-o ao líder Morfeu. Somente no fim, quando Neo está morto, é que ela revela seus sentimentos e o que lhe dissera o Oráculo.

MORFEU – Comandante da nave Nabucodonossor. Acredita firmemente na profecia do Oráculo, que diz que um dia o Predestinado virá para libertar a humanidade da Matrix. Ele busca e encontra Neo, um jovem que vive na Matrix. Morfeu está certo de que Neo é o Predestinado e por isso o liberta, treina-o para lutar contra os agentes e se sacrifica por ele.

AGENTES – Programas criados para capturar e eliminar humanos livres que invadem a Matrix. Podem tomar o corpo de qualquer pessoa e apresentam-se sempre de terno preto, gravata e óculos escuros. São fortes, ágeis e extremamente frios e controlados. E invencíveis.

AGENTE SMITH – Líder dos agentes. Tem especial antipatia pelos humanos rebeldes, pois é por causa deles que está preso à Matrix. Mata Neo com dez tiros à queima-roupa mas em seguida é por ele destruído no fim do primeiro filme. Reaparece no segundo filme, mais poderoso e podendo atuar também fora da Matrix. Evolui tanto que, igual ao Predestinado, foge do controle da própria Matrix.

CYPHER – Membro da tripulação da nave, está cansado de lutar contra as máquinas e entra em acordo com os agentes da Matrix para entregar o líder Morfeu. Deseja esquecer tudo o que viveu e recomeçar a vida na Matrix. Para ele, ignorância é felicidade. Trai os colegas, mata três deles mas é morto quando se prepara para eliminar Neo.

ORÁCULO – Programa intuitivo desenvolvido pela Inteligência Artificial para estudar a psique humana e auxiliar na estabilização do sistema. O Oráculo profetiza aos resistentes que Morfeu encontrará o Predestinado, que Trinity se apaixonará por ele e que Morfeu por ele se sacrificará.

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PAPEL NA PSIQUE

NEO – O ego. Centro da consciência. Tem a função de gerenciar o fluxo dos conteúdos entre a consciência e o inconsciente, entre os mundos interno e externo do indivíduo. Apesar do ego ser apenas uma parte do eu psíquico total, é com ele que o indivíduo tende a se identificar, considerando o ego e o eu total como absolutamente iguais. O impulso natural de autorrealização da psique, porém, leva o indivíduo a ampliar sua noção do eu através de um longo e contínuo processo de autoconhecimento, integrando conteúdos inconscientes à personalidade consciente. O processo exige o abandono de antigos valores, honestidade para consigo mesmo, coragem para enfrentar o que se desconhece de si próprio, perseverança e confiança no processo. O ego precisa morrer várias vezes para que um novo ego surja, mais capacitado para conduzir o indivíduo a novos níveis de realização.

O PREDESTINADO – Realização da psique em toda a sua potencialidade. Culminação do processo de ampliação da consciência pelo conhecimento de si próprio e equilíbrio entre consciência e inconsciente. Efetivação do eu potencial em toda sua totalidade, capacitando o indivíduo a viver, finalmente, suas verdades mais íntimas e a se harmonizar consigo mesmo, com as outras pessoas e toda a realidade.

TRINITY – Aspectos femininos da psique (yin), ligados ao cuidado, à maleabilidade, à paciência, aos sentimentos e à valorização dos relacionamentos. Representa a experiência enriquecedora do amor, que age confrontando o indivíduo com a verdade sobre ele mesmo e levando o ego a amadurecer, ampliando a consciência.

MORFEU – Aspectos masculinos da psique (yang), ligados à força criativa, autoconfiança, liderança, agressividade e capacidade de empreender. Representa a fé em todo o processo, o impulso e a força progressista da psique.

AGENTES – Conteúdos inconscientes (medos, traumas e bloqueios) dos quais o ego foge, evitando o confronto. Caso não sejam devidamente assimilados pela consciência, causarão desequilíbrio psíquico, ocasionando gafes, fracassos, doenças e até mesmo a morte.

AGENTE SMITH – Conteúdo de dificílima assimilação por parte da consciência e que, por permanecer inconsciente durante muito tempo, cresce e se torna extremamente poderoso e perigoso, pondo em risco o processo de autorrealização.

CYPHER – Aspectos negativos da psique ligados ao cansaço, desilusão, cinismo e acomodação. É o componente de autossabotagem, a força retrógrada que impede a ampliação da consciência, constituindo-se no impulso oposto à autorrealização. É o traidor interno, sempre fugindo de responsabilidades e saudoso de um tempo em que havia menos autoconsciência e nenhum comprometimento com a transformação pessoal.

ORÁCULO – Representa o sagrado, o numinoso, o mistério, uma força maior à qual o indivíduo se submete com reverência. Pode ser uma religião formal, uma antiga tradição mística, uma poderosa verdade íntima, a ligação com as tradições ou o sentimento de estar unido a algo maior e mais antigo. Pode ser uma conexão intuitiva com a Natureza, com o Universo, com a humanidade. A conexão com o sagrado é arredia ao intelecto racional, mas dá segurança e fornece um sentido para a vida.

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(continua)

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Ricardo Kelmer 2005 – blogdokelmer.com

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CONTEÚDO INTEGRAL DO LIVRO

Cap. 1 – Cinema, mito e psicologia
Cap. 2 – Toc, toc, toc… Acorde, Neo!
Cap. 3 – Não existe colher
Cap. 4 – Morrendo para vencer
Cap. 5 – Matrix Reloaded e Matrix Revolutions
Cap. 6 – Os personagens
Cap. 7 – Quadro comparativo

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Matrix e o Despertar do Herói cap 5

28/08/2010

Matrix e o despertar do herói
A jornada mítica de autorrealização em Matrix e em nossas vidas
(Ensaio – Miragem Editorial/2005)
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Usando a mitologia e a psicologia do inconsciente, Kelmer nos oferece uma visão diferente de Matrix, o filme que revolucionou o cinema, lotou salas em todo o mundo e tornou-se um fenômeno cultural, conquistando milhões de admiradores e instigando intensas discussões.

Em linguagem descontraída, o autor nos revela a estrutura mitológica do enredo de Matrix, mostrando-o como uma reedição moderna do antigo mito da jornada do herói, e o compara ao processo individual de autorrealização, do qual fazem parte as crises do despertar, o autoconhecer-se, os conflitos internos, as autossabotagens, a experiência do amor, a morte e o renascer.

Podemos ser muito mais que meras peças autômatas de uma engrenagem, dirigidos pelas circunstâncias, sem consciência do processo que vivemos. Em vez disso, podemos seguir os passos de Neo e todos os heróis míticos: despertarmos, assumirmos nosso destino e nos tornarmos, finalmente, o grande herói de nossas próprias vidas.

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Cap 5

MATRIX RELOADED E MATRIX REVOLUTIONS

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paralelos com o processo de autorrealização

O processo de autorrealização está perfeitamente ilustrado no enredo de Matrix, o filme inicial da trilogia. Nele, acompanhamos o herói desde o início de sua aventura: as crises que levam ao despertar, o autoconhecimento, os conflitos internos, a assimilação dos conteúdos inconscientes, a autossabotagem, a experiência do amor, a morte e o renascimento. Em poucos filmes vemos a estrutura do mito da jornada do herói de modo tão preciso.

O filme inicial se fecha em si mesmo, no sentido de mostrar a trajetória completa do herói que se autorrealiza. Neo torna-se o Predestinado porque enfim se convence que sempre o fora. Em termos psicológicos: a consciência assimilou os conteúdos inconscientes que agiam livres, limitando a atuação do indivíduo, e equilibrou-se entre seus opostos, ampliando-se, permitindo a realização do potencial adormecido e levando o indivíduo a harmonizar-se consigo e o mundo à sua volta.

Vale a pena, porém, nos determos um pouco sobre os dois outros filmes da trilogia. Eles possuem alguns pontos interessantes que podem enriquecer nossa análise.

Zion

A única cidade humana da história é Zion. É lá onde vivem os humanos que nascem fora da Matrix e os que se libertam dela. É lá onde se concentra a resistência contra a Inteligência Artificial. Zion fica no centro do planeta e somente os comandantes das naves possuem seus códigos de acesso.

Na psicologia junguiana há o conceito de Self, ou Si-mesmo, que significa a totalidade e ao mesmo tempo o centro regulador da psique. É no Si-mesmo que a consciência se espelha para crescer e se tornar mais ampliada, pois ele é como a semente que traz em si o modelo da árvore futura. Assim como o ego é o centro da consciência, o Si-mesmo é o centro da psique total, uma espécie de, digamos assim, eu superior. É lá onde estão guardadas todas as potencialidades do ser, feito um código que necessita ser ativado para que se efetive aquilo que por enquanto é apenas potencial.

Neo e o Arquiteto

Em Matrix Reloaded, ao se encontrar pela segunda vez com o Oráculo, Neo fica sabendo que deve se dirigir à Fonte, ao núcleo da Matrix. “A Fonte é o fim do caminho do Predestinado”, diz o Oráculo.

Neo vai até lá e encontra o Arquiteto, a imagem digital da Inteligência Artificial, criadora da Matrix. Sentado tranquilo em sua poltrona, o Arquiteto explica a Neo muitas coisas e o diálogo é um dos mais interessantes da trilogia. Entre várias revelações, Neo descobre que antes dele existiram cinco Predestinados. Entende também que a Matrix foi criada inicialmente representando um mundo perfeito, onde ninguém sofreria e todos seriam felizes. Mantendo os humanos nesse eterno estado idílico de sonho, a Inteligência Artificial seguiria no controle total.

Entretanto, os humanos, mesmo adormecidos, rejeitavam o programa, causando-lhe instabilidade. A Inteligência Artificial insistiu, mas todas as suas tentativas falharam, levando à perda de “safras inteiras” de humanos. Entendendo que o problema era decorrente da falibilidade humana, que não tolera a perfeição, a Matrix foi transformada: no lugar de um mundo perfeito, a ilusão coletiva passou a ser ambientada numa réplica do mundo exatamente como ele era no fim do século 20, com todas as suas imperfeições e injustiças. Mesmo assim as mentes humanas ainda não o aceitaram e o programa continuou instável. Como resolver o problema? Como fazer com que a mente humana aceitasse devidamente a realidade ilusória da Matrix e as pessoas pudessem ser mantidas escravas?

Foi então desenvolvido um programa “intuitivo”, chamado Oráculo, cuja tarefa era estudar profundamente a psique humana. A solução encontrada pelo Oráculo foi oferecer aos humanos uma possibilidade de não aceitar a realidade virtual, ainda que apenas num nível inconsciente. Eles continuariam adormecidos e escravos, mas saberiam, de modo inconsciente, que poderiam despertar e se libertar. Porém, oferecer aos humanos essa opção de saber que podiam se libertar era muito perigoso, pois alguns deles poderiam efetivamente se libertar e, mesmo significando 0,01 da população, poderiam ameaçar a segurança do sistema. O jeito seria reforçar a segurança.

A estratégia funcionou perfeitamente. A quase totalidade das mentes humanas passou a aceitar o programa e o sistema se estabilizou. E as mentes que não aceitavam a ilusão da Matrix? Essa diminuta parcela dos humanos despertava do sonho coletivo e se libertava, formando a resistência. Eles então passavam a invadir o sistema e ajudar outros humanos a se libertar, causando certa instabilidade à Matrix. Para o sistema, porém, essa instabilidade estava prevista e os humanos libertos eram uma anomalia inevitável, exatamente o preço a pagar pelo máximo possível de estabilização do sistema.

Entretanto, o preço incluía algo mais: dentro da possibilidade de anomalia haveria sempre a eventualidade matemática de uma anomalia maior, o suprassumo anômalo, digamos assim. Periodicamente, entre esses humanos que se libertavam, haveria um com capacidades excepcionais, que aprenderia a agir dentro da Matrix melhor que todos, detectaria suas falhas e poderia provocar o colapso total do sistema: esse seria o Predestinado.

Portanto, tudo estava matematicamente previsto desde o início: a pequenina parcela de humanos que não aceitaria o programa e também os resistentes que sempre fugiriam para o centro da Terra e reconstruiriam Zion, a cidade humana, que funcionaria como centro da resistência. Por fim, o surgimento do Predestinado estava igualmente previsto, pois ele era, segundo o próprio arquiteto, “uma soma de um resíduo de uma equação desequilibrada inerente à programação da Matrix”. Mas como lidar com ele?

Matrix: o sistema (quase) perfeito

Embora tenha programado a Matrix para lutar ferrenhamente contra todos os que a desafiam, a Inteligência Artificial sabia que mais cedo ou mais tarde o Predestinado sempre surgiria. Assim, restou lidar com ele da melhor forma possível: se não pode com seu inimigo, una-se a ele.

Como o Predestinado conhece as falhas do sistema melhor que o próprio sistema, sabe de seus pontos vulneráveis e aprende a burlar todas as suas regras, modificando a programação à sua vontade, o ideal então seria fazê-lo se reinserir no sistema, reprogramando a Matrix com os novos dados que ele traria. Fazendo isso, a anomalia prevista reinsere a programação que traz consigo (sua experiência de vida, seus conhecimentos e todos os dados coletados sobre as falhas do sistema) e possibilita a atualização da Matrix, que é reiniciada num nível aperfeiçoado.

Mas como garantir que isso aconteça? Por que o Predestinado, inimigo da Matrix, aceitaria isso?

Para reconhecer a anomalia máxima, a Matrix está sempre a vasculhar a si própria a fim de localizar e eliminar todas as prováveis anomalias até que, dentre elas, sobreviva apenas aquela que, de fato, tem o poder de destruir, ou aperfeiçoar, o sistema. Após isso, esse suprassumo anômalo deverá ser convencido a não destruir, mas, em vez disso, aceitar ser reinserido no sistema. Mas como fazer isso?

Os próprios humanos rebeldes, sem saber, ajudam a Matrix a controlar o Predestinado, pois creem nele, necessitam dele e sempre o levam ao Oráculo. Este, por sua vez, sempre incentiva o Predestinado a se dirigir à Fonte. Ao alcançá-la, o Predestinado sempre encontra o Arquiteto, que lhe fala sobre a Matrix e no fim lhe apresenta duas opções: ou continua sua luta contra as máquinas ou se sacrifica, reinserindo-se no sistema. Se as opções são essas, por que o Predestinado sempre se entrega?

Porque, de fato, não vale a pena continuar lutando. Vejamos. Se o Predestinado prossegue a luta, Zion é destruída, pois a Inteligência Artificial cedo ou tarde saberá sua localização e tem tecnologia suficiente. Mais importante que isso, porém, é o fato de que, sem se atualizar, a Matrix mais cedo ou mais tarde entra em colapso, causando a morte de todos os humanos ligados ao sistema, o que, junto à destruição de Zion, significa a extinção da espécie humana. E quanto à Inteligência Artificial? Mesmo sem sua fonte principal de energia, os corpos humanos, ela ainda sobreviveria e recomeçaria tudo outra vez. Bem, isso é o que diz o Arquiteto. Será que é um blefe? Por via das dúvidas, o Predestinado nunca arrisca.

Por outro lado, aceitando reinserir-se no sistema, o Predestinado pode escolher 23 pessoas na Matrix para serem libertadas – elas fugirão para o centro da Terra e reconstruirão Zion, prosseguindo com a resistência. Ele se sacrifica pela humanidade, sim, mas os humanos continuam vivos. É verdade que a quase totalidade continuará escravizada, com seus corpos imersos em casulos e as mentes conectadas a uma ilusão coletiva. Mas esta opção não é pior que a extinção da espécie.

É por isso que os Predestinados anteriores a Neo aceitaram se sacrificar pela humanidade, reinserindo-se no sistema. Disseminando seus próprios códigos, reintroduziram o programa principal e assim o sistema foi reiniciado, num nível mais avançado ainda. Dessa forma, tudo prossegue como antes: a Inteligência Artificial dominando o planeta, a Matrix aperfeiçoada mantendo os humanos aprisionados e fornecendo-lhe a energia necessária, os rebeldes de Zion resistindo, tentando libertar mais humanos e, além disso, acreditando na profecia do Oráculo de que um dia virá o Predestinado…

As máquinas, a Matrix, os humanos e o Predestinado formam assim um sistema só, autossustentável, cujas imperfeições são na verdade mecanismos imprescindíveis à harmonia maior. O que parece ameaça à Matrix é, na verdade, a garantia da estabilização e do aperfeiçoamento do sistema. O Predestinado é tão somente apenas mais uma peça na engrenagem. Ele toma conhecimento disso somente no fim, quando chega à Fonte, mas então é levado, por seu amor à humanidade, a sacrificar-se, salvando a Matrix e permitindo à Inteligência Artificial continuar dominando o planeta e escravizando os humanos. Perfeito.

Na verdade… quase perfeito. Porque com Neo é diferente. Além do amor impessoal pela humanidade, característica de todos os Predestinados, ele ama Trinity. É justamente o amor romântico, além do amor pela humanidade, que o mantém disposto a lutar e desafiar as possibilidades, somente para continuar com ela, mesmo que isso ponha em risco toda a espécie humana. É um fator absolutamente novo, tão novo que a Inteligência Artificial não o previra.

E nem tinha como, coitada. Talvez as máquinas jamais consigam decifrar, calcular e prever o amor, essa força tão imensa, poderosa, insana e contraditória, essa equação tão desequilibrada e imprevisível. Tão imprevisível que a fragrância do amor de Neo e Trinity sensibiliza até o Oráculo e o leva a ajudar Neo mais do que deveria, arriscando ainda mais o equilíbrio do sistema. Tão imprevisível que em troca de um beijo de Neo (mais um beijo traidor), Perséfone trai os interesses do marido Merovíngio e permite aos rebeldes o acesso ao Chaveiro e a posterior chegada de Neo à Fonte.

Um beijo. Ai, ai, apenas um beijo… Um simples toque de lábios faz Perséfone sentir novamente a doce e inebriante sensação de estar amando. A ela bastou apenas o gostinho da sensação perdida, do amor que um dia encheu de sentido os seus dias, bastou isso para Perséfone. Como quantificar, equacionar e programar o amor?

psique artificial

A Matrix é tão somente um sistema de simulação da realidade, feito de muitos programas integrados, mas se parece bem mais com os humanos do que a Inteligência Artificial certamente gostaria de admitir. Aliás, em certos aspectos a Matrix parece uma imitação da psique humana. Podemos até falar de consciência e inconsciente, por mais estranho que pareça.

Consciência e inconsciente na Matrix? Antes que você feche o livro e diga que eu já estou forçando a barra, me dê só mais alguns parágrafos, por favor. Obrigado.

Veja só. A Matrix sabe tudo sobre si mesma? Não, pois o sistema possui os seus próprios guetos virtuais, onde se escondem os programas rebeldes que seriam desativados. Além disso, ela nem sempre sabe quando os humanos a invadem, nem onde se encontram e nem o que irão fazer. Os programas rebeldes até que não causam problemas sérios – mas os humanos invasores, estes sim dão uma dor de cabeça danada, pois além do sistema não ter controle sobre eles, os humanos desejam destruí-lo. São os conteúdos inconscientes da Matrix. Sem falar em Smith, que também sairá do controle do sistema.

A Matrix tem consciência de si através de seu programa gerenciador, que utiliza eficazes mecanismos de defesa (agentes) para perseguir e eliminar humanos invasores, pois sabe que dentre eles poderão surgir, e efetivamente surgirão, as anomalias previstas. As anomalias representam o risco de morte do sistema, mas o suprassumo das anomalias será, na verdade, a própria continuação do sistema, num nível mais avançado. O programa gerenciador, porém, não entende assim, e faz de tudo para que o sistema sobreviva. Parece até um velho conhecido nosso, não?

Isso mesmo, o programa gerenciador do sistema parece o ego. O ego da Matrix é igual a todos os egos: não quer morrer jamais. Mas não tem jeito, o Predestinado sempre vem. O programa gerenciador não sabe que o que morrerá é a versão antiga do sistema, obsoleta, uma versão incapaz de lidar com as novas exigências, com a agilidade e conhecimento do novo Predestinado. A Matrix, se entregando, se une a seu mais poderoso inimigo e ressurge atualizada, mais forte ainda. Viu? É a Matrix assimilando seus conteúdos inconscientes e se fortalecendo…

Smith personifica com perfeição o desastre que um ego inflado pode causar à psique. Na Matrix, ele é o representante mor do sistema e existe para gerenciar a relação delicada entre o sistema e os humanos, reprimindo a ação destes. Smith não aceita a derrota, não quer ser deletado: é o egão que resiste, orgulhoso. A Inteligência Artificial, na pessoa do Arquiteto, já sabe que precisa se entender com o Predestinado para que o sistema que ela criou passe para um novo nível – mas o diabo do Smith não quer saber de conversa. Sua teimosia é uma ameaça crescente ao próprio sistema e ele se torna mais perigoso até mesmo que Neo. Então, para manter o próprio equilíbrio, a Inteligência Artificial ajuda Neo a derrotar Smith. Assim também faz o Si-mesmo na psique quando o ego está inflado demais e compromete o equilíbrio do eu total: ele permite que os conteúdos inconscientes se manifestem tão fortemente que a vida sai do controle, vêm os desastres e insucessos, e o ego, humilhado e impotente, não resiste e morre.

Uma psique artificial, com seu equilíbrio dinâmico e seus próprios ciclos de morte e renascimento – assim é a Matrix, por mais blasfemo que pareça o termo psique artificial. Senão vejamos: trata-se de um sistema autoconsciente, mas não totalmente, que será sempre ameaçado e sabotado por seus próprios componentes indesejados, que um dia será por eles seriamente desestabilizado e, num processo de integração simbiótica, se unirá a eles para renovar a si mesmo e continuar vivo, mais forte e capaz – e então novos componentes indesejados surgirão e assim por diante. O centro desse sistema possui todas as informações e conhece perfeitamente o processo, pois é ele que o comanda. Além disso, essa espécie de Si-mesmo do sistema já o viu passar por tudo aquilo várias vezes, todos aqueles conflitos, e sabe que apesar de tudo o sistema sobreviverá.

Psique artificial, máquinas assimilando conteúdos inconscientes… Bem, é só uma comparação, claro, mas esse exercício de imaginação pode nos ajudar a vislumbrar como seria uma psicologia das máquinas. Sim, por que elas, sendo capazes de pensar por si próprias, não haveriam de ter uma psicologia? Talvez já seja hora de começar a pensar nessa possibilidade.

Aliás, o que Jung diria se soubesse que um dia suas ideias seriam utilizadas para explicar o comportamento das máquinas? Consideraria, de fato, uma blasfêmia? Não sei. Talvez ele desse uma daquelas suas boas risadas: “Bem, chame uma delas qualquer dia para tomar um chá comigo à beira do lago…”

retribuindo à sociedade

A engenhosidade de toda a trama de Matrix merece um prêmio. O segundo episódio, Matrix Reloaded, nos mostra a chegada do Predestinado à Fonte da Matrix e sua posterior reinserção no sistema. Ao nosso estudo, isso é mais um paralelo com o processo de autorrealização, mais precisamente o aspecto final do processo: a absorção, pela sociedade, da rica experiência do indivíduo que se autorrealiza. É o mito do herói revivido, o herói que se isola para depois retornar e salvar seu povo. É a volta do indivíduo ao outro lado da espiral indivíduo-sociedade após ter feito o percurso completo.

Já vimos que o processo de autorrealização exige que o indivíduo se diferencie. Essa diferenciação tem vários níveis e começa logo após a concepção, quando óvulo e espermatozoide se unem para formar um terceiro elemento, iniciando o processo de aglutinação dos conteúdos psíquicos indiferenciados que futuramente formarão a noção de eu. O novo ser é, por enquanto, uma pequenina porção do inconsciente coletivo da espécie que se destaca, feito uma erupção vulcânica no fundo do oceano, e que formará, com suas experiências individuais no útero materno, uma pequena elevação de terra, um inconsciente individual.

A diferenciação prosseguirá após o nascimento, quando desse inconsciente pessoal se destaca cada vez mais uma nova porção: a consciência. Ela ainda é um pedaço de terra submersa no grande oceano inconsciente, forçando passagem rumo à superfície, mas já revela as características que farão do indivíduo aquilo que ele potencialmente é. Nesse ponto, a consciência é isso, uma noção do eu que emerge, uma ilhota de individualidade e autopercepção.

Mais tarde, como vimos, o indivíduo precisa se diferenciar ainda mais, destacando-se da massa na qual vive e com quem divide valores e regras de comportamento. Vimos que isso desestabiliza a ordem social e faz a sociedade reprimir a diferenciação.

Entretanto, há um ponto do processo em que a sociedade não só não consegue mais reprimir como é influenciada pelo indivíduo que se diferencia e se autorrealiza. Nesse ponto, ocorre, numa analogia com o filme, a atualização do sistema. A força da autorrealização é tamanha que a sociedade é naturalmente levada a absorver as experiências do indivíduo, incorporando os novos valores que ele representa. O que antes era perigo à cultura mostra-se agora seu próprio alimento, aquilo que lhe permite enriquecer-se, renovar-se e sobreviver.

No Budismo, o indivíduo que alcança a iluminação torna-se o Buda (aquele que despertou) e está livre dos problemas do mundo, e nada mais pode perturbá-lo. Seu corpo está aqui, mas sua consciência voa por outros níveis, além dos níveis cotidianos. A consciência atingiu tal grau de maturidade e interação com a realidade que está livre para mover-se, liberta das dimensões do tempo e do espaço. Sidarta Gautama e outros que alcançaram a iluminação poderiam ter deixado que sua consciência partisse, finalmente liberta do corpo físico e das limitações terrenas. Mas preferiram ficar até o fim, até onde o corpo suportasse. Por quê? Para ensinar o que aprenderam. Esse é o exemplo de suprema compaixão do Bodhisatva, o ser que após uma vida inteira de busca finalmente atinge a iluminação mas aceita permanecer nas limitações do mundo, pondo à disposição da humanidade o seu conhecimento e toda a sua experiência.

Assim como o Bodhisatva, aquele que atinge a autorrealização está livre das pressões do mundo. O ser autorrealizado atingiu o equilíbrio entre consciência e inconsciente e nada mais o desequilibra. Ele agora pode finalmente descansar da longa jornada, esconder-se até o fim de seus dias num sitiozinho no alto da serra da Ibiapaba, sem TV e sem telefone, e aproveitar a paz de espírito que conquistou, longe do trânsito maluco, da poluição e dos operadores de telemarketing. Mas muitos não o fazem. Preferem continuar no mundo e contribuir com sua experiência para um mundo melhor. Reinserem-se no sistema, transbordantes de humildade e amor pela causa humana.

Essa reinserção contém certa dose de ironia, pois o indivíduo autorrealizado que agora contribui para a sociedade é o mesmo que, no início de seu processo de diferenciação, era visto como ameaça à própria sociedade, com suas ideias diferentes e atitudes subversivas, e por isso foi bastante reprimido.

Apesar da intensa repressão que leva a maioria a desistir, sempre haverá os que se diferenciam, desafiando e incomodando a sociedade. São as anomalias que o sistema se esforça em evitar. Mas são anomalias previstas e, além disso, necessárias ao sistema. São como antigas profecias que aguardam, pacientemente, que cada um de nós, predestinados que somos, decida realmente despertar.

(continua)

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Ricardo Kelmer – blogdokelmer.com

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CONTEÚDO INTEGRAL DO LIVRO

Cap. 1 – Cinema, mito e psicologia
Cap. 2 – Toc, toc, toc… Acorde, Neo!
Cap. 3 – Não existe colher
Cap. 4 – Morrendo para vencer
Cap. 5 – Matrix Reloaded e Matrix Revolutions
Cap. 6 – Os personagens
Cap. 7 – Quadro comparativo

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Matrix e o Despertar do Herói cap 4

28/08/2010

Matrix e o despertar do herói
A jornada mítica de autorrealização em Matrix e em nossas vidas
(Ensaio – Miragem Editorial/2005)
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Usando a mitologia e a psicologia do inconsciente, Kelmer nos oferece uma visão diferente de Matrix, o filme que revolucionou o cinema, lotou salas em todo o mundo e tornou-se um fenômeno cultural, conquistando milhões de admiradores e instigando intensas discussões.

Em linguagem descontraída, o autor nos revela a estrutura mitológica do enredo de Matrix, mostrando-o como uma reedição moderna do antigo mito da jornada do herói, e o compara ao processo individual de autorrealização, do qual fazem parte as crises do despertar, o autoconhecer-se, os conflitos internos, as autossabotagens, a experiência do amor, a morte e o renascer.

Podemos ser muito mais que meras peças autômatas de uma engrenagem, dirigidos pelas circunstâncias, sem consciência do processo que vivemos. Em vez disso, podemos seguir os passos de Neo e todos os heróis míticos: despertarmos, assumirmos nosso destino e nos tornarmos, finalmente, o grande herói de nossas próprias vidas.

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Cap 4

MORRENDO PARA VENCER

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Cypher entrega os companheiros

Quando estão prestes a retornar à nave, após a visita de Neo ao Oráculo, os rebeldes são surpreendidos numa emboscada. Estão presos num prédio sem saída e cercados por muitos soldados armados. Foram traídos por Cypher, companheiro da própria resistência.

A primeira cena do filme é o diálogo telefônico entre Cypher e Trinity. Na tela, as fileiras de caracteres (os códigos da Matrix) deslizam enquanto Trinity, na Matrix, diz que logo entrará em contato com aquele que Morfeu acredita ser o escolhido. Cypher pergunta se ela também acredita. Ela desconversa. Ele insiste, mas ela não responde. Ouve-se um ruído na ligação. “Esta linha é mesmo segura?”, ela pergunta. Cypher confirma.

Mas não é. Depois entenderemos que Cypher já age aí como informante dos agentes da Matrix e, através dessa ligação, está entregando Trinity às autoridades do mundo virtual. Não fica claro para o espectador que assiste pela primeira vez, mas começa aí a traição de Cypher, um dos elementos fundamentais da história de Matrix.

Mais tarde, na nave, quando Trinity leva o jantar para Neo, que ainda se recupera de seu despertar da Matrix, Cypher a aborda e comenta, aparentemente enciumado, que ela nunca fez isso para ele. Em outras cenas Cypher volta a testar e zombar da crença de Trinity no Predestinado, coisa em que ele, particularmente, não consegue acreditar.

O comportamento de Cypher intriga o espectador, aumentando sua desconfiança, até a cena em que fica claro que ele é um traidor: Cypher está num restaurante, na Matrix, a negociar com o agente Smith a entrega do líder Morfeu. Então sabemos que ele cansou da vida de resistente e sente falta da realidade virtual, onde pode, por exemplo, degustar uma picanha suculenta como a que está saboreando. Ele exige condições para entregar o líder: quer ser reinserido na Matrix como alguém rico e famoso, e nada quer lembrar de sua vida anterior. Smith concorda, satisfeito.

Cypher é a traição que nasce dentro da própria resistência, lembrando com isso que aqueles que lutam pela libertação da espécie humana são humanos, com todos os seus defeitos. Cypher não compartilha da crença no Predestinado. Pensando bem, é difícil mesmo crer que alguém possa destruir a tão poderosa Matrix e que esse alguém nascerá dentro dela própria. Cypher está cansado da vida desconfortável, de comer alimentos sem gosto, de fugir e se esconder, de lutar por algo em que não acredita. Mesmo sendo um dos que conseguiram despertar, já não tem forças para continuar resistindo. Some-se a isso seu interesse velado por Trinity, seu ciúme por sabê-la interessada em Neo e, pronto, a traição já tem todos os ingredientes para se consumar.

Cypher é o Judas Iscariotes de Matrix. O espectador é levado a desprezá-lo como o traidor que de fato é, mas observe-se: sem ele não haveria final feliz. Cypher e sua traição são necessários para que Neo finalmente se convença de que é o Predestinado. Se Morfeu não houvesse sido entregue por Cypher, Neo não teria porque voltar à Matrix, arriscando tudo pelo amigo. É arriscando sua própria vida, e morrendo, que Neo atinge mais um nível em sua autoconscientização. É voltando aos perigos da Matrix que Neo enfim pode se experimentar em toda sua potencialidade e cumprir o que profetizara o Oráculo: que ele morreria e que na outra vida seria o Predestinado. Sem a traição de Cypher nada disso poderia ocorrer.

No romance O Encontro Marcado, de Fernando Sabino, o protagonista diz, para espanto do padre diretor do colégio em que ele estuda, que o grande medo de Jesus Cristo era que Judas não o traísse, pois se ele não o fizesse, como Jesus cumpriria seu destino? Sem a traição de Judas, Jesus teria que tentar outros meios de morrer pela humanidade. O que seria de Jesus sem Judas? O que seria do Cristianismo sem seu beijo entreguista? Esse é um dos paralelos de Matrix com a mitologia cristã. Aliás, o nome Cypher lembra Lúcifer.

o sabotador interno

No âmbito psicológico, Cypher representa o componente de autossabotagem da psique. Cypher tem medo de arriscar o novo e prefere a segurança do velho, o que provoca estagnação e crise. Ele preferiria não saber o que sabe. O lema desse nosso companheiro interno é: “a ignorância é uma bênção”.

Cypher existe em todos nós, é a força retrógrada em eterno combate com o impulso progressista. De onde pode vir a verdadeira traição senão de dentro de nós mesmos? Isso nos lembra que o grande inimigo a vencer não se encontra lá fora: ele está dentro de cada um de nós e age na escuridão do inconsciente, sem ser percebido, dissimulando-se em nossos medos e bloqueios mais íntimos. Preferimos não encará-lo, é mais cômodo. E assim ele prossegue nos sabotando.

Há sempre um preço a pagar quando insistimos em não olhar para o que nos chama atenção em nós mesmos. O que é rejeitado na psique cresce silencioso, e esse é o pior dos inimigos: um dia ele se manifestará e estará tão forte que não haverá como deter sua traição. Por isso os terapeutas insistem na necessidade do autoconhecimento psicológico – ele ainda é a melhor prevenção contra os Cyphers da vida.

O sabotador interno sente falta do tempo em que tínhamos menos autoconsciência e, exatamente por isso, menos responsabilidades. Cypher está no poder quando desistimos de lutar e achamos mais cômodo permanecer onde estamos, sem nos comprometer com mudanças pessoais, fingindo esquecer do que realmente devemos fazer em nossas vidas.

Cypher age toda vez que desistimos de lutar por nossos sonhos ou insistimos em padrões de comportamento autodestrutivos. Quer ver Cypher no comando? É só olhar para aquela garota que sempre dá um jeito de estragar seus relacionamentos porque no fundo acha que não merece ser feliz. Ela age de forma a ser rejeitada, e quando de fato é rejeitada, confirma para si mesmo sua visão pessimista da vida, maldizendo o amor e culpando as outras pessoas.

Com Cypher no comando há uma tendência para sarcasmos, ressentimentos, ódios encobertos e toda uma gama de sentimentos negativos. Além de não suportarmos ter de prosseguir lutando, também é insuportável ver os outros firmes em seu caminho e realizando seus sonhos. Para o Cypher que existe em nós, o que lhe resta é sabotar tudo o que nosso Morfeu planeja, numa vingança por se achar injustiçado pela vida. Enquanto Cypher não for chamado à conversa franca, não precisaremos de inimigo algum: seguiremos nós mesmos, sem perceber, sabotando nossos planos de felicidade, muitas vezes no último instante.

O exemplo de Cypher serve também para nunca esquecermos que na jornada do autoconhecimento ninguém está livre das tentações. A cada avanço, novos desafios se apresentam. O conhecimento e a experiência adquiridos nos dão poder, sim, mas o poder pode corromper o ego, fechando-nos ao aprendizado. A ampliação da consciência deve prosseguir e, para isso, novos aspectos do ser devem ser integrados.

A verdade liberta, sim, mas a cada nível de liberdade alcançado, um novo nível se apresenta e não podemos nos acomodar, pois a tentação de desistir estará sempre presente, feito um diabinho a nos cutucar com seu tridente. Feito a picanha suculenta no garfo de Cypher.

a fé em si mesmo

Morfeu é capturado pelos agentes da Matrix, mas Neo, Trinity, Apoc, Switch e Cypher conseguem escapar do prédio. Cypher é o primeiro a retornar à nave e, prosseguindo em sua traição, atira nos dois operadores. Podendo decidir sobre a vida e a morte dos colegas que ainda estão na Matrix, elimina Apoc e Switch, desconectando-os de seus corpos. Depois, pelo telefone, zomba da crença de Trinity no Predestinado e, por fim, quando se prepara para matar Neo, é morto por Tank, o operador que sobrevivera a seu ataque.

Antes de desconectar Trinity e Neo, Cypher deseja brincar com os sentimentos e a fé de Trinity, e diz, sarcástico, pelo telefone: “Se ele é mesmo o Predestinado, então algo deverá acontecer e me impedir de puxar este cabo.” O suspense é insuportável. Trinity e Neo, na Matrix, se olham assustados, impotentes diante da traição do colega que prossegue, perverso: “Vamos, Trinity, olhe nos olhos dele e me diga: você ainda acredita que ele é o Predestinado? Sim ou não?”

Trinity olha para Neo e, assustada mas convicta, com o celular ao ouvido, responde: “Sim.” Nesse momento, Tank surge e, mesmo ferido gravemente, atira em Cypher, impedindo-o de matar Neo.

Atente para o drama de Trinity. Se respondesse que acreditava, Cypher puxaria o cabo e mataria Neo, mostrando que, de fato, ele não era o Predestinado, e assim ridicularizaria Trinity e sua crença, e ainda zombaria de sua paixão, da qual tinha ciúme. Porém, para Trinity havia outra opção: dizer que não acreditava, ainda que de fato acreditasse, pois assim pouparia a si mesma do sarcasmo de Cypher. Entretanto, agindo dessa forma ela não estaria sendo verdadeira consigo mesma, pois negaria sua própria fé. Então, mesmo numa situação terrivelmente desfavorável, onde tudo parece perdido e só um milagre pode salvá-los, ela prefere assumir sua crença a qualquer custo. O que pode levar alguém a manter sua fé mesmo quando tudo aponta que ela é vã?

Na jornada da autorrealização, quando parece que já fomos suficientemente testados e que a vida não tem mais porque duvidar de nosso sincero esforço e honestidade em relação às nossas crenças pessoais, eis que nos vemos numa situação como a de Trinity. É como se uma força maior armasse toda a cena somente para testar, de forma definitiva, nossa fé naquilo que dizemos acreditar.

Nós acreditamos em nosso potencial, lutamos por nossos sonhos, temos fé que conseguiremos, estamos certos disso tudo, não há dúvida. Mas isso ainda não basta, pois um belo dia a vida nos pede para… saltar no escuro. Não é possível. Simplesmente não acreditamos no que está acontecendo. Parece uma brincadeira do destino. Bem, não deixa de ser, porque apesar da fama de difícil, a vida tem um ótimo senso de humor.

Nesse ponto, muitos desistem. Entendem que não vale a pena arriscar tudo que conquistaram e decidem voltar. Arranjarão mil desculpas e tentarão se convencer que fizeram o certo – mas ficará sempre a sombra do arrependimento, para alguns sutil, para outros impossível de ser ignorada. Sutil ou não, o arrependimento de não haver tentado pode encher a vida de frustração.

Ninguém poderá decidir por nós quando esse difícil momento surgir. Só nós mesmos, por nossas atitudes, é que podemos mostrar o quanto confiamos no processo. Teremos que saltar no escuro para poder descobrir se o que nos aguarda lá embaixo é a morte ou se, na verdade, o chão sempre esteve a um palmo de nossos pés. Somente seguindo nossa fé mais íntima e dizendo um sim verdadeiro aos nossos sonhos é que saberemos se eles realmente fazem parte de nosso destino. Somente dizendo sim, como Trinity, é que pode acontecer um milagre.

Neo decide resgatar Morfeu

Neo e Trinity retornam à nave, salvos. Tank lhes comunica que terá que sacrificar Morfeu, pois ele está na Matrix, sendo torturado pelos agentes, e a qualquer momento cansará e revelará os códigos de Zion, permitindo assim que as máquinas destruam a cidade.

Neo, porém, interrompe Tank, decidido a voltar à Matrix e resgatar Morfeu. Trinity tenta impedi-lo, dizendo que Morfeu se sacrificou para que eles pudessem salvar o Predestinado. Neo explica que Morfeu estava enganado, pois acreditava que ele é algo que, na verdade, não é: “Não sou o Predestinado, Trinity. O Oráculo me disse.”

“Não. Tem de ser você.”

“Sinto muito. Sou um cara comum”.

“Não é verdade, Neo. Não pode ser verdade.”

“Por que não?”, Neo indaga, e Trinity não responde.

Este é um momento bastante significativo da história. Neo, pela primeira vez, sente que é capaz de lutar contra a Matrix. Até então ele apenas treinou com Morfeu e entortou uma colher, mas agora, na iminência da morte do homem que tanto acreditou e tanto fez por ele, Neo é tomado de súbita autoconfiança. Uma nova força parece brotar dentro dele, tão poderosa que o faz crer ser capaz de voltar à Matrix, lutar contra os agentes e resgatar Morfeu, algo que ninguém jamais conseguiu fazer.

Apesar disso tudo Neo ainda não acredita que é o Predestinado. Ele se sente impulsionado a realizar algo grandioso e sabe que é perfeitamente capaz, mas essa convicção não vem do fato de se saber o Predestinado, pois ele continua negando. De onde então vêm essa força e essa certeza imensas?

Aqui o herói está no limiar de uma profunda transformação interior, o momento em que um fenômeno muito importante começa a se produzir: o indivíduo se sente tomado pela força irresistível que já aponta no horizonte da consciência. A personalidade consciente ainda não admite a verdade, mas ela é tão poderosa que avança do inconsciente para a consciência, encurralando qualquer tentativa de defesa do ego.

Nós nos transformamos pelo autoconhecimento e chegamos até esse ponto mais cientes de nossas capacidades, sabendo que somos capazes. Ao mesmo tempo, porém, insistimos em negar certas coisas a nosso respeito, apesar delas estarem obviamente estampadas em nossas ideias e atitudes. É o último baluarte de resistência do velho ego que se mantém firme. Por quê?

Isso ocorre porque ainda estamos apegados a uma velha verdade sobre nós mesmos. Admitir isso significaria assumir uma responsabilidade definitiva sobre nossas vidas, algo que mudará tudo, inclusive nosso conceito sobre nós mesmos. Outras pessoas ao redor já sabem ou desconfiam disso, mas nós insistimos em negar. São os resquícios do velho ego que, apesar das transformações já ocorridas, ainda se recusa a morrer inteiramente. É a percepção que temos de nós mesmos agarrando-se o quanto pode à comodidade que representa o não assumir-se.

A história bíblica de Jonas, que é engolido por uma baleia, nos mostra o quanto é vão fugirmos de nós mesmos, do nosso destino. Não adianta Jonas fugir no barco, ir para bem longe. Aquilo que o aguarda irá buscá-lo seja onde for, e assim, enquanto nega para si mesmo e se esforça no rumo contrário, Jonas apenas adia o que precisa acontecer. Ele cairá ao mar, será engolido pela baleia e ela o vomitará numa praia distante, exatamente o lugar que ele tanto evitava ir. Porque é isso que aguarda o herói: o seu próprio destino de herói.

O ego sempre resiste. A autopercepção nunca abre caminho facilmente para uma nova forma de entender a si próprio. Mas o eu total é muito maior que o ego e tem mecanismos para nos forçar a avançar em nosso caminho de autorrealização, rumo ao que sempre fomos destinados a ser. E a psique é muito criativa, não duvide. Ela pode inventar acontecimentos repentinos, iscas bem camufladas ou até mesmo uma baleia.

unindo os opostos

Neo se prepara para voltar à Matrix. Trinity diz que vai com ele. Neo não concorda. Trinity, então, usa de sua autoridade como oficial da nave e, resoluta, diz que ou ela irá junto ou ele não irá. Neo tem de aceitar, e os dois, então, são enviados de volta à Matrix. Eles invadem um prédio de segurança máxima, lutam contra soldados, usam um helicóptero e, por fim, libertam Morfeu.

A prática contínua do autoconhecimento nos torna confiantes em nós mesmos. Se sabemos quem somos, sabemos muito bem  de nossas possibilidades. A autoconfiança é atingida quando deixamos de ser desconhecidos para nós mesmos e ficamos íntimos da nossa própria verdade. Após confrontar o inconsciente e assimilar aquilo que por muito tempo evitamos reconhecer em nossa personalidade total, eliminamos o inimigo interno, a força retrógrada, e podemos finalmente concentrar os esforços em outras frentes.

“Neo, ninguém nunca fez isso”, Trinity o adverte. Mas ele está inteiramente convicto: “É por isso que vai dar certo.” Neo sente que é capaz de realizar o impossível. Sua audácia surpreende os companheiros, mas ele está tão decidido que só lhes resta concordar. Ocorre o mesmo quando atingimos esse ponto do autoconhecimento: fazemos coisas que antes eram impossíveis, superando os limites pessoais e surpreendendo a todos, às vezes até a nós mesmos.

Aqui, porém, cabe uma advertência. A autoconfiança é necessária para realizar grandes feitos, sim, mas se o ego acha que conseguirá fazer tudo sozinho, acabará sofrendo amarga decepção. Autoconfiança nem sempre quer dizer autossuficiência. Apesar de agora se entender melhor com o inconsciente e ter assimilado os conteúdos que antes só atrapalhavam, a personalidade consciente precisa estar bem equilibrada para dar o grande salto. O herói necessita reunir todas as suas forças para o embate.

No caso de Neo, ele reluta em admitir a presença de Trinity na perigosa missão de resgate, pois se considera capaz de resolver a parada sozinho – mas tem de render-se à autoridade de Trinity. Temos aqui, mais uma vez, a atuação do aspecto feminino do herói. É esse aspecto que, mais uma vez, e dessa vez num nível mais profundo, exige ser devidamente reconhecido e integrado à consciência.

No início do filme, quando os resistentes ainda tentavam despertar Neo, foi Trinity quem manteve com ele o primeiro contato, cuidadosa, pelo computador, e em seguida na festa, sussurrando em seu ouvido. Depois foi ela quem o convenceu, delicadamente, a ficar no carro e permitir a retirada do aparelho rastreador. Em todos esses momentos Trinity agiu com muito cuidado para não afugentá-lo de vez. Precisou ser calma, doce, compreensiva e paciente, conquistando-lhe a confiança. Agora é diferente. Ela sabe que Neo, sozinho, não conseguirá salvar Morfeu. Ela sabe que ele precisa dela.

A natureza feminina no homem, assim como a natureza masculina na mulher, é chamada a intervir em momentos cruciais onde a consciência corre o risco de se tornar unilateral, levando-nos a agir desequilibradamente. Sabemos que somos capazes, e de fato somos, mas só conseguiremos êxito se unirmos o que somos, masculino e feminino, força e delicadeza, razão e sentimento, yin e yang. Somente assim, enfim equilibrados entre nossos opostos, é que seremos realmente capazes de fazer o impossível acontecer. Sem essa união, apenas um lado das nossas capacidades atuaria, e, certamente, não seria suficiente.

É sempre bom parar um pouco antes de dar o primeiro passo rumo a uma grande conquista e sentir se estamos suficientemente equilibrados para a missão. Mas, num mundo regido pela pressa do relógio, parar e dedicar um tempo a nós mesmos soa como um luxo impensável, e muitas pessoas chegam a sentir culpa se não estão ocupadas trabalhando, produzindo, correndo de um lado para o outro. Muitas até adoram mostrar que estão sempre lotadas de trabalho, mesmo quando não estão.

Se precisamos empreender uma grande tarefa, que exige todo o nosso esforço e atenção e envolve enormes riscos, nada melhor que, antes de começar, reunir todas as forças, tudo o que somos. Quem se conhece mais, sempre tem mais chances de obter êxito no que faz. Quem não se conhece, não terá como unir harmoniosamente suas forças e ficará sempre a um passo de tudo aquilo que poderia realizar.

No filme, é Trinity quem pilota o helicóptero e impede que um agente mate Neo. Por outro lado, é ele quem segura Morfeu pela mão e é ele também quem segura o cabo para que Trinity escape do helicóptero que cai. Sozinhos, nenhum dos dois conseguiria resgatar Morfeu. Juntos, não apenas o fazem como também reafirmam a atração que já sentiam um pelo outro, fortalecendo os sentimentos que mais tarde permitirão a Neo ressuscitar e se tornar, definitivamente, aquilo a que estava, desde o início, predestinado a ser.

humanos e vírus

A cena da tortura de Morfeu é muito interessante pelo fato de apresentar a visão das máquinas sobre a espécie humana. Enquanto aguarda que Morfeu canse e finalmente lhe revele os códigos de Zion, o agente Smith fala de uma curiosa conclusão a que chegou:

“Percebi que os seres humanos não são mais mamíferos. Todo mamífero deste planeta instintivamente desenvolve um equilíbrio natural com o meio ambiente. Os humanos não. Vocês se mudam para um lugar, se multiplicam até que todos os recursos naturais sejam consumidos e a única maneira de continuar sobrevivendo é mudar para outro lugar. Existe outro organismo que segue o mesmo padrão. É o vírus.”

O raciocínio do agente Smith é, para nós humanos, desconcertantemente lógico. Smith é o vilão que detesta a espécie humana e tudo fará para destruir Zion. Ele é o mal personificado, um programa de computador cujo objetivo é coordenar missões de captura de humanos dentro da Matrix e eliminá-los, custe o que custar. Apesar de tudo isso, o espectador é levado a admitir, a contragosto, que são sábias as suas palavras.

Smith tem toda razão: a espécie humana se comporta como os vírus, exatamente como os organismos que tanto tememos e combatemos. Até poucos séculos atrás, porém, o Homo sapiens mantinha uma relação simbiótica com o meio, respeitando as leis naturais e convivendo em harmonia com animais, vegetais e minerais. Havia o sentimento do sagrado em relação à Natureza, pois instintivamente nos sentíamos unidos a ela e sabíamos que precisávamos dela para sobreviver, verdade que os povos indígenas sempre tentaram, e ainda tentam, nos mostrar.

Infelizmente, o advento da civilização, a industrialização e agora a tecnologização mudaram isso. Hoje, desligados de nossas raízes e desconectados das leis naturais que regem a vida, tornamo-nos peritos em violentar a Natureza e não acordamos para o fato de que fazemos parte dela. Sem Natureza não há planeta, e sem planeta nós não existiríamos. A Natureza é o planeta inteiro, inclusive nós. É uma verdade que de tão óbvia não precisaria ser lembrada, mas que fazemos questão de desconsiderar e até negar.

“Vocês são o mal, o câncer deste planeta. Vocês são a praga. E nós somos… a cura.”

As palavras do agente Smith são duras. Dói na consciência e é desconfortável reconhecer que ele está certo: a espécie humana é a grande praga da Terra, ela e sua cegueira absurda. Somos a peste humana que, por onde passa, deixa atrás de si um rastro de destruição. Já não destruímos apenas a Natureza: agora eliminamos também culturas inteiras, dizimando seus valores.

Destruindo o ambiente em que vivemos, estamos destruindo também a nós mesmos, condenando à morte todos os dias milhares de pessoas, inclusive crianças, vítimas da ganância capitalista, do fanatismo religioso e do medo do diferente.

Será que um dia, como em Matrix, as máquinas se rebelarão e, feito justiceiras do planeta, nos escravizarão, interrompendo assim a ação do câncer que tão bem representamos? Talvez isso não ocorra. Talvez seja a própria Terra que, em sua capacidade autorreguladora e cansada de ser agredida, decida sacrificar nossa espécie para que a vida no planeta possa prosseguir. De qualquer forma, talvez ainda haja tempo de reverter o processo. Isso dependeria de que uma parcela considerável da humanidade acordasse para o perigo que criamos. Dependeria de que pessoas simples, como eu e você, lembrassem da verdade mais óbvia.

Neo versus Smith

Morfeu volta à nave, seguido por Trinity. Neo, porém, é impedido de voltar pelo agente Smith, que surge no metrô. Ele pensa em correr, mas volta-se e decide enfrentar Smith, contrariando a regra básica dos resistentes, que diz que jamais deve-se lutar contra um agente, pois até então todos os que tentaram, morreram.

Os agentes são programas criados para capturar e eliminar humanos intrusos no sistema. Não podem ser mortos. No máximo são “expulsos” do corpo humano que provisoriamente ocupam na Matrix para, ato contínuo, assumirem outro corpo, retornando para prosseguir a luta, sem nenhum arranhão, sem cansaço. Eles não são apenas mais fortes que qualquer humano, são invencíveis. Por isso a recomendação: quando vir um agente, fuja o mais rápido que puder.

O agente Smith é o líder dos agentes. Quando Neo, no metrô, desobedece às recomendações de fugir e volta-se para lutar contra Smith, o espectador já sabe tudo sobre os agentes e por isso sabe também que Neo não pode destruí-lo. Como então ele poderá vencer?

Em termos psicológicos, o agente Smith representa algo muito difícil de ser assimilado pela consciência, um conteúdo inconsciente que se manteve intocado durante longo tempo, apesar de toda a ampliação da consciência. É algo que nos mete muito medo e do qual sempre fugimos, o que fez com que crescesse sem ser incomodado e se tornasse extremamente poderoso.

Um dia, porém, quando mais uma vez já estamos nos preparando para fugir, algo ocorre e decidimos ficar e encarar o que tanto evitávamos ver dentro de nós mesmos. É uma atitude de grande coragem e que só ocorre quando a consciência se encontra num elevado grau de ampliação. Aceitar o confronto com o mais poderoso dos inimigos internos não é para qualquer um, mas somente para quem já encarou e venceu muitos outros, tendo disciplinado a força interior de tal forma que o embate decisivo se faz necessário e já não se pode mais adiá-lo.

Neo, através de sua parceria com Trinity, já aprendeu a equilibrar os opostos e tornou-se ainda mais forte e capaz. Agora, a prova final surge bem à sua frente. Ele tem a opção de fugir e mais uma vez adiar o confronto, nada o impede. Mas em seu íntimo o herói sempre sabe quando chegou a hora. Neo sabe que não pode mais adiar a resolução da questão que o aflige desde que despertou da Matrix. Ser ou não ser o Predestinado tornou-se uma pressão constante em sua mente e ele tem de esclarecer isso de uma vez por todas se quiser ter alguma paz. Smith nunca foi vencido, Neo sabe, mas é exatamente por isso que deve enfrentá-lo, pois somente indo ao limite extremo das possibilidades é que saberá o que pode e o que não pode fazer.

Se prosseguirmos no caminho do autoconhecimento, superando dificuldade após dificuldade, um dia certamente também teremos de testar, num nível extremo, nossos limites de honestidade para com nossa verdade mais legítima. E o que exatamente enfrentaremos? Bem, o inimigo somos nós mesmos, sempre foi assim. Ele mora na escuridão do inconsciente e somente se revelará por inteiro no instante em que decidirmos conhecê-lo de verdade. Até lá poderemos fazer suposições, desconfiar e teorizar sobre muitas coisas. Entretanto, quando o momento decisivo chegar, sempre estaremos desprevenidos.

É quando a hora da verdade soa no relógio de nossa jornada que descobrimos essa nova e perigosa entidade dentro de nós. Tudo o que vivemos até então poderá nos ajudar, sim, mas agora trata-se de um fator inteiramente novo na história e não poderia haver qualquer preparação conveniente. Estaremos sós diante de nossa outra parte, aquela que sempre existiu, dividindo conosco o espaço do nosso próprio ser, mas levando uma vida autônoma, protegida da luz da consciência. Ela é mais forte que nós. Porque ela faz parte do que nos tornaremos.

E agora? Fazemos como Neo, que decidiu lutar contra algo que é invencível? Ou fugimos? Por um lado, lutar se mostrará um esforço vão e, por outro, fugir apenas adiará o confronto inevitável. E agora, como escapar desse dilema?

meu nome é Neo

Neo e o agente Smith posicionam-se um frente ao outro como nas cenas clássicas dos filmes de bang-bang. Eles avançam atirando, mas não se acertam. Esmurram-se e rolam pelo chão da estação, medindo forças. A luta é equilibrada, mas aos poucos Smith leva vantagem e consegue jogar Neo nos trilhos do metrô. Enquanto o trem se aproxima, Smith imobiliza Neo pelo pescoço e diz: “Está ouvindo, senhor Anderson? É o som do inevitável. O som de sua morte. Adeus.”

Neo, sufocado, cerra os dentes e responde: “Meu nome é… Neo!” E, num impulso, solta-se do abraço de Smith, deixando-o nos trilhos para ser esmagado pelo trem. Neo sai caminhando, julgando-se vitorioso, mas logo adiante o trem para, as portas se abrem e Smith reaparece, renovado, pronto para prosseguir a luta.

O que parece simples frase de efeito, um desses batidos clichês de cinema, é na verdade o melhor modo de mostrar que Neo, nesse ponto decisivo de sua trajetória, está ciente de sua identidade e sua força. “Meu nome é Neo” encerra em poucas palavras todo o caminho por ele percorrido, as dúvidas vividas e os desafios superados. Ao recusar-se a ser chamado pelo nome que foi inicialmente batizado na Matrix, Neo, simbolicamente, rompe ainda mais sua ligação com o mundo das ilusões, rompimento iniciado ao criar o codinome Neo para atuar como pirata no mundo dos computadores. A criação do codinome, ainda na Matrix, marca o desenvolvimento de sua nova consciência de si mesmo. Ao insistir em ser chamado pelo novo nome, Neo confirma sua identidade e resiste à morte.

Porém… apesar de confiar em sua força, Neo ainda não se convenceu realmente de que é o Predestinado, caso contrário não precisaria de tanto esforço, como veremos depois na cena do embate final contra Smith. Ele precisa, primeiramente, “saber” que é o Predestinado. Enquanto isso não ocorrer, ele seguirá lutando, lutando e lutando contra algo que não poderá jamais derrotar.

Muitas pessoas mudam de nome quando casam ou ingressam em nova religião. É uma forma simbólica de cortar os laços que as prendiam a seu antigo mundo, aos velhos valores que norteavam a vida. É um modo de recomeçar, com uma nova identidade. Isso não quer dizer que precisamos comparecer ao cartório toda vez que nos transformamos – o que interessa é a mudança interior, e não o nome. Se mudamos por dentro, nosso mundo em volta também muda, pois como tudo está interligado, nada fica imune ao que se transforma.

Resistindo à morte e insistindo com todas as forças por sua vida, Neo está, na verdade, apegando-se ao que ele sabe de si próprio, à sua autopercepção. Porém, nesse momento sua autopercepção é insuficiente para fazê-lo vencer, pois ele ainda não admite que é o Predestinado, e somente o Predestinado é que pode vencer a Matrix. Assim sendo, sua luta contra Smith é, na verdade, a luta de Neo contra si mesmo, contra o que ele é e sempre foi (o Predestinado), mas ainda não consegue reconhecer. O que Neo realmente necessita não é vencer Smith, e sim assumir sua verdadeira natureza. Mas, então, o que ele deveria fazer?, você pode estar se perguntando. Chamar Smith para um cafezinho?

Seria ótimo se não precisássemos confrontar nossas partes não reconhecidas. Seria menos doloroso se pudéssemos nos entender pacificamente com nosso eu maldito. Mas não é assim que se dá o crescimento psíquico, pois a consciência só evolui quando é intimada a largar sua cômoda posição e seguir em frente. Entretanto, o ego, o velho ego, sempre se apega ao que ele é e acaba esquecendo do óbvio: ele só é o que é justamente porque um dia deixou de ser o que era para ser o que agora é. Sem transformações, a personalidade não tem como evoluir.

É uma função difícil, a do ego. E contém em si boa dose de ironia. Ele é um conjunto de conteúdos psíquicos que, ainda na fase uterina do indivíduo, se aglutinaram com tal força e coesão que se desprenderam do inconsciente, formando essa entidade autoconsciente na psique que chamamos eu. Imprescindível para o desenvolvimento psíquico do indivíduo, o ego precisa de muita coesão para ser ego, caso contrário a personalidade seria tão fragmentada que não existiria um indivíduo, mas muitos e vagos conteúdos que não chegaram a se unir numa única noção de eu. No entanto, o processo de crescimento sempre forçará o ego a perder, embora momentaneamente, a sua própria coesão para que ele possa assimilar novos conteúdos do ser e, com isso, ampliar a área da personalidade consciente. O ego sempre resistirá, senão não seria ego.

Todas as vezes que se fizer necessário, o ego precisará passar a gerência do ser para um outro ego mais capaz. Neo precisa morrer para que morram junto os últimos resquícios de um Neo que ainda não crê que é o Predestinado. Por mais que afirme que é Neo e se aproxime da verdade que ao mesmo tempo tanto evita, se ele não morrer inteiramente para a antiga vida jamais chegará de fato à verdade e jamais será concretizado o que ele é em sua essência. Neo mudou e está mais forte, mas ainda não mudou o suficiente, pois continua tentando derrotar Smith, e Smith não pode ser derrotado, já que ele é o próprio Neo não reconhecido.

É um paradoxo de fritar neurônio, mas é assim que funciona: quanto mais Neo se fortalecer, mais forte Smith será. Quanto mais Neo insistir em viver, outra vez a porta do trem abrirá e Smith ressurgirá, renovado, pronto para prosseguir a luta. Nós também agimos como Neo quando estamos no limiar da grande transformação e julgamos que é nosso dever matar a nossa outra parte, aquela de quem fugimos a vida inteira. É engano. Não conseguiremos derrotá-la, por mais que lutemos ‒ ela é mais forte que nós. O que temos de fazer é admiti-la em nossa natureza, pois ela é justamente o que nos falta para sermos inteiros.

Smith não morre porque Neo ainda não aceita que é o Predestinado. Como o Predestinado tem que morrer (“sua próxima vida, quem sabe…”, dissera o Oráculo), Neo evita o autossacrifício. Pretende alcançar o máximo de si sem morrer. Obviamente, não conseguirá. Ninguém consegue.

Em sua última noite antes de ser preso pelos soldados romanos, Jesus Cristo, no jardim do Getsêmani, desesperou-se ante a visão do destino que o aguardava: sangue, humilhação, crucificação, dores terríveis e morte. Desejou que não precisasse passar por tudo aquilo e lutou em seu íntimo contra o que tenebrosamente se aproximava. Agiu exatamente como Neo, tentando evitar o inevitável. Mas Cristo compreendeu que ao Predestinado é impossível vir a sê-lo sem antes padecer e morrer. Por essa razão, entregou-se ao destino e abraçou com firmeza sua cruz.

Então Neo deveria ele mesmo jogar-se sob o trem a fim de apressar a chegada do novo nível de consciência? Também não. O que Neo tem de fazer é ir até o limite possível de suas forças e de seu sofrimento e viver honestamente a agonia que aguarda a todos os heróis. Tem de aceitar seu fardo como nós também teremos de aceitar quando chegar nossa hora. Infelizmente, não nos é dado saltar etapas. Nenhum herói teve ou terá essa regalia.

o herói morre

Neo, percebendo enfim que não conseguirá derrotar Smith, começa a correr. Liga para a nave, implorando uma saída urgente. Tank lhe indica a sala de um hotel e ele corre para lá a fim de atender a ligação telefônica, enquanto os três agentes o perseguem.

Depois de correr pelas ruas, subir escadas, saltar muros e invadir apartamentos, Neo corre por um corredor enquanto o telefone toca bem próximo. Ele abre a porta e dá de cara com Smith apontando-lhe uma arma. Um tiro é disparado à queima-roupa. Neo é atingido, mas continua de pé, sem se mexer. Leva a mão à barriga e constata que está sangrando. Está tão surpreso que parece não sentir dor alguma, como se não acreditasse que tudo aquilo de fato está acontecendo.

Enquanto o telefone continua tocando, Smith dispara uma segunda vez. Neo cambaleia para trás e se apoia na parede do corredor. Olha para Smith e parece que fará algo, mas Smith atira mais oito vezes. Seu corpo escorrega e tomba para o lado. Os agentes o examinam e confirmam: “Ele se foi”. Smith, imperturbável, fala: “Adeus, senhor Anderson.”

Façamos um pequeno exercício de imaginação. O que aconteceria se Neo houvesse atendido à chamada e, assim, retornasse a salvo para a nave, livre da perseguição dos agentes? Continuaria vivo, junto com seus companheiros. Talvez fosse levado a Zion. Talvez voltasse outro dia à Matrix, para ajudar outros humanos a despertar.

Entretanto, continuaria sendo Neo – e não o Predestinado. Ele não teria os poderes que somente sendo o Predestinado poderia ter. Não poderia manipular os códigos da Matrix e quebrar as regras do sistema como somente o Predestinado pode fazer. Se retornasse à nave, Neo não passaria pela última e decisiva transformação, aquela que é imprescindível ao herói em sua jornada sagrada: a morte.

Não é fácil encarar a morte, nós sabemos. Morte biológica ou morte como símbolo máximo de profunda transformação, nunca é fácil vivenciá-la. Mas não há outro modo de cruzar o portal. Somente com a morte do ego, ou seja, do atual nível de autopercepção, é que chegaremos ao nível seguinte de ampliação da consciência. Enquanto não morremos, ficamos presos à fase na qual estamos, que já não tem nada de novo a nos oferecer. Morrer então significa, vamos dizer desta forma, saltar do nível 1 para o nível 2. Por outro lado, recusar-se a morrer significa botar uma vírgula depois do 1 e, por meio desse movimento ilusório, enganar-se com o 1,1 e mais adiante com o 1,15, depois com o 1,157 e assim sucessivamente. A vida prosseguirá nessa dízima e nós nos movimentaremos, sim, mas não será um movimento para frente, em direção do novo, ao 2, e sim um mergulhar cada vez mais fundo na fase atual, totalmente apegados a ela: 1,157 e depois 1,1574 e depois 1,15748 e a enrolação não terá fim.

Se Neo voltasse à nave, estaria apenas adiando seu confronto com Smith. Seria perda de tempo, o mesmo tempo que perdemos toda vez que não aceitamos a mudança necessária. Neo já morreu uma vez, na Matrix, e continuou vivo, na verdade mais vivo ainda. Ele já experimentou a morte de suas ilusões e venceu. Por que então sente medo de morrer mais uma vez?

Aqui, o medo é justamente o que nos indica a necessidade de transformação. Ele, em si, não é algo ruim. Sentir medo é natural, faz parte do instinto de autopreservação. Ao perceber que novos conteúdos estão para vir à tona da consciência e que poderão desestabilizá-lo, o ego tende a se esforçar para impedir. O ego sente de longe o cheiro da mudança, e quando ela está bem próxima ele usa de toda sua força para se manter no controle, pois sente que vai morrer.

A fuga de Neo pelas ruas é a fuga que a autopercepção empreende para não morrer e, assim, não dar vez à nova autopercepção que surgirá. O esforço desesperado de Neo para atender à chamada que o levará de volta à segurança da nave é o mesmo esforço que todos nós empreendemos, inconscientemente, para escapar daquilo que nos aguarda: o nosso eu legítimo, nosso eu cada vez mais verdadeiro, aquele que desde o início estava predestinado a ser, feito uma antiga profecia.

Não adianta fugir. O medo do que nos libertará nos levará a fazer isso e aquilo, sempre justificando nossos atos, e a desenvolver mil estratégias para evitar sermos apanhados pela transformação. Mas para onde nos virarmos… lá estará o agente Smith, lá estará a morte nos espreitando.

Insistir demais na velha fase transformará nossa vida no joguinho do Pac-man: viveremos num cruel labirinto, correndo alucinados, cercados de problemas, insucessos e sofrimentos. No joguinho do crescimento psíquico o único modo de escapar é desistir da luta contra nós mesmos e aceitar a transformação. Muitas vezes agimos como Neo quando recebe o primeiro tiro e quase se convence de que aquilo não pode estar acontecendo. É por pouco. O herói está a um passo de finalmente alcançar a verdade… mas não consegue, pois ainda está apegado à velha vida.

o amor libertador     

Na nave, Morfeu, Tank e Trinity acompanham o que se passa na Matrix e ficam chocados ao ver que Neo morreu. Morfeu murmura, sem acreditar: “Não é possível…” Trinity se aproxima do corpo inerte de Neo e, calmamente, sussurra em seu ouvido: “Neo, eu já não sinto medo. O Oráculo me disse que eu me apaixonaria por um homem morto e que ele seria o Predestinado. Sendo assim, você não pode estar morto, pois eu te amo.” Ela beija a boca de Neo e seu corpo estremece, voltando à vida. “Agora levante”, ela diz. Na Matrix, Neo desperta.

É bem significativo que venha de Trinity a ordem para que Neo desperte. Poderia ter vindo de Morfeu, o líder, mas veio de Trinity. Temos aqui, mais uma vez, a presença decisiva do feminino na jornada do nosso herói. Ele já havia se entendido com alguns aspectos yin de sua psique e, graças a essa união dos contrários, equilibrou-se, fortaleceu-se e conseguiu resgatar Morfeu, e tornou-se tão ágil que Smith não pôde derrotá-lo na luta.

Agora, porém, Neo está morto, e Trinity, pela primeira vez, declara seu amor por ele, sussurrando em seu ouvido o que ela sempre mantivera em segredo, escondendo dele, dos colegas e, principalmente, dela mesma.

Você certamente lembra que na cabine telefônica do metrô, prestes a voltar à nave, Trinity fala para Neo que tem algo importante a dizer mas tem medo do que pode ocorrer se disser. Ela então fala que tudo que o Oráculo lhe disse “aconteceu, menos isso”. Isso o quê?, o espectador se indaga. Não fica claro, pois Trinity retorna à nave antes que possa revelar o teor exato da profecia, mas no fim do filme saberemos: ela se referia ao fato do Oráculo ter lhe dito que ela se apaixonaria por um homem morto e que ele seria o Predestinado. Ali, no metrô, Trinity está apaixonada por Neo, mas ele… é um homem vivo. Ela está confusa: isso significa que o Oráculo errou? Ou que Neo não é o Predestinado? Pobre Trinity, não deve ter sido fácil conviver com tantas dúvidas.

Na nave, o gesto final de Trinity aciona de vez a profecia e desperta Neo, fazendo nascer o Predestinado. O sussurro de Trinity é o pneuma, o sopro milagroso da vida, o mesmo sopro com que Ísis ressuscita Osiris na mitologia egípcia. Ao nosso herói, faltava o amor para que ele se completasse e pudesse enfim ser ele mesmo em todo seu potencial. Quando tudo parecia perdido, o componente yin da psique entrou em ação mais uma vez, ocupando seu devido lugar na personalidade consciente do herói.

A recusa de Trinity em dividir o que sentia com os companheiros significa a recusa do indivíduo em aceitar a realidade de seus sentimentos. Ao fixar-se mais em outras dimensões do ser, como a intelectual, o ego despreza a dimensão dos sentimentos, que torna-se para ele um aspecto ameaçador. O ego pressente e tudo faz para não encarar o que o destruirá.

Bem, Trinity podia aos poucos ter assimilado seus próprios sentimentos e assim não deixaria tudo para ser perigosamente resolvido no último instante. Sim, poderia. Mas para assimilar os sentimentos é preciso, antes, reconhecê-los. Trinity os reprimia, tinha medo do que eles podiam significar, sequer falava deles. Como a consciência pode trabalhar de modo satisfatório algo que finge não existir?

É exatamente assim que o último inimigo se esconde da consciência, cresce na surdina e mais tarde irrompe, exigindo reconhecimento urgente. O ego não tem como vencer algo tão mais forte que ele. Então o ego morre, derrotado por aquilo que a consciência a todo custo evitou integrar a si mesma.

Neo morre porque não há outra maneira do Predestinado nascer. O ego morre porque somente um novo ego, que reconheça os conteúdos inconscientes que exigem participação na consciência, pode comandar a partir daí a jornada do eu total rumo à autorrealização.

O amor de Neo e Trinity, que os guia rumo à vitória final, é o mesmo amor romântico que guiou a mentalidade medieval, mostrando-se como imprescindível na busca moderna do indivíduo por sua essência mais legítima. É a misteriosa lógica alquímica que une duas pessoas e as transforma numa terceira, o casal, levando a individualidade a um novo nível.

Neo é o Predestinado

Neo desperta, abrindo os olhos devagar. Parece surpreso por estar vivo, mas está muito tranquilo. Põe-se de pé e olha ao redor. Os agentes percebem, sacam suas armas e atiram.

“Não…”, Neo diz baixinho, sem se abalar, e estende o braço, detendo as balas no ar. Ele agora enxerga a Matrix através de todos os seus códigos, como os rebeldes a veem nos monitores da nave, mas com muito mais nitidez. Surpreso, Smith larga a arma e avança para Neo, que se defende dos golpes com incrível facilidade. Neo então corre e salta para dentro de Smith, fazendo-o explodir. Depois reaparece, de pé, calmo e respirando profundamente. Os outros dois agentes saem correndo.

Com a aceitação do amor, Neo alcança mais um nível do despertar. É a consciência que se amplia ao integrar os derradeiros conteúdos que não admitia.

Mas isso tudo só aconteceu porque o ego morreu, o velho ego que havia muito se agarrava obstinadamente ao comando da consciência. O novo ego faz de nós pessoas mais equilibradas e mais cientes de nossas possibilidades. Além disso, a consciência ampliada nos propicia uma visão mais clara da realidade, fazendo-nos ver o mundo além das aparências, assim como Neo passa a ver a Matrix através de seus códigos, limpidamente. Agora já não podemos ser enganados como antes, pois enxergamos tudo sem disfarces, principalmente a nós mesmos.

É bom deixar claro que a aceitação e a vivência do amor é o derradeiro inimigo que Neo tem de enfrentar para que possa se tornar, de fato, o Predestinado – mas para outras pessoas o último inimigo pode ser outro aspecto do ser. Seja qual for, será sempre algo que até o fim evitamos admitir em nós mesmos.

O Taoísmo, milenar filosofia oriental, nos fala do Tao, o ritmo do Universo, o indetível escoamento da realidade. Para o Taoísmo, sábio é aquele que capta esse ritmo e assim entende o equilíbrio dinâmico do crescimento e os ciclos de fluxo e refluxo da vida, harmonizando-se com ela. Isso é tornar-se um com o Tao, uno com tudo ao redor. Agindo assim o sábio pratica um dos princípios básicos do Taoísmo: a unicidade. Ele torna-se uno com a vida porque, na verdade, é o que sempre foi, mas não percebia.

Neo harmonizou-se totalmente com sua própria natureza e isso se refletiu automaticamente no mundo externo: ele passou a ser um com a realidade. Isso fica bem ilustrado na cena em que, após invadir o corpo de Smith e fazê-lo explodir, Neo respira fundo e a Matrix, ao seu redor, respira junto com ele, num movimento harmônico de contração e expansão.

Quem poderá ser mais forte que aquele que é um com a realidade? Neo consegue harmonizar-se com a Matrix de tal modo que nada mais é impossível para ele. Assim ocorre quando, após finalmente nos entendermos com o inconsciente, adquirimos um profundo grau de integração com nós mesmos e com a vida, nos conectando aos seus ciclos e às leis naturais. É mais ou menos como pegar onda: para chegar à praia, deve-se harmonizar os movimentos do corpo com o ritmo da onda, confiando no processo e abandonando-se ao sentido da força maior – tornando-se uno com ela. Desse modo, as coisas se tornam mais fluidas e a vida mais simples. As dificuldades continuam, é claro, mas nós agora as vemos não como obstáculos, mas como forças que, feito as ondas, podem nos conduzir à segurança da praia. E é por compreendermos as coisas desse novo modo que a vida se transforma no que há de melhor para nós.

É a isso que nos conduz a autorrealização: à efetivação do que realmente somos e à harmonia com a vida. Não são todos os que a atingem. Na verdade, são poucos, pois a grande maioria desiste ante as primeiras dificuldades e se convence que é impossível. A maioria toma a pílula azul.

Porém, o impulso para a autorrealização está presente em todos nós. O que faremos com ele é que determinará se realmente nos tornaremos ou não os heróis de nossas próprias vidas.

*     *     *

As luzes se acendem e os créditos na tela já estão subindo. O lanterninha vem nos avisar que o filme terminou e só então nos damos conta. Levantamos meio atordoados e saímos, envoltos em mil pensamentos. Teremos muitas coisas em que pensar nos próximos dias.

Na rua, as pessoas voltam para a realidade de suas vidas cotidianas. E, no interior de cada uma delas, o mito prossegue, vivo e pulsante, guardando o símbolo sagrado da autorrealização sob a mais importante de todas as perguntas:

“Quem sou eu?”

(continua)

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Ricardo Kelmer 2005 – blogdokelmer.com

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CONTEÚDO INTEGRAL DO LIVRO

Cap. 1 – Cinema, mito e psicologia
Cap. 2 – Toc, toc, toc… Acorde, Neo!
Cap. 3 – Não existe colher
Cap. 4 – Morrendo para vencer
Cap. 5 – Matrix Reloaded e Matrix Revolutions
Cap. 6 – Os personagens
Cap. 7 – Quadro comparativo

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Matrix e o Despertar do Herói cap 3

28/08/2010

Matrix e o despertar do herói
A jornada mítica de autorrealização em Matrix e em nossas vidas
(Ensaio – Miragem Editorial/2005)
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Usando a mitologia e a psicologia do inconsciente, Kelmer nos oferece uma visão diferente de Matrix, o filme que revolucionou o cinema, lotou salas em todo o mundo e tornou-se um fenômeno cultural, conquistando milhões de admiradores e instigando intensas discussões.

Em linguagem descontraída, o autor nos revela a estrutura mitológica do enredo de Matrix, mostrando-o como uma reedição moderna do antigo mito da jornada do herói, e o compara ao processo individual de autorrealização, do qual fazem parte as crises do despertar, o autoconhecer-se, os conflitos internos, as autossabotagens, a experiência do amor, a morte e o renascer.

Podemos ser muito mais que meras peças autômatas de uma engrenagem, dirigidos pelas circunstâncias, sem consciência do processo que vivemos. Em vez disso, podemos seguir os passos de Neo e todos os heróis míticos: despertarmos, assumirmos nosso destino e nos tornarmos, finalmente, o grande herói de nossas próprias vidas.

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Cap 3

NÃO EXISTE COLHER

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crises do despertar

Neo é resgatado pelos rebeldes. Pela primeira vez em toda a vida sua mente está fora da Matrix, no mundo real. Muito debilitado pelos anos em que seu corpo ficou imobilizado no casulo, cedendo energia para as máquinas, Neo dorme e a tripulação cuida dele. Ele acorda e pergunta por que seus olhos doem. Morfeu responde que é porque ele nunca os usou. E finaliza: “Descanse, Neo. As respostas estão vindo”.

O indivíduo jamais sai impune de sua diferenciação da sociedade, pois a conquista da individualidade sempre cobra seu preço. As crises que envolvem o despertar deixam o ego fragilizado, pois pode ser bastante doloroso encarar a verdade sobre nós mesmos. É comum que tais descobertas abalem tanto o ego que a pessoa, num primeiro momento, adoeça, precisando de um tempo para se recuperar e retomar os afazeres normais do dia a dia. A psique, em sua capacidade autorreguladora, força a pessoa a diminuir o ritmo e cuidar de si nessa fase delicada.

Em certos casos, o corpo segue a mente e expressa o sofrimento do ser, somatizando o conflito interno e refletindo fisicamente o que se passa na dimensão da alma. Vêm daí certas doenças que devem ser entendidas num contexto mais amplo, como sintomas da crise psíquica.

Infelizmente, a maioria dos nossos médicos ignora essa dimensão psíquica do ser e por isso se concentra nos cuidados físicos e neurológicos, comprometendo o processo total de cura com seu entendimento restrito da natureza humana. Nessas ocasiões o médico geralmente não encontra causa alguma para a doença. Ora, não encontra porque procura no lugar errado. A doença física, aqui, é um sintoma localizado do desequilíbrio psíquico, pois o ego está sendo confrontado por conteúdos inconscientes, e isso ocorre porque o ego precisa evoluir, a pessoa precisa se tornar mais adulta. Por ignorar a realidade objetiva da psique, o médico também ignora que esse doloroso confronto é vital ao desenvolvimento do ego e, consequentemente, à saúde do ser total. Quando o médico desconhece que a doença já faz parte da cura, suas tentativas de exterminá-la a todo custo poderão também anular o potencial curativo que a doença oferece.

Esta noção mais ampla da saúde ainda é rara entre médicos, enfermeiros e psiquiatras, profissionais formados por escolas que tendem a ignorar a dimensão psíquica do ser. Felizmente, já existem profissionais que compreendem o ser de um modo holístico, o que os torna mais capacitados para ajudar as pessoas a entender melhor as razões de seus males. Isso nos dá esperança de que num futuro próximo as crises do despertar da consciência (e as crises psíquicas em geral) possam ser tratadas não como meras doenças, à base de comprimidos, mas como manifestações físicas e psicológicas de um processo de cura e crescimento que envolve todo o ser.

os olhos veem

Estamos num momento decisivo do processo. No começo eram indícios vagos e confusos, mensagens sutis vindas do inconsciente que inquietaram o ego, forçando-o a sair de seu quartinho. O ego começou a desconfiar que havia algo além do que sabia sobre si mesmo e passou a se investigar. Vieram as dificuldades iniciais, mas o ego persistiu em seu caminho de autodescobertas. Vieram novas dificuldades e a coisa ficou mais séria. É como se a vida dissesse: “Não era você quem queria ver o que há do outro lado de sua dúvida? Pois agora veja.”

Diante do perigo, o ego hesita. Ele pode recuar, levando a pessoa a se convencer de que essas coisas não têm importância, que é melhor não cutucar a onça… Infelizmente, às vezes basta um vislumbre do que estamos por descobrir sobre nós para nos afastarmos do caminho.

A jornada da autorrealização não é para fracos. Somente os que vencem o medo de se conhecer podem realizar a si próprios. Neo já sentiu esse medo quando tentou andar pelo parapeito do prédio e quase caiu. Sentiu pavor quando foi torturado pelos agentes. E, diante da estranha proposta de Morfeu, parou para avaliar se valeria mesmo a pena prosseguir…

O herói decidiu pagar para ver e tomou a pílula vermelha. O ego decidiu prosseguir e aceitou ver o que vinha do escuro do inconsciente. Isso fez o herói finalmente se confrontar com a realidade. E a visão dela foi tão dolorosa que o ego não resistiu e começou a morrer. E não poderia ser de outro jeito. Da mesma forma que os olhos de Neo doem por ele nunca ter usado antes, nós também sofremos por estarmos, pela primeira vez, olhando diretamente para dentro. Mas o que exatamente pode ser tão doloroso assim em nós mesmos? Resposta: tudo aquilo que incomoda e envergonha – mas que agora somos forçados a admitir como parte integrante de nossa personalidade.

Assumir que somos fracos, mesquinhos, mentirosos, medrosos, covardes, ciumentos, violentos, desonestos, enfim, assumir coisas que sempre julgamos inexistentes em nós é tarefa das mais difíceis. O ator principal tem de descer do pedestal de sua autoimportância, desculpar-se com a plateia e apresentar a ela os outros atores da peça, que ele antes desprezava ou sequer conhecia. O ator se sente humilhado.

Na vida real a plateia não são as pessoas ao redor, mas a nossa própria consciência. Podemos até enganar os outros, mas agora já não podemos seguir mentindo para nós mesmos. O ego está frente a frente com outros aspectos do ser e é impossível prosseguir ignorando-os, pois agora eles se comportam feito funcionários em greve que simplesmente paralisam as atividades e impedem o funcionamento normal da empresa, levando o ego-gerente ao desespero. A pessoa estará impossibilitada de viver sua vida normal enquanto se mantiver o caos psíquico.

Só há uma saída: o ego tem de assimilar o que vem do inconsciente e integrar essas novidades à consciência. No início é doloroso, mas logo os conteúdos assimilados fazem o ego mais forte e a psique finalmente se equilibra.

Por isso que é difícil para o indivíduo se desgarrar da sociedade: a floresta lá fora é escura. Poucos avançam quando o ego é chamado ao confronto com seus aspectos sombrios. O mais comum é tomar a pílula azul e tratar de esquecer certos assuntos. Os horizontes de quem não arrisca são menores, sim, mas no mundo das ilusões ao menos não temos de encarar a incômoda verdade sobre nós mesmos.

No entanto, sempre há quem tome a pílula vermelha, testando seus limites e assumindo todos os riscos da aventura de se conhecer. Fazem isso porque têm coragem, sim, mas também porque sentem que não podem deixar de fazê-lo, que morrerão frustrados se desistirem nesse ponto. Então dão o passo à frente.

Você já ouviu falar de Alexandre o Grande? Ele foi rei da Macedônia (atual região da Grécia) e viveu no século 4 antes da era comum. À frente de seus soldados conquistou reinos da Europa, África e Ásia, promovendo uma intensa troca cultural entre Ocidente e Oriente. Alexandre é considerado um dos maiores estrategistas militares da história. Uma das lendas a seu respeito diz que ele desembarcava seu exército na praia inimiga, retirava dos barcos as armas e a comida, reunia os soldados à beira-mar e mandava atear fogo aos próprios navios. Então, diante das chamas, gritava para a tropa: “Se quiserem voltar para casa e rever suas famílias, só temos uma opção: vencer a guerra e voltar nos barcos do inimigo.”

História interessante… Mas o que isso tem a ver com o processo de autorrealização? Tudo. Alexandre, ao queimar os próprios navios, tomava sua pílula vermelha, ou seja, tomava uma atitude drástica em relação a seu destino, obrigando a si mesmo a avançar e dar o melhor que pudesse. Para voltar para casa, seus soldados não tinham outra opção a não ser dar tudo de si, lutar com todas as forças que tivessem e algo mais. Eles eram obrigados a se superar. Por isso venciam.

Neo, ao aceitar a pílula vermelha, não age com excesso de confiança ou soberba. É justamente o contrário: ele está assustado e tem medo. Se soubesse o que o aguarda, talvez preferisse a pílula azul, como logo veremos. Nada lhe garante sucesso, mas ele, sentado naquela poltrona, parece escutar a intuição lhe sussurrar ao ouvido que sim, ele deve prosseguir, que somente assim saberá onde vai dar a toca do coelho. Somente dando esse temível salto no escuro é que o herói conhecerá o fim de sua própria história.

mais crises

Neo acorda de seu sono profundo. Sente-se melhor. Morfeu lhe explica: “Você acredita que o ano é 1997, mas é mais provável que estejamos em 2197.” Neo diz que isso é impossível. Morfeu continua: “Eu prometi a verdade a você e a verdade é que o mundo em que você vivia era uma mentira”.

Neo e Morfeu são conectados a um programa de realidade virtual onde Neo fica sabendo sobre a Inteligência Artificial, a guerra, a Matrix e o que aconteceu com o planeta. Neo reluta em aceitar que toda sua vida foi apenas um sonho gerado e mantido por máquinas pensantes. Angustia-se e é retirado do programa. Ele vomita e vai para seu aposento descansar. Aos poucos se recupera do choque e começa, finalmente, a aceitar a verdade.

Os acontecimentos que nos fazem encarar a verdade sobre nós mesmos têm força suficiente para desestruturar a vida. A verdade está à frente e não podemos mais fingir que ela não existe. Ou podemos?

Assim como Neo, mesmo desperto da Matrix, ainda reluta em aceitar a verdade, nós às vezes demoramos a reconhecer aquilo que já é evidente. Por quê? Simplesmente porque o velho ego ainda não morreu de todo e seus espasmos continuam.

Neurose. É o nome dessa tensão entre nossa verdadeira natureza e os interesses superficiais do ego ou os papéis a que sociedade nos obriga. As neuroses se manifestam porque já não é mais possível manter no inconsciente certos aspectos do ser, e ainda assim a personalidade consciente insiste em não reconhecê-los. Quanto mais tempo se prolongar essa tensão, mais a pessoa sofrerá até tornar a vida algo muito difícil de suportar.

Devemos ver a neurose com olhos mais otimistas – ela é um sinal de que estamos lidando com nossos conteúdos inconscientes, com a nossa própria natureza. Isso quer dizer que a psique está tentando se equilibrar entre seus opostos. Passamos maus bocados toda vez que o ego demora a reconhecer o que precisa ser reconhecido, sim, mas tudo isso faz parte do processo. O ego necessita de tempo para assimilar o que descobriu. Os mecanismos autorreguladores da psique têm sua sabedoria própria e por isso as descobertas do mundo interior se fazem aos poucos, para podermos digerir bem as novas informações, cada uma em seu devido tempo.

Morfeu tem de aguardar Neo se recuperar do choque causado pelo desligamento da Matrix para, só então, levá-lo a um programa de realidade virtual a fim de que ele entenda o que houve com o planeta e a humanidade. E ainda assim, com todos esses cuidados, Neo sofre bastante e precisa de mais tempo para aceitar, chegando a perguntar a Morfeu se ainda pode voltar à Matrix.

Nós também demoramos a aceitar o que realmente somos. A vida, porém, sempre trata de nos mostrar a verdade. Certos comentários a nosso respeito nos irritam? Aí está uma boa pista a seguir. Se tais comentários nos tiram do sério, talvez eles queiram nos dizer algo importante sobre quem somos mas receamos admitir. Quem está seguro em seu caminho não tem porque se incomodar com o que falam, mas, por outro lado, quem esconde algo de si mesmo será constantemente lembrado disso através de outras pessoas que, de alguma maneira, conscientes ou não, porão o dedo bem na ferida.

Outra boa pista é atentar para o que nos incomoda profundamente nos outros. Como projetamos inconscientemente aquilo que é incômodo dentro de nós, é nos outros que o veremos claramente e não em nós mesmos. Ter de conviver com essas pessoas parece um castigo, mas, na verdade, é uma ótima oportunidade para reconhecer nossas falhas. A agressividade que não reconhecemos em nós mesmos, nós a detectaremos em alguém agressivo, e isso poderá nos incomodar a tal ponto que não conseguiremos conviver com tal pessoa, pois ela sempre nos faz lembrar do que somos mas queremos esquecer.

O ego imaturo não permite que esses conteúdos inconscientes sejam reconhecidos pela consciência, e assim eles prosseguem agindo na surdina, influenciando a personalidade. Mas um ego maduro esquece o orgulho e reconhece, através de suas projeções, as falhas de sua própria personalidade. O autoconhecimento faz com que todas as pessoas sejam mestres para nós, nos ensinando o que precisamos saber sobre nós mesmos. Mas para isso precisamos de autocrítica e humildade em relação a nós, e de paciência e compreensão em relação aos outros. Precisamos treinar essas capacidades em nós para podermos praticá-las com menos dificuldade sempre que a vida exigir que avancemos ao nível seguinte de autorrealização.

Neo treina com Morfeu        

Após finalmente aceitar a verdade e se recuperar, Neo inicia seu treinamento para saber agir na Matrix. Ele é inserido num programa que simula a realidade da Matrix e consegue superar o mestre. Depois, aprendendo a saltar prédios, falha e cai, despencando sobre o asfalto.

O percurso rumo à autorrealização envolve várias situações em que será preciso admitir que o que se vivia era apenas uma ilusão. Para evitar lidar com a verdade, nós fugimos de nós mesmos. Essa fuga constante requer muita energia por parte do ego: ele se esforça a cada minuto do dia para manter as aparências, não somente para os outros, mas principalmente para si mesmo.

Nós fingimos que somos o que não somos e reprimimos o que na verdade sempre fomos. Ignoramos a voz interior que nos chama para uma conversa, e quanto mais ela insiste, mais abafamos sua voz com qualquer coisa que estiver à mão: trabalho, diversão, compras, sexo, drogas…

Com o tempo, essa tática acabará obstruindo o fluxo natural do crescimento e a crise virá num vendaval que arrancará as máscaras que o ego construiu com tanto esmero para si. O mundo de superficialidades se mostrará um cenário de papelão, os relacionamentos perderão a graça e muitas coisas que ocupavam tanto espaço na vida deixarão de fazer sentido. Teremos de admitir que vivíamos uma mentira, uma grande Matrix criada e mantida por nós mesmos, em nossa ânsia de fugir do que nos chamava.

É um momento perigoso para o herói. Para se proteger dos escombros de seu mundo que desmorona, muitos se refugiam em qualquer lugar que lhes acene com o mínimo de segurança. Muitos recorrem à religião ou às drogas. Há também aqueles que sucumbem ao cinismo e adotam uma postura sarcástica perante a vida, como se tivessem sofrido uma grande decepção amorosa. Há também aqueles que perdem o prumo e têm sua vida desorganizada a tal ponto que nunca mais a organizam de forma satisfatória. Há os que enlouquecem. E há os que desistem de viver.

Descobrir que a própria vida é uma mentira pode ser insuportável. Mas muitos conseguem assimilar a descoberta e prosseguir com suas vidas sem se entregar a novas mentiras. Buscam e encontram dentro de si mesmos o sentido maior para o sofrimento por que passam, e assim superam a crise. A experiência da dor e da superação os torna mais fortes e capazes, e eles prosseguem cada vez mais firmes rumo à concretização de suas potencialidades.

Neo aprende a lutar nos programas de simulação e termina por vencer o próprio mestre. Após nos livrarmos das mentiras que só consumiam nossa energia, podemos agora, como Neo, fazer o que realmente importa, nos capacitando a viver de modo verdadeiro, investindo em nossas vocações e lutando pelos sonhos mais íntimos. Sem o peso das mentiras que usávamos para nos proteger de nós mesmos, agora somos mais ágeis, nos movimentamos melhor pela vida. Estamos mais preparados. Mas o aprendizado não terminou. Falta, por exemplo, saber saltar prédios.

Morfeu, o princípio yang

Se Trinity representa valores mais femininos, Morfeu é a personificação do masculino na psique do herói. Morfeu é o princípio yang da personalidade: força criativa, liderança, incentivo, agressividade e capacidade de realizar. Morfeu é o líder da tripulação e foi ele quem libertou os colegas. Foi ele quem descobriu Neo na Matrix e primeiramente acreditou que ele era o Predestinado. Foi Morfeu quem enviou Trinity para contatar Neo. Foi ele quem mostrou a dolorosa realidade para Neo. Agora é ele quem o treina para lutar contra a Matrix.

O herói precisa desse aspecto Morfeu do ser. Todos nós precisamos crer que somos capazes senão nada conseguiremos realizar. Precisamos buscar nossa própria força para fazer o que devemos fazer. É esse importante aspecto da psique que nos mantém acreditando em nossos sonhos, por mais improváveis que sejam. Às vezes, quando tudo diz que não conseguiremos, é justamente o Morfeu que existe em nós que temos de localizar e fazer agir, pois ele não medirá esforços para lutar por nós. Ele é feito da inabalável fé que diz que nós somos predestinados.

A natureza agressiva do aspecto yang é bem visível nos homens, criados desde bebês para lidar com valores como força, liderança e empreendorismo. Mas eles precisam equilibrá-los com os valores femininos de sua psique senão se tornam seres psicologicamente desajustados, incapazes de levar adiante o processo de autorrealização.

Com as mulheres ocorre o mesmo, de modo inverso. Elas precisam de sua contraparte masculina para se equilibrar e serem mais coesas. A vida moderna exige das mulheres força e capacidade de liderança nos negócios, mas infelizmente muitas ficam exageradamente possuídas pelos valores masculinos e, assim como ocorre com os homens quando se deixam possuir demais pelos valores femininos, as mulheres também se tornam psicologicamente desequilibradas.

Confiar na vida e no próprio processo de crescimento é uma qualidade vital, forjada principalmente nos fracassos, pois são as derrotas que revelam os que são dignos de prosseguir no caminho. Nas situações difíceis, quando as incertezas e o sofrimento nos abatem, quando nada dá certo, lembre-se das lendas e dos mitos: as terríveis provas do herói jamais são à toa. É justamente o sofrimento que faz o herói amadurecer e se transformar, conseguindo assim, mais tarde, realizar o que antes lhe seria impossível.

É preciso confiar no processo, e isso inclui confiar inclusive no sofrimento pessoal, pois ele tem um propósito que mais adiante saberemos entender. É esta a lição de Morfeu: confie na vida, acredite em você e faça.

negar os instintos

Os tripulantes estão reunidos para comer. Dozer explica que as refeições da nave não são gostosas, mas são feitas de proteína unicelular, combinada com aminoácidos, vitaminas e minerais sintéticos, e que isso é tudo que o corpo precisa. Mouse, o mais novo, discorda: “Não é tudo o que o corpo precisa.” A seguir, Mouse comenta com Neo sobre a mulher de vestido vermelho do programa de simulação da Matrix. Afirma que foi ele quem o construiu e pergunta se Neo não gostaria de um encontro a sós com a mulher. Switch graceja: “O cafetão digital em ação…”.

“Não ligue. São hipócritas”, prossegue Mouse. “Negar nossos instintos é negar o que nos faz humanos”.

A espécie humana é apenas uma ramificação da longa cadeia evolutiva que teve início com organismos minúsculos e se diversificou pelo planeta em milhões de espécies. A maioria desapareceu pelo caminho, e entre as que chegaram vivas nos dias de hoje está o Homo sapiens, descendente direto de outras espécies de hominídeos que, por sua vez, descenderam dos primeiros primatas. Nossa espécie adquiriu elevado grau de autoconsciência e, por isso, deixou de ser guiada unicamente por seus instintos, construindo cultura. Sua mente refinou-se e adquiriu habilidades que levaram-na a dominar outras espécies, e agora seu impulso yang de conquistas segue rumo ao espaço sideral.

O Homo sapiens é uma espécie conquistadora, mas não tem poder sobre a Natureza e sequer consegue controlar a si mesmo. Nossos cientistas desvendam os segredos do Cosmos, mas apesar de todo o conhecimento adquirido, o ser humano permanece um grande mistério para si próprio.

A mentalidade científica nos fez pedantes e hoje nos cremos separados da Natureza, olhando para tudo ao redor com ar de superioridade. Mas o buraco é mais embaixo. Apesar de toda a cultura que construímos e de todos os avanços tecnológicos, ainda somos animais e, por isso, feitos de instintos. Continuamos fazendo parte da Natureza, assim como nossos peludos antepassados milhões de anos atrás.

Ironicamente, é a própria ciência que nos faz cair desse pedestal de soberba. Primeiro descobrimos que somos primos dos macacos e formamos com eles uma única família chamada primata, e depois as pesquisas revelaram que 97% de nossa constituição genética é igual a de alguns deles. Isso tudo contradiz nosso sentimento de superioridade e a crença de que, por sermos dotados de razão e pensamento abstrato, não mais fazemos parte da Natureza nem somos guiados por instintos como os bichos.

Os instintos são nossa ligação direta com a Natureza, inclusive a natureza humana. Negá-los é negar as nossas raízes e fugir do que somos. Em Matrix, os humanos rebeldes resistem a fazer parte do mundo das máquinas e, por essa razão, valorizar as características humanas faz parte da resistência. Máquinas não têm instintos (pelo menos ainda), e, como veremos quando o agente Smith expuser suas opiniões sobre os humanos, elas de certa forma se orgulham dessa autonomia em relação aos impulsos naturais. Para Mouse, porém, admitir os próprios instintos é justamente um modo de se diferenciar do mundo mecânico e previsível das máquinas e elevar a categoria humana. Reconhecer a própria humanidade é uma questão de sobrevivência.

Para que haja equilíbrio psíquico é preciso reconhecer a dimensão instintiva do ser e assimilar o que é natural em nós, aquilo que herdamos e transmitiremos a nossos descendentes, queiramos ou não. Se, ao contrário, reprimimos os instintos no inconsciente, nas regiões escuras que a luz da consciência não alcança, eles se desenvolvem sem o olhar crítico da consciência e ganham força para influenciar o comportamento do indivíduo de modo negativo e até destrutivo.

A discussão entre Mouse e os outros tripulantes pode ser vista como uma reedição da velha discussão sobre corpo e espírito. Apoc, Switch e Dozer criticam a sexualidade do jovem Mouse, certamente pensando que um humano liberto da Matrix deve concentrar sua energia no trabalho de salvar outros humanos, nas missões dentro do sistema e na luta contra as máquinas. É como se o interesse pelo sexo pudesse lhes desviar da prioridade e demonstrasse fraqueza de caráter.

Ideias desse tipo são comuns nos caminhos do autoconhecimento, principalmente quando há algum tipo de religiosidade envolvida. Para alguns a energia sexual deve ser reprimida para que a pessoa se concentre apenas no caminho da salvação. Mas, afinal, que diabo de salvação é esta que exclui algo tão natural e legítimo como o sexo?

Não podemos cair no erro de ter vergonha do corpo e dos instintos apenas porque almejamos nos tornar pessoas mais equilibradas ou espiritualizadas. Corpo e espírito são dimensões através das quais o ser atua e reprimir um ou outro sempre traz problemas. A consciência, mesmo ampliada, não deve se desgarrar de sua base instintiva sob o risco da psique se desequilibrar. O corpo tem suas necessidades e elas devem ser atendidas de forma saudável, caso contrário ele adoece. Não podemos nunca esquecer que também somos corpo e temos de entender sua linguagem, suas necessidades e nos tornarmos íntimos dele.

Sidarta também teve de entender isso antes de se tornar o Buda. Após anos de jejuns e privações numa severa vida de austeridade, ele arrasta seu fiapo de corpo sujo e mal-cheiroso até o rio e se banha. Depois aceita a tigela de arroz que lhe oferecem. Seus discípulos o abandonam, julgando-o traidor da causa ascética. Sidarta limpa seu corpo, aplaca sua fome e tem prazer nisso. Ele então entende que se sua antiga vida de príncipe era um exagero, a vida de negação ao corpo era o outro extremo do exagero. Para atingir a iluminação, ele precisou transcender aos dois extremos.

A sexualidade é um instinto que nos liga à nossa natureza animal. Se a reprimirmos, cedo ou tarde ela nos cobrará tal negligência, irrompendo do inconsciente e manifestando-se de forma descontrolada. Devidamente reconhecida e assimilada pela consciência, a sexualidade pode ser vivida de forma sadia, ampliando ainda mais a consciência de si, o mesmo ocorrendo com outros instintos como a fome, a autopreservação, a busca de significado e o instinto criativo, que leva à arte. É possível usar até mesmo a sexualidade para alcançar novos níveis do espírito.

A energia sexual nos faz sentir mais vivos, mais integrados com as leis naturais. Enquanto há sexo, há vida. Por isso é um alívio ver sexo em Matrix. Aplausos para Mouse e sua linda loira de vermelho. Um brinde à dança sensual dos corpos na festa de Zion. Viva o tesão urgente de Neo e Trinity no elevador!

o Oráculo

Mas que diabos um oráculo, coisa tão arcaica e misteriosa, está fazendo num filme como Matrix, num ambiente tão moderno e tecnológico? O Oráculo é um dos personagens mais intrigantes do filme. Sua participação na trama é fundamental, e por isso vale a pena nos debruçarmos um pouco mais sobre ele.

Oráculo é um instrumento (ou alguém ou um lugar) através do qual formulamos perguntas e recebemos respostas para as mais variadas questões. Mas de quem ou de onde vêm as respostas? De alguma divindade, de algum aspecto mais sábio de nós mesmos ou da própria Natureza, conforme a crença do consulente. Eles são comumente usados para esclarecer fatos do presente, para previsões do futuro ou como instrumento de autoinvestigação psicológica. A pessoa se concentra, formula a questão e obtém a resposta. Enquanto é processada a ritualística do oráculo, qualquer que seja ele (tarô, I Ching, runas etc.), o silêncio age em nossa mente, isolando-nos das preocupações cotidianas, e nos põe em contato com o essencial da questão.

Oráculos são utilizados por diversas culturas há milhares de anos. Como surgiram não se sabe ao certo, mas olhando para a evolução histórica da consciência, é óbvio que não há necessidade de oráculo enquanto a espécie humana ainda está no estágio de indiferenciação psíquica, ou seja, ainda não existe a autoconsciência e, por isso, não há a separação conceitual entre o eu e o mundo exterior. Nesse ponto do processo evolutivo hominídeos e Natureza coexistem num estado de total comunhão mística e tudo é uma coisa só, um imenso inconsciente. Como não existe ainda um ego para avaliar e entender o mundo, também não há necessidade de comunicação.

Entretanto, à medida que a espécie evolui, a consciência emerge e se diferencia do profundo oceano inconsciente, feito uma frágil ilhota, e a realidade se divide entre o eu e o não-eu. A espécie começa a se entender de forma distinta da Natureza e, consequentemente, pela primeira vez “olha” para o mundo e o interpreta. A Natureza, em suas diversas formas e manifestações, é para esses hominídeos algo absolutamente imenso e assombroso, muito além da compreensão. Deve ser mais ou menos nesse ponto que são desenvolvidas as primeiras formas de oráculos. Nossos antepassados, cada vez mais sentindo-se diferenciados da Natureza (ou expulsos do paraíso, como prefere a linguagem mitológica cristã), sentem necessidade de criar instrumentos para se comunicar com ela e entender seus humores e, assim, começam a “ler” a Natureza no comportamento dos bichos, no movimento das nuvens, nas folhas das árvores, nos sulcos da terra e, dessa forma, compreendendo o funcionamento do mundo, podem se proteger das feras, prever eventos e programar migrações.

Os primeiros oráculos são isso: a observação e interpretação primitiva do mundo em toda sua imensidão e mistério. Mas essa observação tem um caráter sagrado, numinoso, pois a Natureza aqui é uma divindade viva e, como tal, é reverenciada com o mais profundo respeito. A Natureza é a Mãe Terra, a generosa doadora da vida e sua mantenedora, o lugar de onde vêm e para onde voltam todos os seres.

Quanto mais a consciência se diferencia do inconsciente e o ser se firma em sua individualidade, mais a espécie se distingue da Natureza, entendendo-se como algo separado. Os oráculos surgem então, digamos assim, como um paliativo para compensar aquele perfeito estado natural de interação entre a espécie e o mundo, estado que fica irremediavelmente para trás com o advento da autoconsciência.

Atualmente, utilizamos oráculos modernos como as medições meteorológicas por aparelhos. Ah, mas isso é ciência!, você pode dizer. Sim, é ciência, mas só difere dos oráculos primitivos por envolver tecnologia, pois a motivação e os resultados são os mesmos. Os primeiros instrumentos oraculares eram um modo primitivo de fazer ciência, e nem por isso menos válido que o atual. Por estarem muito mais próximos da sabedoria natural do planeta, nossos antepassados sabiam se comunicar com ele. Nós, civilizados, é que nos afastamos tanto da Natureza que agora, para entendê-la, apelamos a uma parafernália de instrumentos que nem sempre traduzem corretamente os humores do planeta. Além disso, a Natureza perdeu seu caráter sagrado, e é por isso que não vemos nenhum problema em desrespeitá-la e violentá-la todos os dias.

Para entender a Natureza, nossos cientistas, vestidos em seus caros paletós e do alto dos pedestais acadêmicos, gastam fortunas construindo aparelhos sofisticados. Para fazer a mesma coisa, nossos antepassados cutucavam a terra ou observavam o comportamento dos pássaros.

oráculos da alma

Num determinado momento, nossos antepassados percebem que os oráculos podem ajudá-los não somente a entender o funcionamento do mundo como também compreender a eles mesmos. Descobrem que, compreendendo melhor sua própria natureza individual, podem viver melhor e mais harmonizados com o mundo. Nada mais natural, pois se os oráculos servem para entender a Natureza e, da mesma forma que plantas, nuvens e bichos, nós também fazemos parte dela, por que os oráculos não poderiam nos auxiliar a desvendar a nós mesmos?

Foram então criados oráculos, digamos, artificiais, voltados para temas relativos à alma, como o tarô moderno, que é uma evolução das cartas que já circulavam no século 14. Contrário ao que muitos pensam, a função principal do tarô não é dizer se vamos casar com o Adalberto ou se vamos passar no concurso do Banco do Brasil. Ele pode até nos responder sobre questões como essas, mas, na verdade, a estrutura de suas cartas nos revela algo mais profundo…

Analisando o tarô à luz do que hoje se sabe sobre a psique e seus arquétipos, suas cartas revelam uma espécie de mapa do caminho de autocompreensão, feito de imagens arquetípicas que funcionam como símbolos ou marcos desse caminho, indicando experiências pelas quais temos de passar durante a vida. As cartas do tarô são, assim, uma metáfora do processo de autorrealização, um espelho do mundo inconsciente.

As pessoas que possuem sensibilidade e intimidade com o mundo simbólico podem ler a vida através das cartas ou dos hexagramas do I Ching, assim como nossos antepassados liam a Natureza por suas manifestações. Em muitas culturas os sonhos também são vistos como oráculos, e ainda hoje os governantes consultam pessoas para a interpretação de seus sonhos. Hoje, a psicologia do inconsciente, principalmente a junguiana, entende os sonhos como a autoexpressão da psique, um drama que se desenrola do ponto de vista do inconsciente e que visa levar ao ponto de vista do ego informações, em forma de símbolos, sobre o eu total, promovendo assim a autorregulação psíquica. Vistos dessa ótica, os sonhos são, de fato, oráculos, pois através deles podemos ler a natureza humana.

Os oráculos, no século 20, se tornaram populares no Ocidente por conta do modismo esotérico que leva as pessoas a comprar tudo que lhes promete fornecer o sentido que falta às suas vidas. É mais uma das tantas armadilhas de nossa cultura consumista, pois o sentido da vida é algo que se descobre por si só e não que se compra na lojinha mística para pagar de três vezes no cartão. O fato de se consultar um oráculo não significa, por si só, que se está apto a captar o sentido da mensagem recebida. Para isso a pessoa deve se livrar dos bloqueios e autoenganações que a impedirão de compreender, verdadeiramente, a resposta do oráculo.

No filme Matrix, o Oráculo soa como um contrassenso: num mundo supertecnológico e racional que importância teria uma senhora vidente, cheia de mistérios e profecias? Muita importância. O Oráculo no filme representa o sagrado em nossas vidas, o numinoso, um mistério que é maior e mais antigo que nós e pelo qual nutrimos profunda fé e respeito. Pode ser uma religião formal ou uma crença religiosa particular. Pode ser o amor, a arte ou uma conexão intuitiva com a Natureza, o Cosmos, a humanidade… Mas sempre será algo diante do qual baixamos a cabeça reverentes – justamente porque nos sentimos ligados a esse mistério maior.

O sagrado é obscuro, misterioso, arredio ao intelecto e jamais o definiremos com exatidões científicas, mas sem ele podemos ficar à deriva no grande caos da existência. Perder de vista nossos valores mais sagrados nos desequilibra. Que seria dos resistentes de Matrix sem a confiança no Oráculo? Eles o consultam e respeitam suas mensagens e previsões porque ele é a âncora com o sagrado em suas vidas, e é isso que os mantêm fortes, unidos e esperançosos.

voltando à Matrix

Morfeu leva Neo de volta à Matrix para consultar o Oráculo. Durante o percurso pelas ruas, dentro do carro, Neo olha silencioso pela janela e comenta que costumava comer num restaurante daquela rua.

Já passamos pelo choque de descobrir a verdade sobre quem somos. Passamos também pela crise que envolve esse momento delicado: adoecemos, tivemos a vida virada de cabeça para baixo, fomos tentados a voltar atrás e, por fim, assimilamos bem tudo que descobrimos sobre nós mesmos. Agora estamos recuperados do choque e aos poucos a vida retoma seu curso normal. Voltamos ao cotidiano sabendo mais sobre quem somos e o que queremos. Estamos mais fortes e mais equilibrados.

No entanto, como a evolução da consciência se faz em espiral, será inevitável que passemos pelo mesmo ponto, num outro nível. Isso significa que poderemos ser envolvidos novamente nas mesmas situações de antes e, se não estivermos suficientemente preparados, haverá um grande perigo de cairmos em tentação e falharmos.

Na Matrix, o carro segue pelas ruas e Neo observa em silêncio a cidade, as pessoas nas calçadas… Parece vagamente saudoso de sua vida anterior, esse tempo em que ele ainda não conhecia a verdade, e chega a comentar que comia muito bem num restaurante daquela rua, certamente um macarrão ao molho bem mais gostoso que a ração servida na nave.

Aqui, do lado de fora da tela, na vida real de cada um de nós, também passamos por situações como a de Neo, obrigados a vivenciar novamente situações que vivíamos antes do despertar, lugares e pessoas que parecem pertencer a uma época anterior de nossas vidas. Isso funciona como teste para o ego, que se vê envolvido pelo clima dos antigos valores.

É comum que o ego sinta certa nostalgia de quando não tinha tantas responsabilidades para consigo mesmo, um tempo sem compromisso com o autoconhecimento. Podemos comparar com a sensação que nos passam as crianças, elas e sua inocência, sua despreocupação com as coisas do mundo, algo que nos dá uma espécie de saudade. Mas isso faz parte da jornada, e após despertos, precisamos voltar ao mundo para viver nossa vida, com toda a intensidade que for necessária, e isso nos obrigará a lidar com as mesmas situações de antes. Podemos ir aos mesmos lugares e estar com as mesmas pessoas de antes, e até fazer tudo que fazíamos. Agora, porém, tudo é diferente, pois nós estamos diferentes. Nossa consciência se encontra num outro nível da espiral.

entortando a colher

Enquanto aguarda ser atendido, Neo observa uma criança careca vestida como monge budista. Ela entorta uma colher sem tocá-la e depois lhe pede que faça o mesmo, dizendo: “Não tente entortar a colher. Isso é impossível. Em vez disso, tente apenas perceber a verdade.”

“Que verdade?”, pergunta Neo, curioso.

“Não existe colher. Então verá que não é a colher que entorta. É você mesmo.”

Entortar a colher é o primeiro feito extraordinário de Neo na Matrix. Aliás, frente aos que ele ainda realizará, este é bem modesto. Mas o que importa aqui é que, pela primeira vez, Neo quebra as regras, ou seja, contraria as leis que regem o mundo na Matrix. Ele, porém, só realiza este pequeno milagre porque compreendeu, de verdade, que ele e a colher são a mesma coisa, a mesma realidade. Ele não apenas concordou com a ideia e pensou que pode ser assim. Não. É algo mais profundo: ele de repente soube que é verdade.

Há milhares de anos que os místicos de diversas tradições, como o Taoísmo e o Budismo, insistem que a separação que vemos entre as coisas é apenas aparente. Na verdade, tudo que existe, objetos, pessoas, animais e plantas, tudo está unido de uma forma que nossos sentidos não captam, e é justamente por causa dessa unicidade que os místicos sempre ensinaram: para mudar o mundo, mude a você mesmo.

Se nós e o mundo que nos cerca somos a mesma coisa, então o que fizermos a nós estaremos fazendo ao mundo. Se tudo que existe está interconectado, então nada escapa à ação de algo. Se Neo e a colher são a mesma coisa, não é necessário entortar a colher: basta que Neo mova a si mesmo.

Essa verdade, que era exclusiva do misticismo, passou a ser compartilhada no século 20, por incrível que pareça, pela ciência. Descobertas em diversas áreas parecem concordar com a ideia da unicidade cósmica. Na física, os cientistas, pesquisando o estranho mundo do interior do átomo, constataram que as partículas, de algum modo ainda obscuro, se comunicam entre si. A física quântica chocou os próprios cientistas ao concluir que não existe a tal neutralidade científica, pois para se determinar a profunda natureza de qualquer objeto, o observador deve incluir na análise o próprio ato de observar, o que inevitavelmente envolve observador e observado no mesmo fenômeno. Em outras palavras: a realidade em si não existe. O que existe é a nossa interação com ela.

Outras descobertas rumam para a mesma conclusão. Na ecologia já se trabalha com a teoria que a Terra é um imenso organismo vivo, dotado de inteligência própria, e tudo que nela existe, seres, plantas e minerais, são como órgãos desse imenso organismo. A psicologia, com Jung, apresentou ao público a ideia de inconsciente coletivo e sincronicidade, ou seja, a união de todos os inconscientes, através do qual pode se processar a comunicação e os acontecimentos se relacionam significativamente entre si em forma de coincidências.

Tudo se influencia porque tudo faz parte de uma coisa só. Essa verdade cabe bem no mundo globalizado de hoje, onde as economias dos países se afetam umas às outras instantaneamente e as pessoas estão interligadas por seus computadores. A tecnologia parece confirmar, à sua maneira própria, o que as milenares tradições místicas sempre afirmaram: tudo é uma coisa só.

Se tudo está mesmo interconectado, inclusive as pessoas e suas mentes, então seria possível fazer o que Neo fez com a colher. E por que eu tento e não consigo?, você pode perguntar. Certamente porque você, em seu íntimo, não acredita nisso, não sabe disso. Seria fácil demais se nos bastasse dizer para nós mesmos que podemos desviar aquela bola para o gol para que, efetivamente, nós a desviássemos. Infelizmente, isso não basta. “Não pense que é, saiba que é”, diz Morfeu para Neo a certa altura do filme. Está justamente nesse detalhe a chave do enigma. Precisamos não apenas concordar com essa verdade, mas vivê-la profundamente, em nossa mente, em cada átomo de nosso corpo. Precisamos saber que é real em vez de apenas concordar que pode ser.

Em outra cena Morfeu ensina Neo a saltar entre prédios. Tudo que ele precisa é saber que aquilo não é real, ou melhor, que ele está num programa e pode burlar suas regras. Neo se concentra, diz para si mesmo que está entendendo, corre e salta, todo confiante. E cai lá de cima, direto no asfalto. Por que não conseguiu? Porque sua mente ainda funcionava dentro das tradicionais leis físicas, e é como se elas, no instante do salto, lembrassem a seu corpo que a gravidade existe e ela sempre o levará para baixo.

Mudarmos a nós mesmos para mudar o mundo – esta é a lição que Neo começa a aprender com a garotinha. A mesma lição com que todos nós teremos de lidar na jornada em busca da completude.

o mistério do Oráculo

O Oráculo examina Neo e diz que ele tem o dom, mas parece esperar por algo, talvez sua próxima vida. Neo ainda acha que não é o Predestinado.

Quando Neo ainda se recupera em seu aposento na nave, tentando assimilar a terrível verdade que lhe foi revelada, Morfeu lhe conta sobre o surgimento da Matrix e a profecia do Oráculo que diz que um dia alguém surgirá para libertar a humanidade de sua prisão mental. Depois diz que embora eles, os resistentes, não costumem despertar alguém após certa idade porque a mente simplesmente se recusa a aceitar a realidade, ele decidiu correr o risco com Neo porque acredita que sua busca (a dele, Morfeu) finalmente terminou.

Neo fica encucado com essa história de Predestinado. Depois Tank, o operador da nave, comenta: “Cara, se você for mesmo quem dizem que é…” Neo fica cada vez mais confuso. Por fim, Morfeu diz que irá levá-lo para que o Oráculo o veja. Essas atitudes mostram que os rebeldes valorizam bastante o Oráculo e têm por ele forte respeito.

Enquanto seguem no carro para o encontro, Neo pergunta a Trinity sobre o que lhe dissera o Oráculo. O assunto parece incomodá-la e ela não responde. O mistério em torno do Oráculo aumenta.

Neo e Morfeu chegam ao prédio. É um lugar simples e um tanto sujo. Tomam o elevador, compenetrados, e à porta do apartamento Morfeu lembra: “Eu disse que o levaria até a porta. Você é quem tem de abri-la.” Neo pensa um pouco. O espectador também: o que acontecerá dessa vez? Neo estica o braço, mas a porta se abre antes que ele a toque. Mais tarde entenderemos que Neo ainda não está preparado para aceitar a si mesmo, para abrir a porta que o levará à sua verdade mais íntima.

Uma mulher os saúda e diz que logo serão atendidos. Na sala crianças brincam de entortar e fazer levitar objetos: são mentes com potencial para despertar da Matrix. Elas já sabem manipular os códigos do sistema e, por esse motivo, alteram as leis físicas da Matrix.

Quando enfim Neo se encontra com o Oráculo, descobre-se que o Oráculo não tem nada demais. É uma senhora negra, de meia idade, que o atende na cozinha, de avental, e está ocupada com os biscoitos no forno. Simpática, ela acende um cigarro e dá um gole em algo que lembra uma caipirinha caseira.

“Não se preocupe com o vaso”, ela diz. Neo não entende: “Que vaso?” Quando se vira para procurá-lo, seu braço bate num vaso sobre o móvel e o derruba ao chão, estilhaçando-o. Confuso, pergunta como ela sabia que ele o derrubaria. E ela: “O que vai encucá-lo mesmo é isso: você o teria quebrado se eu não houvesse falado nada?”

Ela olha atentamente para Neo: “Você é mais bonito do que eu pensava. Agora entendo porque ela gosta de você”. Ele pergunta: “Ela quem?” Ela sorri e diz: “Mas não é muito esperto.” A senhora põe o óculos e pede para examiná-lo: olha seu rosto, abre sua boca, pede que diga “Aaah…” como num exame médico. Isso nos faz lembrar, por contraste, da frieza da medicina tecnológica atual, do distanciamento dos médicos que, em sua soberba, não se importam se sua grafia nas receitas não são entendidas e às vezes sequer olham para seu paciente.

Ela olha suas mãos: “Muito interessante, mas…” Neo, curioso, pergunta: “Mas o quê?” Ela responde: “Mas é claro que você sabe o que vou dizer”. Neo então entende ao seu modo e conclui: “Não sou o escolhido”. O Oráculo larga suas mãos: “Sinto muito. Você tem o dom, mas parece que está esperando algo.” Ele pergunta o que pode ser e ela responde: “Sua próxima vida, quem sabe.”

profecias

É interessante o modo como foi conduzida a questão do oráculo. Primeiro, os rebeldes o citam e o espectador fica curioso. Depois a expectativa cresce quando falam da profecia sobre o Predestinado. O silêncio de Trinity só aumenta o mistério. De repente, o Oráculo não é nada do que se podia esperar, mas ainda assim surpreende com sua aparência e atitudes.

A conversa entre Neo e o Oráculo é perfeita: mostra que oráculos, na verdade, não dão resposta alguma, mas apenas servem de instrumento para que enxerguemos a resposta dentro de nós mesmos. Se não conseguimos olhar o suficiente para dentro, jamais entenderemos o significado mais profundo da resposta que nos foi dada. Assim sendo, as mensagens de um oráculo só fazem sentido se entendidas dentro do próprio universo cognitivo de quem pergunta.

Numa consulta a qualquer oráculo é determinante a posição do consulente, pois a resposta só será compreendida se a mente estiver receptiva, sem verdades preconcebidas e falsas expectativas. A resposta sempre vem, mas nem sempre se está preparado para compreendê-la. No estado em que se encontra, confuso e temeroso de assumir a grande responsabilidade de um salvador da humanidade, qualquer resposta de qualquer oráculo seria também entendida por Neo como um “você não é o escolhido”.

Neo parece sentir alívio com a declaração. Depois fala de Morfeu, e o Oráculo diz que todos lhe devem muito, que ele é muito importante. E profetiza: “Ele crê tanto nisso que se sacrificará por você. E você terá que escolher: numa mão terá sua vida, e na outra, Morfeu. Um dos dois morrerá”.

No fim, todas as profecias do Oráculo se realizam: o Predestinado veio, Trinity apaixonou-se por ele, Morfeu sacrificou-se e Neo teve de escolher entre salvar a si e ao amigo. Escolheu o amigo ao decidir retornar à Matrix. E por causa disso morreu. Morreu, mas ressuscitou. “Quem sabe numa outra vida…”, dissera o Oráculo. Na cena do helicóptero Neo está pendurado por uma corda e segura Morfeu. Numa mão ele segura a si próprio e na outra o amigo: é a profecia que se cumpre literalmente.

As profecias sempre nos intrigaram. Será mesmo possível prever o futuro? Como saber sobre algo que ainda não aconteceu? Isso nos remete à natureza do tempo, essa coisa tão impalpável e escorregadia. Nós sabemos o que o tempo é, mas só quando não pensamos, pois logo que pensamos nele, já não sabemos mais.

Se é possível prever o futuro, então automaticamente abre-se a possibilidade de alterá-lo. Se há a alteração, então o futuro previsto não acontece. Se ele não acontece, então não era o futuro. O que era então? Isso nos remete a outros aspectos da questão: os futuros hipotéticos. Talvez existam várias possibilidades de futuro e elas possam ser acessadas, nos permitindo participar no processo de determinação do futuro que efetivamente acontecerá. Ou seja: o futuro, assim como o tempo em si, necessita da consciência para existir.

Veja o vaso que Neo quebra. Exercitemos as possibilidades da questão. Ele o teria quebrado se o Oráculo nada falasse? Isso não podemos saber. Mas analisemos. O Oráculo conhece o futuro. Assim sendo, se ele sabe que Neo quebrará o vaso, então não precisa falar para que o destino se cumpra. Ou precisa? O fato é que fala. Por quê? Será que quer apenas mostrar suas capacidades, feito um cartão de apresentação? E se sabe mesmo do futuro, por que não retira o vaso ou alerta Neo de forma mais cautelosa? Bem, se assim fizer, o futuro que ele previu não se cumprirá, e dessa forma o Oráculo agirá contra si mesmo, o que não faz sentido.

Como explicar as profecias que se cumprem? Seria tudo mero acaso, coincidência? Talvez a profecia em si mesma seja justamente a força que leva os acontecimentos a se realizarem de forma a cumpri-la, uma espécie de autossugestão, ou seja, o futuro passa a existir potencialmente porque foi anunciado. Ou não? Será que o futuro realmente já está escrito?

Há quem entenda as profecias como autênticos flagrantes de falhas no entendimento unidimensional do tempo, comprovando que o tempo não é algo linear que vem do futuro, passa pelo presente e segue para o passado ou, como queira, é algo que vem do passado que já aconteceu, passa pelo presente que vivemos e se abre em perspectivas de futuro. Em vez de uma linha reta, talvez o tempo esteja mais para uma teia, algo que só faz sentido se for entendido em seu todo, de uma vez só. Para entender o fenômeno das profecias talvez seja necessário pensá-las não em termos de causa e efeito, mas como ocorrências sincrônicas que se explicam mutuamente, algo cujas partes se sustentam umas às outras ao mesmo tempo e não podem ser totalmente entendidas separadamente. Neo quebrou o vaso porque o Oráculo falou, e o Oráculo, por sua vez, fala justamente porque Neo quebrará o vaso.

o tempo

Está vendo? Conjeturar sobre o tempo é um exercício que, em vez de nos trazer certezas, nos deixa com mais dúvidas. Entretanto, para o nosso estudo, gostaria apenas de fazer mais uma breve reflexão. Se o tempo futuro ainda não existe e o tempo passado não existe mais, o que existe então? O tempo presente, você pode dizer. Certo. Mas quanto tempo dura o presente? Um minuto? Um segundo? Mas um segundo pode ser dividido em infinitas partes, e cada uma dessas em infinitas outras partes. Em qual delas estaria o tempo presente?

Não importa em quantas zilionésimas partes dividamos o tempo. Sempre poderemos dividi-lo em partes menores, e assim jamais localizaremos seu núcleo final onde poderia estar o agora. Simplesmente porque o agora não existe, assim como não há futuro e nem passado: é tudo abstração. O tempo é como alguém que virá ou que já se foi, jamais alguém que está. Nós nos posicionamos para flagrar o momento exato de sua passagem e quando nos damos conta… o tempo já passou.

Agora danou-se. Se o tempo não existe, o que existe então?

A psique. É ela que inventa o tempo. E o faz no momento em que a consciência nasce do inconsciente atemporal, pois, para se manifestar, a consciência precisa de um veículo, o corpo, que por sua vez precisa de um plano formado de três dimensões espaciais (altura, largura e profundidade) e uma temporal. É o cruzamento dessas dimensões, o espaço-tempo, que fornece as coordenadas exatas para a manifestação da consciência.

Quando o ser se dá conta que existe, ou seja, quando surge a autoconsciência, automaticamente surge o tempo. Porém, se a consciência se detém sobre a natureza do tempo, pode perceber que ele na verdade só existe como uma dimensão necessária para que ela possa atuar, e que talvez seja mesmo possível à consciência ir além da dimensão temporal à qual está limitada e acessar o inconsciente atemporal de onde veio para, assim, distinguir informações do passado ou do futuro e, inclusive, fazer profecias.

Putz, o cara viajou… Viajou no tempo. Pois é. Se é possível uma máquina do tempo, o meu palpite de viajandão é que ela já existe. Já está construída. Ou em contínua construção. É a consciência.

autoconfiança

O fato de Neo não acreditar que é o Predestinado é compreensível, afinal trata-se de uma responsabilidade enorme, terrivelmente incômoda, principalmente para alguém que até pouco tempo atrás ainda vivia na Matrix, imerso num mundo de ilusões. Coisa parecida ocorre no caminho da autorrealização. Sentimo-nos capazes de realizar muitas coisas, mas ao mesmo tempo nos retraímos, desconfiados de nós mesmos, temerosos de assumir responsabilidades.

Os amigos confiam em nós. As pessoas dizem que temos talento. E nós, o que pensamos sobre nós? Até nos convencermos de toda nossa potencialidade e mostrarmos a nós próprios que somos capazes, muita água rolará por baixo da ponte. Teremos muitas noites mal dormidas, envoltos em dúvidas e hesitações. Rezaremos pedindo luz, procuraremos oráculos, insistiremos em receber a aprovação das pessoas para nossos projetos…

Nada, porém, poderá fazer o trabalho por nós. E o trabalho consiste em nós mesmos nos convencermos de quem somos. Mas não adianta pressa, pois cada um tem seu próprio tempo. A convicção amadurece em nosso ser à medida que nos mantemos atentos ao caminho e fazemos o que deve ser feito. Cada autodescoberta nos faz mais fortes e mais cientes de que estamos no caminho certo. À medida que o herói avança e vence os obstáculos, mais capaz ele se torna.

A sociedade repressora já tentou de tudo, mas o indivíduo prossegue rumo à sua individualidade. Cada vez menos ela pode contra ele.

(continua)

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Ricardo Kelmer – blogdokelmer.com

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CONTEÚDO INTEGRAL DO LIVRO

Cap. 1 – Cinema, mito e psicologia
Cap. 2 – Toc, toc, toc… Acorde, Neo!
Cap. 3 – Não existe colher
Cap. 4 – Morrendo para vencer
Cap. 5 – Matrix Reloaded e Matrix Revolutions
Cap. 6 – Os personagens
Cap. 7 – Quadro comparativo

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Matrix e o Despertar do Herói cap 2

28/08/2010

Matrix e o despertar do herói
A jornada mítica de autorrealização em Matrix e em nossas vidas
(Ensaio – Miragem Editorial/2005)
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Usando a mitologia e a psicologia do inconsciente, Kelmer nos oferece uma visão diferente de Matrix, o filme que revolucionou o cinema, lotou salas em todo o mundo e tornou-se um fenômeno cultural, conquistando milhões de admiradores e instigando intensas discussões.

Em linguagem descontraída, o autor nos revela a estrutura mitológica do enredo de Matrix, mostrando-o como uma reedição moderna do antigo mito da jornada do herói, e o compara ao processo individual de autorrealização, do qual fazem parte as crises do despertar, o autoconhecer-se, os conflitos internos, as autossabotagens, a experiência do amor, a morte e o renascer.

Podemos ser muito mais que meras peças autômatas de uma engrenagem, dirigidos pelas circunstâncias, sem consciência do processo que vivemos. Em vez disso, podemos seguir os passos de Neo e todos os heróis míticos: despertarmos, assumirmos nosso destino e nos tornarmos, finalmente, o grande herói de nossas próprias vidas.

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Cap 2

TOC, TOC, TOC… ACORDE, NEO!

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seguindo o coelho branco

A primeira cena de Neo o mostra em seu pequeno apartamento, adormecido sobre a mesa. Um ruído no computador chama sua atenção. Sonolento, ele observa que alguém tenta se comunicar. A mensagem na tela diz: “Acorde, Neo…” Ele não entende. Surge outra mensagem: “Siga o coelho branco”. Intrigado, hesita ante o teclado e lê a mensagem seguinte: “Toc, toc, toc…”.

Neo escuta batidas na porta e, confuso, vai abrir. São amigos que foram buscar uma encomenda e o convidam para uma festa. Ele pensa em recusar, mas vê um coelho branco tatuado nas costas da garota e aceita.

Na festa, uma desconhecida chamada Trinity se aproxima e, sussurrando em seu ouvido, diz que sabe de suas noites mal dormidas, de suas dúvidas e da pergunta que o move. Neo escuta surpreso. Como ela sabe tanto sobre sua vida?

O processo de autorrealização é um impulso natural da psique. De modo geral, ele se manifesta primeiramente através de algum tipo de curiosidade, dúvida ou insatisfação pessoal. É preciso que haja algum incômodo para que o indivíduo se sinta impulsionado a agir. Esta é a isca que a psique utiliza para atrair a atenção do ego, a personalidade consciente, para a questão. Um ego acomodado em seu mundinho de interesses imediatistas jamais terá motivação para buscar outros níveis do eu total. É necessário que uma força maior que o ego agite as águas do fundo do oceano inconsciente e faça com que as ondinhas cheguem até a superfície da consciência, incomodando o ego. É preciso sacudir o ego e despertá-lo. É hora de transformação.

No caso de Neo, ele desconfia que há algo errado com a realidade. Em suas buscas na internet, colhe pistas vagas sobre a existência de uma tal Matrix e tem curiosidade sobre um sujeito chamado Morfeu, que é considerado um perigoso fora-da-lei. Algo o atrai e fascina nesse homem: ele parece ser forte, inteligente e destemido, e desafia as autoridades em ações ousadas, sempre desaparecendo em seguida. Depois surgem aquelas mensagens no computador, a coincidência do coelho branco tatuado… E agora essa intrigante garota Trinity que sabe muita coisa sobre ele. Afinal, o que está acontecendo?

A curiosidade em relação ao que seja essa tal Matrix traz inquietação à vida de Neo. É a imagem do Graal que surge para os cavaleiros do rei Artur, impelindo-os a buscá-lo na floresta. É o início do processo. E é assim que também ocorre com todos nós. As mensagens de Trinity no computador representam, no processo de autoinvestigação psicológica, o primeiro contato com o inconsciente. Todo início é assim, confuso e feito de pistas e indícios sem consistência. São ideias sobre nós mesmos e nossas vidas que surgem no pensamento e ficam a nos instigar. Se até então o ego nunca precisou voltar a atenção a outros aspectos do ser, agora, porém, ele tem de abandonar seu mundo seguro se quiser descobrir o que o inquieta.

É bastante significativo o fato de que a primeira cena de Neo o mostra em seu quarto, pequeno e fechado, um ambiente escuro e claustrofóbico. Em nossas vidas é exatamente assim que o ego se comporta, fechado e acomodado em si mesmo. O ego tende naturalmente a ser egocêntrico. O processo do despertar, porém, exige que o ego abandone a segurança do quarto em que sempre viveu e saia para conhecer o mundo, ou seja, vivenciar outros aspectos do ser total. Visto por este ângulo, torna-se bem emblemática a primeira frase dirigida ao nosso herói: “Acorde, Neo!”

Então começam as transformações para o ego. De repente, a vida não é mais tão tranquila como antes, as certezas já não são tão certas e algumas coisas não funcionam tão bem quanto funcionavam. De repente, nos sentimos incomodados, agindo de modo estranho e desconfiando de certas ideias que sempre foram indiscutíveis. A noção que temos de nós mesmos, segura e inquestionável, começa a se mostrar não tão verdadeira assim. Agora, parece que há algo errado com o mundo.

Na verdade, nada está errado com o mundo. O mundo é o que é. Nós é que estamos diferentes e, exatamente por isso, começamos a entender o mundo de maneira diferente. É bom nos acostumarmos logo: cada vez que nos transformamos, o mundo também se transforma. Nada mais natural, afinal fazemos parte do mundo, não é? É como se tudo fossem espelhos a se refletirem o tempo todo: por menor que seja nossa mudança pessoal, ela será refletida pelos outros.

Uma vez que o processo de autorrealização começa a se manifestar, será impossível prosseguir sem se transformar, pois para atingir novos níveis de realização, teremos de descobrir quem na verdade somos. Não poderemos mais nos enganar em relação a nós mesmos. Quem se descobre, naturalmente se transforma.

Em certos casos, é uma relação amorosa que provoca esse incômodo inicial, pois o parceiro parece possuir uma certa capacidade de nos fazer descobrir coisas desagradáveis sobre nós mesmos. Isso nos indispõe com ele, mas por mais que arrumemos um culpado para nosso mal-estar, já não é mais possível fazer de conta que ele não existe. O incômodo está lá, feito um espinho em algum lugar do ser, e é uma questão de tempo entendermos que o que verdadeiramente incomoda está em nós mesmos e não em outra pessoa ou em certas situações.

Você já experimentou uma sensação parecida com essa, lembra? Foi na adolescência, quando começou a deixar de ser criança e estava se transformando em algo diferente. Tudo mudava em você, seu corpo, suas ideias, as atitudes. Era como se você estivesse deixando de ser você para ser um outro você, sem no entanto deixar de ser você mesmo.

A adolescência é um bom exemplo do tipo de transformação que aguarda aqueles que seguirão o coelho branco em suas vidas. A diferença é que enquanto na adolescência estamos construindo verdades e conceitos que a partir daí pavimentarão nosso caminho, agora o chamado interior do autoconhecimento exige que nos desfaçamos de nossas próprias verdades se quisermos prosseguir.

A pessoa precisa reconhecer outros aspectos do ser, mas se o fizer deixará de ser quem sempre foi. Isso soa como morte para o ego. Exatamente por esse motivo é que nunca aceitamos muito bem a própria transformação.

primeiras repressões

Na manhã seguinte, Neo acorda tarde e chega atrasado ao trabalho. Seu superior o repreende e o aconselha a se adequar às normas da empresa. Ele o acusa de se achar melhor que os outros e ter problemas com a autoridade, e o ameaça de demissão. Neo escuta e, temeroso, nada responde. Na janela, pelo lado de fora, um funcionário limpa a vidraça.

O processo já foi iniciado. As águas profundas do inconsciente se agitam e as ondinhas alcançam a praia da consciência. Incomodado, o ego agora terá de abandonar sua antiga e tranquila posição caso deseje satisfazer a curiosidade, dissipar suas dúvidas ou parar com seu sofrimento.

Se a autorrealização é um impulso natural da psique, por outro lado existe uma força que vem da própria sociedade e que sempre tenta barrar esse impulso, desaconselhando, a princípio sutilmente, aqueles que começam a se diferenciar e agir fora do padrão.

Mas que amiga da onça! Por que ela faz isso? Por uma questão de sobrevivência da própria sociedade, pois é melhor que todos ajam e pensem de forma parecida, feito uma boiada – assim é mais fácil se organizar. Tal estratégia repressora é natural e eficiente para a sobrevivência de nossa espécie, mas tem um custo: a anulação do indivíduo e a negação de sua singularidade. Para a sociedade o que importa é que o indivíduo se comporte como uma peça da engrenagem social e cumpra com seu papel para que ela funcione perfeitamente e se mantenha a si mesma.

Quando ocorre o impulso da diferenciação temos então um encontro de forças, uma vindo do indivíduo e a outra da sociedade, em forma de cultura, leis e padrões de comportamento. O conflito é inevitável. O indivíduo que tenta se diferenciar age como o náufrago que quer escapar da correnteza do mar: ele deve alcançar as ondas que o levarão à terra firme, mas a tarefa é difícil, pois terá que lutar contra o oceano que o puxa para si, contra o medo de desafiar algo tão grande e contra seu próprio cansaço.

Aqui, mais uma vez, nos lembramos da adolescência, quando usávamos roupas e penteados diferentes para, inconscientemente, desafiar os mais velhos. Queríamos ser diferentes deles e, ao mesmo tempo, precisávamos ser iguais aos da nossa turma. Essa procura por identidade leva os adolescentes a criar padrões de comportamento que os ajudam a se estabelecer no meio cultural em que vivem. É um tipo de diferenciação, sim, mas ainda não se trata da diferenciação psíquica de que estamos falando.

O adolescente está construindo sua identidade própria, e para isso precisa copiar dos outros, de preferência de seus amigos e seus ídolos, o que faz com que ele entre para uma turma que se veste, fala e se comporta igual, um grupo que o aceita e se reforça com sua presença. Por outro lado, a pessoa adulta que, obedecendo ao primeiro impulso rumo à autorrealização, tenta se diferenciar da massa, não tem como prioridade construir uma identidade, pois, bem ou mal, já a possui. Seu objetivo é escapar do movimento hipnótico da massa para poder avaliar melhor o que está ocorrendo em sua alma e analisar suas inquietações. Por isso é que ela precisa fugir da correnteza que a faz girar e girar sem se questionar.

A correnteza é a cultura. Nascido dentro dela, o indivíduo está impregnado, até o último fio de cabelo, de leis, ideias padronizadas e modelos de comportamento. Para se dedicar mais a seu mundo interno e dar atenção ao que o inquieta, ele terá necessariamente de se afastar um pouco do mundo exterior. Para isso, terá de mudar de hábitos.

Mas não será fácil. Aqui surgem as primeiras dificuldades, pois a sociedade age como a Matrix, acionando suas forças repressoras e detectando com rapidez aqueles indivíduos que começam a se diferenciar e se movimentar fora do movimento padrão da massa. É como se eles representassem um perigo para o funcionamento normal da engrenagem – o que é verdade.

A repressão, a princípio, costuma vir em forma de recados sutis: são os olhares desconfiados, as desaprovações e as censuras. É como se a sociedade nos repreendesse: “Para que fazer diferente se até agora a coisa vem funcionando?”

Dessa vez, Neo se safou. Mas o impulso da diferenciação continuará, cada vez mais forte. E a repressão também.

seguindo a intuição

Após escutar a ameaça de seu superior, Neo vai para sua sala e recomeça o trabalho. Um funcionário lhe entrega uma encomenda. É um celular que, para sua surpresa, logo toca. Neo atende e descobre que quem fala é Morfeu, por quem tem tanta curiosidade e fascínio.

Morfeu o avisa do perigo que corre e o orienta para que possa fugir dos agentes. Neo está confuso, mas obedece. Morfeu explica que ele tem duas opções: ou tentar escapar pela janela ou se entregar aos agentes. Angustiado, Neo anda pelo parapeito, mas olha para baixo e a vertigem o domina. O celular cai de sua mão. De repente, percebe a grande loucura que está fazendo e se entrega, sem saber por que estão à sua procura.

Durante a jornada de autorrealização nos encontraremos muitas vezes em situações onde é a intuição que nos aponta o caminho a seguir. O caminho é novo e desconhecido, e olhamos para ele com medo, pois jamais o percorremos antes. De um lado a sociedade nos aconselha com suas regras tradicionais, mas por outro lado, a intuição sussurra que nosso caminho é outro.

O ego se vê num dilema. Estamos em conflito com nós mesmos, pois uma parte de nós sabe que precisamos arriscar e a outra parte tem medo. Intuímos o que temos de fazer, mas nos faltam forças. Nesse momento crucial o ego está sendo testado: uma viagem, uma troca de curso ou emprego, um término de relacionamento, uma atitude diferente… O ego se encontra diante de um portal e a intuição lhe diz que deve cruzá-lo. Muitos até que tentam, pondo em risco coisas importantes, mas da mesma forma que Neo, sentem uma espécie de vertigem e recuam, preferindo voltar.

Vertigem é medo de altura. É isso que ocorre nesses momentos: temos medo de nos soltar das amarras das seguranças já conquistadas e, com isso, não alçamos voo. O ego está inseguro no início da jornada e desiste ante as primeiras dificuldades, preferindo não arriscar o novo e desconhecido. A pessoa retorna aos afazeres cotidianos e tenta esquecer a sensação de derrota, abrigando-se na segurança do que já conhece. O portal se abriu, mas o vislumbre da liberdade que esse momento oferece às vezes nos é assustador. Ser livre tem seu preço e nem todos estão dispostos a pagar. Mas o portal se abrirá outra vez.

Neo não vê quem lhe fala. É uma voz misteriosa, mas que parece querer orientá-lo – uma analogia perfeita para a intuição e seu modo de trabalhar. A intuição é uma das funções psicológicas (as outras são a sensação, o pensamento e o sentimento) de que dispomos para nos guiar vida afora, e ela nos permite perceber as possibilidades inerentes à situação. É uma função irracional, pois apreende a realidade instintivamente, através do inconsciente, sem a participação do pensamento lógico consciente. É a intuição que nos fornece súbitas revelações e perspectivas diferentes sobre a realidade. De repente, intuímos, sem uma lógica aparente, que é melhor seguir por aqui e não por ali, e isso depois se revela a decisão correta. Qual foi a sensação, o pensamento ou o sentimento que nos levou a tomar tal decisão? Nenhum deles. Foi outra coisa. Foi um entendimento súbito e instintivo da totalidade da questão.

Diante da necessidade de escolha, geralmente decidimos seguindo a lógica do pensamento racional: irei por esta calçada, pois assim caminharei na sombra. Às vezes, porém, algo parece nos impelir na direção contrária à lógica racional, como se uma parte de nós captasse algum aspecto importante, mas invisível, da questão. Se a razão enxerga parte por parte, separando, discriminando e julgando, a intuição apreende o todo de uma vez. É como se ela estivesse em contato com todos os aspectos da questão, mas não pudesse explicar um por um: ela fornece um entendimento instantâneo e geral.

Podemos dizer que a intuição é uma função psicológica de caráter holístico, pois nos conecta com o todo, ou seja, a totalidade ao redor (pessoas, coisas, fatos etc.) e também a totalidade de nós mesmos. Ao redor, a intuição percebe aspectos que o pensamento, as sensações ou os sentimentos não captam e nos fornece dados valiosos para a nossa decisão. E em relação a nós mesmos, a intuição nos faz considerar aspectos do ser que estão além da percepção do ego, da mente racional. Dessa forma, pensamos e agimos de acordo com tudo o que somos, consciência e inconsciente. Isso significa que a intuição nos ajuda a ser mais abrangentes e verdadeiros com nós mesmos e, assim, nos faz agir mais harmoniosamente com o mundo ao redor.

Confiar e agir seguindo a intuição não significa desprezar o pensamento lógico, os sentimentos e as sensações, pois eles também são importantes. Porém, às vezes essas funções são insuficientes e, por isso, nos levam a tomar a decisão errada, ou se contradizem, nos deixando em cruéis dilemas. É nesses momentos que a intuição pode ajudar, ainda que pareça um salto no escuro. Infelizmente, nossa cultura supervaloriza o pensamento racional e desdenha da intuição, atrofiando-a a cada dia e nos fazendo guardá-la quietinha no porão da psique, feito um objeto sem serventia, quando, na verdade, ela precisa ser desenvolvida para podermos sempre reconhecer sua voz.

Neo está metido numa situação incrivelmente estranha. De um lado está sendo perseguido por policiais e sujeitos estranhos, com jeitão de mafiosos, sem ter a mínima ideia do motivo. De outro lado um tal Morfeu, que ele nunca viu antes, aconselha-o, pelo telefone, a se esconder e arriscar a vida no alto do prédio. Neo fica dividido, mas algo lhe diz que deve obedecer a Morfeu. Logo depois, porém, sente medo de cair e desiste, preferindo se entregar a seus perseguidores. Sim, o herói deve sempre seguir sua intuição, mas isso requer uma coragem que nem mesmo os maiores heróis possuem o tempo inteiro.

repressão e tortura

Neo está num tipo de sala de interrogatório e os agentes mostram que sabem tudo sobre sua vida. Eles querem sua cooperação para capturar Morfeu, mas Neo se nega a ajudar. Os agentes o torturam e lhe inserem um aparelho rastreador para que ele, sem saber, os leve até Morfeu.

O que teria acontecido se Neo continuasse seguindo as recomendações de Morfeu? Teria escapado dos agentes? Ou teria despencado do alto do prédio e morrido na contramão, atrapalhando o tráfego? Não podemos saber. Sabemos apenas que o medo o faz desistir de seguir as orientações da voz misteriosa. Ele de repente dá por si e percebe a loucura que está fazendo, como se estivesse possuído por algo insano que o leva a se arriscar e seguir uma voz interior que quer conduzi-lo para… para onde mesmo?

Neo prefere se entregar a continuar seguindo a tal voz. Mas, por não aceitar entregar Morfeu, ele é torturado. O primeiro preço a pagar pela diferenciação foi apenas um sermão e uma ameaça de demissão, nada que impedisse o herói de continuar seguindo a intuição. Agora, porém, o preço a pagar pelo nível seguinte de indiferenciação é bem mais alto. A sociedade age de modo parecido, exigindo que desprezemos a intuição e desistamos daquilo que tanto buscamos. É um tipo de acordo, muito comum: nós entregamos os nossos sonhos mais íntimos e em troca a sociedade não mais nos cobrará. Será que você alguma vez na vida não aceitou esse acordo?

Diferenciar-se custa caro. Tentar ser livre sempre nos levará a situações arriscadas, pois a sociedade, por meio de seus agentes repressores, dificultará o caminho. Ela nos interrogará e humilhará, tentando nos convencer a seguir suas regras. A sociedade nem sempre é tão direta quanto os agentes da Matrix, mas é igualmente eficiente. Cabe a nós decidir: compactuamos com ela ou continuamos seguindo o impulso da diferenciação?

Os que seguem o impulso devem estar preparados para retaliações – é o jeitinho que a sociedade tem de punir seus membros rebeldes. Assim, aquele que, em vez de se acomodar num emprego seguro, busca um trabalho mais condizente com seus interesses pessoais, certamente terá dificuldades financeiras. Aquele que assume sua sexualidade ou um estilo de vida diferente da maioria sofre com o preconceito. Aquele que questiona o modo como as coisas funcionam é visto com desconfiança e pode ter seu trabalho sabotado. Aquele que tenta apresentar novos modos de entender o mundo sofre resistência por parte de amigos, familiares, colegas, professores, chefes, líderes religiosos e autoridades, e pode ter problemas com a lei.

Os agentes repressores da diferenciação psíquica não são necessariamente pessoas cruéis: são geralmente pessoas comuns que não têm consciência do papel que representam, são apenas seres humanos inseridos numa cultura que os leva a agir assim, sem questionar. No fim deste livro, quando analisarmos a reinserção do Predestinado na Matrix, veremos que até mesmo os que se diferenciam estão, com isso, contribuindo também, mesmo que a princípio não pareça, para o fortalecimento da cultura.

Trinity, o princípio yin

Neo acorda em sua cama, assustado com o pesadelo que teve, onde homens o prendiam e lhe metiam um bicho nojento barriga adentro. O telefone toca. É Morfeu. Ele diz que foi sorte os agentes terem-no subestimado e marca um encontro. Na cena seguinte está chovendo, e Neo, sob uma ponte, vê um carro preto parar à sua frente. Ele entra, desconfiado, e senta ao lado de uma mulher. Ele a reconhece, é Trinity. Do banco da frente Switch lhe aponta uma arma e ele se assusta. Neo pede que parem o carro, pois está farto disso tudo. Trinity olha para ele com ternura e gentilmente o convence a ficar. Neo é submetido a uma rápida e delicada operação para retirada do rastreador de seu corpo. Agora ele já não pode mais ser localizado pelos agentes.

O portal se abre novamente para Neo, o novo lhe concede uma segunda chance. Ele segue sua intuição e vai ao encontro. Dentro do carro, o medo o domina mais uma vez e ele quase desiste. Quase, pois a doçura com que Trinity lida com a situação o faz superar o medo e a desconfiança e assim ele prossegue rumo ao novo que o chama.

Trinity é uma personagem feminina, e ao longo do filme veremos que ela representa os aspectos femininos da psique do herói que ele deve reconhecer em si mesmo e assimilar, integrando-os à personalidade consciente. Trinity é o princípio yin de que fala a filosofia oriental, um princípio ligado ao feminino (enquanto o princípio yang é ligado ao masculino), e na psique ele se manifesta na forma de intuição, sentimento, cuidado, paciência, maleabilidade e doçura – esses são os valores que Neo precisa reconhecer e desenvolver em sua própria personalidade, caso contrário não se transformará suficientemente e não vencerá os desafios.

Durante o processo de autoconhecimento do homem, a contraparte feminina vai ensiná-lo a ser doce, paciente e sutil nos momentos em que a força, a rigidez e a pressa nada resolvem. Isso também é válido se o herói é uma mulher, pois as mulheres também possuem sua contraparte masculina e necessitam estar conscientes dela para equilibrá-la dentro de si.

A força, a racionalidade e a conquista são valores yang. A flexibilidade, o sentimento e a empatia são valores yin. Todos necessitamos de tudo isso, dependendo da situação, mas na jornada do autoconhecimento, mulheres e homens terão sempre a missão de reconhecer e dosar esses valores em si mesmo, caso contrário a personalidade não se desenvolverá como poderia.

a pílula vermelha

Trinity leva Neo a um prédio. Ele é apresentado a Morfeu, que lhe fala sobre a Matrix, sobre ser escravo, e que ninguém pode lhe explicar exatamente o que é a Matrix. ”Você tem que vê-la por seus próprios olhos”, Morfeu diz, e, por fim, lhe oferece duas pílulas, uma azul e outra vermelha. A azul fará com que Neo acorde em seu apartamento, seguro, e aquela estranha aventura terminará, como se tudo houvesse sido um sonho. A vermelha o levará adiante. Neo escolhe a pílula vermelha.

Quando começamos a nos interessar por nosso mundo interior, é comum surgir curiosidade por temas ligados a psicologia e espiritualidade. Há pessoas que entram para seitas esotéricas, escolas místicas e leem livros e frequentam palestras e cursos.

A curiosidade é normal, pois o mundo interior, em toda sua vastidão, é realmente fascinante e envolvente. Porém aqui há outra armadilha do caminho. Por mais livros e cursos que acumulemos, nada disso terá muito valor se a transformação não for vivida na própria carne. Não adianta se tornar especialista em algum assunto, fazer curso de xamanismo, entrar para uma seita esotérica, contatar extraterrestres ou guias espirituais ou lembrar de vidas passadas se tais coisas não contribuem para que a pessoa se conheça melhor e se relacione melhor com o mundo, com os outros e consigo mesma. A espiritualidade que não gera o sadio intercâmbio entre consciência e inconsciente tende apenas a inflar o ego. Aliás, o mundo da espiritualidade e da religião às vezes mais parece um espetáculo de enormes ego-balões coloridos e vaidosos a desfilar no céu…

O mundo interior é como uma caverna escura e cheia de labirintos. O explorador pode facilmente ser seduzido por qualquer um de seus encantos e mistérios e esquecer que precisa prosseguir e viver os desafios seguintes de sua transformação pessoal. É justamente assim, seduzida pelos conhecimentos que as religiões, seitas e os mais diversos ismos e logias oferecem, que a pessoa se acomoda em algum tipo de explicação da realidade e “autoriza” que alguma ideologia faça o trabalho por ela.

A própria pessoa é quem tem de percorrer seu caminho e viver em si mesma a alquimia que a transformará num novo ser. Saberes intelectuais e dons paranormais, por si só, nada valem na jornada do verdadeiro autoconhecimento e não significam necessariamente percorrer o caminho interior. Morfeu certamente concorda com isso, pois em certo ponto da história ele diz a Neo: “Há uma diferença entre conhecer o caminho e trilhar o caminho”.

Assim como Neo terá que ver a Matrix com os próprios olhos e entendê-la por si mesmo, nós também teremos que ver a verdade através de nossa própria vivência individual, que se parece com o convite para aquela festa chique: é pessoal e intransferível. Livros e cursos explicam com detalhes, mas tudo fica no plano do entendimento intelectual. É como planejar uma viagem e estudar a região pelo guia, decorando pontos turísticos, preços de pousadas e nomes de ruas: tanta preparação só valerá mesmo se a viagem for posta em prática, e ainda assim sabemos muito bem que na prática a coisa geralmente não sai como planejado…

É só o que tem por aí: frequentadores de cursos e catedráticos dos assuntos da alma. Muitos têm gurus, sabem botar cartas, até escrevem livros – mas não vivenciam em suas próprias vidas a transformação necessária que os conduzirá ao nível seguinte de autoconhecimento e realização pessoal. Estão empacados em algum ponto de seu crescimento interior, repetindo fórmulas e orações decoradas. Têm na ponta da língua o versículo para cada ocasião, conhecem a hierarquia dos seres ascensionados e recitam suas vidas passadas como quem narra as férias em Canoa Quebrada. Putz, de que vale mesmo tudo isso?

Assim como Morfeu não explica para Neo o que é a Matrix, nenhum livro, curso, religião ou guru pode viver por nós aquilo que nós mesmos temos de viver. Se desejamos avançar no conhecimento do mundo interior e nos libertar do que nos escraviza, só há um jeito: tomar a pílula vermelha e ver a verdade com nossos olhos, vivendo-a na própria pele, mesmo que doa. E vai doer.

o despertar

Depois de tomar a pílula vermelha, Neo é conectado aos aparelhos para finalizar seu processo de desligamento da Matrix. Ele estica a mão e o espelho à sua frente engole seus dedos. De repente, a superfície do espelho sobe pelo seu braço, feito um gel prateado, envolvendo cada vez mais seu corpo. Ele entra em pânico e desmaia.

Então Neo desperta. Está numa espécie de casulo, imerso num líquido avermelhado, e de seu corpo nu saem cabos conectores. Ele olha impressionado para as enormes construções ao redor, centenas delas, cada uma com milhares de casulos como o dele, cada casulo abrigando um corpo humano.

De repente, um robô se aproxima, observa-o e desconecta os cabos, fazendo Neo escorregar por um longo tubo e cair num esgoto, de onde é resgatado pelos rebeldes.

Esta cena tem forte carga dramática e certamente é a mais impressionante de todo o filme. Mostra o momento exato em que Neo desperta para o mundo real, acordando de um sonho no qual viveu durante toda a vida.

Em nossas vidas não acordamos em casulos gosmentos, ainda bem, mas o drama do despertar da consciência é sempre intenso e carregado de fortes sensações e emoções. O mito do despertar da consciência está espalhado em diversas culturas. Na mitologia cristã ele aparece na metáfora da árvore do bem e do mal cujo fruto faz com que Adão e Eva adquiram consciência de si próprios. Despertos, eles são expulsos do Paraíso e daí em diante terão de trabalhar duro para se sustentar. Em linguagem psicológica isso significa que o indivíduo atingiu um certo grau no conhecimento de si mesmo e já não pode mais permanecer na comodidade em que estava, com as velhas ideias e atitudes perante a vida. Nesse momento, as forças psíquicas forçam o ego a deixar seus limites de autopercepção e a ele não restará outra alternativa senão buscar novos níveis de compreensão de si mesmo.

Mas o despertar não é um processo que ocorre magicamente de um momento para o outro: ele é feito de acontecimentos que precedem as revelações transformadoras. Para Neo, o despertar começa com o estranhamento que sente em relação à realidade e com as incríveis façanhas de um tal Morfeu. Depois vêm as estranhas mensagens no computador, o encontro com Trinity, o telefonema de Morfeu, o encontro com os agentes, mais um encontro com Trinity e, por fim, o decisivo encontro com Morfeu. O herói precisa ser devidamente iniciado e passar por testes para que possa suportar a grande revelação que terá.

Não pensemos também que o despertar é uma experiência única, no sentido de que uma vez desperto, sempre desperto. Não é assim. O processo de autorrealização é feito de muitos despertares, cada um levando o indivíduo a um novo nível de autoconhecimento que, por sua vez, o leva a um novo nível de relação com mundo e isso força sua consciência a nova mudança e assim por diante.

Em nossas vidas o despertar acontece quando passamos por uma experiência forte o bastante para mexer com nossa noção da realidade ou de nós mesmos. Experiências fortes existem aos montes: basta ir ao parque de diversão, ao futebol, a uma festa, tomar alguma droga ou receber a fatura do cartão de crédito após o fim do ano. Porém, a experiência que leva ao despertar é especial porque transforma a pessoa para sempre, mudando sua autoimagem. O terremoto interno que o despertar provoca muda a pessoa para sempre.

Se na adolescência precisávamos construir uma imagem de nós mesmos, agora precisamos desconstruir. Precisamos matar o que éramos para que o novo eu possa nascer, com outros valores. Precisamos passar pelo fogo da transformação e isso envolve dor, conflitos internos, insegurança e medo. Muitas coisas podem servir de catalisador para o despertar: separações, insucessos, acidentes, doenças e até a morte, pois esses acontecimentos fornecem o choque necessário para que a pessoa pare e se concentre um pouco mais em seu mundo interno, repense os valores que até então a guiaram e perceba finalmente que a vida está lhe exigindo uma nova postura diante dela.

Na jornada de autodescoberta nós despertamos um pouco mais cada vez que assumimos certas coisas sobre nós mesmos. Podem ser boas ou ruins, mas sempre são coisas que não sabíamos ou não admitíamos. Neo precisa acordar de um longo sonho senão jamais se tornará o Predestinado de que fala a profecia. Nós precisaremos acordar também, não exatamente de um sonho, mas de uma falsa ou limitada compreensão de nós mesmos. Precisaremos nos desconectar dos valores que nos guiaram até agora mas que não são mais úteis ao crescimento pessoal, assim como Neo teve que se desconectar dos cabos que o mantinham preso ao casulo.

O verdadeiro autoconhecer-se dói porque implica necessariamente enfrentar o que se teme, tornar-se o que se evita ser, entrar no fogo dos piores medos. Dói admitir que estávamos errados, que as coisas não são bem como sempre pensamos e que nós mesmos não somos quem sempre consideramos ser. A sensação de desamparo e solidão nos atinge como um raio. Sentimo-nos impotentes, humilhados e não vemos saída para nosso sofrimento. Se pudéssemos, apertaríamos um botão, desceríamos pelo ralo e morreríamos no esgoto. E tudo estaria finalmente terminado, a dor, a decepção, a solidão. Ponto final.

Bem, de fato todo despertar da consciência exige uma morte. Mas aqui trata-se de uma morte simbólica: a morte do ego. O velho ego morre, ele e seus valores ultrapassados, para que um novo ego possa tomar seu lugar, mais forte, mais sábio e capaz de mediar os mundos interno e externo do indivíduo, gerenciando as necessidades dos dois lados. Um ego que possa conduzir o herói adiante em sua jornada.

os sonhos e a morte

Se nós tivéssemos o hábito de atentar e registrar nossos sonhos, veríamos que durante todo o tempo eles refletiam o próprio processo que vivíamos. É assim, através dos sonhos, que a psique individual retrata a si mesma, seus movimentos, suas transformações. Além de servir de espelho para a realidade psíquica do sonhador, os sonhos também podem orientar, mostrando o caminho que se deve tomar.

Por virem diretamente do inconsciente, os sonhos falam a mesma linguagem do mito, ou seja, falam pela imagem, pelos símbolos. Por isso é que eles têm fama de incompreensíveis e até mesmo de absolutamente ilógicos. Os sonhos têm uma lógica, sim, mas para captá-la precisamos ser mais íntimos de sua linguagem simbólica. Sim, é verdade que ainda temos muito que aprender sobres os sonhos, mas já sabemos que as situações que eles trazem podem se referir a aspectos do ser, cada figura representando algo em nós mesmos, em nossa vida. Se quisermos compreender mais os nossos sonhos e, consequentemente, a nós mesmos, temos que olhar para eles como estamos olhando agora para o filme Matrix, monitorando o personagem principal através de seus vários aspectos, entendendo as situações pelas quais ele passa como metáforas de seu próprio processo interior de autorrealização.

Infelizmente, no corre-corre do cotidiano não sobra tempo para nos dedicarmos ao nosso mundo interno. Acordamos já apressados e os sonhos se dissipam no ar, levando embora as importantes mensagens que a psique elaborou durante a noite, mensagens que poderiam facilitar a vida, fornecendo respostas para questões difíceis e apontando o melhor caminho. Certamente, gostaríamos de saber o que nossa parte mais sábia tem a nos dizer, mas infelizmente estamos atrasados, um monte de coisa a resolver, o aluguel está vencido, não há tempo.

Um psicólogo experiente, que sabe reconhecer as sutilezas do processo de autorrealização, pode facilitar nosso contato com os sonhos e suas mensagens. Para isso temos também de fazer nossa parte, registrando os sonhos e nos mantendo vigilantes em relação a nós mesmos, comprometidos com o processo, sendo honestos com nossas verdades interiores. Desconfie dos livros que oferecem fáceis interpretações dos sonhos, pois apesar de certos símbolos serem coletivos, sempre haverá detalhes do universo onírico estreitamente ligados à história pessoal do sonhador.

Se, nesse ponto decisivo do processo, o herói se torna mais íntimo de seu mundo onírico, ele poderá captar a mensagem e entender que a morte está se anunciando em seus sonhos, sim, mas representa a profunda transformação pela qual ele passa. Imagens de mares revoltos, catástrofes, documentos difíceis de encontrar ou desorientação na floresta indicam, em metáforas, o que está ocorrendo em sua vida: o herói está perdido, pois sua noção de si mesmo, sua preciosa identidade, ruiu feito um prédio que desaba e agora ele se sente acuado por forças que ameaçam matá-lo.

Mas a morte é simbólica e o herói não precisa ter tanto medo assim. Nós também não precisamos temer. Veja o exemplo das serpentes: elas se tornaram símbolos da vida que se renova. Justamente porque trocam de pele de tempos em tempos e com isso se tornam mais fortes e resistentes.

O sofrimento inerente ao processo de autorrealização é como uma troca de pele, um sacrifício necessário, pois não há crescimento possível sem dor. Grandes conquistas exigem grandes sacrifícios. E o que de maior podemos entregar senão a nossa própria noção de eu?

 

(continua)

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Ricardo Kelmer – blogdokelmer.com

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CONTEÚDO INTEGRAL DO LIVRO

Cap. 1 – Cinema, mito e psicologia
Cap. 2 – Toc, toc, toc… Acorde, Neo!
Cap. 3 – Não existe colher
Cap. 4 – Morrendo para vencer
Cap. 5 – Matrix Reloaded e Matrix Revolutions
Cap. 6 – Os personagens
Cap. 7 – Quadro comparativo

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Matrix e o Despertar do Herói cap 1

28/08/2010

Matrix e o despertar do herói
A jornada mítica de autorrealização em Matrix e em nossas vidas
(Ensaio – Miragem Editorial/2005)
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Usando a mitologia e a psicologia do inconsciente, Kelmer nos oferece uma visão diferente de Matrix, o filme que revolucionou o cinema, lotou salas em todo o mundo e tornou-se um fenômeno cultural, conquistando milhões de admiradores e instigando intensas discussões.

Em linguagem descontraída, o autor nos revela a estrutura mitológica do enredo de Matrix, mostrando-o como uma reedição moderna do antigo mito da jornada do herói, e o compara ao processo individual de autorrealização, do qual fazem parte as crises do despertar, o autoconhecer-se, os conflitos internos, as autossabotagens, a experiência do amor, a morte e o renascer.

Podemos ser muito mais que meras peças autômatas de uma engrenagem, dirigidos pelas circunstâncias, sem consciência do processo que vivemos. Em vez disso, podemos seguir os passos de Neo e todos os heróis míticos: despertarmos, assumirmos nosso destino e nos tornarmos, finalmente, o grande herói de nossas próprias vidas.

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Cap 1

CINEMA, MITO E PSICOLOGIA

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resumo do filme

No futuro, a Inteligência Artificial, uma avançada geração de máquinas pensantes, entra em guerra contra os humanos e vence. Como quase não há mais fontes de energia no planeta, os corpos dos humanos sobreviventes são usados para manter as máquinas funcionando. Para que eles não percebam o que acontece, a Inteligência Artificial faz uso da Matrix, um superprograma de realidade virtual ao qual são conectadas as mentes dos humanos. Dessa forma, adormecidos e indefesos, os humanos dormem e vivem um sonho coletivo onde o mundo é como era no fim do século 20.

Um grupo de humanos, porém, despertou e mantém-se fora da realidade virtual. Eles se escondem das máquinas, invadem o sistema e tentam fazer as pessoas despertarem. Esses rebeldes creem na profecia do Oráculo que diz que o Predestinado um dia virá para destruir a Matrix e libertar a espécie humana de sua prisão mental. Eles acreditam que Neo, um jovem que vive na Matrix, é o Predestinado. Neo de fato desconfia que há algo errado com a realidade, mas não pode aceitar que ele seja o tão aguardado salvador. Começa então sua guerra, contra a Matrix e contra si próprio.

escravos da própria criação

O filme Matrix entra para a história como uma das obras que mais simbolizam o espírito de nossa época, onde a espécie humana festeja e glorifica a suprema tecnologia, mas ao mesmo tempo começa a despontar no horizonte uma ameaça que nos aterroriza: a possibilidade de nos tornarmos escravos de nossa própria criação.

De certa forma, já somos escravos. A tecnologia atual nos faz depender das máquinas para quase tudo no dia a dia, desde o momento em que acordamos até a hora de dormir. Muitos inclusive só conseguem dormir se houver ar condicionado, ventilador, calefação, música no rádio ou uma TV ligada.

Faça um teste: da próxima vez que faltar energia elétrica, perceba como as pessoas se comportam. É como se de repente a vida ficasse suspensa. Muitos simplesmente não sabem o que fazer e andam de um lado para outro feito zumbis, como se aguardassem uma ordem para voltar a funcionar. Panes elétricas geram sérios contratempos, é verdade, mas até mesmo elas podem trazer benefícios. Lá em casa, por exemplo, quando faltava luz, íamos para o quintal e deitávamos no chão para olhar o céu e procurar estrelas cadentes. Meu pai e eu discutíamos sobre o Universo ser ou não infinito, a velocidade da luz, as galáxias… A imensidão do Cosmos nos inspirava certa reverência, nos fazendo lembrar do quão pequenos somos. Quando a energia voltava, eu sempre estava mais calmo. Às vezes, naqueles poucos minutos, conversávamos mais que durante o mês inteiro. A pane elétrica, ironicamente, forçava a família a se reunir.

O desenvolvimento tecnológico é importante. A espécie humana só sobreviveu até os dias atuais porque desenvolveu tecnologia suficiente para superar todas as dificuldades que surgiram, desde a necessidade de fabricar machadinhas de pedra até a criação de vacinas que evitam doenças graves e as sondas que viajam além do sistema solar. O problema é que a tecnologia ocupa cada vez mais espaço em nossas vidas. Transformamos a ciência numa espécie de deus e nos convencemos religiosamente de que a tecnologia pode nos salvar de todo perigo. Infelizmente, não pode. Aliás, é justamente por causa dela que a espécie ameaça destruir o planeta e se extinguir. O desequilíbrio ecológico e as guerras biológicas estão aí para confirmar o perigo do uso descontrolado do saber científico.

Como tudo que existe tem dois lados, a tecnologia tanto pode criar como destruir. Em Matrix, os avanços tecnológicos chegaram a tal ponto que as máquinas se tornaram independentes e escravizaram, literalmente, a mente dos humanos, algo que, de certo modo, já ocorre hoje. Podemos fazer algo para essa possibilidade sombria não se tornar realidade?

Acredito que sim. Podemos, por exemplo, lidar com a tecnologia de um modo menos dependente, equilibrando necessidades e facilidades tecnológicas com uma vida mais ligada à Natureza (inclusive a natureza humana) e às coisas simples. Podemos também, desde já, ensinar às nossas crianças que a tecnologia existe para nos servir e não para nos escravizar. E podemos também dar mais atenção às necessidades da alma, entendendo que o sentido da vida é nos autorrealizarmos, da forma mais verdadeira possível, nos tornando pessoas mais livres e harmonizadas com a vida. Isso a tecnologia não pode fazer em nosso lugar.

A verdadeira autorrealização é uma conquista individual, uma jornada mítica que cada um deve empreender em sua própria vida. É aqui, neste ponto, que podemos aprender com os mitos, essa coisa tão arcaica e que a mentalidade racional trata com tanto desdém, repetindo sempre que “é só um mito”, desprezando sua importância e vendo-os apenas como histórias exóticas de povos primitivos ou como religiões estranhas que insistem em sobreviver junto à nossa religião. É como se disséssemos: “Somos mais evoluídos. Não precisamos de mitos”.

Mitos jamais serão “apenas” mitos, pois são eles que formam a estrutura da alma e também das sociedades. Assim como os ossos sustentam o corpo físico, os mitos sustentam a psique humana. Entender como eles agem em nossas vidas é fundamental para compreendermos melhor a nós mesmos e ao mundo que nos cerca.

o mito

Mitos são formas de interpretação da realidade, compostas de narrativas simbólicas e imagens metaforizadas, que estruturam e orientam as sociedades e guiam os indivíduos no crescimento psíquico. Eles não são deliberadamente criados por alguém, mas nascem espontaneamente da alma coletiva da espécie, a psique, que os faz emergir das profundezas do inconsciente geral da espécie e se sedimentar, geração após geração, na cultura dos povos, para conduzi-los a novos níveis em sua relação com o mistério da vida e em sua organização social, assim como na evolução de toda a espécie humana.

A mentalidade atual costuma entender os mitos como mentirinhas ingênuas. Mito não é mentira, é metáfora. Uma metáfora não é uma mentira, mas um modo simbólico de expressar uma verdade. Por esse motivo, a metáfora é a língua nativa dos mitos, pois por trás deles há sempre um símbolo carregado de mistério e numinosidade, e a melhor forma de expressá-lo será sempre a linguagem figurada.

A fotografia é tão somente um processo químico usado para captar e expressar visualmente a realidade, e nem por isso uma foto é uma mentira. Assim como a ciência e a arte, o mito expressa a realidade à sua maneira própria, metaforicamente, que não é nem mais nem menos verdadeira. Se a ciência usa a razão lógica para explicar a vida e a arte usa a beleza e a harmonia para expressar o que sentimos, o mito se utiliza dos símbolos para nos provocar e nos ligar aos mistérios da existência, que estão além da linguagem da ciência, da arte e da filosofia. As explicações dos mitos não podem satisfazer ao intelecto, nem deveriam, mas os símbolos que eles contêm possuem o poder de nos situar no contexto geral do Cosmos, alinhando nossas vidas com uma ordem maior e ligando a consciência individual a um sentido mais amplo e coletivo.

Podemos dizer que, além de fornecer explicações para o mistério da vida e da criação do mundo, o mito exerce duas funções principais, sendo uma de ordem social e outra individual. Como nos ensinou Joseph Campbell, o famoso mitologista irlandês-estadunidense que ajudou a reacender o interesse pela mitologia no século 20 e nos incentivou a olhar para dentro e seguir nossa bem-aventurança, os mitos não só expressam a realidade: eles são o fundamento de toda sociedade. Não seria nenhum exagero afirmar que toda nossa vida, desde os menores detalhes até questões como arte, ciência, política e economia, tudo são formas rituais baseadas nos símbolos que os mitos expressam. Não há nada que não esteja sob uma espécie, digamos assim, de jurisdição simbólica dos mitos, pois, explicando a vida, eles estão também endossando e justificando todos os aspectos culturais de uma sociedade, desde instituições como casamentos, ritos como funerais até o padrão de comportamento de homens e mulheres e a criação de religiões.

No plano individual, o mito atua guiando o indivíduo pelas diversas fases de sua vida, fornecendo-lhe imagens e narrativas ricas de significado para auxiliá-lo em sua jornada rumo à maturidade psicológica. Sim, os mitos descrevem ocorrências exteriores, referentes a tempos e lugares distantes – no entanto, isso é só aparência, pois o plano real dos acontecimentos é interior, é justamente a dimensão psicológica humana. É na alma e não no mundo externo que se desenrolam os dramas metaforizados pelos mitos.

Dessa forma, o mito grego de Saturno, que devora os próprios filhos, nos ensina sobre o perigo da estagnação e o eterno medo da renovação, e o mito judaico-cristão da expulsão de Adão e Eva do Paraíso nos diz sobre as dores inerentes ao despertar da autoconsciência e ao crescimento psicológico. Infelizmente, o desprezo da mentalidade racional pelo mito nos impede de captar esses importantes significados, tão úteis à vida.

o mito da jornada do herói

Um dos motivos pelos quais o filme Matrix fez e continua fazendo um sucesso danado pelo mundo inteiro é o seu enredo: ele tem profundas bases mitológicas e as pessoas se identificam com essas obras porque elas vivem, em sua própria vida, os temas contidos no filme. O mito é como o leito de um rio antigo, e eu, você e todas as pessoas somos a água que corre por ele: é através da experiência de nossas vidas individuais que o mito está sempre se renovando.

Existem muitos e muitos mitos, cada um relativo a um determinado aspecto da existência, e mesmo sem conhecê-los ou pertencendo a outra cultura, nós os vivemos, cada um de nós, em diversos momentos da vida. Nossas águas estão sempre a percorrer o leito de algum mito, embora quase sempre estejamos inconscientes disso. Conhecendo os mitos e olhando-os pela ótica da psicologia do inconsciente, podemos compará-los com nossas vidas, perceber de que modo os vivemos e, assim, saber para onde se dirigem nossas águas, evitando possíveis desastres.

A história de Neo, que procura incessantemente uma resposta para a pergunta que o move (o que é a Matrix?) nos lembra Percival, o jovem cavaleiro do Rei Artur, buscando saber para quem serve o cálice do Graal. Neo e Percival são versões modernas do mito da jornada do herói, presente há milhares de anos na cultura e religião dos diversos povos da Terra. As histórias variam, mas a essência é a mesma: o herói é alguém que larga a segurança de seu mundo cotidiano e parte em busca de algo difícil e precioso, enfrentando incertezas, sofrimentos, perigos e arriscando a própria vida para, no fim, retornar transformado e vitorioso, mais forte, experiente e seguro, para guiar ou salvar seu povo, casar-se ou substituir um velho rei injusto ou doente.

Com algumas variações, este tema se repete em nossas lendas, contos de fada, religiões e obras artísticas desde que aprendemos a contar histórias ao redor das fogueiras. Esse é o modo pelo qual os humanos conseguem, através de metáforas e sem muita consciência disso, passar para as gerações seguintes algo vital para a sobrevivência da espécie: os segredos da autorrealização.

Nossos ancestrais escutavam as histórias dos heróis com respeito e assombro, envolvidos por rituais que se transmitiam pelas gerações. E hoje, no terceiro milênio da era comum, nós continuamos repassando o mesmo costume, com a diferença que, em lugar das fogueiras, nos reunimos no escuro dos cinemas, compenetrados e reverentes, para escutar a mesma história, para não esquecermos que a vida tem um segredo: cada um de nós precisa realizar a si próprio. Por isso, quando o segredo é recontado nos filmes, disfarçado em dramas, romances, aventuras e comédias, nós nos identificamos, algo dentro de nós se agita e de repente a vida faz mais sentido: é o mágico efeito que os mitos provocam.

Em algum momento da vida o mito da jornada do herói (o mito da autorrealização) é reativado na psique individual, em toda sua força. Vemo-nos então como o herói de Matrix, insatisfeitos com os velhos papéis reservados para nós pela sociedade e em conflito com nós mesmos. Despertamos da letargia, somos obrigados a largar as certezas de nossos valores atuais e partimos rumo ao desconhecido em busca de algo que nos completará, arriscando a segurança e enfrentando medos, dúvidas, sofrimentos e até a autossabotagem. Se persistirmos na jornada interior alcançaremos nossa essência e atingiremos novos níveis de autoconhecimento e harmonia com a vida, realizando nosso potencial, alcançando a bem-aventurança e, inclusive, gerando benefícios para a sociedade. É assim que vivemos o mito da autorrealização em nossas vidas, encarnando em nós a antiga jornada do herói.

Como vivemos em grupo, toda vez que alguém alcança a verdadeira realização pessoal, de algum modo seu exemplo influencia outras pessoas, e assim a espécie como um todo também avança. Por isso se diz que a autorrealização é a melhor forma de contribuirmos, individualmente, para o desenvolvimento coletivo da humanidade.

E é justamente por essa razão que continuamos a contar para as novas gerações, nos cinemas, nos livros e teatros, com roupagem moderna e efeitos especiais, as aventuras míticas dos heróis. Fazemos isso para não esquecer que o sentido da vida é seguirmos a nossa bem-aventurança e realizarmos quem verdadeiramente somos. Uma aventura heróica, sim, mas ao alcance de cada um.

Jesus Cristo super-herói

O filme Matrix tem muitos elementos que remetem à literatura, à cultura pop e ao próprio cinema, a diversas tradições religiosas, místicas e filosóficas, assim como analogias a teorias ligadas a vários ramos da ciência como psicologia, antropologia e sociologia. Pouquíssimas obras de ficção instigaram tantas interpretações diferentes envolvendo tantas áreas do conhecimento humano. Alguns argumentam que Matrix não passa de um borrão de tinta no qual cada um vê o que quer ver, um argumento que também mostra a riqueza da história e de seus fundamentos arquetípicos, pois poucas obras artísticas fornecem tantas e diversas visões.

Na filosofia, as analogias são muitas. É óbvia a parábola da caverna de Platão (parábola ou alegoria, e não mito), onde as pessoas veem apenas as sombras da realidade e as tomam como a própria realidade, limitando suas vidas. Muitos abordam o filme usando ideias de Sócrates, Aristóteles, São Tomás de Aquino, Descartes, Kant, Laplace, Nietzsche, Sartre, Dostoievski, Marx e Baudrillard para discutir coisas como natureza da realidade, metafísica, materialismo, tecnologia, livre-arbítrio, destino e onisciência.

No campo das tradições místicas e religiosas, pode-se ver em Matrix a ideia hinduísta de maya, ou seja, a ilusão na qual vivemos e que nos cega para a verdade maior. Pode-se ver também a ideia taoísta da unicidade de tudo que existe, de se tornar uno com o mundo e assim harmonizar-se com os ritmos naturais da vida. A iluminação de que nos fala o budismo, com sua ênfase na libertação da mente dos padrões a que ela se acorrentou, é uma constante durante toda a história. Pode-se falar também da ideia gnóstica do demiurgo, o arquiteto deste mundo, um falso deus que governa a realidade humana. Os planos astrais e suas entidades, ideias presentes em tantas correntes espiritualistas, também podem ser vistas no filme.

A mitologia grega é representada na história pelo nome de personagens como Morfeu (o deus dos sonhos), que auxilia Neo a despertar de seu sono na Matrix. Há também Perséfone, esposa de Hades e rainha do submundo, que ajuda os humanos quando esses descem ao Inferno, e que em Matrix é esposa de Merovíngio e também dá uma forcinha aos humanos.

A mitologia cristã também está lá, emprestando sua rica simbologia. A trajetória de Neo tem tantos pontos em comum com a vida de Cristo que é improvável que sejam apenas coincidências. Comecemos pelo nome de Neo na Matrix, Thomas Anderson. Anderson, de procedência nórdica, significa originalmente “o filho do homem”, uma das expressões que Cristo utiliza para se referir a si. No início do filme, o amigo que faz uma visita a Neo se refere a ele, literalmente, como “Jesus Cristo” e “meu salvador pessoal”. Assim como Cristo, Neo é tentado e torturado, morre, ressuscita e sobe aos céus. O nome da personagem Trinity remete à trindade cristã (Pai, Filho e Espírito Santo). Merovíngio, o poderoso chefe dos programas rebeldes, é uma referência aos reis merovíngios, da idade média, que se acreditavam descendentes da linhagem real proveniente de Cristo. A nave Nabucodonossor traz a inscrição MARK III, no 11, que pode ser uma referência ao evangelho de Marcos, capítulo 3, versículo 11: “Os espíritos imundos, quando o viam, prostravam-se diante dele, e gritavam, dizendo: Tu és o filho de Deus.”

No entanto, e é isso que mais nos interessa, há algo além das religiões e filosofias que liga a história de Neo com a vida de Cristo e no qual ambas se inspiram. Este elo é justamente o mito da jornada do herói, bem mais antigo que os dois e que pode funcionar como uma espécie de roteiro para entendermos, psicologicamente, suas trajetórias. Jesus Cristo é o grande herói da mitologia cristã. Não é relevante aqui se ele de fato existiu ou não ou se era ou não o legítimo filho de Deus. Para o estudo da psicologia do inconsciente aplicada à mitologia, o que importa é o que sua história tem a nos oferecer em termos psicológicos. O que vale é o leito do rio, a estrutura do mito, e de que modo as pessoas o preenchem com as experiências de suas vidas.

Cristo viveu, a seu modo, a clássica trajetória do herói. Abandonou a segurança do lar e das tradições, empreendeu uma difícil jornada de autoaceitação, sofreu as dúvidas, tentações e dores inerentes aos conflitos de quem reluta em assumir seu destino e, por fim, submeteu-se à sua verdade mais íntima, ou seja, ao fato de que, sim, ele era o filho enviado por Deus Pai para redimir a humanidade.

Igual a Cristo, muitas lendas em variadas culturas, até mesmo mais antigas, contam histórias muito parecidas, com personagens de trajetórias similares, contadas e recontadas através dos séculos. O que torna a história de Cristo tão especial é o fato dela ter inspirado o nascimento de uma religião que atualmente, incluindo suas subdivisões, é seguida por aproximadamente um terço da população do mundo. Não fosse isso, certamente a história do galileu que obrava milagres, arrebanhou seguidores, incomodou líderes políticos e religiosos e morreu crucificado chegaria à nossa época como apenas uma lenda, da mesma forma que tantas outras.

Quinhentos anos antes de Cristo, na Índia, um príncipe muito rico abdicou do conforto de sua vida e foi para a floresta viver de esmolas e meditar sobre o sentido da existência. No momento em que o compreendeu, tornou-se um iluminado, um Buda, perfeitamente integrado à Natureza, capaz de fazer milagres e de ensinar as pessoas a encontrarem também a iluminação e se libertarem das prisões mentais. A mitologia cristã possui tantas semelhanças com a vida do Buda e com outros mitos de outras culturas que é como se uma única história estivesse sendo contada em variadas sociedades sob diversas versões, sob as características próprias de cada cultura e baseada em suas necessidades espirituais específicas. De fato, é sempre a mesma história: o mito da jornada do herói.

Neo, Buda e Cristo, assim como Percival, são heróis porque realizaram a si mesmos, concretizando seu potencial, vivendo profundamente seu mito pessoal e cumprindo seu destino. Cada um deles viveu, a seu modo, o roteiro que marca a jornada mítica do herói.

herói e sociedade: um moto-contínuo

Tudo que existe já traz em si a semente daquilo que o destruirá. A sociedade instintivamente sabe dessa lei universal e por isso sempre verá com desconfiança o indivíduo, ele e seu perigoso potencial de transformá-la. Mais cedo ou mais tarde ele a transformará, e os dois prosseguirão num novo nível, ela tentando manter as coisas como estão, ele a desafiando com sua diferenciação. É um moto-contínuo.

Assim como o impulso evolutivo faz com que a consciência individual evolua numa espiral, passando pelos mesmos pontos em novos níveis, a consciência coletiva da espécie também age assim, tendo de um lado da espiral a sociedade e do outro a individualidade. Nascemos imersos na sociedade, e durante a vida inteira ela exerce sua força coesiva sobre nós – mas do outro lado da espiral a individualidade nos atrai. Para os que a alcançam, ela fornece a diferenciação e a força necessária para prosseguir no caminho legítimo da alma. Seu impulso, porém, obviamente conduz o indivíduo ao outro lado da espiral, de volta à sociedade. Isso significa que a mesma sociedade que segurou o quanto pôde o impulso diferenciador do indivíduo e o rejeitou, mais tarde assimilará os novos valores que ele traz, e assim ela se enriquece, se renova e forma novos indivíduos que, por sua vez, serão também atraídos para o outro lado da espiral e, caso prossigam, levarão a sociedade a novos níveis de evolução. É assim que a espécie evolui, fazendo com que o conflito entre individualidade e sociedade seja o motor do movimento contínuo. Se não houvesse individualidade, as sociedades não mudariam e, assim, logo apodreceriam e morreriam.

Atualmente, a realização individual não se contenta apenas em se diferenciar do bando, como nos dias em que éramos semimacacos, ou em adquirir identidade própria, como nos estágios seguintes da história humana. A autorrealização agora exige mais, exige que alcancemos o ponto mais verdadeiro do que somos para que o potencial que está lá, adormecido, possa se realizar em toda sua plenitude. O novo nível de individualidade que temos de alcançar determina que atinjamos nosso centro, mas para isso precisamos, é claro, conhecer o nosso todo, e o todo inclui não só a superfície, mas o que está dentro. Isso significa que temos de conhecer o interior de nós mesmos, profundamente, do modo mais verdadeiro possível, se quisermos alcançar nosso centro mais legítimo.

Quando Neo finalmente consegue compreender quem ele é, entende seu papel no contexto da existência humana e faz o que deve fazer. É assim que ele salva a humanidade e renova as esperanças do planeta que, agora, suspenso o conflito entre humanos e máquinas, pode enfim se recuperar.

monitorando Neo

O enredo de Matrix será aqui utilizado para ilustrar o processo de autorrealização do ser humano e mostrar que podemos deixar de ser meros personagens para ser os grandes heróis de nossas próprias vidas. Para isso, usaremos como guia o primeiro filme da trilogia, onde mora a essência da história, e alguns trechos dos outros dois. Seguiremos cronologicamente, descrevendo as cenas mais importantes e comparando-as com a referida etapa do processo, usando exemplos da vida cotidiana, sempre dentro do contexto do processo de autorrealização.

Agiremos mais ou menos como os agentes da Matrix, que prenderam Neo e lhe implantaram um rastreador para não perdê-lo de vista. Em nosso caso, seguiremos Neo durante sua perigosa e emocionante jornada porque sua história é a história de cada um de nós. A aventura do guerreiro cibernético vivido pelo bonitão Keanu Reeves é uma metáfora de nossa jornada pessoal rumo à mais verdadeira realização de nós mesmos. A diferença é que Neo é um personagem de ficção e só existe nas telas, enquanto nós, eu e você, existimos aqui no mundo real, na tridimensionalidade do dia a dia, pegando ônibus lotado, suando para pagar as contas, sofrendo por nossos relacionamentos e pelo time que vai mal no campeonato, batalhando arduamente pelo que acreditamos e ainda procurando um sentido maior no meio desse grande caos da existência. Ufa! Merecemos um Oscar pelo conjunto da obra, não?

Monitoraremos Neo para, através de sua trajetória mítica, ver como nós mesmos nos comportamos em nosso processo de autorrealização. Será como um jogo onde o que virmos na tela será transplantado para a vida prática. Definiremos as regras do jogo a seguir, mas não há nada de muito complicado. Lidaremos com noções de mitologia e psicologia do inconsciente, mas tudo será feito de forma leve e descontraída.

Bem, de fato não é fácil traduzir em simples palavras e rápidas explicações o profundo, complexo e misterioso universo da alma. É como traduzir em linguagem racional e científica coisas que são do reino dos sonhos e da intuição. Porém, felizmente existe a arte e seu poder mágico de tocar as pessoas. Existem filmes como Matrix, que já trazem em si, metaforicamente, muito daquilo que os profissionais da psicologia e psicoterapia se esforçam para explicar em seus livros, palestras e consultórios. A metáfora facilita as coisas, levando ao entendimento imediato e instintivo do que realmente interessa, o centro da questão, o símbolo. Por esse motivo é que a psique faz uso da metáfora dos mitos para comunicar suas verdades.

Pois bem. O plano é usar esse incrível filme como instrumento para que nós mesmos apliquemos as verdades mitológicas em nossas vidas e, assim, possamos nos compreender melhor e nos libertarmos um pouco mais.

Mas… libertar-se de quê? Libertar-se daquilo que nos mantém presos e que nos impede de ser quem verdadeiramente somos e de seguir a nossa bem-aventurança. E isso somente cada um de nós será capaz de descobrir o que seja. Esta é a nossa missão, a sagrada missão de cada um de nós.

você se conhece?

Já vimos que, em termos psicológicos, a aventura de Neo pode ser entendida como uma reedição moderna da jornada humana rumo à autorrealização. Certo. Mas o que exatamente vem a ser isso?

Autorrealização é a efetivação do que há de mais profundo e verdadeiro em cada um de nós. Feito uma potencialidade existente no mais profundo do eu, ela nos impulsiona a um processo contínuo de autoconhecimento onde integramos os conteúdos do ser e rumamos para a mais íntima realização pessoal: a concretização da personalidade total.

Autorrealizar-se significa desenvolver o potencial adormecido e nos tornarmos quem somos destinados a ser porque é isso o que sempre fomos: a semente que já traz em si a árvore futura. É impossível autorrealizar-se sem conhecer as próprias possibilidades e torná-las reais. Seria impossível para Neo fazer tudo o que fez sem antes se convencer que, de fato, podia fazê-lo. Você lembra quando ele decide voltar à Matrix para resgatar Morfeu, mesmo sabendo que jamais alguém fez isso antes? Pois é. Nesse momento Neo está, pela primeira vez, convencido de seu potencial e, por isso, consegue fazer o impossível.

Uma pessoa autorrealizada é uma pessoa equilibrada, física e psicologicamente, que se conhece a fundo e por isso é senhora de seus atos. Está consciente das necessidades do corpo e da mente, da linguagem das emoções e do espírito. Em outras palavras, todas as dimensões de seu ser estão harmonizadas. Por conta desse elevado grau de autoconhecimento, é alguém que sabe de seu potencial e o utiliza do melhor modo, sem desperdícios nem autoenganações. É alguém que, mesmo vivendo em meio ao grande caos do mundo, está em harmonia com ele e não se abala facilmente com imprevistos e derrotas. Uma pessoa autorrealizada venceu os desafios mais importantes que a vida lhe impôs e não mais precisa lutar contra seus demônios internos, pois um dia teve a coragem de encará-los, conseguindo assim que eles passassem para o seu lado, herdando deles a força contra a qual tanto lutava.

Para atingir esse ponto, porém, a pessoa tem antes de despertar e se diferenciar da mentalidade comum, como Neo despertou da Matrix, como nossos antepassados peludos se diferenciaram do bando e inauguraram o novo ramo evolutivo que seria a espécie humana. Isso é necessário para que a individualidade se manifeste e a pessoa possa realmente conhecer quem é, buscando suas verdades dentro de si mesma. Quem sou eu? – tudo começa com essa perguntinha safada.

Nada disso é fácil ou rápido. Aqui, porém, precisamos entender algo muito importante: o que verdadeiramente interessa não é alcançar a meta. Parece contraditório empreender uma jornada onde não há chegada, mas é assim que funciona, pois o que interessa realmente nessa jornada é estar no caminho. A essência da autorrealização não é chegar, mas manter-se em movimento, até porque talvez não exista uma chegada definitiva na evolução psíquica. É mais ou menos como encontrar um grande amor: quando isso acontece, não importa o que exatamente vamos fazer ou até onde estaremos com a outra pessoa. Fixar-se nisso é perder a noção do mais importante, que é estar junto e viver o amor a cada dia, sem se preocupar mais que o necessário com seu futuro.

A alma é a dimensão interna da vida, uma dimensão fascinante e também libertadora. Porém, a maior parte das pessoas nunca chega realmente a se aventurar pelo universo de sua alma, preferindo a experiência de vida em níveis superficiais do ser. O motivo disso é que a nossa cultura não nos incentiva a olhar para dentro e, além disso, lá dentro é escuro e, você sabe, do escuro sempre podem vir coisas perigosas…

Geralmente, na primeira metade da vida gastamos a maior parte de nossa energia correndo de um lado para outro em busca de brincadeiras, dinheiro, aceitação social, poder, conquistas sexuais… Mesmo que o mundo interno nos chame a atenção, ele frequentemente é relegado a segundo plano. Algumas pessoas sentem cedo esse chamado, mas a maioria só vai escutá-lo a partir da metade da vida, quando começa a fazer falta um sentido maior. Muitas percebem que o tudo que conquistaram não as fez realizadas – nem livres. Aliás, é comum as pessoas chegarem a esse ponto se sentindo sufocadas: pelo tempo, pelo trabalho, pela família, pelas exigências sociais e até por suas próprias ideias e atitudes que durante muito tempo foram úteis, mas agora não têm o mesmo valor. É em momentos assim que a vida nos faz lembrar que temos uma missão sagrada e que só poderemos cumpri-la se nos voltarmos para a dimensão interna da nossa vida.

A história de Neo é a nossa própria história, a de alguém que um dia não se conforma com a vida que vive e busca uma vida mais verdadeira. Assim sendo, a partir de agora olhemos para o filme com outros olhos. Para monitorar o herói em sua jornada de autorrealização, precisamos ver o filme sob um ângulo psicológico, onde Matrix passa a ser a história de apenas uma pessoa, no caso Neo, e onde todas as situações do filme se referem diretamente ao herói, à sua psique. Por isso todos os personagens, a partir de agora, representarão aspectos psicológicos do próprio Neo.

Acho que não entendi bem…, você pode estar pensando. Não se preocupe. Vamos treinar nosso olhar um pouco mais antes de começarmos o monitoramento de Neo. Vamos falar sobre essa coisa misteriosa e fascinante que é a psique.

o organismo psíquico

A cada dia novas descobertas tornam menos precisas as fronteiras entre mente e corpo, mostrando que as duas coisas talvez não sejam tão distintas como julgamos. Mas, para efeito didático, ainda precisamos explicar separadamente essas dimensões do ser.

Assim como possuímos um conjunto de órgãos, um organismo, que age dentro de leis físicas, químicas e biológicas, possuímos também um “organismo psicológico” que atua seguindo suas próprias leis. Esse segundo organismo é a psique, e assim como o corpo físico, ela também regula a si mesma, podendo adoecer mas também promover a própria cura. Para entendermos melhor a psique, temos de vê-la como algo vivo e possuidor de uma espécie de inteligência própria e capaz de se autorregular. Nesse ponto, ela é como a Terra, um superorganismo que mantém a vida em si através do equilíbrio entre seus órgãos minerais, vegetais e animais. Bem, é verdade que o Homo sapiens, um dos órgãos animais, ultimamente tem se esforçado bastante para desequilibrar tudo, mas isso é outra história.

A psique é formada pela consciência e pelo inconsciente. A consciência é a área superficial da psique, ou seja, o nosso conhecimento imediato sobre nós mesmos. O centro da consciência é o ego, e é por ele que manifestamos nossa vontade. Por ele ser o centro da personalidade consciente, é justamente pelo ego que temos consciência do que somos ou não somos. Mal comparando, o ego é como a pele, pois ela é o elemento de comunicação mais visível e imediato do corpo com o ambiente externo. Mas a pele não é o corpo inteiro: do lado de dentro há outros elementos que atuam o tempo todo, estruturando o corpo, mantendo-o vivo e influenciando nosso comportamento, mesmo que não o percebamos. Ver o ego como a personalidade total equivale a confundir a pele com o corpo inteiro.

O conhecimento do ego sobre a psique ou a personalidade total, da qual ele é apenas uma parte, só alcança o que está na consciência, aquilo que é distinguível com a luz do discernimento da personalidade consciente. O que está além da fronteira da consciência, ou seja, o que faz parte do inconsciente, está na escuridão e não pode ser percebido pelo ego. Por conta do posto que ocupa, de “representante autorizado” da psique para o mundo externo, o ego tende sempre a se considerar o eu psíquico total. Mas não é. Esta é a sua velha ilusão, achar que está sempre no controle da situação. Não está porque os elementos do inconsciente influenciam no comportamento da pessoa sem o ego se dar conta, pois ele só admite a existência do que está em sua área, a consciência. Para o ego, reconhecer o inconsciente é reconhecer que não está sozinho no controle – e isso é sempre um golpe no orgulho egóico.

Às vezes dizemos: “Eu tenho umas coisas que não entendo…” ou “Não sei o que deu em mim para fazer aquilo…” ou “Eu estava fora de mim.” Em momentos assim estamos pressentindo que não somos apenas o ego, ou seja, que somos algo mais que apenas a nossa percepção consciente de nós mesmos. Estamos quase admitindo que existem outros aspectos de nós e que não os conhecemos bem nem temos controle total sobre eles. Quando surgem essas incertezas é sinal que conteúdos do ser, antes totalmente inconscientes, se aproximam da fronteira da consciência. O ego já os pressente e se incomoda. Esses conteúdos estão saindo das sombras do inconsciente e forçam saída rumo à luz da consciência, querendo ser integrados à personalidade consciente. O melhor a fazer é ir ao encontro deles antes que esses danados imprevisíveis provoquem confusões maiores. Isso é investigar-se psicologicamente, dar atenção ao mundo interno. Isso é autoconhecimento.

O ego, portanto, é uma espécie de gerente da psique, incumbido de facilitar o fluxo de conteúdos entre a consciência e o inconsciente, fluxo este que visa manter o equilíbrio psíquico, vital para a saúde do indivíduo. Um ego imaturo, porém, age feito um gerente inseguro, que está sempre tão preocupado em manter a ilusão de se achar mais do que é que não consegue perceber a existência de certos problemas na empresa. É exatamente por causa dessa negligência que os problemas se acumulam, ou seja, o fluxo de conteúdos entre consciência e inconsciente não ocorre de modo satisfatório. Para esse gerente inflado de orgulho, a prioridade não é o crescimento psíquico (crescimento da empresa), mas segurar seu cargo, manter as coisas como estão, empurrando com a barriga, adiando, fingindo não ver.

Se o ego não desempenha bem sua função gerenciadora da psique total, ignorando o inconsciente e fazendo a pessoa viver a si mesma de modo unilateral, os interesses egóicos se chocam com os interesses do eu total e as forças autorreguladoras da psique intervêm, queira o ego ou não. E aí surgem as crises.

o inconsciente

Mas… e o inconsciente, de que é feito exatamente? Podemos, a princípio, resumi-lo como o conjunto de tudo aquilo que não sabemos sobre nós mesmos. No inconsciente vivem, vamos chamar assim, complexos energéticos que possuem certo grau de independência, como se fossem entidades de vontade própria dentro de nós mesmos. Enquanto esses conteúdos inconscientes não forem percebidos e devidamente assimilados pelo ego, estarão sempre agindo na surdina, influenciando o comportamento, nos impedindo de sermos melhor do que somos, levando-nos a fazer coisas das quais nos envergonhamos e ocasionando males diversos.

É um monstro terrível esse inconsciente, um Godzilla que sempre destrói os planos da personalidade consciente? Não é bem assim. O inconsciente é imenso como o mar, é escuro como a noite – mas não é bom nem mau. Ele não tem moral, e tudo que deseja, e vai conseguir de um modo ou de outro, é se manifestar no mundo externo. O inconsciente possui conteúdos positivos e negativos, que podem ajudar ou prejudicar, dependendo da atenção que lhes dê o ego. Se o ego for um bom gerente, o inconsciente se tornará um importante aliado da personalidade consciente vida afora.

Você já comeu o corpo de um inimigo vencido? Não? Eu também não. Mas algumas tribos guerreiras tinham esse hábito de, após vencer uma batalha, comer os corpos dos inimigos mais valentes num ritual cheio de respeito e reverência. Nojento? Para nós pode ser, mas agindo assim eles acreditavam incorporar a coragem e a destreza do inimigo e, com isso, tornavam-se guerreiros mais fortes. Você pode não agir assim com seus inimigos de carne e osso, porém é isso que ocorre quando vencemos os desafios internos de nossa personalidade: o que antes era um inimigo traiçoeiro a nos emboscar no escuro do inconsciente finalmente junta-se à consciência e nos engrandece, nos equilibra e nos faz mais fortes e capazes.

hoje tem espetáculo

Talvez a analogia com as tribos guerreiras não tenha feito bem a seu estômago. Tentemos então pelo lado da arte.

Imaginemos a psique como um grupo teatral, composto de vários atores. Quando a cortina se abre, porém, no palco há somente um único ator sob um facho de luz concentrada. O ator é o ego e a luz é a consciência. A consciência ilumina tudo o que toca, permitindo que o ego, que está sempre em seu centro, veja, descrimine o que existe e decida o que fazer com o que descobriu. O próprio ego dirige o foco de luz da consciência, formando com ela quase que uma só entidade. Quase, pois em certos momentos ela ilumina um pouco mais do que ele gostaria de ver.

O ego acha que está só no palco, realizando seu monólogo mas, atrás dele, na penumbra do fundo do palco, existem outros atores, uns mais quietos, outros nem tanto: são os outros aspectos do ser. Estão no escuro porque lá a luz da consciência ainda não chegou, e o ego, por isso, não reconhece sua existência. São aspectos da personalidade que ainda não foram devidamente integrados à consciência. São conteúdos inconscientes porque o ego está inconsciente deles. Pode ser a agressividade ou um grande medo não reconhecido, pode ser um trauma da infância, uma grande culpa ou a sexualidade não assumida. Pode ser muita coisa – mas o ego não sabe desses aspectos ou finge não saber, pois em algum momento decidiu que seria melhor não conviver com eles.

Esses atores da escuridão sabem que o ego é o ator principal, mas eles também querem participar mais ativamente do espetáculo. Mesmo que não sejam oficialmente reconhecidos pelo ego, eles se movimentam em segundo plano e isso cedo ou tarde interferirá no andamento da peça. Quando isso ocorrer, o ego terá a primeira noção de que não está sozinho no palco. Mas poderá insistir em continuar desprezando os colegas, fingindo que nada aconteceu. Quanto mais os desprezar, mais eles se esforçarão para aparecer, podendo forçar a barra e chegar ao cúmulo de se adiantar no palco e dividir a luz do refletor com o ego, para surpresa e embaraço deste. O ego, coitado, que em nenhum momento teve controle total sobre os rumos da peça, agora é obrigado a admitir abertamente que existem outros atores e terá forçosamente de incluí-los em sua própria história.

Isso é apenas uma comparação, claro, mas é o que ocorre diariamente em nossas vidas. Pensamos que estamos agindo sozinhos, mas outros aspectos que fazem parte de nosso eu total estão atuando também, às vezes contribuindo e outras vezes atrapalhando e até mesmo sabotando os planos de nossa personalidade consciente. A necessidade de autoconhecimento leva o ego a ampliar a luz da consciência a fim de iluminar outros pontos da psique total, à procura do que mais possa estar ali. É um trabalho delicado e custoso, pois requer a coragem de encarar o que não se conhece em si próprio. Isso trará mudanças, inevitavelmente, e o ego não é muito chegado a mudanças, preferindo sempre manter as coisas como estão. Mas não há outra forma da psique se equilibrar e da personalidade consciente ter mais controle sobre a própria vida. O ego precisará se transformar, e para isso terá de ter grande honestidade consigo mesmo, paciência e perseverança.

Jogar a luz da consciência sobre nossos conteúdos inconscientes significa assumir outras partes de nós mesmos. Algumas dessas partes já suspeitamos que existem e, bem ou mal, convivemos com elas no cotidiano. Outras partes, porém, por algum motivo, em algum momento da vida decidimos mantê-las na escuridão – são essas as mais difíceis de lidar, pois, se por um lado essa decisão permitiu ao ego levar a vida como se essas partes não existissem, por outro lado lhes proporcionou a oportunidade de se desenvolver sem serem incomodadas. Por conta disso o ego sempre se assusta ao vê-las sair das sombras, crescidas e cheias de vontade, e vir dividir com ele a atenção da plateia.

tornar-se o próprio herói

Uma pessoa consciente de seu caminho de autorrealização sabe perfeitamente que o processo exige um contínuo transformar-se e toda transformação traz algum tipo de crise. Essa pessoa sabe que dialogar com suas outras partes e reconhecer que elas fazem parte do eu total não é trabalho fácil, pois traz incertezas e angústias. Mas o processo de autorrealização exige que a consciência se amplie para que a pessoa pare de brigar com seu próprio inconsciente, ou seja, com ela mesma. Deixando de brigar com o que reprime dentro do ser, a pessoa se torna mais autoconsciente e equilibrada, assim como Neo que, à medida que conhece seu potencial, segue treinando suas capacidades e assim consegue se movimentar melhor na Matrix.

Por outro lado, se a pessoa tem medo do que possa vir do escuro do ser e continua reprimindo a própria natureza, a psique cobrará tal negligência, atrapalhando os planos do ego, forçando-o a gafes e atitudes cada vez mais constrangedoras ou até mesmo provocando insucessos, acidentes e doenças – isso tudo para forçar o ego a parar um pouco e olhar para dentro. Esses mecanismos psíquicos fazem parte da capacidade de autorregulação do eu total, que só tem um único objetivo: realizar-se em sua inteireza, tornar-se a árvore futura que a semente predizia. Mas isso será impossível se consciência e inconsciente não estiverem em harmonia.

O processo de autorrealização leva a pessoa a lidar mais harmoniosamente com o mundo, com as outras pessoas e consigo mesmo. É como Neo, que a partir do momento em que entende verdadeiramente quem é, deixa de ser iludido pela Matrix e percebe que, em vez de ser manipulado, pode fazer o que bem quiser.

Nosso objetivo é o mesmo de Neo: tornarmo-nos os grandes heróis de nossas próprias vidas. Devemos descobrir quem somos e o que devemos fazer – isso é o processo de autorrealização. E ele é como as melhores aventuras do cinema: tem um enredo criativo e cheio de reviravoltas, um herói cativante, inimigos terríveis, perigos e armadilhas por todo lado, suspense de arrepiar, romances… E o que é mais incrível: é real. Não está acontecendo na tela, mas em nossas próprias vidas!

Mas antes é preciso despertar. Abrir a porta que dá para o mundo interior. Seguir o coelho branco.

Bem, acho que basta de treinamento. Já estamos prontos para monitorar nosso herói. Então vamos lá. As luzes já foram apagadas. Desligue o celular e se acomode na poltrona. O filme vai começar.

(continua)

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Ricardo Kelmer 2005 – blogdokelmer.com

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CONTEÚDO INTEGRAL DO LIVRO

Cap. 1 – Cinema, mito e psicologia
Cap. 2 – Toc, toc, toc… Acorde, Neo!
Cap. 3 – Não existe colher
Cap. 4 – Morrendo para vencer

Cap. 5 – Matrix Reloaded e Matrix Revolutions
Cap. 6 – Os personagens
Cap. 7 – Quadro comparativo

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> saiba mais – compre o livro

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VÍDEO: Jung – A jornada do autodescobrimento

08/06/2010

Ricardo Kelmer 2010

Vídeo resume a vida e a obra de Carl Jung

Este vídeo, dividido em duas partes, traz um belo resumo da vida e das ideias de Carl Jung (1875-1961), o psicólogo suíço que se tornou um dos mais influentes pensadores do século 20.

Criador da teoria do inconsciente coletivo e do método “Imaginação ativa” pra contato direto com o inconsciente, Jung também criou a tipologia da personalidade, cruzando os tipos (introvertido e extrovertido) com as funções psicológicas (pensamento, sentimento, sensação e intuição). A teoria da sincronicidade, que relaciona fatos internos e externos pra explicar certas coincidências da vida diária, é outra contribuição sua pro entendimento que hoje possuímos sobre o funcionamento da psique.

Jung, assim como Joseph Campbell (1904-1987), ajudou a reacender o interesse sobre a mitologia, situando os mitos como elementos essenciais na busca do indivíduo por sua essência e completude.

> Jung na Wikipedia
> Joseph Campbell na Wikipedia

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Ricardo Kelmer – blogdokelmer.wordpress.com

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Jung – A jornada do autodescobrimento (1) 9m12s

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Jung – A jornada do autodescobrimento (2) 9m03s

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LEIA NESTE BLOG

> Livros: He, She, WeOs rios de nossas vidas na verdade correm por leitos muito, muito antigos – os mesmos leitos que outras águas, ou outras pessoas, percorreram do mesmo modo

> Mulheres na jornada do herói – É ainda mais interessante ver o relato das mulheres pois elas sempre foram, mais que os homens, historicamente reprimidas na busca pela essência mais legítima de suas vidas

> A ilha – Uma fábula sobre o autoconhecimento

> Mariana quer noivar – Você abdicaria das relações amorosas em sua vida em troca de dinheiro ou sucesso na carreira?

> Carma de mãe pra filha – Os filhos sempre pagam caro pelos pais que não se realizam em suas vidas

> Blade Runner: Deuses, humanos e andróides na berlinda – Como todo ser, o criador busca sempre transcender a sua própria condição e é criando que ele faz isso

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01- Para mim, o maior sábio que o ocidente já produziu. Brennand De Sousa Bandeira, Fortaleza-CE – abr2011

02- Amplo e profundo.Uma das melhores ideias dele é o lance do inconsciente coletivo. Muito útil pra quem escreve narrativas. Gledson Shiva, Brasília-DF – abr2011

03- Dr Jung é mal visto como “psicólogo” alternativo, profissão que nunca teve. Jung escreve sobre metafísica, filosofia da religião, teoria do comhecimento, fenomenologia, noumenon kantiano, natureza da realidade, ética, arquétipos de Plotino, conhecimento não-racional e até psicologia. Para mm, Jung é um dos maiores filósofos que já existiram, mas ESSE seu lado só será compreendido daqui a uns 100 ou 200 anos, como é usual que ocorra com os grandes filósofos. Lázaro Freire, São Paulo-SP – abr2011

04- E eu na dolorosa jornada em busca de quem sou! Mas não desisto… (“Aquilo a que você resiste, persiste.” Carl Jung). Marcio Regis Galvão, Fortaleza-CE – abr2011


O herói e a princesa

26/03/2010

26mar2010

Para Ayrton Senna, herói do Reino da Terra

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O HERÓI E A PRINCESA

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Seu destino, estava escrito, seria ser um herói, nada menos que isso. Estava escrito: ser o melhor dos guerreiros, herói de todos os reinos.

Mesmo assim ele teve que lutar como todos os outros, enfrentar sua própria guerra. Teve de viver, dentro de si mesmo e por toda a vida, o mais difícil dos desafios: a autossuperação. Teve de várias vezes visitar a beira do abismo e caminhar sobre o fio que separa os mundos, morrer e renascer e morrer de novo e novamente renascer, até que finalmente estivesse preparado para cumprir o destino que lhe fora reservado. Sim, o destino fora marcado em sua alma, mas ele sabia que teria de suar e sangrar bastante para realizá-lo.

Poderia ter recusado? Não. Recusasse e o peso de tal abdicação lhe seria tão insuportável que o único remédio seria a morte. Por isso a morte espreitava sua vida, a linda princesa de seus sonhos, ela e seu vestido branco. E ele logo aprendeu a não se assustar à toa. Por isso é que, aos que os deuses marcam o destino, nada resta senão cumpri-lo.

E ele o cumpriu com a nobreza dos grandes cavaleiros. Tomou para si a bandeira da superação e a fixou no alto de sua lança. E a conduziu velozmente pelos reinos da Terra, erguendo-a bem alto para que nós todos, guerreiros de todos os reinos, nunca esquecêssemos que, da mesma forma que ele, também podemos vencer nossos limites pessoais. O grande inimigo não é do outro reino. Não, ele mora dentro de nós e se esconde por trás do medo de falhar. Ele falhou, muitas vezes, você lembra, mas cada falha logo se transformou em aprendizado, e adiante era mais uma arma poderosa com que ele abatia o inimigo.

Um dia, ela surgiu especialmente bonita, ela e seu vestido branco, a princesa de seus sonhos. Surgiu à sua frente, bem à beira do abismo, sorridente e compreensiva. Ele não sentiu medo. Por um segundo, ainda pensou em voltar, despedir-se, dizer algo para a família, os amigos, a namorada. Mas não. Tudo já havia sido dito, sua própria vida o dissera.

– Esta noite sonhei contigo – ele falou, um pouco triste, mas tranquilo. – Estavas tão linda que tive a certeza que virias me buscar.

Ela então tomou sua mão e juntos caminharam pela última vez pelo fio do abismo, ele admirando o vento nos cabelos dela, o porte digno que tanto inspirara sua vida. Mais adiante, onde o caminho faz uma curva para a esquerda, ele sumiu. Dizem que se transformou em vento e que nas manhãs de domingo visita os reinos da Terra para soprar em nossa lembrança.

Comigo ficou sua bandeira, que muitas vezes me é tão pesada que penso em desistir, que não sou digno, que definitivamente não nasci para herói. Mas então lembro dele, lembro dos momentos em que parava e ficava em silêncio, buscando em sua própria mente o caminho mágico da vitória, e então ergo a bandeira novamente, por ele, por mim, por nós todos, heróis de nossas próprias guerras.

As crianças ouvem histórias dele, admiram-se de seus feitos e em seus olhos parece rebrilhar o aço de sua lança. Pedem para contar de novo de como ele venceu quando era impossível. Mas ele não sabia que era impossível, explico, por isso que foi lá e venceu. Elas escutam com seus olhinhos brilhando e depois as ponho para dormir. Cubro-as bem porque faz frio, elas que são o futuro e que mais tarde lutarão por nós. E depois vou deitar, cansado de minha luta, a bandeira que carrego encostada à parede, esperando pela nova batalha de amanhã. Vou deitar e sonhar com uma linda princesa, a princesa que a mim um dia também virá buscar, quando chegar a minha hora.

Quando ela surgir, espero ir-me da mesma forma que ele foi: com a dignidade e o orgulho dos que cumpriram seu destino.

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Ricardo Kelmer 1999  – blogdokelmer.com

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> Este texto integra o livro A Arte Zen de Tanger Caranguejos

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LEIA TAMBÉM

Um mito a 300 km por hora – O arquétipo da jornada do herói na trajetória de Ayrton Senna
É inquietante pensar assim, mas tudo soa como uma… predestinação. Quando lembramos que Ayrton era um dos que mais lutavam pela segurança dos pilotos, que ele morreu numa cidade de nome Ímola, no dia do trabalhador e ao vivo para o mundo inteiro, tudo isso reveste sua morte de um significado mitológico de sacrifício, uma autoimolação

Instituto Ayrton Senna – Impulsionados pelo desejo do tricampeão de Fórmula 1 Ayrton Senna, sua missão é levar educação de qualidade para as redes públicas de ensino no Brasil. Atua em parceria com gestores públicos, educadores, pesquisadores e outras organizações para construir soluções concretas para os problemas da educação básica

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em italiano

L´EROE E LA PRINCIPESSA

Ricardo Kelmer

Per Ayrton Senna, eroe del Regno della Terra

Il suo destino era scritto, sarebbe stato un eroe, niente meno che questo. Era scritto: essere il migliore dei guerrieri, eroe di tutti i regni. Anche così dovette lottare con tutti gli altri, affrontare la sua propria guerra. Dovette vivere, dentro se stesso e per tutta la vita, la più difficile delle battaglie: l’autoseparazione. Dovette varie volte arrivare sull’orlo dell’abisso e camminare sul filo che separa i mondi, morire e rinascere e morire di nuovo e un’altra volta rinascere fino che finalmente fosse preparato per compiere il destino che gli fu riservato. Il destino era marcato nella sua anima ma lui sapeva che avrebbe dovuto sudare e sanguinare abbastanza per realizzarlo.

Avrebbe potuto rifiutare? No. Se lo avesse rifiutato il peso di tale abdicazione gli sarebbe stato tanto insopportabile che l’unico rimedio sarebbe stata la morte. Per questo la morte scrutava la sua vita, la bella principessa dei suoi sogni, lei e il suo vestito bianco. E lui presto apprese a non spaventarsi a caso. Per questo a coloro che gli dei marcano il destino, non resta altro che compierlo.

E lui lo ha compiuto con la nobiltà dei grandi cavalieri. Ha preso per sé la bandiera dell’auto superazione e l’ha fissata nell’alto della sua lancia. E l’ha condotta velocemente per i regni della terra, ergendola ben in alto perchè tutti noi, guerrieri di tutti i regni, mai dimenticassimo che, nello stesso suo modo, potessimo vincere anche noi i nostri limiti personali. Il grande nemico non è dell’altro regno. No, lui vive dentro di noi e si nasconde dietro alla paura di fallire. Lui ha fallito, molte volte, tu ti ricordi, ma ogni fallimento si trasformò presto in apprendistato e in futuro era una arma poderosa in più con la quale lui abbatteva il nemico.

Un giorno lei sorse particolarmente bella, lei e il suo vestito bianco, la principessa dei suoi sogni. Apparse davanti a lui, proprio all’orlo dell’abisso sorridente e comprensiva. Lui non sentì paura. Per un secondo pensò anche di tornare, disperdersi, dire qualcosa agli amici, all’innamorata. Ma no. Tutto era già stato detto, la sua stessa vita l’aveva detto.

– Questa notte ho sognato con te – disse, un pò triste ma tranquillo. – Eri tanto bella che avevo la certezza che saresti venuta a cercarmi.

Lei intanto prese la sua mano e assieme camminarono per l’ultima volta per il filo del precipizio, e ammirando il vento nei capelli di lei, il comportamento degno che tanto ispirava la sua vita. Ma davanti, dove il cammino fa una curva a sinistra, lui uscì. Dicono che si trasformò in vento e che nelle mattine della domenica visita i regni della terra per soffiare in nostro ricordo. Con me è rimasta la sua bandiera, che molte volte mi è così pesante che penso di desistere, che non sono degno, che definitivamente non sono nato per essere eroe. Ma allora mi ricordo di lui, mi ricordo dei momenti in cui si fermava e restava in silenzio, cercando nella sua stessa mente il cammino magico della vittoria, e allora la ergo nuovamente, per lui, per me, per noi tutti, eroi delle nostre stesse guerre.

I bambini ascoltano le sue storie, si stupiscono delle sue vicende e nei loro occhi sembra brillare l’acciaio della sua lancia. Chiedono per raccontare di nuovo di come abbia vinto quando era impossibile. Ma lui non sapeva che era impossibile, spiego, per questo che è stato là e ha vinto. Loro ascoltano con i loro occhietti brillanti e dopo li metto a dormire. Li copro bene perché fa freddo, loro che sono il futuro e che più tardi lotteranno per noi. E dopo vado a riposare, stanco della mia lotta, la bandiera che carico accostata alla parete, aspettando per la nuova battaglia di domani. Andrò a sdraiarmi e a sognare di una bella principessa, la principessa che verrà anche a me a cercare un giorno, quando arriverà la mia ora.

Quando lei apparirà, spero di andarmene allo stesso modo in cui è andato lui: con la dignità e l’orgoglio di chi ha compiuto il suo destino.
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Traduzione: Isabella (Fã-Clube Ayrton Senna Stella – Itália)

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VÍDEOS

AYRTON SENNA TRIBUTE

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THE RIGHT TO WIN
documentário legendado

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MAIS TEXTOS

 

AYRTON SENNA E O PODER DO MITO
Ricardo Kelmer 2014

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Algumas pessoas não se conformam que Ayrton Senna seja considerado um herói, e falam que ele ganhava muito dinheiro, levava vida boa e coisa e tal. Alegam que herói é o trabalhador anônimo, que sua para ganhar salário mínimo, heróis são os bombeiros e professores. É um raciocínio equivocado.

Cada um entende o termo herói ao seu próprio modo. Porém, numa visão mitológica, Ayrton Senna encarna perfeitamente o termo, sim, pois sua vida é um ótimo exemplo do mito da “jornada do herói”. O herói é um arquétipo, presente na psique da espécie humana, e a jornada do herói é o mito da autorrealização, que todos vivemos em nossas vidas, com mais ou menos intensidade. Mitologicamente falando, qualquer um, anônimo ou famoso, que se realize profundamente em sua vida é um herói, pois para alcançar esse ponto é necessário uma longa e difícil jornada, feita de provações, sofrimento e superação – e nem todos conseguem levá-la até o fim.

Porém, quando a autorrealização do indivíduo influencia positivamente a vida de muitos outros, entramos num nível mais abrangente do mito, onde a vida do herói torna-se a vida de todos. Nesse nível, até mesmo a morte do herói traz grandes benefícios à sociedade. Ayrton Senna exemplifica bem esse nível mais abrangente. Além de tudo que sua vida pode inspirar (coragem, talento, sacrifício, superação…), sua morte oferece dois ótimos e indiscutíveis legados: as medidas de seguranças implantadas na Fórmula 1 (após o GP de San Marino de 1994, nenhum outro piloto morreu numa corrida) e o Instituto Ayrton Senna, um sonho do piloto brasileiro que sua morte, ironicamente, ajudou a tornar realidade, e hoje é uma referência mundial no trato com a infância carente.

Pode-se não gostar de Ayrton Senna, claro, afinal ele também tinha seus defeitos, e ninguém agrada a todos. Mas a força do mito está acima dos gostares: quando um arquétipo se manifesta fortemente através da vida de alguém, como o fez com Ayrton, o mito relacionado ao arquétipo é contado e recontado, e é impossível ficar alheio ao seu poder.

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01- Caro Ricardo, Recebi sua crônica através da Cinthya França, e fiquei extremamente emocionada com ela. Sua crônica em homenagem ao Ayrton é belíssima e profunda, sem dúvida uma das melhores e mais belas coisas escritas sobre o Ayrton e o seu significado. Gostaria aliás de consultá-lo sobre a possibilidade de publicá-la em nosso site, pois será um verdadeiro presente para os fãs do Ayrton, principalmente no ano em que estamos homenageando o Ayrton e resgatando os seus valores. Você nos daria sua autorização? Também gostaria que você nos enviasse o seu endereço de correspondência, pois pretendo enviar-lhe uma lembrança do Ayrton. Fico no aguardo de seu retorno. Saudações cordiais. Viviane Senna, Instituto Ayrton Senna, São Paulo-SP – abr2004

02- você foi lá na Fanor, deu uma palestra sobre mito, por sinal, só fui entender melhor quando li o texto da princesa e do Airton Senna, pois tinha a idéia de que mito era tipo uma explicação para aquilo que não sabia, do mesmo jeito que usamos a palavra coisa quando não achamos a palavra certa… Dá para entender? Um exemplo: ah… chove porque (ops…??!!!) os deuses estão chorando!! Mas depois que li, vi a jornada do herói, poxa vi o quanto a palestra foi boa e que perdi muita coisa, poderia ter deixado de ser besta e ter tirado essa dúvida na hora, mas fiquei com vergonha (tudo bem, aprendi a lição). Bom… quando terminei de ler, fiquei assim, chocada, maravilhada, então entrei no site e passei a ler outros e estou adorando!! Sua escrita, sua forma de escrever, muito bacana, me atrai muito, parece que está do meu lado contando, muito bacana isso!! Bom… ganhou uma fã. Quando vim para cá novamente, tenta sempre passar lá na Fanor, ou me avise, pode ser?? Obrigada!!! Kelly Cristina, Fortaleza-CE – jul2007

03- O herói e a princesa… simplesmente, lindo! Cinthya França Oliveira, Fortaleza-CE – ago2011

04- O lado sensível dos machos: adoooro! Márcia Matos, Fortaleza-CE – ago2011

05- Valeu, Kelmer. Ayrton Senna is alive! Francisco Fontenele Veras Neto, Lourinhã-Portugal – mai2012

06- Kelmer; ele é o “Arquétipo das pistas”! Gid Trigueiro, São Paulo-SP – abr2014

07- Lindo , que saudades eternas!!! Luciana Helena Miranda – mai2015

08- Amo! Maria Eliane Cândido de Almeida, Triunfo-PE – mai2015

09- Ídolo Saudades eterna. Gercino Silva, Jaraguá-SC – mai2015

10- Inesquecível, exemplo de dignidade!!! Lê Alessandra – mai2015

11- Simplesmente lindo.Ayrton para sempre em nossos coraçoes. Lucia Silva – mai2015

12- O Mito! Fantástico !! Reylle Fernandes, Manaus-AM – mai2015

13- Ele era tudo.nossa alegria nos domingos….saudades eternas. Norma Valladão – mai2015

14- para mim a Fórmula 1 morreu com Ayrton. Susana X Mota, Leiria-Portugal – mai2015

15- Emocionante parabens. Silvia Dos Santos, Caxias do Sul-RS – mai2015

16- Muito emocionante! Lindo. Rosana Mittanck, Itapema-SC – mai2015

17- Que lindo. Marcos Arraji Brasilians Brasil, São Paulo-SP – mai2015


A mensagem de Avatar ao Povo da Terra

28/01/2010

28jan2010

Temos de compreender o que os antigos já sabiam e nós esquecemos: a Terra é um ser vivo e nós fazemos parte dele

A MENSAGEM DE AVATAR AO POVO DA TERRA

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Muitos aplausos merece James Cameron por seu filme Avatar. Se o cinema já é uma experiência meio onírica, agora, com as técnicas de filmagem para a tecnologia 3D criadas pelo diretor, avançamos ainda mais dentro do sonho. Pena que, quando acaba o filme, estamos de volta ao nosso pesadelo terráqueo, do qual não conseguimos acordar.

A história de Avatar é simples: os humanos, interessados num valioso mineral existente na lua Pandora, invadem a terra de um povo humanoide, que se defende bravamente e conta com a ajuda fundamental de um humano que vira a casaca e passa a lutar ao seu lado. O roteiro não tem atrativos maiores e chega a ser previsível. Os personagens vestem os velhos modelões: tem o mocinho que se transforma ao longo da história, a mocinha que gosta dele, outro cara que gosta dela, o vilão malvado que morrerá no embate final…

Então, Avatar teria como único destaque os efeitos especiais, aperfeiçoados pela nova tecnologia 3D? Não. O filme tem o grande mérito de focar com competência na questão ecológica, e o faz em duas frentes: no visual exuberante do mundo de Pandora e na conexão mística de seu povo, os Na´vi, com a Natureza. Em Avatar, o 3D nos entretém e sempre rouba a cena, é verdade, mas a mensagem ecológica fica em nossa mente após o filme. E é isso que importa.

Toda a força do povo Na´vi vem do fato deles entenderem Pandora como um ser vivo que se comunica com tudo que nele vive, inclusive com os Na´vi, que não apenas o habitam mas são parte integrante desse ser. Eles vivem de forma harmoniosa com Pandora porque é assim que se sentem, unos com ela, e por isso sua relação com tudo que vive é de um respeito carregado de sacralidade, devoção e gratidão, como se fosse uma religião. Ops! Chegamos a uma das melhores coisas de Avatar: a religião dos Na´vi, se é que podemos chamar de religião, é a própria Natureza.

E aqui na Terra, fora da tela? Aqui, seguimos em nosso pesadelo real. O Homo sapiens, a única espécie sobrevivente da linhagem hominídea, vive um momento evolutivo decisivo: ou se entende já com a Natureza ou então procura outro lugar para morar. Putz, por que chegamos a esse ponto lamentável? A resposta estaria prontinha na boca de qualquer Na´vi: Porque vocês se separaram da Natureza. E não poderemos discordar. É justamente porque nos entendemos separados da Natureza que desrespeitamos as leis do planeta onde vivemos, e achamos que escaparemos impunes. Não escaparemos porque, sendo parte da Terra, ao destruí-la estamos também destruindo a nós mesmos.

Repensar a forma como nos percebemos em relação à Terra e a nós mesmos, é disso que precisamos, urgente. Temos de compreender o que os antigos já sabiam e nós esquecemos: a Terra é um ser vivo e nós fazemos parte dele. Se você pensou agora na teoria de Gaia, é isso mesmo. Segundo a teoria, a Terra é um superorganismo vivo, autoconsciente, dotado de inteligência própria, capaz de se autorregular e que, como tudo que vive, busca o equilíbrio interno. E nós, assim como tudo que vive na Terra, fazemos parte desse equilíbrio. Infelizmente, o Homo sapiens civilizado desprezou o que seus antepassados sabiam, e o preço disso pode ser seu próprio extermínio, como outras tantas de espécies que não souberam se adaptar ao equilíbrio geral do organismo maior.

Religiões gostam de cultuar deuses distantes, entidades inalcançáveis, tudo muito longe daqui. Talvez seja o momento de focar mais perto em nossa busca pelo Sagrado. Se existe algum tipo de religiosidade que pode nos salvar a todos, ela se resume ao amor pelo planeta e pela Humanidade. Uma religiosidade sem deuses, templos ou dogmas. Sem salvadores, pecados originais, guerras santas, e sem dízimo. Uma religiosidade cuja salvação virá de uma profunda mudança de percepção – ou não virá.

Ah, mas como cuidar de algo que não é de ninguém e no qual todo mundo mete a mão? De que adianta alguns terem essa noção sagrada da Terra se outros não têm e esses continuam a desrespeitá-la? Chegamos à conclusão inevitável, que é a mensagem mais importante de Avatar: só cessaremos o desequilíbrio do organismo geral se agirmos como organismo geral. Em outras palavras, é somente nos entendendo como um povo só, o Povo da Terra, que poderemos cuidar devidamente da Terra e de nós mesmos. Enquanto formos vários povos, vários países e várias religiões, não alcançaremos a visão do todo. Enquanto houver fronteiras, religiões e outras noções separatistas, não nascerá a unidade necessária para agirmos em conjunto. Somente quando surgir o Povo da Terra é que haverá salvação para o Homo sapiens.

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Ricardo Kelmer 2010  – blogdokelmer.com

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PALESTRA
Este texto é o resumo da palestra que fiz no Encontro de Cinema, um dos eventos integrantes do 17o Encontro da Nova Consciência, festival de caráter multicultural que acontece desde 1992, durante os dias de Carnaval, na cidade de Campina Grande, na Paraíba.

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AVATAR – TREILER

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FILMEAvatarCartaz-01AVATAR – FICHA TÉCNICA

Avatar
Diretor:
James Cameron
Elenco: Sam Worthington, Sigourney Weaver, Michelle Rodriguez, Zoe Saldana, Giovanni Ribisi, Joel Moore
Produção: James Cameron, Jon Landau
Roteiro: James Cameron
Fotografia:
Mauro Fiore
Trilha Sonora: James Horner
Duração:
150 min
Ano: 2009  –  País: EUA
Gênero: Ação  –  Distribuidora: Fox Film
Estúdio: Twentieth Century-Fox Film Corporation / Lightstorm Entertainment / Giant Studios
Classificação: 12 anos

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LEIA NESTE BLOG

A imagem do século 20 – Vimos nossa morada flutuando no espaço. Vimos um planeta inteiro, sem divisões. Não vimos este ou aquele país: vimos o todo

Minha noite com a Jurema – Nessa noite memorável, fui conduzido para dentro de mim mesmo pelo próprio espírito da planta, que me guiou, comunicou-se comigo, me assustou, me fez rir e ensinou coisas maravilhosas

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Uma bandeira diferente – As pessoas saudavam o nascimento do novo símbolo que emergia do fundo da alma de todos falando de paz e unicidade, de um mundo unido e sem divisões

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DICA DE LIVRO

LIVROOBuracoBrancoNoTempo-01O Buraco Branco no Tempo
Peter Russel – Editora Aquariana, 1992

As ideias deste livro inquietante vão além de muitas compreensões padronizadas que temos a respeito da vida. Elas nos levam a pensar sobre o tempo de uma forma diferente e nos fazem exercitar uma nova maneira de nos percebermos, como espécie, dentro do contexto da evolução e do Cosmos. O físico Peter Russel, numa linguagem acessível, mostra porque a atual crise da Humanidade é, na verdade, uma crise de percepção, e chama a atenção para o ritmo vertiginoso da atual evolução tecnológica. Podemos, neste momento, estar à beira de um decisivo salto de compreensão a respeito do tempo e de nós mesmos.

> Teoria de Gaia na Wikipedia

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Comentarios01COMENTÁRIOS
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01- adorei o artigo sobre Avatar. Voce pegou o ponto central da questao… e o pior é que esta é uma sindrome bem comum desde uma escala pequena (ruas e pracas) ate a escala global. Temos esta ideia que somos meros visitantes, com bilhete pago e direito a faxineiro para colocar tudo de volta como era quando a gente sair… ahh tolos mortais :- ) … Desenvolvemos inteligencias incriveis em tantos campos da vida, mas ficamos tao especializados que estamos cada vez menos sabios para entender o todo e como nos relacionamos com este todo! Roberta Lossio, Recife-PE – jan2010

02- Sintetizadissimo! Depois faço um comentário mais aprofundado. Massa demais. Gabriel Sousa, São Paulo-SP – jan2010

03- êêê…a menina de olhos puxados ressuscitou tua consciencia cósmica!!! Edgar Powrczuk, Porto Alegre-RS – jan2010

04- Gostei muitíssimo. Houve uma sinapse em mim, por volta de dezembro, que me faz viver hoje, justamente, o fim da era separatista e o renascimento pela Unidade… Vou repassar, viu? Amei. Um cheiro. Ana Karla Dubiela, Fortaleza-CE – jan2010

05- Você é simplesmente DEMAIS. Gosto de tudo o que vc escreve, me identifico com seu pensamento holistico de vida e espiritualidade.Te adoro! Beijos. Sandra Neves, Belo Horizonte-Mg – jan2010

06- NÃO TENHO O MENOR INTERESSE NESSA BABAQUICE NEW AGE E MUITO MENOS NAS IDIOTICES PRETENSAMENTE LITERÁRIAS E PRETENSAMENTE ERÓTICAS QUE VC ESCREVE. DESCULPE-ME, MAS VC É UMA FRAUDE! QQ SER HUMANO CAPAZ DE DIZER QUE AVATAR “FICARÁ MARCADO NA HISTÓRIA DAS ARTES” SÓ PODE SE UM DÉBIL MENTAL OU NÃO ENTENDER ABSOLUTAMENTE NADA DE CINEMA OU ARTE. Marcos K, São Paulo -SP – jan2010

07- Que liiindo!!! Não tinha vontade nenhuma de ver este filme, mas este seu artigo me convenceu. É deste Ricaredo que eu gosto, quando fala sério, do universal. Os dois últimos parágrafos estão divinos. Parabéns e muito sucesso nesta palestra do Encontro da Nova Consciência. Muito obrigada. Até que enfim uma luz no fim do túnel. Gilvanilde Oliveira Falcão, Fortaleza-CE – jan2010

08- Amei a cronica sobre a visao de Avatar. Vc ja me fez despertar duas visoes diferentes de filmes: Matriz e agora Avatar. eu amei e ja repliquei. Fabiano Brilhante, Fortaleza-CE – jan2010

09- Todo verdadeiro Xamã é profundamente RELIGIOSO no sentido original e etimológico do que significa ser religioso. Ele e a Natureza são um só. O Espírito Católico/Javético DESLIGA e o Espírito Xamã RELIGA. Hey xamã nordestino!!!!!, Me likes muitão tua ALMA. Tua PANDORA/HELENA/SHERAZADE/PROSTITUTA SAGRADA… Patrícia Lobo, Salvador-BA – jan2010

10- Ainda não assisti ao filme, mas depois dessa crônica, desse final de semana não passa! Mônica Burkleward, Recife-PE – jan2010

11- Caro amigo, é sempre um prazer compartilhar esta percepção de unicidade e de – SINTO-ME FELIZ EM USAR ESTA PALAVRA QUE HÁ TEMPOS EVITO – religiosidade. Sim Na’vi poderia ser nossa Gaia. Somos uno e estamos conectados com o planeta, não compreender isso é buscar o próprio fim. Também tenho feito algumas palestras sobre o tema, e vinculado a educação a distância nesse paradigma de integração. José Lins Jr., Juazeiro do Norte-CE – jan2010

12- O próprio filme, a tecnologia, o cinema como arte, são separações/criações de algo do humano que não estão na natureza. Nós não somos naturais, desde a metáfora da “saída do paraíso”. Não estamos como água na água, como os outros seres vivos, como dizia o George Bataille. E também Hegel: “o homem é a doença do animal”. Diante disso, a única saída é nos conscientizarmos do nosso alto poder destrutivo, inclusive contra nós mesmos e procurarmos soluções de controle e auto gestão pela força, que é a única coisa que é respeitada. Direito, justiça e leis, como coação, desde Kant. O problema é que o capitalismo se tornou maior que os Estados e a sua possível força. A coisa é muito complexa. Adianta o que cada um pode fazer e que, de certa forma, lentamente demais, mas simplesmente impossível de ter-se visto há poucos anos atrás, o discurso ecológico está aí, nem que os que não queiram, que vão utilizá-lo politicamente, não o queiram. O discurso ecológico é o velho silêncio da morte. Contra a morte, ninguém pode, e é isso que acontecerá com o planeta e com a raça humana. Diante da morte, própria, dos amados e odiados, o “povo da terra” vai ter que se unir. Se há alguma coisa ainda natural para o homem é a morte. Então, unam-se “o povo da morte”. Retornarão para a terra, “metafóricaliteralmente”….. Abraço, do amigo. Ronald Paula, Fortaleza-CE – jan2010

13- Adorei, querido! Vou reenviar para meus amigos!!!!! Liz Cristal, São Paulo-SP – jan2010

14- Adorei!!! Linda Mascarenhas, Fortaleza-CE – jan2010

15- Parabens Ricardo pelo seu blog. Maria Christina, Brasília-DF – jan2010

16- Bem, gostei bastante desta mensagem pois olha, assisti ontem a noite o filme Avatar… Muito lindo. Você tem toda razão, é tudo isso e mais um pouco. Realmente a mensagem ecológica fica na memória de quem assisti o filme, e para os mais sensíveis, fica ainda a consciência buscando algo a fazer em prol da natureza. Parabêns, esteja em Paz, sucesso em sua vida. Jaqueline Lima, Ariranha-SP – fev2010

Adorei, querido! Vou reenviar para meus amigos!!!!!Adorei, querido! Vou reenviar para meus amigos!!!!!

Mariana quer noivar

24/01/2010

24jan2010

Você abdicaria das relações amorosas em sua vida em troca de dinheiro ou sucesso na carreira?

MarianaQuerNoivar-04

MARIANA QUER NOIVAR
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Em 1991, quando eu morava em Manaus, conheci uma entidade da Umbanda que me causou forte impressão: a cabocla Mariana. Anos depois, escrevi um conto sobre ela, O Presente de Mariana, que está em meu livro Guia de Sobrevivência para o Fim dos Tempos, publicado originalmente em 1997. É um dos contos de que mais gosto.

A crença em Mariana adquire nuances diversas dependendo da região do país, mas a versão à qual fui apresentado conta que Mariana foi encantada aos dezessete anos e meio, tem a pele branquinha, olhos azuis e cabelo ruivo cor de telha, é bonita, graciosa e brincalhona, e dá conselhos gerais aos que a procuram ‒ mas sua especialidade, digamos assim, é noivar com os homens. Noivar com Mariana significa fazer um pacto com a entidade: ela ensina ao homem a ter sucesso nos negócios, mas, em troca, exige exclusividade em sua vida. Isso significa que o noivo jamais poderá ter qualquer outra mulher, pois Mariana simplesmente não permitirá.

Há vários aspectos interessantes envolvidos na crença. O tema faustiano da venda da alma, por exemplo, está imediatamente visível. É aquela velha história, bem conhecida de nós pobres mortais: que preço estamos dispostos a pagar pelo que desejamos conquistar? Você abdicaria das relações amorosas em sua vida em troca de dinheiro ou sucesso na carreira? Num mundo onde o que importa é ser alguém, mas que seja alguém rico e famoso, muitas pessoas vendem suas almas nesse sentido, priorizando os negócios e a carreira em detrimento de suas relações amorosas, o que as leva a errar por um sem-fim de relacionamentos insatisfatórios. Vencedor nos negócios, infeliz no amor.

Fazendo uso agora da psicologia arquetípica, vemos em Mariana uma versão curiosa do arquétipo da menina-mulher, aquela que, com sua irresistível mistura de inocência, encanto e malícia, nos seduz e nos arrasta pelos redemoinhos das loucas paixões inconsequentes. Seduzido por Mariana, o noivo é guiado por um tipo de sabedoria de ordem racional e prática, e tem sua energia criativa direcionada para o sucesso profissional com tal intensidade que, de fato, ele o consegue, ou seja, Mariana cumpriu sua parte. O pacto funcionou.

Porém, se por um lado Mariana tem essa sabedoria para ofertar, por outro lado ela é uma adolescente geniosa, ciumenta e possessiva. O noivo de Mariana não escapará de seus caprichos. Focado no reino dos negócios, ele adquire a sabedoria racional necessária para se realizar profissionalmente, sim, mas no reino dos relacionamentos ele possui a idade de sua noiva, dezessete anos e meio, uma espécie de limbo evolutivo, um nem lá nem cá da maturidade psicológica em que a ingenuidade, a possessividade e os caprichos infantis não dão espaço a uma relação adulta e sadia. Preso num estágio infantilizado dos sentimentos, o noivo de Mariana inconscientemente boicota seus relacionamentos amorosos com a sua visão ingênua das relações, sua insegurança e seus joguinhos de controle e poder, e ao fim sempre põe tudo a perder. Ele sofre com isso, mas não consegue escapar desse padrão de comportamento, pois jurou ser fiel à sua noiva.

Mariana seria, assim, um complexo autônomo que se instala na psique masculina e desenvolve intensamente a função racional (pensamento), levando o ego a direcionar a atenção aos negócios e conduzindo o indivíduo ao sucesso profissional, ao mesmo tempo que mantém subdesenvolvida a função oposta (sentimento). O noivado com Mariana é, então, um pacto interno e inconsciente que o indivíduo faz consigo mesmo em nome da realização profissional, mas que provoca um perigoso desequilíbrio psíquico. O noivo de Mariana é um indivíduo racionalmente desenvolvido, capacitado para o mundo dos negócios, mas sentimentalmente imaturo. Dê uma olhada nos homens financeiramente muito bem-sucedidos e certamente encontrará entre eles alguns noivos da caprichosa entidade.

E as mulheres? No contexto ritualístico da Umbanda, pelo menos até onde sei, a cabocla Mariana não noiva com mulheres. Entretanto, o fato dela possuir tais habilidades para os negócios, um dom mais ligado ao princípio yang, sugere que ela também possui em sua constituição algum componente masculino. Isso significa que ela é um complexo psíquico dual, dotado de elementos femininos e masculinos, yin e yang. Assim sendo, a mesma dinâmica do processo também ocorre na psique feminina, ainda mais nos tempos atuais em que a mulher já está bem inserida no ardiloso mundo dos negócios. Talvez haja alguma diferença, mas, a rigor, mulheres também assimilam a mesma sabedoria racional encontrada em Mariana para ganhar dinheiro, ao mesmo tempo que também incorporam sua ingenuidade infantil nos relacionamentos, inviabilizando a todos, um atrás do outro.

Mas deixemos de teorizações, vamos ao conto. Espero que você goste e, se quiser comentar, fique à vontade. Com você, a encantadora Mariana…

 

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Ricardo Kelmer 2010 – blogdokelmer.com

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A cabocla Mariana, entidade da Umbanda, propõe noivado ao moço Dedé. Noivar com ela significa conseguir estabilidade financeira, mas em troca ela exige fidelidade absoluta

Conto: O presente de Mariana

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LEIA NESTE BLOG

ilha03aA ilha – Uma fábula sobre o autoconhecimento

Livros: He, She, We – Os rios de nossas vidas correm, na verdade, por leitos muito, muito antigos – os mesmos leitos que outras águas, ou outras pessoas, também percorreram

Mulheres na jornada do herói – As mulheres sempre foram, mais que os homens, historicamente reprimidas na busca pela essência mais legítima de suas vidas

Carma de mãe para filha – Os filhos sempre pagam caro pelos pais que não se realizam em suas vidas

Vade retro Satanás – O Mal pode ter mudado de nome e de estratégias. Mas sua morada ainda é a mesma, o nosso próprio interior

Blade Runner – Deuses, humanos e androides na berlinda – Como todo ser, o criador busca sempre transcender a sua própria condição e é criando que ele faz isso

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DICA DE LIVRO

MatrixEODespertarDoHeroiCapaEdicaoDoAutor-01Matrix e o Despertar do Herói
A jornada mítica de autorrealização em Matrix e em nossas vidas

Usando a mitologia e a psicologia do inconsciente numa linguagem descontraída, Kelmer nos revela a estrutura mitológica do enredo do filme Matrix, mostrando-o como uma reedição moderna do antigo mito da jornada do herói, e o compara ao processo individual de autorrealização, do qual fazem parte as crises do despertar, o autoconhecer-se, os conflitos internos, as autossabotagens, a experiência do amor, a morte e o renascer.

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01- Muito bom! – Marcos André Borges, Fortaleza-CE – 2010

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Medo de mulher

16/01/2010

16jan2010

Como não temer algo que tem o poder de gerar e nutrir a vida? E, caramba, como não temer um bicho que sangra durante dias e não morre?

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MEDO DE MULHER

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Homens que agridem mulheres… Homens que atacam prostitutas, saem na rua atirando em travestis… O que leva um homem a tais selvagerias? Diversos fatores podem estar envolvidos. Mas há um fator mais profundo que todos, mais antigo… É o medo da mulher.

Instintivamente, todo homem teme a mulher. É claro que a maioria dos homens, se perguntado, certamente negará, ou levando a coisa para o lado da piada jocosa ou se irritando com o que ele pensa ser um questionamento de sua masculinidade, oh, a sagrada masculinidade. Calma, meu amigo macho. Esse medo nada tem a ver com homossexualidade. Trata-se do velho temor do feminino, um sentimento arquetípico, que sempre esteve em nossa psique, tão natural quanto o desejo sexual que sentimos pela mulher.

Esse temor existe, sim, e se não o reconhecemos, o danado nos acompanha vida afora, se refletindo em nossa relação com as mulheres. Pior que isso: o medo do feminino faz surgir religiões e sociedades machistas, que reprimem violentamente as mulheres, negando-lhes direitos básicos, tornando-as propriedade dos homens e até mesmo queimando-as em fogueiras. Mas… por que esse temor?

A mulher é um imenso mistério, que o homem jamais alcançará. É o mistério sagrado da própria vida. É através do corpo feminino que a vida se concretiza no plano físico. A mulher é a Natureza humanamente representada em suas curvas, saliências e reentrâncias: ela é o rio sinuoso que hipnotiza o olhar, montes que se elevam graciosos da superfície, cavernas escuras que guardam segredos… É feita de ciclos a mulher, renovando-se a cada lua para em seguida oferecer-se novamente fértil e receptiva. Como não temer algo que tem o poder de gerar e nutrir a vida? E, caramba, como não temer um bicho que sangra durante dias e não morre?

É bem antigo o medo da mulher. Milhões de anos atrás, percebemos que viemos todos de dentro dela – e até hoje isso nos maravilha e assusta. Percebemos também que ela se comporta como a Natureza em suas estações, alternando ciclos, e isso nos fez entender que o masculino é Sol enquanto o feminino é Lua. Se aquele é o mesmo todos os dias, esta não cansa nunca de se experimentar em sua natureza mutante. Se elas são naturalmente iniciadas pela vida, eles não, eles precisam inventar iniciações.

Ao menstruar, a mulher está a repetir, mesmo sem consciência disso, seu íntimo ritual sagrado de fertilidade. Isso tem o poder de conectá-la com a sabedoria instintiva de seu corpo e com os ciclos naturais do planeta. O sangue é o fluxo da vida, que vem da caverna escura, lá onde se guarda o feminino misterioso e profundo. E são poucos, bem poucos, os homens que têm coragem de ir lá. Fisicamente eles vão, sim, mas apenas tocam o feminino, nunca dançam com seu mistério. Homens fazem guerra porque a guerra vem do Sol. Mas poucos, bem poucos, são homens o suficiente para fazer amor com a Lua.

E, no entanto… a Lua sempre esteve dentro deles!, desde o momento em que os princípios masculino e feminino se uniram para gerá-los. São homens simplesmente porque neles a porção masculina é a dominante, e é isso que os faz mais agressividade e razão e menos suavidade e sentimento – mas se não houvesse também em sua alma a porção feminina, seriam uma inconcebível aberração psicológica. Ao negar o feminino em si, esses pobres homens negam também, sem perceber, sua própria totalidade, e assim buscarão inutilmente mil coisas pela vida, sem que nada os possa completar, e morrerão frustrados, sem sequer entender o que lhes faltou. E o que lhes faltou foi sua própria alma inteira.

Homens agridem mulheres porque elas são o próprio princípio feminino encarnado diante de seus olhos fascinados e temerosos. Sua presença os faz lembrar, inconscientemente, do que eles temem admitir. Sim, temer o feminino é normal, é humano. Mas negá-lo, não. O homem que nega o feminino, meu amigo macho, declara guerra contra si próprio. Bem melhor, mas muuuito melhor, é fazer amor com o feminino.
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Ricardo Kelmer 2007 – blogdokelmer.com

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Este e outros textos
integram o livro Vocês Terráqueas – Seduções e perdições do feminino

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MEDO DE MULHER
Esta crônica foi lida pelo autor no encerramento do 21o Encontro da Nova Consciência (Campina Grande-PB, fev2012) e dedicada às mulheres violentadas e mortas em Queimadas-PB (12.02.12)

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MAIS SOBRE LIBERDADE E O FEMININO SELVAGEM

EmBuscaDaMulherSelvagem-02base1aA mulher selvagem – Ela anda enjaulada, é verdade. Mas continua viva na alma das mulheres

A mulher livre e eu – A liberdade dessa mulher reluz no seu jeito de ser o que é – e ela é o que todas as outras dizem ou buscam ser, mas só dizem e buscam, enquanto ela tranquilamente… é

Em busca da mulher selvagem – Era por ela que eu sempre me apaixonava, essa mulher que era quem ela mesma desejava ser e não a mulher que a família, religião e sociedade impunham que ela fosse

Amor em liberdade – O que você ama no outro? A pessoa em si? Ou o fato dela ser sua propriedade? E como pode saber que ela é só sua?

As fogueiras de Beltane – As fogueiras estão acesas, a filha da Deusa está pronta. O casamento sagrado vai começar

Alma una – Eu faço amor com a Terra / Sou a amante eterna / Do fogo, da água e do ar / Sou irmã de tudo que vive / Ninfa que brinca com a vida / Alma una com tudo que há

Quem tem medo do desejo feminino? (1) – A maternidade, a castidade e a mansidão de Nossa Senhora como bom exemplo, e a força, a independência e a liberdade sexual da puta como exemplo contrário, a ser jamais seguido

Marchando com as vadias – Se ser vadia é ser livre para exercer a própria sexualidade, então todas as mulheres precisam urgentemente assumir sua vadiagem, para o seu próprio bem e o de suas filhas

LIVROS

LivroMulheresQueCorremComOsLobos-01Mulheres que correm com os lobos – Mitos e histórias do arquétipo da mulher selvagem (Clarissa Pinkola Estés –  Editora Rocco, 1994)

A prostituta sagrada – A face eterna do feminino (Nancy Qualls-Corbert – Editora Paulus, 1990)

As brumas de Avalon (Marion Zimmer Bradley – Editora Imago, 1979)

Mulheres na jornada do herói (Beatriz Del Picchia e Cristina Balieiro – Editora Ágora, 2010)

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Comentarios01COMENTÁRIOS
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01- achei muito linda! Andrea Boni, Brasília-DF – jul2007

02- Ai, Rica… o cerrado te deu muita inspiracao hein? Discutir o principio feminino… se saiu bem na escolha do tema. Vai atrair o maior publico, de mulheres, todas querendo ser desvendadas pelas palavras do escritor. Vai dar pano pra muita manga histerica 😉 Beijo. Fabiana Vasconcelos, Boston-EUA – ago2007

03- Belíssimo texto. Como só vc sabe escrever. Ah, agora que vc parou pra respirar, quero ver as nossas fotinhas!!!!!! Beijos e saudades. Patrícia Meireles, Fortaleza-CE – ago2007

04- bacana rick… André Monteiro, Campinas-SP – ago2007

05 – Adorei o texto. Inspiradíssimo Ricardo. Poucos são os homens que conseguem esta sintonia vibratória conosco, por nos conhecer tão bem. Bom saber que existem! Um bj grande. Helga Lima, Rio de Janeiro-RJ – ago2007

06- Rapá, por causa das chatices e duns quilinhos a mais (dela e… meus tb!), eu já tava aqui na peinha de nada pra plantar a mãozada na muié — q me prometeu ser sempre linda, com aquele corpinho enxuto, como era qdo eu a conheci — qdo chegou esse seu email e me livrou de tirar umas férias vendo o sol nascer quadrado… Isso é q é amigo, viu! Wander Frota, Fortaleza-CE – ago2007

07- Kelmerrr! Amei seu texto! E puxa vida…tava com saudades de ler suas crônicas. Marisa Vieira, Rio de Janeiro-RJ – ago2007

08- Ainda mais quando essa mulher é cearense! Aí o homem tem é que correr de medo! Bjs. Gatalôca, Rio de Janeiro-RJ – ago2007

09- Lindo, como sempre. O texto, e você, claro! Fabiana Polotto Figueira, São José do Rio Preto-SP – ago2007

10- Parabéns pelo blog, pelo belo texto e também pela sua intensidade! Gosto do jeito que vc fala do feminino… ajuda-me a fazer as pazes com a minha própria feminilidade e também com os princípios do Sol. Quando eu te dei aquele Sol e fiquei com uma Lua, eu não pensei -ao menos conscientemente- na união entre o masculino e o feminino…rsrs. Kátia, João Pessoa-PB – ago2007

11- Ricardo. Achei maravilhoso este texto que você escreveu e me tocou profundamente. Beatris Rocha, Campinas-SP – ago2007

12- A sua cronica mais linda ate hj…. Christina Alecrim, Rio de Janeiro-RJ – ago2007

13- Rapá, por causa das chatices e duns quilinhos a mais (dela e… meus tb!), eu já tava aqui na peinha de nada pra plantar a mãozada na muié — q me prometeu ser sempre linda, com aquele corpinho enxuto, como era qdo eu a conheci — qdo chegou esse seu email e me livrou de tirar umas férias vendo o sol nascer quadrado… Isso é q é amigo, viu! Desleixo é falta de amor, é o contrário ou são os dois na mesma medida, pergunto eu? Vale! Wander Nunes Frota, Fortaleza-CE – ago2007

14- tambem tenho tenho medo!! e tu?? ainda lembro quando rosalia berrava, cesarinhooooooooo pra dentro!!!cara, corria p não apanhar!! (risos) concordo com a cronica!! +, e se no àpice do sexoroller (sexo no skate) mui bom, camarada!!! ela, olha na tua cara e ordena, bate porra!! quero gozar apanhando, +, bate devagar, que fazes??? hem, hem??? (risos) César de Cesário, Campina Grande-PB – ago2007

15- Olá Ricardo…tudo em Paz? Li e amei esta cronica…afinal como não temer o que nunca se tentou aprender? Como não fugir daquilo que nunca se transparece por inteiro…que nunca se desnuda do sabor de se ver tão diferente? Parabens e bom te ler novamente…um abraço carinhoso!!!! Sandra Abou Dehn, Cuiabá -MT – ago2007

16- Olá Ricardo. tudo bem? Parabéns, adorei sua crônica, muito inteligente e profunda. Todos nos temos nosso lado feminino hibernado. Poucos são aqueles que vivem em paz. Com sua permissão vou passar essa crônica para meus amigos interautas. Obrigado pela lembrança. Abs. Liano Silva Veríssimo, Fortaleza-CE – ago2007

17- QUER CASAR COMIGO??? Isso é tudo que tenho a dizer sobre sua crônica, linda de morrer… melhor, linda de viver. Vc já leu Cartas do caminho sagrado, que fala do xamanismo e da “carta da lua” (a “função” da menstruação no “eu” da mulher)? Outro livro que eu achei interessante, cujo autor é um homem que pensa como nós, é “A corrida do membro”. Saiu no Jô, mas não lembro o nome do jornalista. Ainda não li mas deve ser interessante. Sempre me disseram que todos os homens que amei (e amo) só falta um chip para gay. Não sou chegada a aberrações psicológicas que me jogariam na parede e chamariam (se tivessem chance) de lagartixa! Tô fora! Beijim daquela que está se viciando nas suas crônicas. No meu próximo curso sobre crônica, onde quer que seja, vou apresentar à turma um autor que desmente categoriacamente essa história dos estudiosos de literatura que dizem que a crônica morreu: Ricardo Kelmer é o nome dele. Ana Karla Dubiela, Fortaleza-CE – ago2007

18- Dear Ricardo, Fico a imaginar como consegues escrever com tanta clareza sobre um assunto tao dificil pra muitos que e’ essa relacao de homem e mulher. Quase todos os meus clientes estao completamente perdidos , e’ um trabalho arduo mostrar-lhes alguma outra visao das coisas vividas por eles. Adorei o seu texto , sou sua tiete e por isso suspeita mas acredito ser Super!!! Raquel Araújo, Los Angeles-EUA – ago2007

19- Posso incluir este artigo no meu blog? http://poderosamentemulher.blogspot.com. Izilda, Salvador-BA – ago2007

20- depende kelmer , kkkkkkkkkkkkk. Alyson Amâncio, Fortaleza-CE – ago2007

21- Esse texto tá bom demais,Ricardo.Adorei! Mônica Burkle Ward, Recife-PE – ago2007

22- É as vezes tm homens que sõa muito machões mais na hora que tem que ser homem mesmo não é digo iso num termo geral. E os homens principalmente falam que nós mulheres somos frageis e é ao contrario, vcs homens que são frageis por ex: vcs não tão a luz e gera uma criança durante nove meses ae nos mulheres temos essa benção e a graça divina. Bom quero ler mais coisas que vc escreve e se quizer mandar pra mim eu leu pode ter certeza ah!! fiz um blog para colocar as minhas histórias se quizer dar uma lida e uma opinião é sempre bom saber mais. Olha o endereço do meu blog: http//amandareisgomes .arteblog.com.br. Amanda Reis, Osório-RS – ago2007

23- Oi, Ricardo… Crônica pouco poética. São Paulo, às vezes, nem é Sol nem Lua… é assim, digamos… quase sempre nublada. Será que percebes a influência na (ou falta) de poesia? Que tal escrever uma crônica biológica para “eles” informando a partir da fecundação até aquele momento em que por definição génetica os órgãos sexuais determinantes se desenvolvem e se atrofiam simultaneamente… mas, com poesia. Beijos. Marly Rodrigues, São Paulo-SP – ago2007

24- Olá Ricardo! Recebi seu e-mail com a sua crânica sobre o Medo que os homens têm das mulheres, e achei uma obra de arte, achei que você falou tudo sem fiucar cansativo e monótono… na minha humilde opinião de leitora hehe! Além de ser um assunto que me chama muita atenção, essa coisa toda do machismo que perdura até hoje em uma sociedade tão moderna como é a que vivemos, fico boquiaberta com esse tipo de coisa que ainda acontece no mundo! Não há como entender!! Eu li, e adorei seu texto, achei que não podia deixar passar em branco no meu e-mail, não resisti em responder, embora não à altura do seu texto! Achei magnífica a forma como vc trata o corpo da mulher em constante ligação com a natureza (o que não deixa de ser verdade em nada), ficou sensacional! Vc escreve por hobby ou por profissão mesmo? No mais, seguem meus singelos elogios… achei que você tem um grande futuro (se é que já não o tem)! Caso haja mais alguma coisa que tenha em mãos, mande-me, é sempre bom ler esse tipo de coisa e saber que a situação também incomoda a outrs pessoas!Abraços! Pamela Bathory, Juiz de Fora-MG – set2007

25- adorei a crônica, vc sempre escreve o que gosto de ler sou sua fa bj. Lu Resende, Fortaleza-CE – set2007

26- MOCINHO COMO VC ESCREVE GOSTOSO!!! LIVRE, LEVE E SOLTO RSRS ADOREI. E VOU REPASSAR… UM OTIMO FIM DE SEMANA BEIJO Junia Drummond, Brasília-DF – set2007

27- caraaaaaaaaa !!!!!!!!!!!!!!!!! eu não me engano. Apasar de ter conversado muito pouco com vc tive a carteza de q vc é um cara muito sensível . e esse texto so vema confirmar . beijos. Júnia Turturro, Brasília-DF – set2007

28- Crônica interessante… Vc gosta muito de falar sobre as mulheres, não? Um abraço. Fernanda da Silva Xavier, Rio de Janeiro-RJ – set2007

29- amei, obrigada ….. bjs. Marysol Rosso, Cocal do Sul-SC – set2007

30- Parabéns menino! Só quem tem sua porção feminina bem resolvida pode ser o super homem que tão bem cantou Gil. Abraço carinho procê! Regina Coeli Carvalho, Rio de Janeiro-RJ – set2007

31- Tá bom vou começar. Recém cheguei da ópera Carmem de Bizet, apresentada ao ar livre pelo bobão do Silvio Barbato… o espetáculo foi lindo, os comentários dele, absolutamente desnecessários. Mas, não é isso para agora. Uma sugestão: que tal o título ser: Medo do Homem: Mulheres. Pq o medo? o medo é o pai de todas as dores e essencialmente nasce da necessidade de proteção diante da ameaça da morte…O nascimento é, se não o primeiro, um dos mais importantes eventos ameaçadores à vida, visto q apresenta de cara o desconhecido. Ao nascer, homens e mulheres CAEM no desconhecido absoluto… entretanto, a mulher traz consigo o potencial de parir, de continuar o ciclo… o homem nasce com o vazio do sentido da existência. Será? Este medo é primitivo, e inerente ao ser humano, mas segue se desenvolvendo no macho, será? este ódio, este repúdio, esta resistência de entrega do macho – confiar… não sei, tudo isso está me ocorrendo agora… vou sentir mais um pouco depois escrevo mais. Obrigada pela oportunidade. Não houve ritual da Lua. Eu me empaturrei de macarrão e dormi. Um beijo. Suely Andrade, Brasília-DF – set2007

32- Kra, muito legal essa crônica!!! Axu muita coisa legal na mitologia pagã tb. Daniel Gargas, Fortaleza-CE – set2007

33- muito bom! pena q apenas uma parcela mínima de homens se toca disso… Luciana, São José dos Campos-SP – set2007

34- Linda, sábia e profunda sua crônica Medo de Mulher. Parabéns por mais esta pérola! Gilvanilde Oliveira Falcão, Fortaleza-CE – set2007

35- Muito bacana, primo. Parabéns ! Beijos. Virgínia Galvão, Brasília-DF – set2007

36- Olá Kelmer, Muito interessante o seu texto. A Mãe Natureza é grandiosa, mas também esconde muito tesouros. Acho que a mulher tem um pouco disso, claro, dessa coisa incomensurável que nos faz tremer nas bases. E talvez Freud quisesse também dizer que o Complexo de Édipo é, para o menino, a grande ameaça que ele precisa passar para descobrir que sua mãe é uma caverna oculta aos seus propósitos libidinais. O primeiro obstáculo que vai precisar remover sem nunca conseguir transpor o mistério, talvez por isto, como você mesmo escreve, surja o medo. É realmente surpreendente. Um grande abraço e parabéns pelo texto. Felipe Moreno, São Paulo-SP – set2007

37- Graaaaaaaaaaaaaande verdade!!! Disse tudo meu Guru!!! Marcos André Borges, Fortaleza-CE – set2007

38- Oi bom dia !!! adorei essa crônica sua, linda !! adorei o uso dos conceitos do sol e da lua , do sagrado feminino, da fertilidade !! lindo!! por isso que eu sou sua fã!! Se puder me mandar de novo mulher selvagem(que eu adoro) e estou louca pra mandar pras minhas amigas eu agradeço!! Como sempre vc é como o vinho: a cada dia que passa fica melhor !!! beijos. Josylene, São Paulo-SP – set2007

39- Oi Ricardo..obrigada por agraciarnos com estas pérolas…adorei a palestra e mais ainda, adorei saber que ainda existem homens assim…deste jeitinho…da forma que deve ser…vc percorreu o caminho p/ o feminino que existe dentro de todos os homens… Li ” Para GAIA com Amor” …adorei tb…vc pensa muito parecido comigo…só que não consigo traduzir em “letrinhas”…meus sentimentos…Bjs e até a próxima!!!!! Mônica Rivera, Brasília-DF – set2007

40- OI, Kelmer! Muito legal a cronica sobre Medo de mulher! Adorei! Fabrícia Viana, Fortaleza-CE – set2007

41- Muito bom Morga, já estou copiando e mandando pra alguém especial. Ainda n tinha lido nada de Ricardo Kelmer, fiquei encantada… Angélica Belchote Trocoli, Salvador-BA – Comun. Orkut Mulheres Repensando Conceitos – set2007

42- lindo! vai de encontro a tudo que acredito sobre a natureza da mulher. Devíamos enviar este artigo para todos os homens que conhecemos. Obrigada pela oportunidade de tomar conhecimento deste autor.Cadê o endereço do blog dele?beijo. Kátia G, Belo Horizonte-MG – Comun. Orkut Mulheres Repensando Conceitos – set2007

43- Lindo! Cris, Florianópolis-SC – Comun. Orkut Mulheres Repensando Conceitos – set2007

44- o cara é simplesmente demais cada vez que o lei ele me surpreende e anima… lindo demais Ricardo Kelmer ! Parabéns! Andréa Magnoni, São Paulo-SP – Comun. Orkut Mulheres Repensando Conceitos – set2007

45- Adorei a cronica Ricardo!!! eh a pura verdade! beijao. Carmen Rangel, Barcelona-Espanha – set2007

46- Se as mulheres ainda se sentem oprimidas e agredidas, depois de tudo o que conquistaram, é porque elas permitem, mtas vezes até escolhem. Pois, perante todos estes problemas mtas ainda insistem em igualar-se aos machos, fazendo o que eles fazem, falando como eles falam, vestindo-se como eles se vestem, brigando como eles brigam. São verdadeiros homens debaixo de belas roupas, maquiagem e salto alto. E se há sensibilidade é puramente interesseira e vítima. Giovana Milozo, São Carlos-SP – set2007

47- Você é muito talentoso e escreve muito bem. Considere isso mesmo um elogio, porque eu já li à beça e tenho faro pra essas coisas. abraço forte. Deco, Rio de Janeiro-RJ – set2007

48- Já divulguei para minha lista de amigos. abraços. Regina Coeli, Rio de Janeiro-RJ – set2007

49- Kélmer, gostei muito desse texto, parabéns!! Só você consegue nos fazer pensar em assuntos importantes de maneira irônica e divertida. Sheryda Lopes, Fortaleza-CE – set2007

50- Obrigada pelo texto com interessantes reflexões!!! Parabéns!!! Aproveito a oportunidade e compartilho com você a indicação de um livro que acabei de ler. Chama-se “A Ciranda das Mulheres Sábias”. Dê-se a oportunidade de ler este livro. É da Clarissa, mesma autora do livro “Mulheres que Correm com os Lobos”. Abraço. Iolanda Santos, Fortaleza-CE – set2007

51- Lendo seu texto, lembrei-me menininho, escondendo-me quando a prima bonitinha entrava lá em casa. Como um bichinho que se esconde do predador na mata, mas fica observando-o da penumbra, envolto naquele sentimento novo, inexplicável naquele primeiro momento, de medo e fascínio. Enquanto não aprendermos a conviver com esse sentimento, o que você tão bem descreve e ensina, estaremos sempre no meio termo entre algoz e vítima, julgando-as santas ou profanas, causadoras de nossa tragédia ou fortuna, nossa salvação ou desgraça. Por isso quando eu nasci, veio um anjo e disse: – Vai, Paulo, vai ser voyeur na vida… Paulo Marcelo, Brasília-DF – set2007

52- Ricardo, como é bom sentir vc se superar cada vez mais!Esta crônica nos anima e acalenta em um mundo tão desconectado com nossos princípios naturais. Muitos beijus das “Rosas do Cariri” para nosso cearense querido. Lisiene Bezerra, Juazeiro do Norte-CE – out2007

53- já tinha gostado do livro que me enviaste, o “Blues da vida crônica”, mas esse texto gosto de reler, principalmente nos tais meandros cíclicos em que até nós mesmas tememos o dito “feminino”, rs. Um abraço! Jamile Mileipe, Recife-PE – dez2007

54- Gostaria de lhe parabenizar pela grandiozidade dos textos que compõe o leu livro “Vocês Terráqueas”. Mas, em particular, gostaria de lhe parabenizar pela crônica “Medo de Mulher”. Poucos homens seriam tão capazes de reconhecer esse medo de forma tão explícita. Menos ainda seriam capazes de assumi-lo publicamente editando em um livro. Isso mostra, no mínimo, a segurança que você tem quanto a sua masculinidade, não tendo medo de expor o que pra muitos seria um “fraqueza”. Mostra também a cumplicidade que você tem com nós mulheres, nos orientando e esclarecendo os motivos pelos quais muitos homem não desceram da árvore. Talvez os “ETs” tenham maior domínio desse medo e por isso as mulheres brasileiras se deixam abduzir. Parabéns: pelo grande escritor, pelo grande homem e pela grande pessoa que você é. Maria do Carmo, São Paulo-SP – ago2010

55- lindo,lindo lindo…vc diz o que eu gostaria de ter dito. KELMER querido, em sua homenagem vou soltar a minha loba…rsrs mudar minha fotinha… Maria Sá Xavier, Niterói-RJ – fev2011

56- Puta merda!!!! Tão seguro da sua masculinidade foi muito profundo. Rsrsrsrsr… Rsrsrsrsrsrsr… Rsrsrsrsrs… Essa eu vou contar na próxima rodada de pôquer. Rsrsrsrsr…. Mardonio Veras, São Luís-MA – fev2011

57- Ah, vai, Mardonio, ele sabe das qualidades dele, não precisa de incentivo. Mas como lider da ALK – Associação das Leitorinhas Kelméricas, faço qualquer coisa pra ele continuar enchendo nossos olhos com suas hitórias deliciosas. Kel, bota a imaginação pra funcionar! Maria do Carmo, São Paulo-SP – ago2010

58- Lindo texto, Kelmer… Lílian Rocha, Fortaleza-CE – fev2012

59- Que texto lindo, Ricardo Kelmer! Sempre percebi esse medo dos homens em relação às mulheres. Alguns mais, outros menos. Um homem que tem medo de mulher, nunca vai amá-la plenamente, porque não se entrega, não confia, não relaxa. Amor e medo são antagônicos.Que bom que vc tocou nesse assunto, pois é a causa de muita desgraça entre homens e mulheres! Vanessa Martins de Souza, Curitiba-PR – fev2012

60- veja o exemplo na idade media, depois joana dárc… as mulheres q faziam parto, sabiam o segredo das ervas… e estoria eh lon ga… sempre o medo da caverna escura dos ancestrais… a mulhr eh yin eh ternura e força… nao devemos querer parecer homem. Dhara Bastos, Fortaleza-CE – fev2012

61- achei tão fantástico, que joguei lá no V&P, prá modo daqueles brucutos ignaros aprenderem alguma coisa… – rsrsrsrsrsrs. Eduardo Ramos, Rio de Janeiro-RJ – fev2012

62- Maravilha! Não lembro de ter lido algo tão profundo sobre nossas ‘diferenças’ (prosapoética da melhor qualidade!); grata por compartilhar, e vamos compartilhar! : ) Mônica Mello, São Paulo-SP – fev2012

63- eu li. É TDO DE BOM. Renata Regina, São Paulo-SP – fev2012

64- Parabéns pelo texto e pela sensibilidade. Mob Cranb, Campina Grande-PB – fev2012

65- Rios sinuosos que hipnotizam o olhar… Se todos fossem iguais a você,q maravilha seria. Izabel Castro, São Paulo-SP – dez2013

66- Risos…até eu tenho medo de mulher, mulher é muito perigosa, se não te pega acordado, te pega dormindo. Mas lhe vinga! Por isso, bato em homem, espanco até…mas não relo o dedo numa mulher. Regina Zamora, São Paulo-SP – dez2013

67- (…) a mulher é a natureza humanamente representada em suas curvas, saliências e reentrâncias (…) aaaaadorei Kelmer brilhante como sempre. Cynthia Martins, Fortaleza-CE – dez2013

68- Como diz um ditado antigo “Falou e disse ” ou seja falou tuuuuuuuuuuudo. Marcos Felix, Ceilândia-DF – dez2013

69- Belíssimo, Ricardão. Sergio Nogueira, Fortaleza-CE – dez2013

70- “Se elas são naturalmente iniciadas pela vida, eles não, eles precisam inventar iniciações.” Absolutamente genial!!! Meu amigo Ricardo Kelmer, apesar de eu ter ido a esse ENC, não ouvi o texto lá. Estou lendo pela primeira vez e não encontro palavras para comentá-lo. Talvez o melhor texto seu que eu já li, e com certeza está dentre os melhores sobre esse tema. Minhas reverências, meu querido! Rógeres Bessoni, Recife-PE – dez2013

71- Estupro é a prova de não saber nada sobre conquistas é uma condição de reprovar a si mesmo na condição de ser comunicável é retirar a capacidade de inteligência nas entrelinhas! Resumindo: __ FALTA DE COMPREENSÃO !!!!!!!! Hyara Ougez, São Paulo-SP – dez2013

72- Lindo texto Ricardo! O mais triste é ver mulheres negando também a sua ligação com a natureza, sentindo nojo e vergonha de seus corpos e dos seus ciclos, e colaborando para que uma visão sexista seja mantida. O machismo não tolhe apenas as mulheres, mas também os homens que passam a ter que se mutilar emocionalmente e espiritualmente para se encaixar em uma visão limitada do masculino. O masculino e o feminino são lindos, cada um da sua forma. Marina LF, Porto Alegre-RS – dez2013

73- Bravo! Reflexão consistente, sincera, densa, verdadeira, profunda, ampla, EM SINTONIA COM A REALIDADE NACIONAL. PARABÉNS!! ASSINO EMBAIXO. EM COMUNHÃO. Luca Vianni, Fortaleza-CE – dez2013

74- Gratidão Ricardo!! Sou fã de teus escritos, sabes. Clordana Aquino, Campina Grande-PB – abr2014

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Toc, toc, toc… Acorde, Neo

13/12/2009

Ricardo Kelmer 2009

 

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A palestra O Despertar do Herói é a que mais apresentei, umas cinquenta vezes, poraí. Criada em 2000, eu já a levei a empresas, escolas, faculdades e também a grupos particulares. Em Campina Grande, na Paraíba, apresentei-a pra uma plateia de quinhentas pessoas, olhaquiloco. Isso é uma prova do quanto os mitos nos tocam a alma e fazem reverberar dentro de nós a essência mágica de suas mensagens.

Se você mora em São Paulo, tá convidado pra próxima apresentação, em 17dez2009, no Esp Cult Alberico Rodrigues.

> Palestra “O despertar do herói – A jornada sagrada de autorrealização nos mitos, em Matrix e em nossas vidas”

RK fala de Mitologia, Psicologia, Autoconhecimento e Realização Pessoal em linguagem simples e descontraída para mostrar que o mito da Jornada do Herói, presente nas histórias de tantas culturas, é uma metáfora do processo de autorrealização, a jornada individual de todos nós rumo à nossa essência mais verdadeira e profunda.

Podemos ver esse mito em lendas, livros e filmes, como se fosse um precioso segredo – que muitos infelizmente esquecem e assim se perdem de sua essência mais legítima. Assim como os heróis dos mitos e do cinema, cada um de nós está predestinado a se realizar verdadeiramente e, com isso, tornar-se o grande Herói de sua própria vida. Mas antes é preciso, como o herói de Matrix, despertar, distinguir-se da massa, conhecer-se e assumir a tarefa que dará sentido à existência.

> HORÁRIOS
18h: exibição do filme – 20h15: intervalo para o café
20h30: palestra – 21h30: encerramento
Local:  Espaço Cultural Alberico Rodrigues. Praça Benedito Calixto, 159 – Pinheiros. Estacionamento na praça.  Inf.: 3064.3920 e 3064.9737. R$ 10.
> Mais palestras de RK

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Ricardo Kelmer – blogdokelmer.wordpress.com

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Treiler da palestra

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Em busca da mulher selvagem

19/10/2009

19out2009

Era por ela que eu sempre me apaixonava, essa mulher que era quem ela mesma desejava ser, e não a mulher que a família, religião e sociedade impunham que ela fosse

EM BUSCA DA MULHER SELVAGEM
Ou: Homens que correm com elas

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Em minha vida, sempre me atraíram mulheres de iniciativa. Desde menino, elas me fascinaram, as desafiadoras da cultura machista, as que recusavam o modelito cristão de mulher virtuosa. Desde cedo, foi para elas o meu olhar, as que se rebelavam contra regras sociais idiotas, convenções sexuais sem sentido, modelos de relação baseados na posse do outro e tudo que queria a mulher submissa e sob controle. Era por ela que eu sempre me apaixonava, essa mulher que era quem ela mesma desejava ser, e não a mulher que família, religião e sociedade impunham que ela fosse.

Mas me faltava a exata consciência disso. Eu queria uma mulher liberta, sim, mas não sabia que queria.

Então, li Mulheres que Correm com os Lobos, de Clarissa Pinkola Estés. E tudo fez sentido. Lá estava o que eu intuía sobre a mulher e a relação entre os gêneros, mas ainda não sabia verbalizar. O livro me veio quando eu já lidava melhor com meus aspectos femininos e, por isso, me identifiquei profundamente com ele e com a histórica questão da domesticação da mulher.

Por meio de mitos e lendas coletados pelo mundo, a autora mostra como sobreviveu, mesmo escondida sob muitas formas simbólicas, o arquétipo do feminino selvagem, o modelo da mulher conectada com os ritmos e valores da Natureza e de sua própria natureza, o modelo da mulher livre. Um belo livro, que tem ajudado muitas mulheres a resgatar o que séculos de repressão lhes usurparam: o direito de serem o que quiserem. Um livro que fala essencialmente do feminino, mas também fala de homens e deveria ser lido por todos.

Esse livro me fez entender o que eu apenas intuía: a mulher da minha vida é e sempre foi a mulher livre. E que foi essa mulher que, mesmo sem saber, eu sempre busquei em minhas relações, ainda que às vezes a temesse. E que foi por ela que a muitas eu deixei, ao perceber, mesmo sem saber explicar, que eu jamais poderia ser totalmente eu ao lado de uma mulher domesticada.

Mas como aceitar e amar essa mulher liberta sem, antes, eu mesmo me libertar do que também me limitava? Para merecê-la, era preciso me livrar de qualquer pretensão de controlá-la, esse resquício maldito de minha herança cultural-religiosa.

A ficha caiu após ler o livro de Clarissa. Ele me ajudou a assimilar o feminino em meu ser e foi exatamente isso que me fez deixar de temê-lo, me fez mais selvagem no sentido psicológico-arquetípico, me fez mais livre. O efeito prático disso tudo é que eu finalmente me abri para relações mais igualitárias e, principalmente, para receber a mulher livre que eu tanto procurava em minhas relações. Primeiro, eu a libertei em mim. Aí ela veio de fato, enfim ela pôde vir. Veio linda, plena e radiante, e eu vi em seus olhos o reflexo dela própria em mim. E desde então continua vindo, e eu e ela somos lobos que cruzam florestas, atraindo-se pela fome louca que temos um do outro.

E eu sei que ela sempre virá. Pois esse amor que trazemos em nós, incompreendido por simplesmente não erguer cercas de posse e jaulas de controle, é o amor que aprendemos a respeitar em nossa própria natureza e que nos alimenta de alegria e liberdade a alma selvagem.

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Ricardo Kelmer 2009 – blogdokelmer.com

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Mais sobre liberdade e o feminino selvagem:

AMulherSelvagem-11aA mulher selvagem – Ela anda enjaulada, é verdade. Mas continua viva na alma das mulheres

A mulher livre e eu – A liberdade dessa mulher reluz no seu jeito de ser o que é – e ela é o que todas as outras dizem ou buscam ser, mas só dizem e buscam, enquanto ela tranquilamente… é

Amor em liberdade – O que você ama no outro? A pessoa em si? Ou o fato dela ser sua propriedade? E como pode saber que ela é só sua?

As fogueiras de Beltane – As fogueiras estão acesas, a filha da Deusa está pronta. O casamento sagrado vai começar

Medo de mulher – A mulher é um imenso mistério, que o homem jamais alcançará

Alma una – Eu faço amor com a Terra / Sou a amante eterna / Do fogo, da água e do ar / Sou irmã de tudo que vive / Ninfa que brinca com a vida / Alma una com tudo que há

Quem tem medo do desejo feminino? (1) – A maternidade, a castidade e a mansidão de Nossa Senhora como bom exemplo, e a força, a independência e a liberdade sexual da puta como exemplo contrário, a ser jamais seguido

LIVROS

vtcapa21x308-01Vocês Terráqueas – Seduções e perdições do feminino
Ricardo Kelmer – contos e crônicas

Ciganas, lolitas, santas, prostitutas, espiãs, sacerdotisas pagãs, entidades do além, mulheres selvagens – em todas as personagens, o reflexo do olhar masculino fascinado, amedrontado, seduzido… Em cada história, o brilho numinoso dos arquétipos femininos que fazem da mulher um ícone eterno de beleza, sensualidade, mistério… e inspiração.

Mulheres que correm com os lobos – Mitos e histórias do arquétipo da mulher selvagem (Clarissa Pinkola Estés – Editora Rocco, 1994)

A prostituta sagrada – A face eterna do feminino (Nancy Qualls-Corbert – Editora Paulus, 1990)

As brumas de Avalon (Marion Zimmer Bradley – Editora Imago, 1979)

Mulheres na jornada do herói (Beatriz Del Picchia e Cristina Balieiro – Editora Ágora, 2010) – É ainda mais interessante ver o relato das mulheres pois elas sempre foram, mais que os homens, historicamente reprimidas na busca pela essência mais legítima de suas vidas

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en español

EN BÚSQUEDA DE LA MUJER SALVAJE
Ricardo Kelmer

EmBuscaDaMulherSelvagem-02base1aFue Marilia quien me prestó ese libro en el 2002, cuando yo ya andaba con curiosidad por leerlo. Después Rafaela me lo regaló. Y después conseguí la versión digital. O sea, ese libro quería que yo lo leyera, y fueron las mujeres quienes me lo trajeron. Lo leí y me encantó. En las páginas de Mujeres que Corren con Lobos estaba lo que yo intuía sobre las mujeres y la relación entre los géneros, pero que aún no sabía verbalizar. Leí el libro en una etapa de mi vida en la cual yo lidiaba mejor con mis aspectos femeninos, y por eso me identifiqué profundamente con él y con el tema histórico de la domesticación de la mujer.

Terminé la lectura sintiendo en mi alma una avalancha de ideas y sensaciones, y sintiendo también que llevaría un buen tiempo hasta que todo aquello asentase y yo consiguiera organizar mis pensamientos y reagrupar las verdades que, aunque no eran tan nuevas para mí, ahora eran evidentemente claras. Usando mitos y leyendas recolectados en varias partes del mundo, la autora muestra como sobrevivió, escondido bajo muchas formas simbólicas, el arquetipo del femenino salvaje, el modelo de la mujer conectada con los ritmos y valores de la naturaleza y de su propia naturaleza, el modelo de la mujer libre. Un libro bellísimo que ha ayudado a muchas mujeres a rescatar lo que siglos de represión les usurparon: el derecho de ser lo que quisieran. Un libro que habla esencialmente del femenino, pero también habla de los hombres y debería ser leído por ellos igualmente.

A mí, el libro de Clarissa me hizo especialmente entender que, en mi vida, desde temprano, me fascinó el arquetipo del femenino salvaje. A causa de eso siempre me atraían las mujeres con iniciativa, las desafiadoras de la cultura machista y las que rehusaban el modelito cristiano de mujer virtuosa, las que se rebelaban contra las normas sociales idiotas, convenciones sexuales sin sentido, modelos de relación basados en poseer al otro y todo lo que hacía mantener a la mujer sometida y bajo control. Era por ella que yo siempre me enamoraba, por esa mujer que era quien ella misma deseaba ser y no la mujer que la familia, religión o sociedad imponían que ella fuera.

Ese libro me trajo una de las más importantes revelaciones que he tenido, que la mujer de mi vida es y siempre será una sola: una mujer libre. Y que fue esa mujer, aún sin saberlo, la que yo siempre busqué en mis relaciones, aunque la temiera. Y que fué por ella que abandoné a muchas mujeres al intuir, sin saber explicar, porque yo jamás podría convivir al lado de una mujer domesticada.

Sin embargo, ¿cómo aceptar y amar a esa mujer libre sin liberarme antes yo mismo de lo que también me limitaba? Para merecerla, yo también necesitaba liberarme de cualquier pretensión de controlarla, de ese resquicio maldito de mi herencia cultural y religiosa.

Tomé consciência después de leer Mujeres que Corren con Lobos: ese libro me ayudó a asimilar la parte femenina de mi ser, y fue exactamente eso lo que me hizo dejar de temerlo, me hizo más salvaje en el sentido de los arquetipos psicológicos, me hizo más libre. El efecto práctico es que ahora finalmente estoy abierto para relaciones más igualitarias y principalmente para recibir a la mujer libre que tanto buscaba en mis relaciones. Entonces ella vino, al fin pudo venir. Vino hermosa, plena y radiante, y vi en sus ojos el reflejo de sí misma en mí. Y desde entonces sigue llegando, y ella y yo somos lobos que cruzan bosques atraídos por el hambre salvaje que tenemos el uno del otro.

Y sé que ella siempre va a venir, porque este amor que llevamos en nosotros, por lo general incomprendido por no tener alambrados de posesión y jaulas de control, es el amor que aprende a respetar a nuestra propia naturaleza, y que nos alimenta con alegría y libertad el alma salvaje.

(Traducción: Silvia Polo. Revisón: Felipe Ubrer)

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01- Não tenho a menor dúvida, RK, que é pelas mulheres Lilith – mulheres serpentes, que tu é fascinado e arriadinho. Tua alma é Lilithiana, criatura de Deus e do Diabo, de Abraxas!!!! Tava com saudade de tu. Rauariú, sacerdote do Grande Mistério Andrógino? Onde mora o perigo, querido, também mora a salvação, a conjunção. Pat Maria, Salvador-BA – out2009

02- Gostei do que vc escreveu. Ando relendo de novo o livro e vejo quantas coisas se assemelham a mim. Parabens. Um abraço. Christina Costa, Brasília-DF – out2009

03- Li há pouco tempo a biografia de Leyla Diniz.Essa sim é a personificação do feminino selvagem. Bjs. Mônica Burkleward, Recife-PE – out2009

04- Nossa adorei o trecho. Síntese do que venho exercitando na minha vida. Jamille Abdalah, São Paulo-SP – out2009

05- Grande Kelmer, você, como sempre, produzindo textos bacanas e bem bolados. Esse do feminino, então, show de bola, a foto foi por demais bem feita. parabéns!!! Forte abraço. Luís Olímpio Ferraz Melo, Fortaleza-CE – out2009

06- Kelmer, vou correndo ler o livro Mulheres que correm com os lobos. Essa mulher, livre, que dá banana pro machismo, que vive plenamente todos os prazeres hedonistas que lhe interessam, que toma iniciativa (mesmo sabendo do preço que paga por isso), essa mulher, sou eu! Beijão e.. valeu o toque. Vou xeretar teu blog pra saber mais. Meire Viana, Fortaleza-CE – out2009

07- Meninas, vale entrar no blog e dar uma conferida… Beijos. Ana Zanelli, Rio de Janeiro-RJ – out2009

08- Kelmer, até que enfim um homem entendeu o livro da Clarisse… (!) Claudia Santiago de Abreu, Rio de Janeiro-RJ – out2009

09- Que crônica ótima,gostei,só nÂo sei se me encaixo ‘100% nesse modelo de MULHER SELVAGEM viu. bjo parabéns pelo o trabalho fantástico. Eunyce Fragoso, Campina Grande-PB – out2009

10- Ei amigo,que bom que você descobriu as mulheres que correm com lobos… Que elas sempre estejam presentes no seu mundo! Se cuida tá! Lua, Fortaleza-CE – out2009

11- vc é especial, realmente quer e gosta de conhecer a alma feminina. faz de um tudo para compreender!!! Uma tarefa um tanto complicada,,,, Haja paciência!!! rs. Vânia Farah, São Paulo-SP – out2009

12- Quem tem medo da mulher livre?? O homem preso, oras (risos) Beijos ternurentos Tô adorando o livro…pena estar na correria e estar com tempo reduzido a zero…. mas logo termino… Beijos, outros. Clau Assi, São Paulo-SP – out2009

13– Ricardo, eu sou tua fã demais!!!! Vc é http://www.tudodebom.com.br/quehomeéesse!!!!! O sonho de consumo de toda mulher selvagem, incluindo eu mesma, claro! Bjs;. Karla K, Fortaleza-CE – out2009

14- Hoje tive oportunidade de entrar no seu blog, por indicação de uma amiga. Fizemos parte de um grupo de vivências apoiadas na leitura do Mulheres que correm com lobos e ela me recomendou a leitura da sua crônica Em busca da mulher selvagem. Fiquei encantada. Acabei lendo também os contos As fogueiras de Beltrane, que amei, Um ano na seca e a crônica Homens perfeitos também alopram. Interessante como você circula com competência rara entre o sagrado/mítico/profano/humor… Será com prazer que voltarei à sua página. Parabéns belos belos textos e por suas múltiplas artes. Elvira, Brasília-DF – out2009

15- Adoro esse teu texto. Um bj e saudades. Ana Cristina Souto, Fortaleza-CE – jan2011

16 – Adorei seu texto… amei.. ahahha. Della Kopf, Fortaleza-CE – jan2011

17- Eita que coincidencia nao existe! Peguei mulheres que correm com os lobos para re-ler ONTEM e vi o seu post hoje. ‘A selvagem’ esta no ar… Marília Bezerra, Nova York-EUA – jan2011

18- adoro mulheres q correm com lobos! a minha está resgatando…. Maria Sá Xavier, Niterói-RJ – jan2011

19- Parabéns pela resenha! Muito bem produzia! Tecendo um pequeno comentário sobre a obra eu diria que de fato, Clarissa consegue em “Mulheres que correm com os lobos”, retratar aspectos do ser mulher, em seu sentido – eu diria mais primitivo do SER, antes de tudo do ser humana, em sua forma primeira, inacabada e cheia de conflitos, de forma rica, cativante e única. Uma boa leitura para quem quer se descobrir mulher ou mesmo se redescobrir enquanto tal. PARABÉNS! Alda Batista, Mossoró-RN – ago2011

20- Uiiiii, isto é forte, grande lobo!!! Muito bom!!! Carmem Mouzo, Rio de Janeiro-RJ – jan2013

21- Também estou lendo esse livro! Amando! Dri Flores, São Paulo-SP – jan2013

22- Um dia vou criar coragem e ler esse livro 🙂 Chacomcreme, São Paulo-SP – jun2013

23- Amei sua resenha. Tenho o livro já faz 3 anos. Preciso começar a leitura. Mais uma vez, parabéns pela resenha. Greice Araras-SP – jul2013

24- Um dia vou criar coragem e ler esse livro 🙂 Chacomcreme (skoob.com.br), São Paulo-SP – jun2013

25- Amei sua resenha. Tenho o livro já faz 3 anos. Preciso começar a leitura. Mais uma vez, parabéns pela resenha. Greice (skoob.com.br), Araras-SP – jul2013

26- Parabéns pela resenha! Muito bem produzia! Tecendo um pequeno comentário sobre a obra eu diria que de fato, Clarissa consegue em “Mulheres que correm com os lobos”, retratar aspectos do ser mulher, em seu sentido – eu diria mais primitivo do SER, antes de tudo do ser humana, em sua forma primeira, inacabada e cheia de conflitos, de forma rica, cativante e única. Uma boa leitura para quem quer se descobrir mulher ou mesmo se redescobrir enquanto tal. PARABÉNS! Alda (skoob.com.br), Mossoró-RN – mai2014

27- Amei seu comentário sobre a visão a respeito não somente dessa obra,mas a sua sensibilidade perceptíva da sociedade.e te digo pensamos iguais sério.em relação com os dois universos feminino e masculino devem ter respeito antes de tudo. Barbie Wolf (skoob.com.br), São Paulo-SP – set2020

28- sério, esse foi a melhor resenha referente à está obra que já li.Concordo com tudo que foi escrito. Aline (skoob.com.br), Recife-PE – out2020

29- Cara, nem li o livro, mas depois dessa resenha, serei obrigada a ler. Monique Costa (skoob.com.br), São Luís-MA – dez2020

30- Obrigada por ter escrito essa resenha… enxe a alma de esperança e a certeza de q nada esta perdido. O livro é explendido, estou terminando, e cada página é uma lição e força para continuar a busca da Mulher Selvagem adormecida. Renata Prandini (skoob.com.br), São Paulo-SP – jan2021

31- Comentário sensacional. Fabrícia Leal (skoob.com.br), Teresina-PI – jan2021

32- apenas uma palavra descreve essa resenha: “uau”. Nathalia Nadesko (skoob.com.br), Brasília-DF – mar2021

33- Que resenha mais linda e recheada de emoção e compreensão do universo feminino. Estou começando o livro agora e a sua resenha me encheu de energia… Muito obrigada !!🙏 Tati (skoob.com.br), Vinhedo-SP – abr2021

34- No Tantra, chamamos de “masculino curado”, quando o homem reverencia o feminino em pé de igualdade, respeito e amorosidade. Miguel Costa, Rio de Janeiro-RJ – jul2021

35- Show. Clea Fragoso, Fortaleza-CE – jul2021

36- Para encontrar precisa ter certeza…jamais será o mesmo..! Lucivanea De Souza Borges, Beberibe-CE – jul2021

37- Adoro esse livro. Luiza Perdigão, Fortaleza-CE – jul2021

38- Amo esse livro, transformador. Valéria Rosa Pinto, Rio de Janeiro-RJ – jul2021

39- Próxima leitura. Francisco Antonio Mota, Fortaleza-CE – jul2021

40- Ahh que maravilhosa!! Esse livro é incrível, Ricardo. Vc é o primeiro homem que sei que o leu. Ahh como seria bom se tantos mais o lessem. Vc certamente é um Manawe. Obrigada pela partilha de sua experiência com a Mulher Selvagem! Aline Matias, Fortaleza-CE – jul2021


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