Os revolta

23/12/2008

23dez2012

BaseadoNissoCapaMiragem-01a.

Este conto integra o livro Baseado Nisso – Liberando o bom humor da maconha, de Ricardo Kelmer

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OS REVOLTA

Pais maconheiros e filhos caretas. Isso pode dar certo?

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TARDE DE SÁBADO no shopping. Na saída do cinema, Rosinha escutou seu nome:

– Rosinhaaaaaaaaa!!!

Era a Neusa, amiga das antigas, anos e anos que não se viam. Rosinha cutucou o marido.

– Olha só, Roberto! A Neusa e o Charles. Lembra deles?

– Será que ainda são muito chatos?

– Pelo menos se comporte. Eles sempre gostaram muito de você.

– Como é mesmo o nome dos filhos deles? São uns nomes assim bem babacas…

– Oi, Neusa! Quanto tempo!

Abraço para cá, abraço para lá, como vão as coisas, e os meninos, cadê o resto da turma. Neusa propôs sentarem um pouco, tomar um chope. Sentaram, pediram os chopes e lembraram os velhos tempos. Charles lembrou um carnaval em que ele e Roberto saíram de mulher pela rua e um sujeito quase os atropelou. Apesar de não terem se ferido, decidiram ir à delegacia prestar queixa e os policiais simplesmente não conseguiam levar a sério a situação, um vestido de odalisca e outro de coelhinha com cenoura e tudo.

– Hoje, com essa barriga aí, Roberto, você ia ter que sair no bloco das grávidas.

– Verdade, Charles. Tô com mais barriga, mas em compensação tô com menas bunda…

E Roberto riu, satisfeito e vingado com a própria piada.

– E os meninos, Neusa? – quis saber Rosinha. – Já devem estar grandes, né?

– Enormes!

– Como é mesmo o nome deles? – perguntou Roberto.

– Charles Junior e Anna Priscylla.

– Isso mesmo – falou Roberto, tentando se manter sério. – Anna com dois enes, né?

– Dois enes, um ípsilon e dois eles.

– Dois enes, um ípsilon e dois eles – repetiu Roberto. –Bem original. Mas o ípsilon é no lugar do primeiro i ou do segundo i?

– Do segundo.

– Bem pensado – Roberto falou, esforçando-se para não parecer irônico. – No lugar do primeiro ficaria estranho.

– Ela tem treze, e ele quinze.

– Nossa, como o tempo passa, Neusa… – comentou Rosinha. – Peguei os meninos no colo.

– E vocês?

– Eu e Roberto decidimos não ter filhos. Mas temos dois gatos maravilhosos, a Xana e o Xexéu.

– Xexéu? Isso é nome de gato? – perguntou Charles.

– E Charles Junior? – perguntou Roberto.

– Que é que tem ele? – perguntou Charles.

– Já decidiu o que vai ser? – Rosinha perguntou.

– Ainda não. O negócio dele é computador. Se deixar, passa o dia lá.

Duas rodadas de chope depois, Charles inclinou-se para o centro da mesa e jogou a indireta:

– Mas por falar nisso, e vocês, ainda curtem um… – e fez o tradicional gesto, juntando os dedos indicador e polegar.

– Não acredito! – respondeu Rosinha, surpresa. – Vocês ainda fumam maconha?! Nós também!

– Psiu, Rosa! – reclamou Roberto, beliscando a mulher. – Quer que o shopping todo saiba?

– Fumamos, sim. Não como naquele tempo, né, que ali também já era exagero. Mas vez em quando o Charles consegue uma coisinha. Vocês não estão a fim?

– Eu estou – respondeu Rosinha, animada. – Estamos, né, Roberto?

– Estamos.

Pagaram a conta e rumaram todos para o apartamento de Neusa e Charles.

– Psiu! Os meninos já podem ter chegado – avisou Charles, abrindo a porta do apartamento. – Esperem aqui na sala que eu vou conferir.

E sumiu apartamento adentro, pisando no chão de mansinho, pé ante pé. Voltou logo depois.

– Ainda não chegaram, dá tempo a gente fumar – Roberto comunicou, falando baixinho. – Entrem, entrem, fiquem à vontade. Eu vou buscar.

– O Charles deixa logo os cigarros apertados – explicou Neusa, sussurrando. – É mais prático, né?

– E por que a gente tá falando tão baixo se não tem ninguém no apartamento? – perguntou Roberto.

– Dá pra escutar tudo do corredor. Se os meninos chegarem, eles escutam direitinho.

– Pronto, vamos lá – falou Charles, voltando com o baseado.

– Vamos fumar na varanda? Tem uma vista boa.

– Não, não, Roberto – respondeu Neusa. – A gente fuma na área de serviço. É aqui, vem.

Neusa foi na frente, seguido por Rosinha, Roberto e Charles.

– Área de serviço? Por quê?

– Porque dá pra gente escutar o barulho do elevador chegando. Se os meninos chegarem, a gente sabe logo e dá tempo apagar.

BaseadoNissoCLUBEDEAUTORESCapa-04a– E a gente vai fumar assim, em pé, no meio dessas roupas todas penduradas?

– Roberto! – Rosinha cutucou o marido. – Pare de reclamar, que coisa feia…

– Lá em casa a gente fuma na varanda, olhando pro parque…

– Roberto!

Roberto calou-se. A baseado dado não se olha os dentes, pensou enquanto analisava o ambiente ao redor. Havia dois lençóis pendurados, três cuecas, uns sutians e uma camisa do Ferroviário Atlético Clube.

– Só uma perguntinha, Neusa… – ele falou, entre uma e outra tragada. – Os meninos são caretas?

– São.

– E eles não sabem que vocês fumam?

– Sabem sim.

– Mas então… Por que essa paranoia toda?

– Eles sabem mas fingem que não sabem.

– Como assim?

– Desde pequenos eles sabem que a gente fuma, mas não gostam. E nem tocam no assunto.

– E a gente finge que não sabe que eles sabem – completou Charles.

Roberto não se aguentou. Explodiu num riso incontido, tossindo fumaça para todo lado. Rosinha o cutucou mais uma vez. Aquilo era demais, pensava Roberto no meio do riso. Como uma família podia ser tão paranoica? Os filhos fingiam que não sabiam que os pais fumavam maconha e os pais sabiam que os filhos sabiam mas também fingiam que não sabiam. Era demais…

– Quer dizer que eles não dizem nada? – falou Roberto, conseguindo enfim uma trégua com o próprio riso.

– Até dizem – respondeu Neusa. – Mas indiretamente. Por exemplo, quando passa notícia sobre droga na tevê, eles dizem: devia era prender esse bando de maconheiro sem-vergonha!

– Sério?! – e Roberto explodiu novamente em gargalhada, trégua desfeita.

– Roberto! – ralhou Rosinha, envergonhada diante do marido que se contorcia entre os lençóis, se equilibrando para não cair.

– E vocês, não respondem nada? – ele ainda encontrou forças para perguntar.

– O Charles faz que não escuta. Mas eu concordo, digo que tem mais é que botar tudo na cadeia mesmo.

– Inacreditável… – murmurou Roberto, respirando fundo, tentando parar de rir.

– Mas você não sabe da melhor – prosseguiu Neusa. – Dia desses a gente descobriu como é que eles se referem à gente e aos nossos amigos que também fumam.

– Como é? – quis saber Roberto, já pressentindo que vinha mais coisa.

– “Os revolta”.

– “Os revolta”?

– Sim. Quer dizer os revoltados da vida. Engraçado, né? Vocês querem uma pastilha?

Pronto. Roberto não mais conseguiu se controlar e caiu no chão da área de serviço. Ainda tentou se segurar num lençol, mas terminou quebrando o cordão e as roupas todas despencaram por cima deles, derrubando-os. Enquanto Rosinha pedia desculpas e tentava ajudar Neusa a se levantar, Roberto rolava de rir pelo chão, as lágrimas escorrendo. E uma cueca na cabeça.

– O elevador! – avisou Charles. – São eles! Vou pegar o aromatizador.

– Levanta, Roberto, tá sujando a roupa lavada.

– “Os revolta”… – Roberto segurava a barriga enquanto a mulher tentava livrá-lo dos lençóis. – É demais…

Anna Priscylla e Charles Junior abriram a porta da sala e entraram.

– Oi, pai! Oi mãe!

Neusa correu para a sala, para encontrar os filhos. Charles chegou depois, acompanhado de Rosinha e Roberto.

– Meninos, esses são dois velhos amigos da gente, a Rosinha e o Roberto. A gente se encontrou no shopping e eles vieram pra conhecer vocês.

– Mas como cresceram! – exclamou Rosinha, impressionada.

– Oi, Charles Junior… Oi, Anna Pris… – tentou falar Roberto. Mas não se aguentou e caiu novamente na gargalhada, um acesso incontrolável que o fez se encostar na parede e ir descendo até sentar no chão.

Rosinha puxou-o pelo braço com uma cara horrível. Mas Roberto não conseguia parar de rir. Neusa sorria sem jeito, sem saber o que dizer, enquanto Charles fechava a porta da cozinha para os meninos não sentirem o cheiro. Esses, por sua vez, olhavam meio rindo, meio assustados para o homem que gargalhava e se contorcia no chão.

Por fim, Rosinha conseguiu erguer o marido e, desculpando-se, explicou que ele bebera demais e que já iam, estava tarde, foi um prazer conhecer os meninos…

Somente na rua, já dentro do carro, foi que Roberto conseguiu parar de rir.

– Ai, minha barriga… Há tempos eu não ria tanto.

– Há tempos eu não passava uma vergonha tão grande, isso sim.

– “Os revolta”… Ai, Rosa, é demais. Ainda não acredito nisso. E a cara do menino, você viu, com aquele boné pra trás da cabeça? Tinha mesmo cara de Charles Junior. Que nome horroroso! Como é que se batiza um filho com o nome de Charles Junior?

– Ah, coitado, Roberto…

– Já pensou, Rosa, quando esse menino arrumar uma namorada e ela precisar dizer eu te amo: Eu te amo, Charles Junior… Não, não, é impossível amar alguém chamado Charles Junior. E a outra, como é mesmo? Anna Priscylla. Com dois enes, um ípsilon e dois eles. É mole? E o pai ainda é torcedor do Ferroviário. E fuma tampando o nariz, você viu?

– Vi.

– Que família paranoica! Você viu a cara dos meninos, dois demoniozinhos repressores… Uns tiranos. Qualquer dia vão entregar os pais à polícia, você vai ver: Filhos denunciam pais maconheiros…

– Que exagero, Roberto.

– Como é que um pai e uma mãe chegam a esse ponto, de ser chamado de revolta pelos próprios filhos? Ei, revolta, telefone. Ei, revolta, cadê minha mesada? Pra mim, isso é falta de chinelada, isso sim.

Rosinha teve vontade de rir, mas ainda estava envergonhada pelo papelão do marido. Não podia dar o braço a torcer.

– Minha irmã olhava praqueles pôsteres do Che Guevara no meu quarto e me chamava de revoltado – lembrou Roberto. – Mas chamar os pais de “os revolta”?… É o fim do mundo mesmo. Sua mãe não vive dizendo que o mundo está acabando? Pois taí.

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Ricardo Kelmer 1998 – blogdokelmer.com

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Guerra às drogas não, antiproibiconismo sim

15/12/2008

15dez2008

Quem ganha e quem perde com a proibição das drogas?

DrogasMaconhaLegalize-01

GUERRA ÀS DROGAS NÃO, ANTIPROIBICIONISMO SIM

(3a parte da trilogia Rio Droga de Janeiro)

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No inferno diário de péssimas notícias mantido pelo narcotráfico, há pelo menos uma a soprar uma brisa de esperança: o movimento antiproibicionista cresce em todo o mundo e dá seus primeiros passos organizados no Brasil. Ele prega a descriminalização de plantas e drogas e a regulamentação de seu comércio. E não admite que o Estado tenha o direito de decidir o que você deve ou não fazer ao seu corpo ou à sua mente. Se você já entendeu que enquanto há proibição, não há saída para o caos social, você é um antiproibicionista. Bem-vindo ao time.

É um tema espinhoso e polêmico. Difícil tocar nele, pois é complexo demais, envolve tantas questões e pontos de vista diferentes… E, principalmente, envolve desinformação, preconceito e medo. Mas está ocorrendo algo curioso. A violência causada pelo comércio da droga ilegal alcançou níveis tão insuportáveis que a sociedade está sendo forçada, pela primeira vez, a encarar o problema sem hipocrisia. Não dá mais para varrer a sujeira, e o sangue, para baixo do tapete. O tapete do mundo já está vermelho.

Não adianta dizer aos usuários de drogas ilegais que eles alimentam o tráfico. É um argumento ingênuo, pois significa culpar a natureza humana e sua busca natural por estados especiais de consciência. Se sempre haverá procura, sempre haverá quem forneça. Assim, se o Estado não assume as responsabilidades relativas à questão, alguém o fará. E se o Estado proíbe, a busca natural das pessoas obrigatoriamente descamba para o submundo da clandestinidade e do crime.

A busca por estados especiais de consciência sempre fez parte de todas as sociedades, seja através do álcool, gases naturais, plantas e técnicas meditativas, seja em contextos terapêuticos, religiosos ou recreativos. Por ser um anseio intrínseco à condição humana, proibir as pessoas de buscar esses estados não impediu que elas prosseguissem buscando. Aliás, o que se vê hoje é o aumento generalizado dessa procura, da qual o tráfico se aproveita, e muito bem, fortalecendo-se cada vez mais, infiltrando-se em governos e corrompendo quem surge à sua frente, desde policiais e advogados a políticos, juízes e religiosos, tomando o poder do Estado e fazendo suas próprias leis. E destruindo as sociedades, causando violência e terror.

Quem luta pela legalização compra briga não com a sociedade, mas com o próprio tráfico, que é o maior interessado na proibição, pois precisa dela para manter seu poder. O tráfico sabe que as pessoas não pararão de buscar as drogas. Sabe também que o Estado, comprometido com a hipocrisia e o preconceito, evita sujar as mãos com a questão. O tráfico sabe mais que ninguém que o dinheiro compra tudo, inclusive o silêncio que mantém tudo como está. O dinheiro do tráfico financia inclusive o medo de se discutir o assunto. E nada muda. E as drogas sintéticas ficam mais baratas e acessíveis. E tudo piora.

A tal guerra às drogas já começou derrotada porque é sempre inglório lutar contra a natureza humana. Assim como a Lei Seca, o fim da proibição é questão de tempo. O que milhões de pessoas sempre pediram no mundo inteiro com argumentos sensatos, e nunca foram ouvidas, se tornará realidade por causa da violência insuportável causada pelo tráfico. Não será uma transição fácil, pois a sociedade terá antes que largar a hipocrisia e olhar de frente para um de seus piores fantasmas ‒ e se isso já é difícil num nível individual, socialmente é muito mais complicado. Sim, droga pode destruir quem faz uso dela, claro, mas isso não pode ser motivo para proibir seu uso. O que você acharia se fosse proibido de beber sua cervejinha só porque seu vizinho se tornou um alcoólatra?

Quem tem a droga, tem o poder. Não há saída para a sociedade a não ser tomar o poder do tráfico, legalizando as drogas e controlando seu comércio. Não precisamos de proibição. Precisamos é educar nossos filhos e prepará-los para um mundo onde sempre haverá drogas. Não precisamos de uma polícia da mente, mas de democracia, direitos humanos e liberdades individuais. Precisamos de uma sociedade mais justa, com emprego para todos, e não de tráfico, e muito menos de guerra às drogas. Precisamos é de amor ao planeta e à humanidade. Precisamos de paz.

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Ricardo Kelmer 2005 – blogdokelmer.com

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.Foto: Psicotropicus

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Textos da trilogia Rio Droga de Janeiro

Quem tem a droga tem o poder
Os discretos sócios do narcotráfico
Guerras às drogas não, antiproibicionismo sim

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JeffersonPeres-01As drogas chegam ao senado

Nesses dias de avacalhação geral da classe política, é muito bom ver que há sensatez e honestidade lá no Congresso. O senador Jefferson Peres (PDT-AM), falecido em 2008, foi mais um dos que se convenceram que a legalização das drogas é a única saída para o problema da violência e da corrupção gerado pelo narcotráfico no mundo inteiro. Sua fala revela lucidez, equilíbrio e visão ampla dos problemas brasileiros e mundiais. E revela também muita franqueza e coragem de dizer aquilo que muitos concordam, mas têm medo de dizer. Parabéns, senador!

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Minha noite com a Jurema – Nessa noite memorável fui conduzido para dentro de mim mesmo pelo próprio espírito da planta, que me guiou, comunicou-se comigo, me assustou, me fez rir e ensinou coisas maravilhosas

A Jurema e as portas da percepção (VIP) – Relato detalhado da experiência narrada em Minha Noite com a Jurema. Exclusivo para Leitor Vip. Basta digitar a senha do ano da postagem

Xamanismo de vida fácil – A tradição xamânica dos povos primitivos experimenta uma espécie de retorno, atraindo o interesse de pesquisadores e curiosos

Só o crack salva – Se os problemas relacionados ao crack ficassem restritos às camadas pobres da população, os ricos jamais se incomodariam e o horário nobre da tevê nem tocaria no assunto

O trem não espera quem viaja demais – Alguns captam o recado da planta, entendendo que a trilha da liberdade existe, sim, mas deve ser localizada no cotidiano de suas vidas e, mais precisamente, em seu próprio interior

A metamorfose – Um miniconto sobre o fundo do poço

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DICA DE LIVRO

baseadonissocapaa6aBaseado Nisso – Liberando o bom humor da maconha
Ricardo Kelmer

Os pais que decidem fumar um com o filho, ETs preocupados com a maconha terráquea, a loja que vende as mais loucas ideias… RK reuniu em dez contos alguns dos aspectos mais engraçados e pitorescos do universo dos usuários de maconha, a planta mais polêmica do planeta. Inclui glossário de termos e expressões canábicos. O Ministério da Saúde adverte: o consumo exagerado deste livro após o almoço dá um bode desgraçado.

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Os discretos sócios do narcotráfico

15/12/2008

15dez2008

Quem ganha e quem perde com a proibição das drogas?

DrogasCorrupcao-01

OS DISCRETOS SÓCIOS DO NARCOTRÁFICO

(2a parte da trilogia Rio Droga de Janeiro)

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Todo mundo está careca de saber que há policiais que são pagos pelos próprios bandidos, ganhando muito mais que seu baixo salário na corporação. O narcotráfico paga, e muito bem, a advogados, juízes, políticos, religiosos, empresários e, não duvide, até a governantes que fazem acordos com as quadrilhas. Todos são elos na longa rede do narcotráfico e todos lucram com a ilegalidade da droga. São sócios discretos da bandidagem, e para eles o caos social é financeiramente vantajoso, nada de mudanças, por favor.

É tanta a dinheirama envolvida que as ideologias, o bom senso e a consciência ficam em segundo plano. Que se foda o mundo! ‒ pensa o sujeito ao fazer as contas de quanto lucrará dando uma mãozinha, só uma mãozinha, ao tráfico. Vai todo mundo para o inferno mesmo, o que é que eu vou ficar fazendo sozinho no céu?… Pois é. Todo mundo comprado. Parece aqueles filmes onde o mocinho descobre horrorizado que todos ao redor são cruéis alienígenas disfarçados e que não há saída.

O negócio da droga ilegal é o maior do planeta, movimentando imensas fortunas. As quadrilhas internacionais mexem também com pirataria de CDs e DVDs, cigarros, armas, tráfico de órgãos, imigrantes ilegais… Elas movimentam mais dinheiro que um país inteiro. E os governos? Ah, sim, os governos. Bem, eles declararam guerra às drogas, claro. Que nome pomposo! Dá quase para ouvir as cornetas e os tambores. Quase posso ver os cidadãos marchando com seus estandartes, todos gritando, rumo ao campo de batalha…

Mas, peraí. Quem vão combater? Os bandidos? Ou os usuários? Já sabemos que não adianta desmantelar as quadrilhas ou matar seu líder, pois para cada um que sai de cena, há dez querendo entrar. Também não dá para prender todo mundo que fuma um baseado. Então talvez seja mesmo um combate à própria droga. Mas qual droga? E como se combate a droga? Fuzilando pés de maconha? Erradicando folhas de coca da face do planeta? E como lutar contra as drogas sintéticas, miniaturizadas em pílulas que qualquer bunda-suja fabrica no quartinho do fundo da casa e transporta no bolso da bermuda?

E o cigarro? E o álcool? São drogas também, e comprovadamente mais nocivas que um baseado. Ok, ok, não vamos falar disso agora senão a discussão vai se ramificar mais que o próprio tráfico. A questão primordial, então, não é como combater as drogas. A questão é: será mesmo possível combater algo que a própria sociedade deseja?

A guerra às drogas já nasceu perdida. Não sejamos hipócritas: o mundo quer e sempre quis as drogas. As sociedades sempre conviveram com as drogas, lícitas ou não, porque precisam delas. Então: se há demanda, sempre haverá oferta. Chegamos agora a um nível mais profundo da questão: não estamos perdendo tempo, dinheiro e vidas tentando exterminar algo que nós mesmos não queremos que morra?

Não é um mundo sem drogas o que as pessoas desejam, até porque na prática seria impossível. E seria injusto, pois há os que fazem uso de drogas, legais ou ilegais, dentro de limites saudáveis, sem prejudicar a si ou a outros. O que as pessoas verdadeiramente desejam é um mundo sem violência, isso sim. Mas as drogas geram violência, há quem diga. Não, o buraco é mais embaixo. Culpar as drogas pela violência é um julgamento injusto, fruto da histeria coletiva causada pela tal guerra às drogas. Isso é lógica reducionista. É caça às bruxas. O que de fato gera violência não é a droga em si, mas a sua proibição, que automaticamente a liga à criminalidade.

Veja o caso da cerveja e do cigarro: causam mais mortes que as drogas ilícitas. Ninguém, porém, os relaciona à criminalidade, pois são drogas abençoadas pela lei. No entanto, se fossem proibidas, haveria igualmente em torno delas redes de tráfico, corrupção, violência e crimes. Cientes disso e de que as pessoas consumirão álcool e cigarro sendo ou não proibidos (veja o caso da fracassada Lei Seca americana dos anos 1930), o que fariam os governos? Assumiriam a responsabilidade, fiscalizando produção e venda e cobrando impostos para serem aplicados no controle da qualidade, em pesquisas e campanhas educacionais, e para obter estatísticas e tratar dos males causados pelo mau uso. Melhor ter o controle de algo tão perigoso que deixá-lo nas mãos de bandidos.

A guerra às drogas é de uma ingenuidade risível. Os sócios do narcotráfico sabem disso. Gasta-se uma fortuna diária para manter a droga proibida e, no entanto, ela esta aí para quem quiser e na hora que quiser, e diariamente somos violentados pelos que têm a droga e realmente mandam no pedaço. A guerra às drogas jamais funcionará, simplesmente porque mira o alvo errado. O grande inimigo não é a droga: é a criminalização de seu uso.

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Ricardo Kelmer 2005 – blogdokelmer.com

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> Esta crônica integra o livro Blues da Vida Crônica

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.Foto: Psicotropicus

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Quem tem a droga tem o poder
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01- haverá uma tregua na base do acordo no periodo COPA-OLIMPIADAS pra gringo ver…porem contudo todavia, o fantastico programa dominical insiste em mostrar que é tudo de verdade o circo no RJ.. abestados os que assistem a essa palhaçpada… Angélica Santos, Osasco-SP – nov2011

02- Os zilhões que são gastos na guerra contra as drogas resolveriam o problema da miséria no mundo. É tudo uma questão de foco ou, no caso, de falta de foco. Antonio Martins, Maceió-AL – nov2011


Quem tem a droga tem o poder

14/07/2008

14jul2008

Quem ganha e quem perde com a proibição das drogas?

QUEM TEM A DROGA TEM O PODER

(1a parte da trilogia Rio Droga de Janeiro)

“A gente não torce mais para a polícia acabar com as quadrilhas, pois a gente sabe que isso é impossível. A gente agora torce é para que apenas uma quadrilha se estabeleça no lugar onde a gente mora, pois é só assim que a gente tem um pouco de paz. De preferência a quadrilha que tem apoio da polícia.”

Quem disse isso foi uma amiga minha que mora no Morro do Vidigal, favela carioca da zona sul, um dos lugares com a vista mais deslumbrante do Rio de Janeiro. Ela lamentava a guerra entre quadrilhas de traficantes que há meses violenta o dia a dia de sua comunidade e obriga os moradores a conviver com tiros e explosões na madrugada, enfrentamento de quadrilha com quadrilha e quadrilha com polícia, mortes, toque de recolher imposto pelos bandidos…

Quem tem a droga tem o poder ‒ esta é a lógica cruel do Rio de Janeiro atual. Junte-se a isso pobreza, despreparo das forças de segurança, descaso dos governantes, indiferença das elites, interesses comerciais, corrupção em todos os poderes e, também, é claro, a existência de um ávido mercado consumidor e, pronto, você terá um poder paralelo capaz de se infiltrar em todos os níveis da sociedade, corroer suas bases, estabelecer suas próprias leis e tornar a vida do cidadão um inferno.

Os criminosos querem poder, muito poder, quanto mais melhor. Para isso, precisam de muito dinheiro. Droga é um negócio perigoso, mas é bastante lucrativo pois há muitos consumidores, inexiste fiscalização e não se paga imposto. Os maiores pontos de venda ficam nas favelas porque lá o Estado se recusa a ir. Lá as quadrilhas são o Estado: elas fazem as leis, fiscalizam seu cumprimento e punem os faltosos. Antigamente o traficante do morro era nascido no morro e era um romântico, pois atuava como um benfeitor da comunidade abandonada pelo Estado, usando seu poder para amenizar as dificuldades de sua gente. Hoje não é mais assim. O negócio da droga é para profissionais e não para Robin Hoods românticos. Os chefões não estão interessados em melhorar a vida de ninguém, mas em obter mais poder e se defender das outras quadrilhas que cobiçam seu território. E o cidadão? Este fica lá, impotente e apavorado no meio do fogo, sem ter a quem recorrer.

Se o problema ficasse restrito às favelas, as elites não estariam nem um pouco preocupadas. Mas a violência gerada pela bandidagem desceu o morro e alcançou a classe média e os ricos. Não há mais onde se esconder. Carro blindado, vidro escuro, condomínio fechado, cerca elétrica, câmeras de vigilância ‒ a sociedade gasta fortunas para se proteger, mas um dia a violência descobre uma brecha e ataca, nos transformando em mais um número das estatísticas. As quadrilhas, cada vez mais ousadas, exibem seu poder à luz do dia, decapitando o inimigo, tocando fogo no corpo e largando-o nas ruas, perto do metrô, para que todos entendam de uma vez quem é que manda no pedaço.

Minha amiga não quer guerra onde ela mora. Ninguém quer. O Estado deveria proteger os cidadãos, mas entra ano e sai ano, entra década e sai década, e isso não acontece. O que sobra ao cidadão? Apenas torcer para que a quadrilha que manda no bairro não seja atacada por outra quadrilha. A coisa chegou a tal ponto que é melhor viver na paz do tráfico que na guerra do tráfico, veja só o absurdo. Já que o narcotráfico não vai acabar nunca, melhor se entender com quem realmente manda no pedaço. E esse alguém não é a polícia. Nem o governador.

E por que diabos as forças de segurança não agem? Arrá! Chegamos a um segundo nível da questão. A polícia é incapaz de conter a força dos traficantes não exatamente porque são muitos e bem armados, mas porque os bandidos possuem conexões com a própria polícia, as forças armadas, políticos, juízes e governantes. Até mesmo com empresários e igrejas. Como derrotar algo tão poderoso?

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Ricardo Kelmer 2005 – blogdokelmer.com

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> Esta crônica integra o livro Blues da Vida Crônica

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Foto 1: Ana Carolina Fernandes/Folha Imagem
Foto 2: Psicotropicus

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elemedita01aMinha noite com a Jurema – Nessa noite memorável fui conduzido para dentro de mim mesmo pelo próprio espírito da planta, que me guiou, comunicou-se comigo, me assustou, me fez rir e ensinou coisas maravilhosas

A Jurema e as portas da percepção (VIP) – Relato detalhado da experiência narrada em Minha Noite com a Jurema. Exclusivo para Leitor Vip. Basta digitar a senha do ano da postagem

Xamanismo de vida fácil – A tradição xamânica dos povos primitivos experimenta uma espécie de retorno, atraindo o interesse de pesquisadores e curiosos

Só o crack salva – Se os problemas relacionados ao crack ficassem restritos às camadas pobres da população, os ricos jamais se incomodariam e o horário nobre da tevê nem tocaria no assunto

O trem não espera quem viaja demais – Alguns captam o recado da planta, entendendo que a trilha da liberdade existe, sim, mas deve ser localizada no cotidiano de suas vidas e, mais precisamente, em seu próprio interior

A metamorfose  – Um miniconto sobre o fundo do poço

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DICA DE LIVRO

BaseadoNissoCLUBEDEAUTORESCapa-03aBaseado Nisso – Liberando o bom humor da maconha
Ricardo Kelmer

Os pais que decidem fumar um com o filho, ETs preocupados com a maconha terráquea, a loja que vende as mais loucas ideias… RK reuniu em dez contos alguns dos aspectos mais engraçados e pitorescos do universo dos usuários de maconha, a planta mais polêmica do planeta. Inclui glossário de termos e expressões canábicos. O Ministério da Saúde adverte: o consumo exagerado deste livro após o almoço dá um bode desgraçado.

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Basta enviar e-mail pra rkelmer@gmail.com com seu nome e cidade e dizendo como conheceu o Blog do Kelmer (saiba mais)

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