Ricardo Kelmer 2010
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Eu tinha 25 anos. Ela tinha a mesma idade e estudava psicologia com minha irmã. Era morena clara e seus cabelos negros lhe desciam em ondas pelas costas. Tão bonita, tão charmosa… E tinha uns olhos azuis que, aiai, me perturbavam o juízo. Me apaixonei. E passei a sonhar acordado com ela, dias, semanas, meses. Desejava-a em silêncio, secretamente, sem coragem de me aproximar. Por algum motivo achei que ela era mulher demais pra mim – homem tímido é uma merda. Cheguei a escrever um conto de paixão, inspirado nela, que minha irmã, a meu pedido, lhe entregou. Quem sabe ela gosta e quer me conhecer melhor, eu esperançava, sonhando em meus sonhos azuis. E ela? Ela até leu o conto e mandou dizer que era bonito, e agradecia. E só. E só segui eu em minha pequena tragédia de homem ridículo.
Um dia eu soube que a moça cantava. Sim, além de tudo ainda era um rouxinol. Nem precisava tanto. E fazia os vocais de apoio nos shows do Beto Barbosa em Fortaleza. Decidi que iria a um show, só pra vê-la. E fui mesmo, eu que nem gostava de lambada, veja só o desespero do cidadão. Hoje gosto, acho que por causa dela. Fui ao show sozinho, comprei o ingresso, caríssimo, e me postei pertinho do palco, copo de vodca dupla na mão, me sentindo um ET naquele ambiente. E lá fiquei por todo o show, absolutamente extasiado com a visão à minha frente, ela adocicando sua louca magia no palco e eu babando minha paixão anônima na plateia. Ela de saia e blusinha brancas, uma rosa no cabelo, descalça, tão linda e brejeira, tão reluzente, tão cheia de graça… Uma deusa. Uma deusa inalcançável. Definitivamente era mulher demais pra minha timidez.
Restou-me escrever um poema pra fechar de vez o capítulo dessa paixão sem futuro. E assim saiu Insana paixão. Que não mandei pra ela. Mas, disfarçadim na última estrofe, quinto verso, pinguei seu nome no poema, Germana. Feito a gota final de um sonho azul. Aqueles sonhos que se desmancham pra sempre na praia dos amores que não puderam viver.
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INSANA PAIXÃO
Ricardo Kelmer 1989
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O azul dos olhos a marejar
O som de um blues
Meu cruzeiro do sul
Teu azul-íris do mar
Tão azul a luz dança no ar
Blues serpentina
Mas tão fugaz é a retina
Teu azul que eu quis sonhar
Por onde você se engana
Tão distantemente minha?
Pra quem mente tua luz cigana?
Teus olhos quem cegarão?
Desejo é o germe que emana
De toda insana paixão
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Ricardo Kelmer – blogdokelmer.wordpress.com
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Cartaz com o poema.
Clique na imagem pra ampliar.
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Através das paixões abruptas, edificam-se belos poemas.
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> É verdade, Geraldo. Da arte diz-se que não tem valia – mas quando vão-se as paixões, fica a poesia.
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Então… eu podia ter guardado meus escritos de paixonite assim como você o fez e usá-los pra lembrar do meu romantismo cheirando a adolescência. Lastimo por “lambadas não dançadas” e nem curtidas verdadeiramente. Enfim, timidez é mesmo uma merda, mas o poema, meu querido, é perfeito. Adorothy!
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> Em homenagem às paixonites e às lambadas não dançadas, um Jack Daniel´s. A dois. Ou triplo, quital?… 🙂
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