O urgente resgate do feminino

05ago2019

Reconhecer e integrar em si o feminino é uma questão urgente do nosso tempo, e tem implicações gerais, até mesmo no campo da ecologia

O URGENTE RESGATE DO FEMININO

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Aos poucos, dia após dia, a sociedade se vê obrigada a discutir seriamente a questão da transgeneridade. Pessoas que nascem com o corpo diferente do gênero com o qual verdadeiramente se identificam está deixando de ser um assunto bizarro e constrangedor para ser um tema imprescindível no âmbito dos direitos humanos. Os setores mais retrógrados da sociedade esperneiam, mas a causa trans, assim como as causas feminista, gay ou racial, é uma luta legítima da humanidade contra a opressão e pela sua própria aceitação como espécie. Diversa, sim, mas a mesma espécie.

Muitos homens e mulheres agridem pessoas transgênero, sem conseguir aceitá-las. Mesmo ativistas feministas, nas linhas mais radicais do movimento, não as aceitam, pois entendem que as mulheres transgênero prejudicam sua luta, alegando que estas incorporam comportamentos que reforçam o estereótipo da mulher fútil, que só pensa em roupas, cosméticos e em estar bonita para o homem, o que, obviamente, é uma generalização injusta. Mesmo tendo nascido com corpo de homem, uma mulher transgênero é mulher, pois o que determina o gênero é a autoidentidade psicológica ‒ ela apenas teve a infelicidade de nascer com o corpo errado, numa falha da natureza que pode ser consertada com cirurgia e tratamento adequados.

Se a questão feminista já avançou bastante, as questões mais profundas que envolvem o princípio feminino ainda engatinham na compreensão geral. O feminino não tem a ver necessariamente com o gênero: ele é um princípio psíquico, do reino yin, presente na psique de mulheres e homens. Todos nós, independente do gênero, somos femininos, assim como todos somos também masculinos. Reconhecer e integrar em si o feminino (e isso não tem a ver com homossexualidade) é uma questão urgente do nosso tempo, tanto no plano individual como no coletivo, e tem implicações gerais, até mesmo no campo da ecologia (cuidar da Terra).

O princípio yin está ligado ao cuidado, à flexibilidade e à cooperação, enquanto o princípio yang está ligado à força, à luta e à conquista. Precisamos dos dois princípios para sobreviver, como indivíduos e como espécie, sim, mas nesse momento a prioridade é nos relacionarmos melhor, com nós mesmos e com os outros, e cuidarmos da nossa casa, o planeta. A prioridade é o resgate do princípio feminino.

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Ricardo Kelmer 2016 – blogdokelmer.com

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Esta crônica integra o livro Pensão das Crônicas Dadivosas

Nesta seleção de textos, escritos entre 2007 e 2017, Ricardo Kelmer exercita seu ofício de cronista das coisas do mundo, ora com seu humor debochado, ora com sobriedade e apreensão, para comentar arte, literatura, comportamento, sexo, política, religião, ateísmo, futebol, gatos e, como não poderia deixar de ser, o feminino, essa grande paixão do autor, presente em boa parte desta obra.

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Marchando com as vadias – Se ser vadia é ser livre para exercer a própria sexualidade, então todas as mulheres precisam urgentemente assumir sua vadiagem, para o seu próprio bem e o de suas filhas

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vtcapa21x308-01Vocês Terráqueas – Seduções e perdições do feminino

Com que propriedade um homem pode falar sobre o universo feminino? Neste livro RK ousou fazer isso, reunindo 36 contos e crônicas escritos entre 1989 e 2007, selecionados em suas colunas de sites e jornais, além dos textos inéditos. Com humor e erotismo, eles celebram a Mulher em suas diversas e irresistíveis encarnações. Ciganas, lolitas, santas, prostitutas, espiãs, sacerdotisas pagãs, entidades do além, mulheres selvagens – em todas as personagens, o reflexo do olhar masculino fascinado, amedrontado, seduzido. Em cada história, o brilho numinoso dos arquétipos femininos que fazem da mulher um ícone eterno de beleza, sensualidade, mistério… e inspiração.

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DICA DE LIVROS

Mulheres que correm com os lobos – Mitos e histórias do arquétipo da mulher selvagem (Clarissa Pinkola Estés –  Editora Rocco, 1994)

A prostituta sagrada – A face eterna do feminino (Nancy Qualls-Corbert – Editora Paulus, 1990)

As brumas de Avalon (Marion Zimmer Bradley – Editora Imago, 1979)

O Feminino e o Sagrado – Mulheres na jornada do herói (Beatriz Del Picchia e Cristina Balieiro – Editora Ágora, 2010) – Elas sempre foram, mais que os homens, historicamente reprimidas na busca pela essência mais legítima de suas vidas

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Basta enviar e-mail pra rkelmer@gmail.com com seu nome e cidade e dizendo como conheceu o Blog do Kelmer (saiba mais)

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