28ago2012
A realidade, em si, não existe – o que existe é nossa interação com ela
PESADELOS REAIS
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Alucinações do Passado é um grande filme e mostra que o inferno existe, sim, mas não tem de ser um lugar cheio de chamas e diabos cruéis. O inferno pode ser aqui e agora, e acontece quando nos apegamos demasiadamente a ideias ou comportamentos que não são mais úteis ao crescimento pessoal e, assim, obstruímos o fluxo natural da vida a tal ponto que ela apodrece dentro de nós, transformando o viver num pesadelo real.
O magistral roteiro do filme prende a atenção desde o início e aos poucos é que entendemos que Jacob embarcara para o Vietnã afetado por sua imensa culpa pela morte do filho. Lá, ferido mortalmente, sua consciência o transporta para uma realidade onde ele segue vivendo sua vida após retornar da guerra, com a namorada Jeze e seu emprego de carteiro. É nessa realidade que ele terá a chance de se libertar da culpa que ainda carrega para, finalmente, ficar em paz.
A tarefa, porém, não vai ser fácil. A nova realidade mostra-se um confuso e perigoso labirinto onde Jacob tem frequentes pesadelos com o Vietnã, é envolvido numa conspiração assassina e chega a sonhar um sonho dentro do sonho, o que o deixa à beira da completa loucura. No auge do sofrimento, sem saber mais a que apelar para entender o que acontece, Jacob recebe de seu quiropata o conselho de se desapegar daquilo que ainda o prende ao inferno em que vive.
No início do século 20 os físicos quânticos desconcertaram o meio científico ao relatarem suas experiências com as partículas subatômicas. Estudando-as minuciosamente, perceberam que o simples ato de observá-las já alterava seu comportamento. Isso os levou à inquietante conclusão que a realidade, em si, não existe: o que existe é nossa interação com ela. Voltando ao filme, a realidade em que Jacob vive após ser ferido no Vietnã é tão real quanto a própria guerra, mas só existirá enquanto ele não se conciliar com seu passado. Em outras palavras, é justamente a compreensão de Jacob a respeito da vida que cria a própria realidade em que ele vive.
É um tanto confuso, sim, mas disso tudo podemos extrair coisas úteis. Podemos, por exemplo, ficar mais atentos para não permitir que a vida se transforme num inferno real, criado por ideias, sentimentos e atitudes aos quais nos apegamos mais que o necessário. Assim como a física quântica já provou em seus laboratórios, tudo que precisamos para transformar a realidade é mudar a nós próprios.
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Ricardo Kelmer 2002 – blogdokelmer.com
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> Esta crônica integra o livro A Arte Zen de Tanger Caranguejos
> Este texto no site Adoro Cinema
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Alucinações do Passado
(Jacob’s ladder, EUA, 1990)
Direção: Adrian Lyne. Roteiro: Bruce Joel Rubin
Elenco: Tim Robbins, Elizabeth Peña e Danny Aiello
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TREILER DO FILME
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Vi esse filme há muitos anos atrás, ainda criança. Lembro de ter ficado impressionada, porém não sabia bem o porquê. Mas a gente sente que tem algo ali que faz muito sentido.
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> Você falou pouco, simples e profundamente, Andrea. É isso mesmo. Que tal ver o filme novamente, com os olhos que hoje você tem?
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