Ricardo Kelmer 2009
O mundo melhor pelo qual eu e muitos outros lutamos passa necessariamente por esta aceitação: somos diversos
Eu já havia perdido a Virada Cultural de 2009 por ainda estar na turnê nordestina. Uma pena. Nem vou listar aqui os shows imperdíveis que perdi pra não chorar, xapralá, bola pra frente. Pela menos a Parada Gay eu não perderia, um bom consolo.
O tuntstuntstum no último volume dos carros de som é insuportável. As calçadas das ruas transversais alagadas de mijo também. Mas é compensador participar desse carnaval de um dia só em que se transformou a Parada Gay, eu realmente me divirto muito em ver os tipos e fazer parte dessa grande festa democrática da sexualidade.
Este ano terminamos a festa no H2Rock, um boteco da Augusta que descobri dia desses, onde sempre rolam bons shows de blues e rock no telão. Tomar uma vendo os Doors, Janis, Led Zeppelin, ô diliça… Coisas daugusta. Eu, Samia, Zé di Bedis, Magnata e Gilbas, entre cervas, domecqs e ósculos desatinados. Tudo muito bom, até o tiragosto de amendoim com alho. Coisas daugusta.
Agora falando sério. Assim como não há mais como deter os movimentos de emancipação feminina e de igualdade racial, o mesmo já acontece com o movimento gay. A sociedade já não pode fazer de conta, como até um tempo atrás, que a homossexualidade não existe. Hoje precisamos todos conviver com isso, gostando ou não. Aliás, a luta dos homossexuais não é apenas a luta de uma minoria – ela deve ser vista como um movimento natural evolutivo da própria humanidade no sentido de se aceitar como sempre foi, sexualmente diversa.
Você tem a sua sexualidade própria, eu tenho a minha, a digníssima senhora sua mãe tem a dela e, se pensarmos bem, em última análise cada pessoa deste mundo vivencia a sexualidade de uma forma única. Entre bilhões de pessoas, talvez não haja duas sexualidades exatamente iguais. Então por que haveríamos de eleger uma mais certa ou errada que a outra?
Quanto mais penso no assunto, mais me convenço de que a velha divisão da sexualidade humana em heterossexual e homossexual é algo absolutamente artificial e sem real fundamento. Tudo bem que de uns tempos pra cá o senso comum abriu uma brechinha na divisão pra incluir a bissexualidade mas, ainda assim, não dá pra explicar a sexualidade humana encaixando-a apenas nesses três compartimentos. Dois gays podem ser sexualmente mais diferentes entre si que um homo e um hetero. Sem falar que a questão na verdade começa muito antes disso: o que exatamente define, e qual a medida, que alguém é homo ou hetero ou bi?
O mundo melhor pelo qual eu e muitos outros lutamos passa necessariamente por esta aceitação: somos diversos. E dentro dessa diversidade somos uma única família e temos todos o mesmo direito fundamental, o direito que é a mãe de todas as liberdades: poder ser quem somos.
Pra terminar, deixo você com a graciosa exuberância de Natasha e Thalyta, uma dupla que, como pode-se constatar, abalou a avenida Paulista. Olhe à vontade pois não tava fácil a concorrência pra fotografar com as meninas.
> RK na Parada Gay. Veja as fotos (exclusivo para Leitor Vip)
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Corta pra cozinha da Paulete. Ela preparando um capuccino. Só de calcinha e uma camiseta preta do Led Zeppelin. Adoro mulher com camiseta do Led. Em algum lugar toca um blues.
– Defendendo os gays assim, vão acabar achando que você agasalha o croquete.
– Claro que agasalho. No seu cruassam.
– Hummm, é assim que eu gosto de te ver, bem animadinho.
– É, tô animado mesmo. Você tá me tratando bem.
– Meu batráquio desengonçado merece. Gostou do boteco da Augusta?
– Tirando a fumaceira de cigarro, adorei.
– Fica frio, sete de agosto acaba teu martírio.
– Nunca mais tontura e olhos irritados. Nunca mais roupas e cabelo fedidos. Ufaaaa…
– Primeiro o barzinho da Cardeal. Agora um boteco na Augusta. Pra quem tava órfão de bar e agora já tem dois…
– Obrigado, Paulete. Mas quero mais. Bares legais pra botar no circuito do Letra de Bar, você me arruma?
– Tá na lista de prioridades. Junto com a namorada linda e indecente pra ver contigo os gols da rodada embaixo do edredon.
– Ver e comentar, não esquece.
– Ela ainda tem que comentar? Se você pelo menos fosse bonito, teria moral pra tanta exigência…
– Falar nisso, te contei que me cadastrei no Par Perfeito?
– Sério? Ah, vocês românticos…
– Achei que você aprovaria.
– Eu? Esquece. Pro seu caso, é melhor um bar perfeito.
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Ricardo Kelmer – blogdokelmer.wordpress.com
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> RK na Parada Gay – Veja as fotos (exclusivo pra Leitor Vip)
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Sim, somos diversos de diversas formas…
Algo que acho triste é que movimentos que foram criados para exigir seus direitos de serem o que são, perdem-se totalmente, os conceitos de hoje não são os mesmo de quando foram criados. Vide a Parada Gay, que era um evento que defendia o direito da escolha da sexualidade de um indivíduo acabou por virar um carnaval, em que se resume hoje a ‘pegação e bebidas’.
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> É vero. No país do Carnaval, seria impossível que uma coisa chamada Parada Gay não terminasse em carnaval. Mas dá um desconto, Daniela, deixa o povo beber e se agarrar, o mundo tá se acabando…
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Poizé, como vc diz, ninguém tem nada a ver com a vida- a cama- ou etcs de ninguém a menos que se faça mal aos outros, o que não é o caso. Só pode ser falta do que fazer…
“Iassim vamos”, caminhando a humanidade…
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> É issuaí, Lia. Ninguém tem nada a ver com quem você leva pra cama ou pra cama de quem você é levada. Você é levada? Isso ficou estranho, não era o que eu queria dizer. Mas você entendeu.
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Nada contra bebedeiras, diversões e pegações, porém isso foge a ideia original do Movimento Gay e gera imagem de que Homossexualismo = Perversidade/Promiscuidade, e é disse que estou falando. A própria LGBT deve concordar.
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Ricardo, deixando o lado mais serio da parada gay de lado, que foto eh essa??? A Paulette ta te tratando bem demais, ne nao? Alias, a foto ficava perfeita para o texto ai de baixo… Parabens ao blog pelo primeiro aninho de vida, e sim, acho que vc fez a escolha certa, eh muito mais facil e prazeroso ler o blog do que o antigo site! Beijo!
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> Obrigado, Tata, você sempre me incentivando, ô coisa boa. Aliás, você tem forte participação nisso tudo, né? Saibam vocês, generosa leitora e nobre leitor, que esta moça é a responsável pelo que sou hoje: um cara que segue seus sonhos. Mesmo que adiante eles se revelem meros trampolins pra outros sonhos mais verdadeiros.
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Como é q eu vou explicar p Tallyta q vc “arrumou outra” morena indígena aí em Sampa? kkkkkkkkkk.
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> Poizé, morenas indígenas me tiram do sério… Mas me explicaí, “outra” morena indígena? A primeira quem é mesmo, heim?
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Querido voce seguiria seus sonhos de qualquer jeito, mas do nosso jeito foi mais divertido, nao? E no minimo, mais exotico…
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