Ricardo Kelmer 2009
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O QUE A PAIXÃO NÃO FAZ
Que grande chance de ficar calada perdeu a escritora feminista estadunidense Camille Paglia. Numa recente entrevista pra revista Veja, Camille revelou estar desapontada com a música pop e especialmente com Madonna. Até aí tudo bem. O negócio pegou quando Camille passou a descarregar um caminhão de confetes sobre a cantora Daniela Mercury:
“Ela é a Madonna brasileira. Faz música pop mas possui outra dimensão incrível que Madonna não tem: um grande conhecimento sobre folclore, sobre os grupos étnicos brasileiros e sobre a história da Bahia”.
Grande conhecimento sobre folclore e grupos étnicos? A Daniela Mercury? Putz… Será que precisou vir uma intelectual lá dos Estados Unidos nos mostrar, a nós ignorantes brasileiros, quem realmente é Daniela Mercury?
Não, claro que não. Mas vamos relevar, por favor. Camille se apaixonou pelo tempero da baiana e, você sabe, a paixão nos faz ver coisas que não existem. Não sei se Daniela retribuiu os confetes da gringa empolgada mas uma coisa eu sei: é bom ela fazer urgentemente um intensivão sobre etnografia e folclore brasileiro antes que algum repórter mais curioso invente de querer comprovar a tese de Camille.
Depois dessa o precedente tá aberto pro Noam Chonski publicar um ensaio apaixonado sobre a Tati Quebra-Barraco. É, dona Orestina, é o fim do mundo.
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A DISCUSSÃO TÁ ACESA
A revista Época, edição 561, de 16fev2009, teve como matéria de capa a reportagem Maconha – Por que é preciso debater a legalização do uso da droga. A matéria, assinada por Ruth de Aquino, que é diretora da sucursal da revista no Rio de Janeiro, tem como imediata inspiração o atual movimento de um grupo de pessoas que defende a legalização do consumo pessoal de maconha.
Até aí nada demais. A maconha sempre teve seus defensores, principalmente entre artistas, estudantes e hippies. A novidade é que o tal grupo que inspirou a matéria é formado por políticos, intelectuais e especialistas de vários países, entre eles ex-presidentes como Fernando Henrique Cardoso, do Brasil, Cesar Gaviria, da Colômbia, e Ernesto Zedillo, do México. Pra eles, a sociedade tem mais a perder que ganhar com a proibição do consumo da erva. Ou seja: a bandeira da legalização agora é empunhada por gente chique de gravata, diploma e respeito internacional. A maconha agora deve estar se sentindo a rainha da bocada, ops, da cocada.
Mais cedo ou mais tarde isso teria mesmo que acontecer. Na verdade até que demorou muito pois é indiscutível que falhou estrondosamente a atual política de repressão dos governos em relação à questão da droga. Tudo o que se conseguiu foram bilhões de dinheiro gastos à toa, milhões de mortes e o fortalecimento do crime organizado. A tal guerra às drogas é uma guerra perdida desde o início pelo simples fato de que é impossível vencer algo que é natural à espécie humana: o anseio por estados especiais de consciência.
Sejamos realistas: as pessoas DESEJAM alterar o funcionamento cotidiano da mente, seja com álcool, nicotina, THC, cocaína, ecstasy, LSD, lança-perfume ou remédios. Elas querem, sempre quiseram e continuarão querendo usar drogas, sejam legais ou ilegais. E elas usarão, nem que precisem se envolver com o tráfico e arriscar serem presas.
Diante disso, a atitude mais sensata da sociedade seria trocar a política de guerra às drogas pela política de redução de danos, onde admite-se que os consumidores sempre existirão e que, assim sendo, o melhor não é prendê-los mas ajudá-los a lidar com a droga da melhor forma possível. Tentar proibir as pessoas de usarem drogas funciona tanto quanto tentar acabar com a aids proibindo o sexo.
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Ricardo Kelmer – blogdokelmer.wordpress.com
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>> Mais sobre este tema: Rio Droga de Janeiro – Série de 3 artigos sobre a questão da legalização das drogas
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E os policiais que ganham o seuzinho das bocas de fumo vão ficar na mão? Não interessa aos politicos e policiais corruptos que haja legalização de nada, a folha de Pagamento é mto grande e lucrativa, para simplesmente legalizar por que seria o mais racional.
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Artigo bem tecido. Li recentemente no blogue do Dennis russo na veja matéria esclarecedora sobre esse assunto, se quiser olhar kelmer, ela fica em : http://veja.abril.com.br/blog/denis-russo/
pra lhe adiantar o quão curioso me pareceu esse artigo, transcrevo aqui somente o primeiro parágrafo.
Cem anos atrás, em 26 de fevereiro de 1909, um grupo de diplomatas de 34 países se reuniu na China para a Comissão Internacional do Ópio e decidiu que essa droga tão nociva tinha que ser proibida no mundo inteiro. Começava ali a era da proibição das drogas. Até aquele dia, não existiam “drogas ilegais”. Maconha se comprava em armazéns na África, na Índia e no Rio de Janeiro. Cocaína era produzida pela Bayer e, assim como aspirina, vendida na farmácia.
Sem dúvida, me sinto em outra época… abraço.
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> Valeu a dica, Chico!
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