Eu só queria que você soubesse

10/11/2009

10nov2009

EuSoQueriaQueVoceSoubesse-06

EU SÓ QUERIA QUE VOCÊ SOUBESSE

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Eu só queria que você soubesse
Que as minhas noites são tão vazias
E o meu coração é tão velho sem você…
Eu sirvo mais uma dose enfim
Eu olho a cidade
Da janela só a cidade sabe de mim

Eu ouço música na madrugada
Eu tinha tanta música pra fazer
Sirvo uma dose, me visto pra sair
Eu tinha tanto pra dizer
Onde está a seção de acompanhantes?
Quanto vale um corpo sem você?

Eu só queria que você soubesse
Que eu durmo muito tarde
E até a cidade tem sensibilidade
E que comprei aquele vinho da promoção
Eu só queria que você soubesse
Que você não tem coração
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Ricardo Kelmer 1995 – blogdokelmer.com

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> Ouça esta música (de Ricardo Kelmer e Humberto Pinho)

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EuSoQueriaQueVoceSoubesse-06c

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RAIO X DA PARCERIA

Você me permite umas considerações sobre esta música?

Fiz a letra desse blues numa das madrugadas solitárias de minha primeira fase carioca (1995-1996). Mostrei pro Humberto, que gostou e musicou. Em 2004, antes de eu embarcar pra ir morar novamente no Rio de Janeiro, ele gravou em seu estúdio, apenas voz e violão. É o único registro que temos pois a música não foi gravada por mais ninguém.

Quando escrevi, tive o cuidado de deixar o gênero incerto, ou seja, quem fala pode ser uma mulher ou um homem, apesar do protagonista buscar uma seção de acompanhantes e isso ser uma prática mais masculina. Numa letra, a incerteza proposital do gênero permite que tanto homens como mulheres se identifiquem e possam cantar sem ter que alterar o texto.

Por falar em alterar, houve alterações na letra. Em parcerias, isso é comum, e usarei este caso pra mostrar como elas podem enriquecer o trabalho. Na letra original, o verso é “Que as minhas noites são tão vazias” mas Humberto gravou “Que as minhas noites são tão sozinhas”. Gostei, mas prefiro o original por causa da aliteração (repetição das mesmas letras ou sílabas) provocada pela letra V (vazias, velho, você).

EuSoQueriaQueVoceSoubesse-06Outra mudança foi no verso “Quanto vale um corpo sem você?”, que na gravação ficou “Quanto vale um corpo sem o seu?” Outra vez prefiro o original mas é interessante perceber como as duas formas possuem curiosas sutilezas de significados. Vejamos:

“Quanto vale um corpo sem você?” – O protagonista ou a protagonista, no auge da solidão, busca a seção de acompanhantes e se pergunta quanto poderia valer um corpo que não fosse o da pessoa amada, “um corpo sem você”.

“Quanto vale um corpo sem o seu?” – Aqui a pergunta muda o foco. Quanto valeria o corpo do próprio protagonista privado do corpo da pessoa amada?

Mas houve uma mudança que aprovei. No original, era assim:

Eu olho a cidade da janela
Só a cidade sabe de mim

O protagonista está na janela olhando a cidade e somente a cidade sabe de sua dor. Na gravação, porém, o ritmo obrigou Humberto a fazer uma leve pausa entre “cidade” e “janela” e essa mudança, mesmo sendo bem sutil, levou o “da janela” mais pra perto do verso seguinte e isso causou, pelo menos pra mim, um efeito visual e de sentido bem mais interessante.

Eu olho a cidade
Da janela só a cidade sabe de mim

O protagonista continua olhando a cidade, isso não mudou. Mas agora o verso “Da janela só a cidade sabe de mim” parece emoldurar a cidade na janela e isso traz o protagonista de volta ao ambiente interno do apartamento. Ou seja, agora a cidade está na janela e observa o protagonista em sua dor e solidão.

A seguir, o clipe. É um dos que usei pra divulgação de meu livro Vocês Terráqueas. Escolhi e trabalhei as imagens pondo como protagonista uma mulher, e pra fazer a edição usei o Windows Movie Maker, tudo bem dentro das minhas limitações, vá desculpando.

> Baixe a música (mp3)

> Mais músicas kelméricas

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Clipe da música

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Comentarios01COMENTÁRIOS
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01-  Adorei ”Eu só queria que você soubesse”. E meus ouvidos até sorriram. Herlene Santos, Fortaleza-CE – abr2013

02- Excelente! Dalu Menezes, Fortaleza-CE – abr2013

03- Muito boa,Ricardo Kelmer Do Fim Dos Tempos!!! Silvana Alves, Fortaleza-CE – abr2013

 


Trem dos sonhos

19/07/2009

TremDosSonhos-01d

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TREM DOS SONHOS
Ricardo Kelmer
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Ela levantou cedo e se mandou
Foi atrás de um sonho maior
Deixou um beijo de saudade
E essa cidade ao meu redor
Esses prédios que abafam
Todo sonho de crescer
E ela se foi no trem do amanhecer

Porque os sonhos, meu amor
São um trem que não virá
Se a gente ficar esperando acontecer

A cidade se acende
Em luzes de neon lilás
Manchetes sedutoras, paraísos irreais
No fim de tarde o horizonte
Traz notícias de você
E os meus sonhos morrem de fome
Sem a cidade perceber

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> Esta é a letra de Trem dos Sonhos, um rock-balada que eu e Flávia Cavaca compusemos pra trilha sonora de meu romance O Irresistível Charme da Insanidade. Luca arrasado porque Isadora se mandou, deixando-o sozinho e perdido. A letra é de 2000 e Flávia musicou em 2005.

Baixe a música

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Ricardo Kelmer – blogdokelmer.wordpress.com

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COMENTÁRIOS
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Alma una (clipe musical)

01/06/2009

01jun2009

Fiz esta música em 2006 com Flávia Cavaca. Quem canta é Lila Shakti. Os instrumentos e a programação ficaram a cargo do Rodrigo Larese, um fera. Em algumas cidades há grupos que usam esta música em rituais xamânicos ou de celebração do Feminino Sagrado. Ótimo! É pra isso mesmo, fiquem à vontade.

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ALMA UNA
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Celebrar o milagre de ser
O assombro de viver
Na doce magia da noite
Minha alma é noiva desse ritual

O fogo me aquece num abraço amigo
As fagulhas são reflexos do infinito
Eu danço o mistério da Lua
Linda, nua e natural

Eu faço amor com a Terra
Sou a amante eterna
Do fogo, da água e do ar

Sou irmã de tudo que vive
Ninfa que brinca com a vida
Alma una com tudo que há

Salamandras brincam na fogueira…
Guerreiras aladas trazem oferendas…
Se aproximam os animais de poder…
Planta-mestra, eu quero aprender…
Guardiães, abençoem meu caminho…
Tambores do xamã, toquem para mim…
Grande Mãe, estou aqui…

(música de Ricardo Kelmer e Flávia Cavaca)

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Ricardo Kelmer 2006 – blogdokelmer.com

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> Baixe a música (mp3, 4mb)
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ElaLua002

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Mais sobre liberdade e o feminino selvagem

A mulher selvagem – Ela anda enjaulada, é verdade. Mas continua viva na alma das mulheres

A mulher livre e eu – A liberdade dessa mulher reluz no seu jeito de ser o que é – e ela é o que todas as outras dizem ou buscam ser, mas só dizem e buscam, enquanto ela tranquilamente… é

Em busca da mulher selvagem – Era por ela que eu sempre me apaixonava, essa mulher que era quem ela mesma desejava ser e não a mulher que a família, religião e sociedade impunham que ela fosse

Amor em liberdade – O que você ama no outro? A pessoa em si? Ou o fato dela ser sua propriedade? E como pode saber que ela é só sua?

As fogueiras de Beltane – As fogueiras estão acesas, a filha da Deusa está pronta. O casamento sagrado vai começar

Medo de mulher – A mulher é um imenso mistério, que o homem jamais alcançará

Alma una – Eu faço amor com a Terra / Sou a amante eterna / Do fogo, da água e do ar / Sou irmã de tudo que vive / Ninfa que brinca com a vida / Alma una com tudo que há

Quem tem medo do desejo feminino? (1) – A maternidade, a castidade e a mansidão de Nossa Senhora como bom exemplo, e a força, a independência e a liberdade sexual da puta como exemplo contrário, a ser jamais seguido

LIVROS

Mulheres que correm com os lobos – Mitos e histórias do arquétipo da mulher selvagem (Clarissa Pinkola Estés –  Editora Rocco, 1994)

A prostituta sagrada – A face eterna do feminino (Nancy Qualls-Corbert – Editora Paulus, 1990)

As brumas de Avalon (Marion Zimmer Bradley – Editora Imago, 1979) – A saga arturiana pela ótica das mulheres

Mulheres na jornada do herói (Beatriz Del Picchia e Cristina Balieiro – Editora Ágora, 2010) – É ainda mais interessante ver o relato das mulheres pois elas sempre foram, mais que os homens, historicamente reprimidas na busca pela essência mais legítima de suas vidas

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COMENTÁRIOS
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01- OBRIGADA, OBRIGADA, OBRIGADAAAAAAAAAAAAAAAA… Me emocionei… demais… Espero poder usá-la em meus trabalhos… A sensibilidade das palavras somadas ao ritmo é de fazer com que, nos esqueçamos, por alguns momentos, de onde estamos…Parabéns! Abraço carregado de Boas vibrações e gratidão, também, por suas palavras. Carinhos. Stella Petra, Curitiba-PR – dez2010

02- Sem palavras! É absolutamente estonteante. D´nara Rocco, Montevidéu, Uruguai – nov2012

03- O poeta arrasa na mitologia… 🙂 Muito bom! Ninfas… Sempre elas, hein…? 🙂 Dalu Menezes, Fortaleza-CE – dez2012

04- 20.12.12 Belo dia para transcender o óbvio! As palavras não se prestam ao que realmente se propõem! Incompletas, indefinidas, elas se esquivam dos meus sentimentos, do meu SENTIR. Ah! essa vontade de escrever pra ninguém. Esse desejo de mostrar a ALMA NUA pra quem?
Espanto! Sonhos! Desejos! Vontade quase eufórica de embrenhar-me na mata, subir montanhas, atravessar riachos e mangues. Bruxaria! As palavras escritas, desenhadas com se fora uma serpente me enroscando, tragando-me para o interior de um universo particular, paralelo, (sei lá)! Mostrar quem sempre SOU e não tenho ESTADO!
Magia! Bruxaria! Letras, palavras, histórias, crônicas, contos….. coisas de bruxo?????? Alma de Bruxo travestido de escritor, insano, devasso e ateísta????? E essa vontade de correr rios, matas, montanhas… e ao mesmo tempo SER tudo isso!? Alma Desnuda, Fortaleza-CE – dez2012

05- Adorei ……………………………….. Vou levar Alma Una…………. sensacional! Amanda Pontes, Florianópolis-SC – mar2014

06- Mágico. Parabéns ao autor. Felipe Nobrega, Florianópolis-SC – mar2014

07- Tchê, musica e composição de imagens lindas. Do carayyyy…… Isadora Meirelles, Porto Alegre-RS – mar2014

08- Que lindo Ricardo Kelmer! Amei o presente. Tudo a ver!E adoro a voz da Lila Shakti, tenho um cd dela. Vou usar! Valéria Rosa Pinto, Rio de Janeiro-RJ – mar2014

09- muito brigada Ricardo Kelmer por saber captar nossa escencia. Sandra Buongarzini, Buenos Aires-Argentina – mar2014

10- Quando eu li esse poema e vi o vídeo.. então parte de mim pegou o caminho de volta à floresta que já havia esquecido.. rsrsrs. Adoro! Ivonesete Rodrigues, Fortaleza-CE – jul2014

11- Na veia F.C.&R.K. Dedé Calixto, Fortaleza-CE – jul2014

12- amei! Socorro Sousa, Fortaleza-CE – jul2014

13- Para curtir com una mujer do lado como a Syl. Dedé Calixto, Fortaleza-CE – jul2014

14- LindoDorah Andrade, São Paulo-SP – jul2014

15-  Eu danço o mistério da lua linda, nua e natural / Sou amante eterna do fogo, da água e do ar… / Sou irmã de tudo que vive / Salamandra na fogueira / Algo diz que essa canção foi feita para mim / Alma una. Edy Paiva, Valparaíso de Goiás-GO – set2017


Sonhos urbanos

27/04/2009

27abr2009

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SONHOS URBANOS
Ricardo Kelmer
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O sonho nasce na esquina
Sob a sina do sobreviver
O nome do sonho é desafio
Ele tem frio e quer comer

O sonho cresce no concreto
É discreto e ninguém vê
O nome do sonho é paciência
É ardência, é tesão, é viver

Sonhos urbanos
Escreve-se com dor neon
Leva cano mas não perde o tom
Sonhos urbanos
Suba no palco e diga sim
Mas não baixe o pano antes do fim

O sonho vive no futuro
No escuro do que vai haver
Ele só quer seu direito
Só um jeito de acontecer

O sonho morre de madrugada
Na estrada que não pôde ser
Mas de manhã acorda com fome
Porque seu nome é renascer

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Ricardo Kelmer 2005 – blogdokelmer.com

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sonhosurbanoslogo7bEsta é a letra da música Sonhos Urbanos, que compus com Flávia Cavaca pro seriado Sonhos Urbanos, que começou a ser produzido e gravado no Rio de Janeiro em 2005 mas não chegou a ser exibido. Quem sabe em São Paulo os Sonhos Urbanos se tornem realidade… 

> Clique pra baixar e escutar
> Mais músicas kelméricas

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As fogueiras de Beltane

04/07/2008

04jul2008

As fogueiras estão acesas, a filha da Deusa está pronta. O casamento sagrado vai começar

AsFogueirasDeBeltane-03

AS FOGUEIRAS DE BELTANE

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Já conheço este vento. Sei o que ele traz. Fecho os olhos, ainda ansiosa. Respiro profundamente, tentando espantar o medo… Todo ano é sempre a primeira vez.

Uma pequena serpente se aproxima, trazendo sua bênção. A Lua descansa por trás de uma nuvem. Toda a floresta está em respeitoso silêncio. Ouço apenas o murmúrio do fogo à minha frente e acompanho a dança suave das labaredas. E ao redor, mais afastadas, vejo brilharem as outras fogueiras. Não estou só.

Logo escuto o som de sua chegada, os cascos de seu cavalo pelo chão da floresta. Um arrepio me percorre o corpo sob o vestido, como um prenúncio do que virá… Estou pronta para o ritual.

Imponente, enfim ele surge entre os carvalhos, o porte altivo de cavaleiro. Aproxima-se em passo lento. Não vejo seu rosto, mas sei que está compenetrado, pois é um iniciado e sabe a importância do que fará.

A Lua então comparece, deitando seu manto prateado sobre a relva, e sua presença me fortalece. Ele desce do cavalo e caminha em minha direção, o passo pesado de homem, a espada cruzada sobre suas costas.

Nesse momento, o vento lhe dá as boas vindas e o fogo crepita seu nome. Ele para diante de mim. É mais jovem do que eu esperava. E é tão belo… Ele põe-se de joelho, reverente. Toco sua fronte e através de mim a Grande Mãe abençoa o cavaleiro, permitindo que ele participe dos mistérios dessa noite. Eu vim, filha da Deusa…, ele pronuncia as palavras do ritual. Mas percebo que está nervoso, talvez seja sua primeira vez. Então ergo meu cavaleiro e falo docemente para seus olhos: Desde o início dos tempos eu te esperei…

As labaredas crescem quando nos damos as mãos e saudamos a Deusa, agradecendo a dádiva de sermos instrumentos de sua vontade. Ofereço-lhe morangos e cerejas e entoamos baixinho a cantiga que fala da Terra fecunda. Em nossos corpos se celebrará mais uma estação, o mistério da vida que se renova.

Chamo-o para perto do fogo. Ponho-me de pé à sua frente. Ele faz cair meu vestido, que desliza suave sobre meu corpo até o chão. Nua e entregue, sinto a presença divina e fecho os olhos para recebê-la. E mais uma vez o mistério se renova: sou a própria Deusa, sem deixar de ser sua serva. E sei que é assim que agora ele me vê, a mistura inexplicável, mãe e filha num só corpo.

As mãos do cavaleiro me tocam os cabelos como se pedissem licença. Depois emolduram meu rosto e assim ficam, como se me quisessem guardar no quadro da memória. Sinto sua boca em meus seios, eu árvore generosa, carregada de frutos maduros para sua fome. Sou posta no chão por seus braços fortes, eu cálice e oferenda, deitada no altar da relva macia. Vem, meu cavaleiro…

Muitos são os mistérios que habitam a alma feminina, tantos quanto as estrelas do firmamento. E poucos os homens que ousam percorrê-los. Porque instintivamente sabem que se perderão. Mas meu cavaleiro já consagrou sua vida à Deusa e é ela quem lhe permite conhecê-la mais de perto, sentir seu aroma, tocar-lhe a fenda que protege a gruta da vida e da morte, afastar as cortinas do santuário e unir-se a ela em carne e espírito…

Percebo que ele vacila, extasiado, atingido em cheio pela imagem do mistério. Então, pela autoridade a mim atribuída, puxo-o com força e meu grito acende de vez a fogueira dentro do meu corpo. O cavaleiro me abraça e me envolve e nossos suores e salivas se misturam e já não sei mais o que é ele e o que sou eu. É a alquimia sagrada que transmuta a matéria, que faz de um mais um, três.

Ele percorre meu interior como a ávida planta que fuça a terra. E eu, terra fértil, recebo sua raiz e me deixo preencher. Ele serpenteia por dentro do meu corpo como o alegre rio que dança sobre a terra. E eu, terra sedenta, recebo sua água e me deixo inundar.

Luas, muitas luas… Estrelas, milhões delas luzindo pelo meu ser… Assim em cima como embaixo… Sou a noiva do casamento sagrado entre a Terra e o Céu…

Lentamente, o corpo do cavaleiro se separa do meu. Ele me dá um último beijo e adormece abraçado a mim, criança bela e pura. Ao amanhecer, ele irá e eu recolherei o orvalho das flores, saudando a primavera e agradecendo pela boa colheita que teremos.

O fogo ainda queima, protegendo nossos corpos do frio da madrugada. Abençoada e feliz, agradeço à Deusa a honra de servi-la. E me uno ao belo cavaleiro no descanso sagrado dos filhos da Terra.

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Ricardo Kelmer 2005 – blogdokelmer.com

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Este conto integra os livros Vocês Terráqueas
e Indecências para o Fim de Tarde

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MAIS SOBRE LIBERDADE E O FEMININO SELVAGEM:

AMulherSelvagem-11aA mulher selvagem – Ela anda enjaulada, é verdade. Mas continua viva na alma das mulheres

As quarenta raposas – Um silêncio vindo de fora do tempo caiu sobre sua figura altiva e naquele eterno segundo ela foi o anjo vingador: belo, justo e implacável.

A mulher livre e eu – A liberdade dessa mulher reluz no seu jeito de ser o que é – e ela é o que todas as outras dizem ou buscam ser, mas só dizem e buscam, enquanto ela tranquilamente… é

Em busca da mulher selvagem – Era por ela que eu sempre me apaixonava, essa mulher que era quem ela mesma desejava ser e não a mulher que a família, religião e sociedade impunham que ela fosse

Amor em liberdade – O que você ama no outro? A pessoa em si? Ou o fato dela ser sua propriedade? E como pode saber que ela é só sua?

Medo de mulher – A mulher é um imenso mistério, que o homem jamais alcançará

Alma una – Eu faço amor com a Terra / Sou a amante eterna / Do fogo, da água e do ar / Sou irmã de tudo que vive / Ninfa que brinca com a vida / Alma una com tudo que há

Quem tem medo do desejo feminino? (1) – A maternidade, a castidade e a mansidão de Nossa Senhora como bom exemplo, e a força, a independência e a liberdade sexual da puta como exemplo contrário, a ser jamais seguido.

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LIVROS

Mulheres que correm com os lobos – Mitos e histórias do arquétipo da mulher selvagem (Clarissa Pinkola Estés –  Editora Rocco, 1994)

A prostituta sagrada – A face eterna do feminino (Nancy Qualls-Corbert – Editora Paulus, 1990)

As brumas de Avalon (Marion Zimmer Bradley – Editora Imago, 1979)

O feminino e o sagrado – Mulheres na jornada do herói (Beatriz Del Picchia e Cristina Balieiro – Editora Ágora, 2010)

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CLIPE “ALMA UNA”

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Comentarios01COMENTÁRIOS
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01- Ola Ricardo Lindo texto…de suave expressão mas com forte alma da realidade! Sandra A. Dehn, Cuiabá-MS – fev2006

02- Ricardo: Depois de ler o conto do mês ( acho que é mais que crônica este ), achar que um homem ,que escreve como vc, sobre os mais íntimos sentimentos femininos é gay é brincadeira! Bjs. Guinha Lima, Rio de Janeiro-RJ – fev2006

03- Maravilhoso!!!!! Não sei explicar o motivo, mas fiquei arrepiada ao ler esse conto, li duas vezes e tive a mesma sensação, não se é pq foge do convencional ou pq é um mundo desconhecido… Lua Morena, Brasília-DF – fev2006

04- Olá Rick, Lndo!!! muito bom! parabéns. Gênea Garcia, Porto Alegre-RS – fev2006

05- Ôi, que coisa linda! Baixou Chico Buarque foi? Muito lindo. nem parece ter sido escrito por um homem… bjs, Íris Medeiros, Campina Grande-PB – fev2006

06- Ricardo, parabéns! Texto perfeito. Vc captou com aguda sensibilidade o momento do Encontro Sagrado. Tou pasma! É isso mesmo! Simone Abreu, Rio de Janeiro-RJ – fev2006

07- Essa estoria tem poder de encantamento !!! E’dessas que da vontade de filmar … Eu queria ser a personagem principal ( hum ! ) Nao sobra nada parecido com isso pra atriz aqui? Andrea Paola, Rio de Janeiro-RJ – fev2006

08- Esse texto tem alguma coisa a ver com As Brumas de Avalon?? parece uma cena do filme, só que com mais detalhes de uma passagem do mesmo… Bjs. Rosângela, São Paulo-SP – fev2006

09- beleza, tava com uma grande inspiração. muito bonita. José Everton de Castro Junior, Brasília-DF – fev2006

10- Vim para dizer que fiquei extremamente apaixonada pelo seu conto AS FOGUEIRAS DE BELTANE… é apaixonante.. fiquei completamente envolvida por ele… Faço faculdade de Historia e a parte dela que mais amo é a Historia Antiga e Medieval.. minhas Pós-Graduações serão nessas áreas.. E como seu conto tem cavaleiros.. Florestas.. e sem contar o fato da “Deusa”, é maravilhoso!!!!!! Caso tenha mais contos, historias ou livro nesse assunto, por favor, não exite em me mandar.. rsrs Estou ficando super fã do seu trabalho e ainda desejo um dia poder te conhecer. Karyne Goulart, Nova Iguaçu-RJ – fev2006

11- Olá… obrigada pela Crônica… foi p mim (rssssssss)??? bjos e é + q linda!!! Rose Gasparetto, São Paulo-SP – fev2006

12- Que qué isso, meu amigo… Arriégua, maxu… Nan.. Chega me deu foi um calor… rsrs. Jéssica Giambarba, Fortaleza-CE – fev2006

13- Fiquei extasiada pelo texto. É muito bonito e especial. Parabéns!!!! Obrigada por me premiar com textos seus. Bjinhos. Mariucha Madureira, Brasília-DF – fev2006

14- Esse seu conto está mesmo lindo! mt mágico, etéreo mesmo. Edilene Barroso, Campinas-SP – mar2006

15- O texto mais lindo que li de uns tempos para cá. Não sei quanto, pode ser um mês ou 10 anos. Muito obrigado. Pedro Camargo, Rio de Janeiro-RJ – mar2006

16- Ler sua inspiração é poder viajar e transceder para uma terceira dimensão,A sua musa inspiradora é no mínimo abençoada pa ra poder gerar tamanha criatividade.Grato sou a existência da internet que me possibilitou chegar até vc e grata te sou por me permitir compartilhar com o fruto do teu ser, através de tuas palavras escritas. Diva, Macapá-AP – mar/2006

17- Oi Ricardo.Cara, tinha que te adicionar depois do conto que li na comunidade”AS Brumas de Avalon”.O que posso dizer?Simplesmente lindo, perfeita descrição da sexualidade como sagrada.Tudo que vc escreve é tão bom assim?rs…Sou psicóloga junguiana, e acho que podemos ter assunto para bons papos.Abraços. Daniela Bernardes, São Paulo-SP – mar2006

18- Acabei de ler “As fogueiras de Beltane” li ,re-li.. perdi a conta de quantas vezes voltei a ler.. igual acontece com “Mulher Selvagem”.É mágico…lindo! Entro no conto.. e sonho 😉 Sei que é pretensão, mas me vejo nos textos…rs (todas nós nos vemos não é?) Bjs. Joana d`Arc, São Bernardo do Campo-SP – mar2006

19- Olá Ricardo, tudo bem? conheci seu trabalho hoje, e me encantei com sua leveza e inteiro envolvimento com a alma feminina e os assuntos da alma, de modo geral. não sei lhe explicar o motivo, mas ao ler seu conto As Fogueiras de Beltane, me invadiu uma “inspiração” em reescrevê-la, se me permites? Como o cavaleiro, narrando esse encontro…

O FOGO DE BELENOS (trecho)
Que o fogo nos aqueça, que o fruto sagrado brote, que a força da vida cresça
Sou o Deus cornudo, meu falo aguça tua terra preparando-a para o plantio, te invado!
Deleite, puro… ó Deusa
Sinto jorrar a luz do meu ser, no chão verde em ti sou o consorte viril, fálico
Exausto, ergo-me lentamente e despeço-me de seus lábios macios e tenros.
O ciclo se fecha, para o recomeço, é a roda da vida!
Que venha a colheita!!!
Assim seja!!!
Angélica Gonçalves, São Paulo-SP – mai2006

20- Olá Ricardo, gostei muito do seu conto “AS fogueiras de Beltane!” Muito bom mesmo! Eu me interessei em ler seu conto por ter uma amiga pagã e ela muitas vezes me explica como eram os rituais. Além disso, já li algumas coisas a respeito. Bom, e foi uma surpresa saber que além do conteúdo interessante, você (o narrador) encarna o espírito feminino de uma forma única. Adorei suas figuras de linguagem, principalmente para descrever “certas” cenas. Um grande abraço! Raquel Souza, Poços de Caldas-MG – out2006

21- nossa que fantástico adorei….. hummmm.. sinto-me vivendo este momento…como uma dança cósmica…o conto me inspira a continuar….o intimo é difícil de explicar..somente um artista sabe expor com clareza… Elaine Simione, São Paulo-SP – mai2007

22- Se você ainda tem muito a aprender não sei, mas está na estrada certa. Impressionante a tua sensibilidade com relação ao sagrado feminino. Digo com certeza que consegue sentir mais até que muitas mulheres que eu conheço. Interessante pro teu livro falar sobre o resgate do sagrado feminino, da harmonia da mulher com suas fases e faces, com seus ciclos e luas. Mas, me diga, e você, quem levaria para as fogueiras de Beltane? Um abraço! Fabiane Ponte, Curitiba-PR – set2007

23- Adoro esse texto! Maria do Carmo Antunes, São Paulo-SP – set2011

24- Adoro esse texto! (2) Juliane Surdi  Franco, Chapecó-SC – set2011

25- Adoro esse conto. Alana Alencar Goodwitch, João Pessoa-PB – out2011

26- Juliana Silva Acho que ele é Wiccano *–* Juliana Silva, Salvador-BA – jan2014

27- ah, Ricardo. Eu amo o seu trabalho!!! Sempre que esbarro em um texto desse porte, vou verificar o autor e vejo teu nominho lá. Já não é de hoje!!! Thalita Leal, Osasco-SP – jun2020

AsFogueirasDeBeltane-03a