Amor de bar

15jan2020

Uma homenagem aos bares que amamos

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AMOR DE BAR
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Putz… Depois de ler todas essas crônicas, a vontade que me deu foi de ir em cada um dos amados bares que João e Alexandre tão bem homenagearam e tomar uma em cada um deles.

Uma ou duas, né, que às vezes só uma não dá tempo de sentir o ambiente e de se deixar levar por tudo que ele evoca, e olhe que tem bar que evoca até o passado que não se tem. Uma ou duas dúzias, sim, porque tem bar que, já na primeira sentada, ele mexe de um jeito esquisito na peçoa umana bebedora, você já percebeu?, poizé, parece que a pessoa já esteve ali antes, ou dali nunca saiu.

Helano, Tocantins, Disney Lanches… Qual é o segredo dos bares que amamos? Taí uma questão que pode render infinitas saideiras. Tem bar que nos seduz pela cerveja inacreditavelmente sempre gelada, o que não é pouca coisa. Ou por aquela transcendental moela ao molho que nos faz salivar um litro só de passar em frente. Às vezes, o segredo é a distância: dobrou duas esquinas, chegou no bar, e voltou duas esquinas, já tá em casa, o que permite beber o que se gastaria com o uber. Às vezes é o atendimento, aquela presteza infalível, aquela captação silenciosa e imediata dos nossos mais puros desejos, um milagre que se reedita a cada ida ao bar: “Seo Papito, me traga…” “Aquela farofa de ovo com sardinha, tomate e a cebola bem fritinha, é pra já.” “Eita, como é que o senhor sabe?”.

Bares são como amantes possessivos: quando nos damos conta, não conseguimos deixá-los, por pior que seja a relação. Veja a história de Micaela. Ela bebia havia anos no mesmo bar, mas o trocou por outro que abrira no outro lado da rua. Uma noite, bebendo com as amigas em seu novo bar predileto, Micaela olhou para o antigo amor e, percebendo vazias as mesas, foi tomada de um sentimento de culpa avassalador. A partir daí, viu-se obrigada a beber nos dois bares, na mesma noite, num ritual que fazia rir as amigas, que ficavam no segundo bar, aguardando que ela tomasse uma no primeiro, sozinha no balcão, trágica penitente etílica.

O Roque Santeiro, no Mucuripe, era uma bodega que dona Orestina e seo Moacir montaram na parte da frente de sua casa e que abria às cinco da manhã. Durante 20 anos, frequentei o Roque, pra ressuscitar da noitada com um caldo quentinho e depois tomar a saideira, que se replicava em outras saideiras até o meio-dia, ao som de Odair José, Núbia Lafayette e Roberto Carlos. Pois bem. Sempre que eu começava um novo caso, ia com a garota no Roque só pra saber a opinião de dona Orestina. Quando a garota ia ao banheiro, ela vinha e me dava seu veredicto: “Onde foi que tu arrumou essa matraca, ô menina pra falar!”, ou “Coitada, ela acha que te fisgou só por causa daqueles peitões…” Como você pode ver, além de ser a segunda casa, às vezes é no bar que conhecemos nossa segunda mãe.

Longa vida aos bares que amamos!

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Ricardo Kelmer 2019 – blogdokelmer.com

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Esta crônica foi escrita para o posfácio do livro Saideiras (Radiadora, 2020), de Alexandre Greco e João Ernesto, um livro de crônicas afetivas sobre alguns bares de Fortaleza, com edição e prefácio de Alan Mendonça e ilustrações de Jadiel Lima.

O livro é um convite por outros olhares a esses lugares que, quando forjados na arquitetura do encontro, são parte dos quintais dos homens, um bailado de trégua com a vida.
Alexandre e João passeiam pela geografia etílica de Fortaleza com a afetividade própria aos múltiplos, aos corações subversivos dos vagabundos, que perambulam imensamente compromissados com o inútil… e expõem as sutilezas do essencial das horas anteriores à obediência ao sol.

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COMENTÁRIOS
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01- Muito bom, Ricardo Kelmer! Tayane Cristine, Campina Grande-PB – jan2014

02- Realmente um lugar pra ser feliz!!! Lucinha Simões, Fortaleza-CE – ago2014

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