20jul2017
Com esses livretos, consigo que minha arte frequente as mesas dos bares, integrando-se à dinâmica boêmia da cidade e atraindo novos leitores
LUGAR DE LITERATURA É SOLTA PELA CIDADE
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De um ano para cá tenho vivido uma experiência bem interessante, que trouxe um novo sentido para a minha literatura e para a minha relação com a cidade onde vivo. Quero compartilhá-la com você nesta crônica.
Tenho uma dúzia de livros publicados, em impresso e eletrônico, que são vendidos em livrarias e sites. Mas isso não me satisfaz profissionalmente. É que eu gosto do contato direto com o público, e adoro misturar a literatura com outras expressões artísticas, como a música, o teatro e o cinema. Além disso, tenho um tesão danado nessa ideia de inserir a literatura nos espaços cotidianos da cidade. Livrarias e bibliotecas são importantes e devem ser valorizadas, sim, mas por que não levar a literatura aonde o povo está, realizando eventos literários em bares, em clubes, nas praças, na rua, na praia? É o que faço há alguns anos, em São Paulo e em Fortaleza, onde voltei a morar.
Nessa busca por uma relação mais íntima do meu trabalho com a cidade, decidi recentemente levar essa ideia mais adiante. Para isso, em 2016 e 2017, publiquei dois livretos de bolso, simples, com 48 páginas, grampeados. O primeiro foi Versos Safadinhos para Noites Românticas e Vice-versa, com 35 poemas sobre amor, paixão e desejo, e desenhos eróticos do artista húngaro Mihály Zichy, falecido em 1906. O segundo foi Trilha da Vida Loca – Contos do amor doído, que reúne seis contos baseados em sucessos românticos da chamada música brega, nos quais um drama amoroso beeeem sofrido segue a letra da música.
Eu poderia tê-los publicado por uma editora, como fiz com outros livros meus, mas preferi eu mesmo bancar os custos e ter o controle de tudo. Ou seja, são produções 100% independentes. Os livretos são vendidos apenas diretamente comigo, pessoalmente ou pela internet. Uma vantagem do formato bolso é que posso levá-los comigo a qualquer lugar, e sai baratim para o freguês, só cinco reais.
Pois bem. Com esses livretos, consigo que minha arte frequente as mesas dos bares, integrando-se à dinâmica boêmia da cidade e atraindo novos leitores. Tem sido uma experiência saborosa, que me faz sentir mais harmonizado com a cidade. A venda é importante, claro, principalmente porque ela viabiliza a segunda parte da experiência: os exemplares vendidos custeiam outros, que distribuo entre guardadores de carro, garis e vendedores ambulantes. Você já reparou? Essas pessoas estão sempre onde estamos, nos bares e espaços culturais, mas são invisíveis e não participam da nossa celebração da arte, e certamente jamais entraram ou entrarão numa livraria ou biblioteca. Distribuir meus livretos dessa forma foi um modo que encontrei de diminuir a distância social e de levar minha arte a outros públicos.
Você talvez pense que isso é dar pérolas aos porcos, que minha atitude é bela mas inútil. Pense melhor. Talvez, naquela noite, a poesia tenha sido companhia para alguém que é casado com a solidão das ruas. Talvez aquele ser invisível sinta prazer ao ler um conto, e depois queira ler outros. Uma noite dessas, ao sair de um bar, o guardador de carros me reconheceu e pediu outro livro, pois o seu ele dera para sua gata, que gostou muito. Ah, você quer um pra você, né?, perguntei. Ele, um tanto envergonhado, respondeu que não sabia ler, e depois emendou, malicioso: É pra outra gata acolá, ó.
Dei-lhe outro livro e fui embora rindo, satisfeito por ver que minha poesia ao menos anda favorecendo o nheco-nheco. Mas interessante mesmo era a bela ironia da coisa: um analfabeto que espalha literatura por aí pela cidade…
Eu sei que livros não mudam o mundo. Livros mudam pessoas. As pessoas é que mudam o mundo.
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Ricardo Kelmer 2017 – blogdokelmer.com
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Com garis, na 1a edição da Fresta Literária (Praça dos Leões, Centro, Fortaleza, jul2017)
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LIVROS
Versos Safadinhos para Noites Românticas e Vice-versa
Trilha da Vida Loca – Contos do amor doído
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LEIA NESTE BLOG
O dilema do escritor seboso – Certos escritores amadurecem cedo. Tenho inveja desses. Porque nunca viverão o constrangimento de não se reconhecerem em suas primeiras obras
O encontrão marcado – Fechei o livro, fui até a janela e olhei pro mundo lá fora. E disse baixinho, com a leveza que só as grandes revelações permitem: tenho que ser escritor
Pesadelos do além – O pior pesadelo para um escritor é ser psicografado. Ou melhor: ser mal psicografado
Meu fantasma predileto – Diziam que era a alma de alguém que fora escritor e que se aproveitava do ambiente literário de meu quarto para reviver antigos prazeres mundanos
Kelmer no Toma Lá Dá Cá – Aqueles aloprados moradores do condomínio Jambalaya descobriram meu livro maldito
O escritor grávido – Será um lindo bebê, digo, um lindo livrinho, sobre o mais belo de todos os temas
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Basta enviar e-mail pra rkelmer@gmail.com com seu nome e cidade e dizendo como conheceu o Blog do Kelmer (saiba mais)
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01- Que nada cara. Obrigado você por topar inaugurar essa Fresta! Primeira de muitas. Valeu. Alexandre Ferraz Greco, Fortaleza-CE – jul2017
02- Sara Síntique, Fortaleza-CE – jul2017
03- O jogo de amarelinha entre a FRESTA. José Anderson Freire Sandes, Juazeiro do Norte-CE – jul2017
04- Que maravilha! Mateu Duarte, Lavras da Mangabeira-CE – jul2017
05- Que boa ideia! Toma lá uma canção: https://www.letras.mus.br/sergio-godinho/498155. Susana X Mota, Leiria-Portugal – jul2017
06- emersoN bastoS (assinei!)
Emerson Bastos, Fortaleza-CE – jul2017
07- Quando sair da UECE (no sábado) vou lá. Deixe (se possível) um microfone aberto. Jose Leite Netto, Fortaleza-CE – jul2017
08- texto maravilhoso.. atitude também.. sou seu fã, Ricardo Kelmer… abrsssss. Arnaldo Afonso, São Paulo-SP – jul2017
09- Musiquei um conto de José Roberto Torero sobre um analfabeto que copiava poemas para dar à namorada… lembrei disso tb.. abrs. Arnaldo Afonso, São Paulo-SP – jul2017
10- E o carteiro que plagiava Neruda “a poesia não é de quem a escreve mas de quem precisa dela”. Susana X Mota, Leiria-Portugal – jul2017
11- Susana X Mota E olha só, ainda há analfabetos… Não perguntaste porquê? Susana X Mota, Leiria-Portugal – jul2017
12- Bacana Mermão!!! Parabéns!! Marcondes Dourado, Gama-DF – jul2017
13- Maravilha, Ricardo! Ótima programação! 👏 👏 👏 👏 👏 👏 👏 👏 👏 Luciana Loreau, Nantes-França – jul2017
14- Grande texto, sobretudo iniciativa! Sucesso! Denis Akel, Fortaleza-CE – jul2017
15- Uooouuuuu. Tetê Macambira, Fortaleza-CE – jul2017
16- Espetacular essa programação! Heloise Riquet, Fortaleza-CE – jul2017
17- blz mano queria ser assim cara de pau que nem tu, poeta mundano mas sou muito comedido em minha arte, talvez porque não seja múltiplos que nem tu. Evaristo Filho Freitas, Fortaleza-CE – jul2017