22nov2019
Eu treinava beijo na boca com a boneca Amiguinha, da minha irmã. Ela era tão diferente das bonecas de hoje…
A PRIMEIRA NAMORADA
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Minha irmã, mais nova que eu, tinha uma boneca Amiguinha, que na época era um sucesso de vendas. Era quase do tamanho dela, lisos cabelos loiros que iam até a cintura, braços e pernas móveis, cabeça que girava. Amiguinha veio com um vestido curtinho, meias, sapatos pretos, e tinha aqueles mimosos olhinhos azuis com pálpebras móveis, que olhavam para você sempre pedindo colinho. Eu tinha meus dez anos e, já totalmente seduzido pelos mistérios do feminino, contava os dias para a próxima tertúlia dançante na casa do meu primo, onde dançaria apaixonado com as meninas, sob o olhar discreto mas atento de nossos pais.
Pois bem. Eu costumava raptar Amiguinha, escondido da dona, claro. Para quê? Ora, para treinar beijo na boca com ela, sonhando beijar as meninas nas tertúlias, ao som dos Pholhas. Criança também tem suas estratégias. Obviamente, Amiguinha era um tanto passiva para o meu gosto. Não mexia a língua, nem fechava os olhos, me beijava de olhão aberto mesmo, muito esquisito.
Um dia, minha irmã entrou no quarto e, tchum, nos flagrou em pleno ato. Ficou revoltadíssima, fez um escândalo. Queria até me denunciar à polícia, mas minha mãe a dissuadiu. Ainda bem que isso aconteceu nos anos 1970, pois pela nova lei, beijo sem consentimento pode ser considerado estupro. Já pensou? Eu poderia agora estar fichado para toda a eternidade como um demente estuprador de bonecas indefesas. Seria a coroação do meu abominável currículo de tarado véi seboso.
Dia desses, lendo uma matéria sobre essas novas gerações de bonecas japonesas ultrarrealistas (e bonecos também, viu?), feitas de material que imita pele humana, totalmente flexíveis, todas as protuberâncias e orifícios a que têm direito e várias outras maliciosas funcionalidades, lembrei de você, Amiguinha. A de Manuel, o Bandeira, foi um porquinho-da-índia, mas a minha primeira namorada foi você.
Não sei se daríamos certo, Amiguinha, afinal eu ia crescer e você continuaria pequenina e um tanto muda, e passiva demais para as minhas criatividades. Bem, essas coisas não são cem por cento determinantes num relacionamento, é verdade. Mas beijar de olhão aberto, isso era mesmo muito esquisito.
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Ricardo Kelmer 2016 – blogdokelmer.com
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Esta crônica integra o livro Pensão das Crônicas Dadivosas
Nesta seleção de textos, escritos entre 2007 e 2017, Ricardo Kelmer exercita seu ofício de cronista das coisas do mundo, ora com seu humor debochado, ora com sobriedade e apreensão, para comentar arte, literatura, comportamento, sexo, política, religião, ateísmo, futebol, gatos e, como não poderia deixar de ser, o feminino, essa grande paixão do autor, presente em boa parte desta obra.
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AS NOVAS AMIGUINHAS
(não adianta, não dou o telefone delas)
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Paola e seu vestidinho pra ir na padaria
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Olá, sou a Larissa, você vem sempre aqui?
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Danuza deitadinha esperando o capuccino que só eu sei fazer
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Amor, esse vasinho de planta fica bem aqui?
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Adoro os decotes discretos da Carol
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Jacilene conferindo a maquiagem no banheiro do motel
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Dayane e sua calcinha combinandinho com a almofada
.De
Este é Paulo Marcio. Pra você que adora um boneco-magia com bermudão estiloso
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01- Interessante! Quinta-feira feira passada em happy hour com as amigas falamos sobre essas bonecas e bonecos japoneses ultra-realistas. Na verdade a conversa era sobre os relacionamentos atuais e como as pessoas tem se isolado do contato humano, afinal conviver não é fácil e bonecos não expressam reações emocionais. Nossa geração ainda prefere as brigas e tretas de uma relacionamento. Rs rs. Sonia Castro, Fortaleza-CE – nov2019
02- Amei essa crônica. A Maria Ines Ramalho já havia me falado dela. Meu marido me conta que a irmã dele tinha uma Amiguinha. Perverso que era, ele arrancou a cabeça da boneca para jogar bola. Zélia Sales, Fortaleza-CE – nov2019
03- Adorei…ri demais.. .abraço dadivoso. Maria Allves, Fortaleza-CE – nov2019
04- RicardoKelmer, eu tinha uma amiguinha e meus irmãos namoraram muito e outras coisas… Rsrs… Era tudo escondido , ñ sabia de nada, mas o corpo da minha boneca foi bastante explorado.🤣😂😂 Renata Menezes Lotfi, Fortaleza-CE – nov2019
05- KKKK, que lindo, você tem o dom de tornar tudo poético. Ligia Eloy, Lisboa-Portugal – out2020
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