13mar2016
Talvez ela saiba que quando um governo tem como objetivo a equidade social e a redistribuição da riqueza do país, automaticamente atrai o ódio das elites econômicas, que lutarão para manter seus privilégios
O PROTESTO DA BABÁ NEGRA
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Esta foto, feita na zona sul do Rio de Janeiro durante as manifestações pró-impeachment de 2016, é muito simbólica. Nela, está uma família brasileira: pai, mãe, um poodle e duas crianças. Ricos, brancos e bem vestidos de verde e amarelo, eles representam boa parte das pessoas que brada contra a corrupção (mas não contra toda a corrupção, apenas a do PT), que quer derrubar Dilma (mesmo que nada seja provado contra ela) e que exige a prisão de Lula (ainda que, para isso, quebre-se a legalidade institucional).
Ops… Mas há alguém mais na foto. Ela é discreta, meio invisível, mas está ali, sim. É a babá, em seu uniforme branco, que empurra o carrinho das crianças para que seu patrão, que é banqueiro, possa protestar com a esposa. É negra, humilde e certamente seus antepassados foram escravos. Talvez ela pense exatamente como seus patrões e, enquanto ouve os noticiários da Globo, concorde que o maior problema do Brasil é o PT. Ou não. Talvez ela tenha uma noção mais abrangente da realidade e saiba que, na verdade, o maior problema do Brasil é e sempre foi a desigualdade social. Talvez ela saiba que quando um governo tem como objetivo a equidade social e redistribuição da riqueza do país, automaticamente atrai o ódio das elites econômicas, que lutarão para manter seus privilégios, conquistados a custa de muita injustiça e corrupção.
Talvez essa senhora negra, em seu digno trabalho, tenha a exata noção de que vivemos um momento decisivo, onde temos a oportunidade de melhorar nosso país, mas que é igualmente importante que tudo seja feito dentro da legalidade democrática, e isso inclui investigar e punir a todos que cometeram crimes, independente de partidos. Talvez ela saiba de tudo isso, e assim, discorde de seus patrões, numa discordância silenciosa, é claro, pois ela precisa do emprego.
Talvez nunca saberemos o que pensa a babá negra. Mas sabemos o que as elites econômicas pensam. E elas pensam que diferença de classes é algo supermeganatural, que sempre vão existir ricos e pobres, que eles, os ricos, não têm culpa de existir pobreza no mundo, e muito menos de existirem assaltantes, trombadinhas e outros perigos que os obrigam a andar em carros blindados e contratar segurança particular para seus poodles. Para essas pessoas, é melhorando a vida dos ricos que a vida dos pobres melhora. Por isso, para essas pessoas, o PT é o maior problema do Brasil, pois partidos de esquerda pensam o contrário: é melhorando a vida dos pobres que o mundo melhora.
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Ricardo Kelmer 2016 – blogdokelmer.com
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A OVELHA NEGRA NA ELITE BRANCA
Em 16.08.15, muitos manifestantes antiPT festejaram a presença de uma família negra e miserável na Av. Paulista. Numa carroça de catar lixo, Tiago e sua família posaram para fotos, ganharam dinheiro e foram parabenizados. Veja o vídeo. E atente para a última fala de Tiago.
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MILIONÁRIOS REVOLTADOS
Em 2010, o humorista Marcelo Adnet fez uma imitação hilária de um milionário brasileiro refugiado em Miami, que está revoltado com a ascensão social dos pobres. Repare na última coisa que ele fala – terá sido profético?
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SAIBA MAIS
A resposta do pai/patrão da foto – Por Claudio Pracownik
Quem é Claudio Pracownik, o pai-patrão da foto – É vice-diretor de Finanças do Clube de Regatas Flamengo-RJ e sócio diretor do Banco Brasil Plural. Ele foi Vice-Presidente Financeiro da Brasif, a empresa que, segundo Miriam Dutra, ex-amante de Fernando Henrique Cardoso, lhe pagou durante quatro anos 3 mil dólares por mês para ficar “exilada” na Espanha. Miriam Dutra diz que durante esse período não trabalhou para a empresa. Em 2014, três dias antes da eleição, a Brasif teve todos os documentos queimados num incêndio em Contagem-MG.
O que pensa a babá negra – O jornal Extra entrevistou Maria Angélica Lima
O que significa a palavra equidade – Texto curto e esclarecedor de Inês Buschel (2010)
Aliança para o social – Viviane Senna alerta para a importância da inclusão de políticas de equidade social (1998)
Os casos de corrupção tucanos – Por que não avançam?
Brasil reduz em 50% o número de pessoas que passam fome, diz ONU – Peça central no estudo realizado pela FAO, o Brasil aparece como modelo para promoção de experiências exitosas como transferência de renda, compras diretas para aquisição de alimentos e capacitação técnica de pequenos produtores
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LEIA NESTE BLOG
Democracia e regulação da mídia – A informação é um produto e, como todo mercado, o mercado da informação precisa de regras, caso contrário o grupo que tem mais dinheiro monopolizará a informação, para prejuízo da sociedade em geral
Roubalheiras, desigualdade social e o reconhecimento popular – Se hoje o povo usa essa lógica para manter o PT no poder, o motivo reside justamente na histórica insensibilidade, ou incapacidade, dos outros governos perante as necessidades mais urgentes do povo
Acabou a paciência – Cada um que protesta traz em si a frustração acumulada de tantas gerações por trabalhar dia após dia por um sistema econômico que finge querer o bem de todos mas concentra a renda
Eu esfaqueei o deputado – Não temem que as pessoas se revoltem e invadam seus lindos gabinetes, que os sequestrem, que joguem uma bomba no congresso?
Eles estão na fronteira – Milhões de maltrapilhos famintos, perseguidos políticos, criminosos cruéis, terroristas suicidas, narcotraficantes e trombadinhas invadindo os países e quebrando tudo, estuprando nossas irmãs, matando todo mundo, o caos absoluto
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Basta enviar e-mail pra rkelmer@gmail.com com seu nome e cidade e dizendo como conheceu o Blog do Kelmer (saiba mais)
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01- Lindo ver essa revolta reaça de coxinhas. Joel Moraes da Silva, Santos-SP – mar2016
02- Já vi até grupo fazendo aceno nazista contra Dilma. Fechei a globo e vou ao cinema! Márcia Matos, Fortaleza-CE – mar2016
03- Texto perfeito Ricardo, compartilhei copiando e colando, para que mais pessoas interessem-se em ler, mas dando-lhe o devido crédito. Saudades! Fatima Carvalho, Santo André-SP – mar2016
04- Fantástico, falou tudo. Eu publiquei essa foto, muita não conseguiu nem entender o pq da publicação, a mentalidade escravista é tão enraizada na sociedade Burguesa, q não se percebe o quanto é simbólico essa foto. Moacir Bedê, Fortaleza-CE – mar2016
05- A foto é simbólica sim. Representa nossa história de injustiça social de mais de 500 anos. Mas devemos lembrar duas coisas: 1 – essa babá herdou uma herança maldita de falta de investimentos em educação para gerar melhores oportunidades 2 – apesar de todas as dificuldades ela se qualificou, se candidatou em uma agencia de serviços e tem um emprego formal e honesto para dar dignidade aos próprios filhos. Diferente dos desqualificados que estão nos representando em Brasília. Clovis Rolemberg Jr, São Paulo-Sp – mar2016
06- Muito bem colocado! Eva Dantas, Londres-Inglaterra – mar2016
07- Rapaz, eu acabei de ver um vídeo daquele Haroldo Guimarães. O cara fala tanta merda. Ainda tem gente que dá palco pra ele. Rogers Tabosa, Fortaleza-CE – mar2016
08- Tudo a ver amigo. Ana Junqueira Bachelet, São Paulo-SP – mar2016
09- tem tanta coisa pra ver nessa foto, mas tem gente que só vê “nossa que patrões legais, deram um emprego bom pra ela, pagam bem, levam até pra passear.” (foi mais ou menos assim que o cara da foto falou sobre seu lado da história.) Carol San, Fortaleza-CE – mar2016
10- Belo texto! Mas será que o PT realmente pensa em melhorar a vida dos pobres? Humberto Paulucci, São Paulo-SP – mar2016
11- Maior manifestação popular contra um governo da história do país…e totalmente pacífica… Paulo Alcântara, Fortaleza-CE – mar2016
12- Essa foto, símbolo da “semnoçãozice”, meio que virou “ícone” dessa marcha a ré ….não duvido que os personagens sejam entrevistados na TV e, quem sabe, a moça pose para a Playboy ……. Marialucia da Silveira, Campinas-SP – mar2016
13- excelente texto. Pedro Porfirio Muniz Farias, Fortaleza-CE – mar2016
14- O texto do pai – patrão é infinitamente melhor e indiscutivelmente mais revelador. José Alberto Simonetti, Fortaleza-CE – mar2016
15- Achei super valido ler o pai – patrao. Rob’s Lima, Jericoacoara-CE – mar2016
16- Sò acho q ela deveria estar vestida de verde e amarelo tb. Dorah Andrade, São Paulo-SP – mar2016
17- Não deram nem uma Bandeira pra ela!!! Paulo Henrique Carvalho, Fortaleza-CE – mar2016
18- Ricardo, excelente texto. Francisco Coelho, Rio de Janeiro-RJ – mar2016
19- Talvez ela esteja morta de feliz por ter emprego, carteira assinada e um salário que muita gente deseja. Ricardo Campos, Rio de Janeiro-RJ – mar2016
20- Muito bom. Bete Meneses, Fortaleza-CE – mar2016
21- Foi tu quem escreveu Kelmer? Ta lindo! Nélio Costa, Fortaleza-CE – mar2016
22- Pera… Baba é profissão legalizada no Brasil. Com certeza ela esta recebendo hora extra. Com certeza não sabemos tb o que pensa o motorista do ônibus que nos trouxe ate o local da manifestação, nem dos guardas que faziam a segurança do.local, nem dos meficos de plantão nos hospitais. Negros, brancos, amarelos. Um monte de gente que trabalha quando estamos curtindo uma praia ou engrossamos uma manifestação. Eu trabalho bastante aos sábados por exigência da minha área. Ainda bem que a passeata é no domingo. Estamos mesmo problematizando o trabalho digno e remunerado porque uma pessoa negra não pode realiza-lo? Beth Andrade, Fortaleza-CE – mar2016
23- Texto maravilhoso, Ricardo Kelmer. Vanessa Machado Monte, Fortaleza-CE – mar2016
24- Ricardo Kelmer, saiba: o “pai de família” da família foi vice-presidente da Brasif na época do FHC. Sim! A Brasif que ajudou a financiar a amante do FHC, sonegando imposto… Kelsen Bravos, Fortaleza-CE – mar2016
25- Talvez seja melhor extinguir essa profissão já que estamos mesmo decididos a não respeitar esses profissionais principalmente se forem negros!!! Beth Andrade, Fortaleza-CE – mar2016
26- Ricardo, é muito complicado explicar as pessoas sobre simbologia. Praticamente ninguém vai entender. Enquanto as pessoas acharem que estão fazendo um bem aos que precisam trabalhar sem ter opinião própria, estaremos na mesma. Sejam meninos fantasiados de macaco ou babás de branco carregando crianças em manifestações por um bom salário, a elite se achará fazendo um bem. Graças a Deus você se mantém lúcido, como nossa minoria. Rogers Tabosa, Fortaleza-CE – mar2016
27- mesmo com a resposta ainda fica muito clara a distância q separa a babá do patrão. tanto q a resposta vem dele e a babá nem foi ouvida. acho q isso diz alguma coisa. o fato dele cumprir a obrigação, de pagar extra, etc. não me faz deixar de enxergar q há um abismo social estampado nessa foto. nem o imposto ou hora extra q ele paga elimina isso. Juliana Melo, Fortaleza-CE – mar2016
28- c’est fini (aplausos para Ricardo Kelmer). Marcelo Gavini, São Paulo-SP – mar2016
29- Foto emblemática. Abaixo a corrupção? Conta outra. Lembrando aqui da fala de uma madame oradora num Festival do Chocolate em Guaramiranga que, magnanimamente, discorreu sobre cursos de culinária para as mulheres da região, que poderiam trabalhar nas casas de famílias de Fortaleza. Uma pérola! Sâmara Paula, Fortaleza-CE – mar2016
30- de sol a sol, de domingo a domingo: negros, pobres e fudidos = maioria dos brasileiros. textaço de Ricardo Kelmer (leia na íntegra). Tiago Bode, São Paulo-SP – mar2016
31- Diria Maikovski, meu caro Ricardo Kelmer, que “o poeta é o eterno devedor do universo e paga em dor porcentagens de pena”. Continue nos agraciando com sua pena, no riso, na dor e na denúncia… Bjs, querido!!! Lenha Diógenes, Fortaleza-CE – mar2016
32- Para todo empregado precisa existir um emprego e um empregador. E se o senhor tivesse mais bem informado, teria visto o depoimento da babá na foto em que o patrão dela postou sobre este assunto. ESTA FOTO é absurdamente preconceituosa com a babá… não contra o empregador dela. O fato dela ser babá e negra não dá a ela o direito de protestar? Ela talvez não estaria nesta foto sa fosse acomodada no bolsa família, mas esta digna senhora, prefere trabalhar. Vc realmente acredita que só burgueses estavam nas ruas ontem? Muitos protestavam pelo fato dos “coxinhas” (empregadores) não poderem mais oferecer empregos e com isso muitos chefes de famílias não têm mais seu sustento. A luta é contra a corrupção e desvio de dinheiro público que lesa toda uma nação… inclusive as babás. Betinha Hotz, Rio de Janeiro-RJ – mar2016
33- Boa, Ricardo Kelmer. Joaquim Ernesto, Fortaleza-CE – mar2016
34- histórica, simbolica, fodida. Xico Sá, Rio de Janeiro-RJ – mar2016
35- O governo corrupto e incompetente, que não proporcionou educação de qualidade e oportunidade de emprego para que a moça da foto fosse algo mais que uma babá, é o santo, o salvador da pátria,… O rapaz, que deu à moça oportunidade de trabalhar, um salário e direitos trabalhistas (FGTS, aposentadoria, auxílio doença,…) é burguês opressor. Eu queria saber o que essa turma tem dentro da cabeça! Eduardo Almeida, Fortaleza-CE – mar2016
36- Alguém tem interesse em ler a opinião dela? Depois dessa não escrevo mais nada…kkkkkk. http://extra.globo.com/noticias/rio/o-pobre-que-sofre-diz-angelica-baba-de-foto-polemica-em-manifestacao-rv1-1-18876978.html?utm_source=Facebook&utm_medium=Social&utm_campaign=Extra Ricardo Campos, Rio de Janeiro-RJ – mar2016
37- Gente, entendam, ninguém está falando mal da empregada, nem especificamente do patrão, mas justamente da situação que perdura no país por falta de consciência política e egoísmo de quem só quer acumular. Para cada patrão que ganha muito mais do que realmente produz (sim, porque acúmulo de riqueza não tem nada a ver com ‘merecimento’, é apenas injusto e fruto de um sistema que tira de muitos e dá à poucos), centenas de pessoas precisam se submeter a ganhar apenas para ter o que comer. Ou até se valer de políticas sociais. Vejam, a causa da miséria não é o Estado (embora ele possa contribuir e até piorar isso), é o acúmulo de riqueza. Ana Cristina Martins, São Paulo-SP – mar2016
38- O salário dela não sustenta ninguém, ela só “ajuda no orçamento da família”. Daí, os patrões milionários se gabam de “pagar bem” e ela, claro, sem ter sequer a perspectiva de que tudo poderia ser diferente, se conforma pensando que “este emprego é bom, melhor que não ter nenhum.” J Rodolfo Lima, São Paulo-SP – mar2016