30jul2011
Jaqueline tem um jeito sedutor, ela e sua alma de cigana, altiva e escorregadia. Mas até os Mestres amam o perigo, por que não?
O MESTRE E A CIGANA
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Cesar é Mestre em Reiki, e mês passado veio ministrar um curso por aqui. Tem seus trinta e tantos, é um cara tranquilo, equilibrado e faz uma ótima massagem. Após a última noite do curso, levei-o para conhecer uns bares, o que ele aceitou de pronto, afinal por que um Mestre de Reiki não poderia curtir também certos burburinhos da noite?
Lá pelas tantas, nos aparece a bela Jaqueline, ela e seus olhos escuros, cabelos negros pelos ombros, os lábios vermelhos, o decote mal intencionado. Olhei de canto de olho para o Mestre e ele me sorriu, cúmplice. Jaqueline sentou, pediu uma Cuba Loca e convidou Cesar para beber com ela. O Mestre, coitado, não come açúcar, mas aceitou o sacrifício. Minutos depois, já estavam sintonizados, um papo animado, interesses em comum, essas coisas, você sabe como é. Jaqueline tem um jeito sedutor, ela e sua alma de cigana, altiva e escorregadia. Mas até os Mestres amam o perigo, por que não?
Esticamos até o Alambique e lá mostrei a ele, nas prateleiras do bar, as duzentas marcas de cachaça à nossa disposição. O Mestre olhou impressionado e me perguntou se eu conhecia todas. Só algumas, Mestre, mas experimente esta aqui que é muito boa. Brindamos à nossa saúde naqueles copinhos pequeninos e, enquanto eu e Jaqueline provávamos nossas doses com cuidado, o Mestre virou a dele de uma talagada só: crau! E ainda pediu outra. Olhei surpreso, sem saber o que pensar. O Mestre tomando cachaça. E daquele jeito.
‒ Agora me animei! – ele exclamou, rindo. – Dá-me o prazer de uma dança, senhorita?
E lá se foram os dois para o dancing, divertir-se com as músicas do Abba. No primeiro intervalo ele pediu outra dose. Temi pela sorte do Mestre. Que nada. Ele pressentiu o que eu pensava, olhou em meus olhos e falou que a hora era de diversão, que eu não me preocupasse, pois ele sabia de seus limites. E me aprontou outra: pegou meu copo no balcão com a boca, prendeu-o entre os lábios e, sem usar as mãos, numa rápida inclinada de pescoço, virou minha dose de Capão Grosso, vupt! E depois voltou ao dancing, feliz da vida. A mim me restou sorrir daquela peripécia corporal – quem diria que o Mestre possuísse tais habilidades?
– Que amigo interessante… – confidenciou-me Jaqueline. O Mestre havia ido ao banheiro. – Será que ele topa me fazer uma massagem?
Olhei praqueles olhos dissimulados que já desnortearam muita gente boa nessa vida, inclusive eu, e sorri. Aproveitei para dizer que estava cansado, que ela ficasse com meu amigo e o deixasse no hotel. Passei no banheiro e avisei a Cesar que seus serviços de massagista seriam requisitados aquela noite. Ele respondeu que já desconfiava e agradeceu. Desejei-lhe boa sorte e saí.
Enquanto voltava para casa, pensava no inusitado daquele encontro: um Mestre e uma cigana. Ele com seu equilíbrio e ponderação. Ela e seu destempero, o signo da urgência… Bem, ambos eram maiores e vacinados, que se entendessem. Só as fofoqueiras dos plantões das janelas é que sabem o que é bom ou ruim para os outros, eu não sei. E, afinal, ali estava um homem. Onde está escrito que ciganas não podem fazer parte do caminho de um Mestre?
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Ricardo Kelmer 1998 – blogdokelmer.com
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> Esta crônica integra o livro A Arte Zen de Tanger Caranguejos
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01- adorei o da cigana e o mestre rs…conheço uma história parecida!kkkkk obrigada! Silmara Oliveira, São Paulo-SP – ago2011