A boa literatura nem sempre está nas livrarias

29nov2018

A BOA LITERATURA NEM SEMPRE ESTÁ NAS LIVRARIAS

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Ontem, em São Paulo, aconteceu uma coisa tão incrível, que se algum vidente houvesse previsto, eu diria que ele devia mudar de profissão, senão ia morrer de fome.

Foi na entrega do Prêmio Jabuti 2018, a mais importante premiação da literatura brasileira. Concorriam 10 livros em cada uma das 18 categorias. Gente famosa, como Jô Soares, Fernanda Torres e Drauzio Varella, e ilustres desconhecidos. Os primeiros colocados de cada categoria ganham, além da estatueta, R$ 5 mil em dinheiro. Não é muita grana, mas o que vale mesmo é o reconhecimento e as portas que se abrem. No entanto, há o prêmio Livro do Ano, cujo vencedor recebe R$ 100 mil. Aí, sim.

Sabe quem venceu na categoria Poesia? Foi um cearense de Varjota, Mailson Furtado, com o livro “à cidade”, que ele mesmo editou e publicou, pagando a modesta tiragem de trezentos exemplares do próprio bolso. Uma obra independente, sem vínculo com qualquer editora. Mailson concorreu com autores de grandes, médias e pequenas editoras, e até com outro autor cearense, Íris Cavalcante, que concorreu com o livro “Vento do oitavo andar”, publicado pela Premius Editora, mas, provavelmente, custeado também pela própria autora. Dois autores cearenses finalistas do prêmio Jabuti, que pagaram para publicar seus livros. É algo que merece comemoração.

Mas peraí que ainda não terminou. Sabe que livro foi escolhido o Livro do Ano, entre os vencedores das categorias? Adivinha… Exatamente, o livro de Mailson, “à cidade”. Uau, isso é realmente muito incrível! Um jovem autor de 27 anos, desconhecido do grande público, do interior do Ceará, que publicou seu livro fora do circuito comercial das editoras, que recebeu muitos nãos, que não tem seu livro nas estantes das livrarias do país…

O feito de Mailson entra para a história da literatura brasileira. E serve de incentivo aos autores que vivem de receber negativas e de mendigar um espacinho na mídia para divulgar seu trabalho. Neste momento, as editoras que não aceitaram publicar o livro de Mailson devem estar muito surpresas e arrependidas. Que sirva de lição.

Parabéns, Mailson e Íris, estamos orgulhosos de vocês. E parabéns a todos os autores que, mesmo com as zilhões de dificuldades, mesmo convivendo diariamente com o descaso e todos os nãos, persistem no caminho de sua arte. E a você, que me lê agora, fique atento: os melhores livros podem não estar nas livrarias. Às vezes eles nos chegam de surpresa, na rua, nos bares, naquele sebo escondidinho, num estande de feira no mercado…

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Ricardo Kelmer 2018 – blogdokelmer.com

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