13mar2009
Se seguir a diretriz autocurativa de sua própria psique, a pessoa saberá conciliar razão e sentimento e sairá do conflito renovada
O filme Don Juan DeMarco é mesmo maravilhoso. Sua história é boa e divertida, o roteiro perfeito, os atores estão muito bem e a trilha sonora é linda. As mulheres suspiram com o romantismo da trama, a poesia das imagens, a vitória do amor. É um filme que traz bons temas para discussão, como o donjuanismo e a dificuldade da ciência médica de lidar com o que ela diagnostica como loucura. No entanto, neste texto prefiro focar num outro tema que o filme aborda: o conflito entre intelecto e coração.
Em Don Juan DeMarco, temos dois personagens em conflito: o psiquiatra renomado e o jovem problemático. O psiquiatra tem sua vida inteiramente regida pela lógica científica, ele é racional ao extremo, sempre frio em suas conclusões. O jovem é o oposto: sua vida é puro sentimento e emoção, e ele só enxerga a vida pelas lentes da poesia, da aventura e do amor. Qual dos dois está certo?
Os dois estão errados. A prova disso são suas próprias vidas: o médico está cansado e desestimulado, e seu casamento perdeu a paixão. E o jovem, frustrado por um amor não correspondido, desistiu de viver. Ambos perderam a vitalidade, o tesão pela vida. O motivo: eles esgotaram as possibilidades que razão e sentimento, sozinhas, têm para oferecer.
Razão e sentimento são funções psicológicas que auxiliam o ego a lidar com a realidade. Porém, quando o ego se apega demasiadamente a uma delas, ocorre o desequilíbrio psíquico e surgem os insucessos em vários aspectos da vida. A razão sempre busca entender a realidade pela ótica do intelecto, que é incapaz de abarcar toda a complexidade da vida. A razão não quer exatamente ser feliz: ela quer ter razão, sempre. Certamente você conhece alguém assim, que só admite a lógica racional para explicar a vida. E o sentimento entende a realidade pela ótica da sensibilidade emotiva, o que também é insuficiente para lidar com a grandeza da vida. Muitas pessoas agem assim, achando que a pureza de seus sentimentos a tudo resolverá.
Em algum momento da vida o crescimento psíquico exigirá do ego o equilíbrio dessas funções. Se seguir a diretriz autocurativa de sua própria psique, a pessoa saberá conciliar razão e sentimento e sairá do conflito renovada. Passará a se relacionar com a vida usando as duas funções de modo equilibrado e consciente, sabendo reconhecer as ocasiões em que deve usar mais intelecto ou mais coração.
Tanto nos relacionamentos com a família, com amigos ou num casamento, como também no dia a dia profissional, esse equilíbrio psíquico é fundamental. Assim como o psiquiatra frio e o jovem romântico tiveram que entrar em intenso conflito antes de integrarem em si o que lhes faltava, às vezes é preciso chegarmos a um ponto crucial de desequilíbrio interno, que causa o desequilíbrio externo, e afundar na crise para, somente assim, reconhecer e integrar o que nos falta e sermos mais inteiros e harmonizados com nós mesmos, com os outros e com o mundo em volta.
Portanto, é bom ficar atento. Se a vida parece ter chegado a um ponto insustentável, e viver de repente tornou-se uma sucessão de dias sem sentido, talvez esteja na hora de aceitar o outro lado que até agora negamos em nossa própria alma, mesmo que, em princípio, esse outro lado pareça limitado ou ingênuo. Ou louco demais.
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Ricardo Kelmer 2007 – blogdokelmer.com
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DURAÇÃO: 97 minutos
ANO: 1995
ESTÚDIO: New Line Cinema / American Zoetrope
DISTRIBUIDORA: New Line Cinema / Columbia TriStar Films
DIREÇÃO: Jeremy Leven
ELENCO: Marlon Brando, Faye Dunaway, Johnny Depp, Géraldine Pailhas, Bob Dishy e outros
ROTEIRO: Jeremy Leven
PRODUÇÃO: Francis Ford Coppola, Fred Fuchs e Patrick J. Palmer
MÚSICA: Michael Kamen e Robert John Lange
FOTOGRAFIA: Ralf D. Bode
DIREÇÃO DE ARTE: Jeff Knipp
FIGURINO: Kirsten Everberg
EDIÇÃO: Antony Gibbs
> Veja as cenas iniciais do filme (7,21 min)
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Gosto d+ desse filme, foi tema de um momento pós-fim-de-romance… então, adorei saber que vc tem uma palestra baseada nele, também adorei a crônica.
Bjs meus,
Ilde.
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(o heroi romantico é visto sob duplo enfoque:de um lado ,certa fragilidade ; de outro a coragem e a percstencia.que elementos da caracterizaçao de don juan conprova essa afirmaçao)
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