07out2010
Certos escritores amadurecem cedo. Tenho inveja desses. Porque nunca viverão o constrangimento de não se reconhecerem em suas primeiras obras
O DILEMA DO ESCRITOR SEBOSO
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Dia desses acessei o Estante Virtual, digitei meu nome no campo de buscas e encontrei, espalhados pelos sebos constantes no site, noventa livros meus. Foi aí que caiu a ficha: sou um escritor seboso! Fiquei feliz porque para um escritor, ter seus livros expostos é sempre bom, claro, e estar exposto numa imensa livraria virtual que reúne centenas de sebos e livrarias de todo o país é a certeza de que qualquer pessoa, do Oiapoque ao Chuí, poderá localizar facilmente meus livros e comprá-los sem precisar sair de casa.
Entre os títulos que encontrei, o único com exemplares novos é o Vocês Terráqueas, de 2008, que eu mesmo deixei num sebo paulistano. Os demais títulos são livros usados de edições antigas, inclusive o Quem Apagou a Luz?, de 1995, meu livro de estreia, da minha fase esotérica. Sim, já fui esotérico, eu juro. E este livro, que é prova disso, é meu campeão de vendas, com uns sete mil exemplares vendidos pela Universalista, uma pequena editora do interior do Paraná. Quatro anos depois a editora Record quis comprar os direitos de publicação mas eu já não gostava mais do livro e ele nunca foi reeditado. Mas essa história eu conto melhor outro dia, prometo.
No Estante Virtual encontrei também O Irresistível Charme da Insanidade, meu romance místico-erótico de 1996. Estavam lá também o Guia de Sobrevivência para o Fim dos Tempos, livro de contos fantásticos, de 1997 (e a edição de 2000, pela editora Elevação), e o Baseado Nisso, meu livro independente de 1998, com seus contos de humor sobre o universo folclórico dos usuários de maconha e o glossário de termos e expressões.
Foi interessante ver esses livros lá, à disposição de quem quisesse adquiri-los. Mas foi também constrangedor esse encontro com o meu passado literário. Explico. É que a partir de 2004, estando sem editora, decidi republicar meus livros em edições independentes. E daí? Daí que, ao relê-los, morri de vergonha pois percebi que estavam mal escritos, as histórias não estavam bem contadas como deveriam. Então, antes de republicar, reescrevi todos eles.
Isso é comum entre escritores, desejar reescrever seus livros ao relê-los tempos depois. Eu não fujo à regra pois a cada releitura de meus textos, sempre sou tentado a mudar algo. Ultimamente, porém, isso já não ocorre tanto – sinal de maturidade estilística? Tomara. O campeão de mudanças é O Irresistível Charme da Insanidade: ele tem uma versão publicada em 1996, outra em 2005 e em 2010 reescrevi novamente para a edição da Arte Paubrasil. Dessa última vez usei minha experiência de roteirista e me concentrei no que era absolutamente indispensável à história, agilizando as situações e dando à narrativa o ritmo que ela sempre necessitou ter. Quinze anos após parir o rebento, só agora sinto que ele está realmente pronto para ganhar o mundo.
Certos escritores amadurecem cedo. Tenho inveja desses. Porque nunca viverão o constrangimento de não se reconhecerem em suas primeiras obras. Nunca olharão para os seus livros nos sebos e secretamente desejarão que fiquem lá encalhados por toda a eternidade. A mim, do time dos que demoram a amadurecer, me resta esperar que alguns leitores comparem as edições antigas e novas e digam: É, até que ele melhorou…
Enquanto isso, aiai, lá no Estante Virtual o meu passado seboso me condena. Quer saber? Amanhã mesmo voltarei lá. E roubarei todos os exemplares de quem um dia eu fui.
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Ricardo Kelmer 2010 – blogdokelmer.com
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Lançamento do Guia de Sobrevivência para o Fim dos Tempos (1997)
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Lançamento do Baseado Nisso. Encarnando Lord Kelmer (1998)
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Edição de bolso do Irresistível Charme da Insanidade (2005)
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Bienal do Livro, Fortaleza (2006)
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Vocês Terráqueas, Bienal de São Paulo (2010)
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LIVROS PUBLICADOS
relação atualizada aqui
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Quem Apagou a Luz?
(Ensaio, 1995. Fora de catálogo)
Certas coisas que você deve saber sobre a morte para não dar vexame do lado de lá
O Irresistível Charme da Insanidade
(romance, 1996/2005/2011)
Uma história de amor e vidas passadas, com erotismo e rock´n´roll
Guia de Sobrevivência para o Fim dos Tempos
(contos, 1997/2005)2012)
O fantástico e o sobrenatural invadirão sua realidade. Você está preparado?
Baseado Nisso
Liberando o bom humor da maconha
(contos/glossário, 1998/2005)
Contos sobre o folclore dos usuários + glossário de termos e expressões
A Arte Zen de Tanger Caranguejos
(crônicas, 2003)
Seleção de crônicas publicadas em jornal, 1992 a 2003
Matrix e o Despertar do Herói
A jornada mítica de autorrealização em Matrix e em nossas vidas
(ensaio, 2005)
Blues da Vida Crônica
(crônicas, 2007)
Seleção de crônicas publicadas em jornal, 2003 a 2006
Guia do Escritor Independente
Como publicar livros e gerenciar a carreira literária
(dicas, 2007)
Vocês Terráqueas
Seduções e perdições do feminino
(contos/crônicas, 2008)
Coletânea de textos sobre a Mulher
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Meu fantasma predileto – Diziam que era a alma de alguém que fora escritor e que se aproveitava do ambiente literário de meu quarto para reviver antigos prazeres mundanos
O encontrão marcado – Fechei o livro, fui até a janela e olhei pro mundo lá fora. E disse baixinho, com a leveza que só as grandes revelações permitem: tenho que ser escritor
Kelmer Com K no Toma Lá Dá Cá – Aqueles aloprados moradores do condomínio Jambalaya descobriram meu livro maldito
Pesadelos do além – O pior pesadelo prum escritor é ser psicografado. Ou melhor: ser mal psicografado.
O escritor grávido – Será um lindo bebê, digo, um lindo livrinho, sobre o mais belo de todos os temas
Livros e odaliscas – Meia-noite. Volto do banho. Elas estão todas deitadas em minha cama, lânguidas odaliscas a me aguardar.
O chamado da caverna – Mas talvez não, talvez se decida por entregá-la ao mundo, mãe que não pode criar o filho porque sua missão termina em parir
Mais textos na categoria “Profissão escritor”
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– Acesso aos Arquivos Secretos
– Descontos, promoções e sorteios exclusivos
Basta enviar e-mail pra rkelmer@gmail.com com seu nome e cidade e dizendo como conheceu o Blog do Kelmer (saiba mais)
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Will Duran, no seu magnífico livro, A história da filosofia, diz que a imaturidade o tempo conserta. O Marx tentou várias vezes modificar o seu Manifesto Comunista, pois a cada vez que lia via possibilidades de mudanças. Em 2000 publiquei um ensaio sobre a violência urbana, Violência: causas, conseguencias e soluções, e jamais imaginei que tudo que escrevi estaria acontecendo, mas devo te confessar que não gosto hoje do texto, pois ainda era neófito como publicista e fico até acabrunhado por tê-lo escrito. Mas o importante é escrevermos nossas histórias e ter a certeza de que um dia valeu a pena ter escrito, mesmo que depois não nos reconheçamos mais dentro do texto, como você genialmente dissertou. Forte abraço,
Muuuito legal O Dilema do Escritor Seboso…Gostei demais. Aliás, acho que você escreve bem até receita de bolo..rs..deve encrementar estilísticamente o texto da receita..:-)
Abração
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> Pegue o passado vivido
E doure ao fogo alto da vivência
Que o sabor da experiência
Por mais que seja, não extrapola
Acrescente o tempero do presente
E duas pitadas do que pode vir
E marque o tempo sempre agora
Mexa tudo olhando pra frente
Depois sirva em vida ardente
O belo prato da sua história
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Vc é genial. Desde de novinho. Sou sua fã. Vc me da esperança.
Bjs
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> Obrigado pelo carinho, Márcia. E pela esperança que você também me dá.
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Adorei, escritor seboso rsrsrsrssss, grande tirada essa sua…não é que eu também sou uma cantora sebosa! O meu filho encontrou o meu primeiro disco ainda em vinil, em um sebo.
Sucesso!
*;)
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> Sebosos com orgulho, né, Lucinha? E esse teu disco, que raridade!
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ah, Kelmer, seu estilo é uma graça. saudades.
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> Minha aluna da oficina de sitcom! Cadê você?
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Eu com uma coleção kelmérica ensebada aqui em casa, faria miséria, ou melhor, fartura. Roube os exemplares e traga-os todos pra mim, sivuplê!
Não precisas ter inveja dos que amadurecem cedo. És como vinho, lentamente o sabor vai se apurando e, ao imaginarmos a origem de tal delícia , surgem belas uvas suculentas orvalhadas.
Beijos, mô bem! =*
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> Belas uvas suculentas? Eu? Não vai te engasgar com o caroço, heim?
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Olá Kelmer! Tenho um dos raros exemplares do “Quem apagou a luz?” e gostei muito dele. Foi o livro que me iniciou no esoterismo. Gostaria de um dia ouvir as razões de vc ter deixado de gostar dele.
Abraços…
Paz e luz.
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> Poisnão, meu cumpade. Em breve contarei essa história. Com bom humor, claro.
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Eu ainda não li o “Quem apagou a luz”,mas de antemão acho que que todos temos o direito de ler,já que os livros são vivos e cada um de nós tem a sua hora para crescer com eles,mesmo que o autor já esteja em outra.Beijos.Bia.
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> Concordo. No Estante Virtual tem um bocado de exemplares desse livro, fiquem todos à vontade.
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Ui…sou a estranha do time de comentaristas…he he he… sou artesã, a mania de escrever é só um dos meus momentos secretos. Então sou uma artesã sebosa… imagina que já repintei telas pelos mesmos motivos que tu quer reescrever teus livros. Reescreva todos, e apenas estará criando. Quando conseguir dar conta das publicações novas, talvez consiga buscar algumas antigas, tem coisa “pra caramba” pra eu ler…paciência comigo….eu chego lá.E poderei comentar como esse povo charmoso aí de cima…divertidíssimos!
Beijos
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> Uma artesã sebosa, hummm… Pode ler com calma, sou muito paciente.
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É, por sorte não tenho telas perdidas em sebos…talvez eu virasse criminosa e tentaria atear fogo em todas.Você deve ser mesmo muito paciente…pelo que vejo nas respostas de certos comentários…nunca ateou fogo em ninguem…hehehe
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Tio Prof, vc é o seboso mais incrível q conheço. Muitas e grandes verdades escritas aí em cima. Estou bem nessa fase. Comecei a editar as primeiras postagens do blog. O tempo não tem me permitido ser mais ágil nisso, mas muita coisa está melhorando. Até as imagens e o layout. Esse seu texto me lembrou o filme CORAÇÃO DE TINTA. Vc já assistiu? Quase todos os volumes são destruídos, mas por outro motivo…
Hoje estava lembrando de Tábata – minha personagem preferida. Beijos meus e de Tallyta!
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> Meses atrás destruí dezenas de exemplares antigos, das primeira edições do Insanidade e do Guia de Sobrevivência. Fiquei péssimo. Mas ficaria mais péssimo ainda se lessem. Que leiam as novas edições, que estão melhormente escritas.
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Lord Kelmer = Mad Hatter… 😛 Inspiraste o Tim Burton, sebosinho meu? 😀
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Livros são como filhos, não tem como parí-los de novo!!!! rsrss muito bom!!!!
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