Viajando com Marsicano

Ricardo Kelmer 2008

Gostei do cara: artista genial, visionário lisérgico, maluco da paz

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Meu primeiro contato com Alberto Marsicano foi pelo livro Jim Morrison por Ele Mesmo, que li no começo dos anos 90. Marsicano foi o organizador da obra, que integra uma coleção da Martin Claret sobre ídolos do rock.

Alguns anos depois dou de cara com o cara em Campina Grande, no Encontro da Nova Consciência, um festival multicultural mucholoco que rola lá durante o Carnaval desde 1992. Marsicano foi um dos convidados e tocou sua cítara, encantando a plateia do evento. Gostei do cara: artista genial, visionário lisérgico, maluco da paz. A partir daí passamos a nos encontrar lá, renovando anualmente a celebração da amizade, da vida e da poesia, eu, ele e outro poeta-músico maluco, o jornalista André de Sena. Longos papos sobre Rimbaud, Doors, Blake, Baudelaire, rock, drogas, deusas e diabas… E Marsicano sempre surpreendendo, tocando cítara até com os roqueiros do evento, com os forrozeiros, os emboladores…

Marsicano formou-se em Filosofia pela USP e é um grande conhecedor e tradutor de poesia inglesa. Morou em Londres, onde estudou cítara com o maestro indiano Ravi Shankar. Na Índia, graduou-se em Música Clássica pela Benares Hindu University da Índia e hoje é considerado o maior citarista do Brasil. Seu disco Sitar Hendrix, que foi indicado ao Grammy 2009, é uma releitura de Jimi Hendrix sobre a cítara, misturando rock, blues e baião sensacional! Pra quem não sabe, Hendrix era aluno de cítara (confira a faixa Cherokee Mist de seu disco Axis Bold as Love) e tinha um projeto de gravar um disco tocando o instrumento. Marsicano realizou o sonho do guitarrista. Valeu, cumpade!

Quando escuto esse disco, a imagem de Marsicano aparece no holograma esfumaçado da minha memória: ele no palco, sentado no chão, abraçado à sua cítara, os longos cabelos loiros, o corpo sacudindo com a música, a expressão de êxtase… Adoraria saber o que ele sente nesses momentos em que viaja por sua música louca, por onde vai sua alma andarilha na carona das melodias estranhas e belas que borbulham de seu instrumento. Mas isso só ele sabe. A mim, me compete apenas escutar. E fazer minha própria viagem, claro.

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Ricardo Kelmer 2008 – blogdokelmer.com

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> Para baixar o disco Sitar Hendrix (zip, 68 mb)

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São Paulo, 19.08.13 – O domingo de São Paulo nublou para se despedir de Alberto Marsicano. E eu aqui continuo nublado, chorando a partida do meu amigo amado. Obrigado, Marsica, por termos caminhado juntos, pela sua música, pelas cachaças, pelos momentos incríveis. Vou sentir tantas saudades suas, cara…
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RK201202Mathew,Marsicano-01DESPEDIDA MARSICÂNICA

Pra mim, não é fácil usar este espaço pra falar da morte de Alberto Marsicano, meu amigo querido que partiu no domingo 18.08.13. Mas vai me servir pra dividir e aliviar a dor.

Marsicano era a arte em divino estado de possessão demoníaca. A música e a literatura brilhavam nele a todo momento como explosões psicodélicas de insanas estrelas multicoloridas. Como aguentar um cara possuído vinte e quatro horas por dia pelos demônios criativos da arte? Nem todo mundo aguentava. Mas eu o amava assim mesmo como ele era, tresloucado, verborrágico, viajandão, inconformado, aquele infalível figurino em cor branca, e o humor, ah, o humor marsicânico, aquelas tiradas impagáveis que ele de repente sacava do bolso de sua mente sempre em ebulição e fazia a alegria de quem estivesse em volta.

Nunca mais isso. Nunca mais Marsicano de repente surgindo na Augusta que nem uma entidade cósmica a reclamar do preço da cerveja. Nunca mais vê-lo em êxtase a voar no tapete mágico de sua cítara. Nunca mais suas piadas sobre eu ser afilhado de Padre Cícero e protegido de Virgulino Lampião. Nunca mais aquele caminhar balançante, a gargalhada contagiosa, o olhar infantil de quem sempre fora velho.

Tchau, amigo. Escrevo essas coisas ainda chorando mas logo voltarei a rir. Como eu e você sempre rimos, como sempre ri muito de você. O riso que se fez música, é isso que você é. O som-riso marsicânico.

Ricardo Kelmer, 20.08.13

(Foto: com Marsicano e Mathew, num boteco de Campina Grande-PB, durante o Encontro da Nova Consciência de 2012)

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O VOO ETERNO DO PÁSSARO PSICODÉLICO
Ricardo Kelmer 2014
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Feito um satélite desorbitado
Nos céus da nova consciência
Lá se vai o pássaro psicodélico
Com seu bêbado voar poético
E sua alva cabeleira

Mas na cantiga certeira da cítara alucinante
A vida é um sonho andante que não segue planos…

Ouçam! Estão ouvindo? Vocês viram?
O pássaro psicodélico passou por perto
Ouçam! Nas asas do transe o som se chama Alberto

E sobre as mentes da plateia consciente
Seu voo sagrado flutua eternamente
E a música estremece de prazer insano
O gozo do voo se chama Alberto Marsicano

(Poema criado no camarim, antes do número em homenagem a Alberto Marsican0, com a banda Cabruêra e os músicos Waldemar Falcão, Baixinho do Pandeiro e Vitor Harres, em Campina Grande, fev2014, no 23o Encontro da Nova Consciência. Vídeo abaixo, feito por Antonio Carlos Harres, o Bola.)

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Cítara, tabla e pandeiro
Encontro da Nova Consciência, 2013

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Alberto Marsicano no programa Provocações (2012)

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Comentarios01COMENTÁRIOS

01- Dor profunda, Ricardo Kelmer, ficamos todos órfãos. Já falei com André, e ele está desolado, como todos. Eu fiquei literalmente tonto quando soube, sem chão, atônito. Me encontrarei com André na sexta, faremos isso, sim, e sintonizaremos com vc, meu querido, assim como manteremos em mente esse querido e único Profeta que tivemos a honra de conhecer – e digo, sem medo de errar: conhecemos o Marsicano “de camarote”, de perto, com um acesso privilegiadíssimo, como poucos. Forte abraço, meu brother Kelmer. Rógeres Bessoni, Recife-PE – nov2013

02- Lindo texto, Ricardo! À altura do homenageado. Bração saudoso. Waldemar Falcão, Rio de Janeiro-RJ – nov2013

03- Puxa, Ricardo, eu aqui, sem saber o que dizer e você deitando memória e carinho com o seu melhor lado, louvando o que vai e confortando quem fica. Valeu mesmo, querido amigo. Pedro Camargo, Rio de Janeiro-RJ – nov2013

04- Há pessoas que passam na vida e deixam um rasto de pura luz. Alberto Marsicano era um desses. Tento encarar a morte como uma passagem natural, e há muito não choro quando alguém querido vai pro lado de lá. Mas hoje, aqui em Paris, não deu pra segurar. Um beijo querido Marsicano. Levou a cítara com você? Luis Pellegrini, São Paulo-SP – nov2013

05- Hoje fez um lindo amanhecer que me surpreendeu diante do frio. Um lindo ceu azul com nuvens redondinhas e cheinhas brincando no ceu e uma cor rosa salmon liiinndaaaa de se ver..Tinha tanta alegria no ceu que imaginei Marcinano Chegando e sendo recepcionado-tocando a sua citara, claro….Faz parte do Show,…Serve apenas pare lembrar que fisica ou virtualmente devemos ser verdadeiros, apaixonantes e intensos no aqui agora e amorosos e gentis nos relacionamentos. Porque depois não existe! Paz e Luz! Anosha Prema, São Paulo-SP – nov2013

06- fiquei de cara, muito triste perder uma pessoa tao proxima. Felipe Maia, São Paulo-SP – nov2013

9 Responses to Viajando com Marsicano

  1. Olá, pode disponibilizar o disco novamente, por favor?!

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  2. Ana disse:

    Bela homenagem a um amigo que irradiava arte! Como dizem pelas minhas bandas: it takes one to know one. Voce tambem tem este brilho! Bjos

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  3. Mob disse:

    Ótima homenagem, Kelmer. Uma semana depois e ainda estou sem acreditar. Caso possa, disponibiliza novamente o Sitar Hendrix. Abç

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  4. Um gênio em outra dimensão e seu coração muito machucado. Meus pêsames! Vi tudo e gostei muito. Você é o gênio que fica.

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  5. andre disse:

    Salve Kelmer,

    Marsicano era uma dessas raras pessoas que sabiam suspender a vida, deixá-la em estado contemplativo. Sua excentricidade camuflava aos olhos da maioria a reflexão e a humildade dos visionários verdadeiros (lembremos de Platão: numerosos são os portadores de tirso, mas poucos os bacantes), ele não era excêntrico comigo, falávamos sobre filosofia, poesia, música… e as horas corriam sem nos darmos conta disso. Marsicano é como Kelmer, artistas que se consagraram à sua arte de corpo e alma. Nosso amigo nos deixou fisicamente, mas sua obra perdurará, como grande romântico contemporâneo (lembremos que foi tradutor de Blake, Wordsworth, Coleridge), de uma visão mística acerca do próprio movimento romântico. Fomos honrados em conhecer um inspirado, um blakeano. Valeu Kelmer pela homenagem Abç. André Sena.

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    • ricardokelmer disse:

      > “Fomos honrados em conhecer um inspirado, um blakeano”. Podiscrer, André. E fomos honrados em beber poesia com ele nas noites conscienciais de Campina Grande. Marsicano segue em nossas vidas e em nossa arte.

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