Um ano na seca

O que pode acontecer a um homem após um ano sem sexo?

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Esta série foi publicada originalmente em capítulos semanais no antigo blog Kelmer Para Mulheres. Aqui você pode lê-la na íntegra, com os comentários.

Em 2008 Ricardo Kelmer publicou em seu blog, em capítulos semanais, a série Um Ano na Seca, um relato verídico de sua tragicômica experiência de abstinente sexual no Rio de Janeiro. Dosando humor e suspense, a história prendeu a atenção dos leitores por vários meses, principalmente das mulheres, que puderam conhecer certas particularidades do universo do desejo masculino que geralmente os homens preferem não revelar.

A versão livro de Um Ano na Seca foi lançada em nov2010 (bolso, 48 pag). E em 2013 inspirou uma música da banda Bardoefada (vídeo no fim da postagem).

PARA ADQUIRIR

PELO BLOG  DO KELMER

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UM ANO NA SECA

Ricardo Kelmer
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EU JÁ FIQUEI UM ANO sem sexo. Verdade. Quer saber mesmo? Foi quando eu tinha 4 anos.

Ahahahah! Desculpe, leitorinha, não resisti à piada. Agora falando sério, já fiquei um ano no perigo sim, e eu já era quarentão, olha que coisa. Em 2004 eu havia me mudado pro Rio de Janeiro e, sem amigos com quem sair, sem namorada e sem dinheiro, tudo que eu fazia era ir pro trabalho e voltar pra casa. No começo não teve problema algum pois minha energia tava tão voltada pro trabalho e pra economizar grana que as ex-namoradas resolviam o problema. Comassim? Ora, era só, na hora do banho, lembrar delas…

Mas depois de seis meses a coisa começou a ficar feia e as ex já não resolviam, eu já havia homenageado todas elas, tava até repetindo.

Putz, mas será que você tá realmente interessada nesse papo de punheteiro véi safado? Bem, sejamos francos: se você frequenta este blog, é porque santa você não é, né? Então dá licença que eu vou continuar a história.

Seis meses de Rio de Janeiro. Seis meses sem dar nenhumazinha. Morando sozinho, vivia de casa pro trabalho e do trabalho pra casa, a energia totalmente voltada pra economizar o máximo de dinheiro possível. Sem amigos homens com quem sair, sem namorada, sem nem um rolinho sequer, o jeito era ficar em casa escrevendo e ouvindo música, bebendo sozinho. Vivia uma fase de repensar a vida e reavaliar valores, precisava mesmo de solidão.

No começo o tesão até que ficou comportado. Eu me resolvia com as ex-namoradas mesmo, homenageando-as durante o banho: apoiava um braço na parede, escolhia a ex da vez e mandava ver. A água quentinha escorrendo pelo corpo é uma diliça, mas o perigo dessa posição, não sei se você sabe, é que as pernas ficam bambas, a vista escurece e bufo!, a gente cai pro lado, se estatelando duro no chão. Um dia caí e bati a cabeça na privada, fiquei com um galo horrível na testa durante uma semana. Mas os acidentes também têm seu lado positivo. Esse me fez perceber, finalmente, que aquilo já tava passando dos limites. No outro dia tomei uma decisão: revesti a privada com esponja.

Um dia abateu-se sobre mim a desgraça: eu lá, sob o chuveiro, pronto pra mais uma homenagem quando percebi que… o estoque de ex havia se esgotado. Simplesmente não tinha mais nenhuma ex, todas já haviam passado por aquele chuveiro, até mesmo os casos, os rolos de um mês, de uma semana, de uma noite, as ficantes, todas, todas. Putz, e agora? Desesperado, vesti uma roupa e saí. Nunca fui de pagar por sexo mas tava decidido: só voltaria pra casa acompanhado.

Voltei com Daniele, uma morena linda, jeitinho meigo, uma bunda doce e irresistível. Ainda tentei barganhar o preço, mas o dono da banca foi irredutível. Paguei oito reais, pus a Sexy na mochila e voltei pra casa. Sou um cara exigente com mulher, até mesmo com mulher de papel, não gasto meus zóides com qualquer peladona não. Qualé? Tá pensando que achei os bichinhos no lixo?

Daniele me fez companhia durante algumas semanas. Como ela não gostava de água, namorávamos na cama mesmo, nada de chuveiro. Até que um dia…

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NÃO FOI NADA ENGRAÇADO ficar um ano inteiro sem sexo, mas se isso hoje diverte o respeitável público, então ótimo, vou encarar a coisa como, digamos assim, uma saudável reciclagem das desgraças da minha vida pregressa.

Pois bem. Durante algumas semanas eu e Daniele vivemos bons momentos, mas… havia um probleminha. Eu sempre queria Dani de quatro, ela ficava linda assim. Mas na hora H, quando eu tava chegando lá, a página virava e Dani passava pra outra posição, uma posição bem sem graça, que merda. Acabamos discutindo, eu querendo Dani safada de quatro e ela se querendo toda comportadinha numa poltrona.

Percebi que meus sentimentos já não eram os mesmos do início. Então fui até a janela e disse, sem olhar pra ela, mirando o fim de tarde lá fora: Beibe, preciso de um tempo. Ela ficou meio tristinha, mas entendeu na boa. É uma vantagem das mulheres de papel, elas sempre entendem quando o cara precisa de um tempo. Daniele acabou na quarta gaveta do guarda-roupa, junto com a caixinha do brau. Até hoje desconfio que foi ela quem fumou o precioso, um especialíssimo que eu tinha guardado pro carnaval. Mas tudo bem, foi bom enquanto durou. Meses depois eu me mudei de Botafogo e desde então não tenho notícia de Dani, acho que a coitada caiu da mudança. Sorte de quem pegou.

Com isso, acabei voltando às ex-namoradas debaixo do chuveiro. Nada contra, claro, mas acontece que naquela secura de seis meses eu já havia homenageado todas elas, não havia sobrado nem mesmo uma fulana que anos atrás me atacou numa festa, terminamos num hotelzinho vagabundo e, quando acordei de manhã, sozinho no quarto, a última coisa que eu lembrava era a gente saindo da festa e cadê que eu conseguia lembrar do nome da criatura? Nem do rosto eu lembrava mais. E até eu hoje não lembro. Imagine o estado do cidadão… Pois bem, até essa eu homenageei, lá debaixo do chuveiro, sim, pra você ver a consideração que eu tenho com minhas ex e até com as taradas de festa, viu?

Foi aí que um amigo me apresentou Sonja. Que não era de papel.

Ih, infelizmente acabou o espaço. Posso continuar semana que vem? Não? Ah, mocinha, não seja tão exigente comigo, entenda minha situação, eu tô precisando desabafar, aprendi isso com vocês, botar pra fora os sentimentos, né isso? Então, tô botando. Mas não dá pra botar tudo de uma vez. Se você estiver aqui na próxima semana, eu continuo. Você vem, beibe?

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EU HAVIA CONTADO pra um camarada sobre minha trágica situação e ele, compadecido, combinou que me apresentaria a uma ninfeta deveras generosa chamada Sonja. O nome dela é esse mesmo?, perguntei. Não, não era. Era nome de guerra. Ah, tá. Sonja, a guerreira. Mas do jeito que eu tava a perigo, ela é quem teria que se defender.

Marcamos pra uma quinta-feira, lá mesmo em meu apartamento em Botafogo. Na hora marcada meu amigo chegou, devidamente acompanhado da ninfeta. Ele nos apresentou, fazendo umas piadinhas que me deixaram meio sem jeito. E ela, pelo jeito, já devia estar acostumada. Sentei na poltrona e eles no sofá. Botei um Led Zeppelin pra gente escutar, mas acho que ela não curtiu muito, acho que gostava mais de hip hop. Servi domecq mas ela não bebeu, Sonja não bebia. Logo depois meu amigo foi embora, me deixando a sós com a ninfeta. Eu tava meio nervoso, mas ela tava na dela, tranquila, me olhando com aqueles olhos grandes e verdes que ela tinha.

Lá pelas tantas achei que já tava bom de lero-lero: peguei Sonja pela mão e levei pra sacada pra gente ver o Cristo iluminado. Enquanto ela olhava, eu não me aguentei mais nas calças e, bufo!, derrubei-a no chão, que nem um homem das cavernas alucinado. E comecei a soprar dentro dela. Nunca em toda a minha vida eu tinha feito aquilo, juro. Soprei durante meia hora, e no fim eu tava caído no chão, botando os bofes pra fora, parecia que havia corrido uma maratona. Em compensação, Sonja tava bem cheinha. Meu amigo tinha razão: ela era bem fornida. Peituda e bunduda do jeito que homem do sexo masculino gosta.

Meu amigo me garantira que ela tava bem limpinha, ele a havia lavado no dia anterior. Mas achei melhor garantir e dei um bom banho na Sonja, com detergente e água sanitária, até botei um rexona no sovaco dela. De volta à sacada, nos encostamos na grade e enquanto eu bolinava sua bunda, recitei uns poemas do Vinicius pra fazer um clima assim meio romântico, de tudo ao meu amor serei atento. Olhei pra Sonja e ela tava de boca aberta, os olhos arregalados, certamente enternecida com meu esforço por agradá-la. Ela não me disse, mas senti que meu amigo, com ela, não valorizava muito as preliminares. Homens…

Então os sete meses sem sexo gritaram dentro de mim e perguntei se ela queria ir pro meu quarto ou se preferia fazer ali mesmo. Você escolhe, Ricardinho… Acho que ela falou isso, não lembro bem. É que eu já tinha tomado metade do domecq e quando chego nesse ponto, dou pra ouvir coisas, ver gente morta, é um horror. Então eu escolhi o lugar, e escolhi ali mesmo, na sacada, sacomué, Sonja, sempre fui chegado em locais inusitados. Foi quando ela falou, maliciosa: Locais inusitados assim tipo o meu cu, né, fofo?

Nesse exato instante eu me apaixonei. Quem não se apaixonaria?

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SEMANA PASSADA EU PAREI na parte em que eu encoxava Sonja na sacada do meu palacete de Botafogo. E, enquanto recitava Vinicius, descobria-me apaixonado por uma boneca inflável, dessas bem fuleragem, até remendo ela tinha, acredita? Adivinha onde? Poizé. Meu amigo deve ter abusado muito da moça, coitada.

Aliás, homem na secura é um horror, você nem imagina do que somos capazes de fazer. E jovens, então, quando os hormônios são os nossos verdadeiros governantes e a cabeça de baixo sempre fala mais alto? Putz… Heim? Controle de qualidade? O que é isso?

No interior, até hoje o povo come jumenta, o povo homem, claro. Diz que é bem quentinho, aconchegante… E que ela nunca espera que o cara ligue no dia seguinte.

Por falar em jumenta… Corta agora pros meus saudosos vinte anos. A gente ia pra praia e na volta passava por um terreno onde sempre havia uma jumentinha amarrada, a Jupira. A Jupira tinha um bundããão… Pois a Jupira era apaixonada os quatro pneus e o estepe pelo meu amigo Perretis, é sério, era só a gente parar o carro que ela já se virava assim de ladinho e ficava toooda dengosa pra ele. E a Jupira ainda era fiel: um dia eu quis dar umazinha com ela e ela não quis não, só queria se fosse o Perretis. Putz, fiquei arrasado, quando um homem chega nesse ponto de nem jumenta aceitar, é mesmo a decadência total…

O Netonha, outro amigo fuleragem, na sua infância lá no Crateús era o terror das galinhas. Galinha de pena mesmo. Sim, é sempre bom explicar, porque em Crateús, sabe como é, né? Diz que na casa do Netonha não escapou uma galinha: ele chegava das festas do sábado e, meio truviscado da cabeça, ia pro terreiro atrás da casa e traçava todas. O melhor é que no domingo o almoço sempre era galinha, a família toda comia, até o padre ia pra esses almoços. Uia.

Um outro amigo, o Marquim, uma vez comeu um peixe. Verdade. Ou era uma peixa? Não sei. Só sei que o peixe morreu e ele ficou muito arrependido e deixou de comer peixe. Mas o Marquim não conta, ele era tarado, nem caule de bananeira o disgramado dispensava, diz que tem uma textura boa. E eu? Bem, como minha infância foi urbana, não tive sorte de ter essas namoradinhas do dadivoso reino animal. Mas devo admitir que lá em casa sempre teve umas poodles bem fofinhas… Mas não, cachorra por cachorra, melhor as sem pelo. Mas uma vez eu estuprei um rolo de papel higiênico, eu juro. Ué, qual é o problema? Nenhuma menina queria me dar! E aquele era o único buraco decente que tinha por perto…

E você, leitorinha querida, fica só rindo dessas histórias cavernosas, né? Fica aí só achando graça desse bizarro universo masculino, né? Mas aposto que você também já teve aqueles dias de desespero em que a bacurinha só falta pegar um autofalante e gritar: Uma caridade, pelo amor de Jesuscristim!!!

Taí, agora fiquei curioso. Mulher também sofre quando os hormônios sexuais botam a boca no trombone e, no entanto, não tem ninguém pra aliviar a tensão? Claro, né? Mas imagino que vocês não apelam pros jumentos, afinal animal por animal, já bastam os homens, né, fia? Mas pra alguma coisa vocês devem apelar. Quem quer contar primeiro? Ah, vamos lá, boneca, fica só entre nós, vai. Pensa que eu não sei que você agora tá rindo aí do outro lado do computador, é? Poizeu sei. Se tá rindo é porque tem o que contar. Conta! Conta! Conta!

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ONDE PAREI MESMO? Ah, tá, eu e Sonja na sacada do apartamento, oitavo andar, eu com meio litro de conhaque na cachola, irc! Bêbado que nem um gambá, sim, deploravelmente bêbado, mas a poucos segundos de finalmente acabar com a maldita seca que já durava sete meses. Pois bem. Após seu singelo consentimento, Sonja encostou-se na grade da sacada, de costas pra mim, aquele bundão espetaculoso, e eu abri a calça, abaixei a cueca e botei o Jeitoso pra fora. Poizé, o nome dele é Jeitoso, tinha esquecido de apresentar vocês. Também conhecido no submundo do crime desorganizado como Jeitosão 17. Então. Nem preciso dizer como ele tava, né? Parecia menino em dia de aniversário, uma animação só.

Abri as nádegas de Sonja e vi que seu cu era rosado, um tipo raro por essas bandas. Não sei se você sabe, leitorinha, mas na Tabela de Estética Anal o cu rosado só perde pro cu salmon, este é raríssimo, tem gente que morre sem conhecer um cu salmon. Pois bem, Sonja tinha um cu rosado, muito simpático e convidativo, com certeza meu amigo já se deliciara bastante por aquelas vias. Afastei-me pra trás e mandei um golão no conhaque, um brinde a mim por suportar com tamanha dignidade sete difíceis e eternos meses sem dar umazinha sequer.

Nesse momento, porém, soprou um vento repentino e Sonja, vupt, voou por sobre a grade da sacada. Desesperado, larguei o copo e corri pra segurar. Mas não deu tempo: Sonja havia caído, despencado do oitavo andar no meio da escuridão da noite. Putz. Fiquei ali parado por um tempo sem acreditar. Seu idiota incompetente!, gritou o Jeitoso, já murcho e muito puto, nem mulher inflável tu consegue segurar? Quando o sujeito não consegue nem manter uma relação com uma boneca inflável, ele precisa admitir que chegou ao fundo do poço.

Peguei o elevador e desci pro poço, quer dizer, pro térreo. Procurei lá embaixo na área lateral e não encontrei Sonja. Onde ela estaria? Olhei lá pra cima e entendi: ela caíra numa das sacadas abaixo da minha. E agora?

Voltei pro apartamento num dilema mortal. Não podia abandonar Sonja assim dessa maneira. E tudo que houve entre nós? E todo o futuro lindo que nos esperava? E seu cu rosado? Mas, por outro lado, cadê a coragem pra bater na porta do vizinho às duas da manhã? Oi, minha namorada caiu na sua sacada, você poderia pegar pra mim?

Não, minha dignidade jamais me permitiria descer tanto. Preferível comprar uma boneca nova pro meu amigo. Que merda… Desculpa, Sonja, eu não queria que tudo terminasse assim… A não ser… A não ser que eu desse uma de Homem-Aranha…

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TRUVISCADO DE DOMECQ como eu tava, considerei seriamente a hipótese de me pendurar na minha sacada e saltar pra sacada de baixo. O Resgate de Sonja – sexo, suspense, emoção… e uma perna quebrada. Felizmente um resquício de bom senso me fez desistir da aventura. Mas nem sempre tive esse tal bom senso, viu, isso é coisa da idade.

Restava-me bater na porta do vizinho. Às três da madrugada. Eu até poderia fazer isso, dada a minha lastimável condição de secura. Mas onde ficaria minha reputação de moço sério, trabalhador e respeitador dos bons costumes? Eu seria rebaixado à categoria de cruel estuprador de bonecas infláveis, que horror.

Voltei ao meu apê arrasado. E caí na cama à beira de um ataque de choro. Minha pobre Sonja, coitadinha, passaria o resto da noite no chão sujo de uma sacada, ao relento, nua e abandonada. Poderia pegar um resfriado, a bichinha. Adormeci exausto e deprimido. Putz, eu estivera a centímetros de dar fim àquela secura desgraçada que já durava sete meses… Mas o vento levou minha felicidade.

Tive pesadelos terríveis. Num deles Sonja me esnobava e preferia se suicidar a trepar comigo, e então se atirava da sacada. Irgh! Será que eu sou assim tão asqueroso? Só porque depois dos 40 comecei a ficar barrigudo, careca e banguelo? No outro pesadelo o vizinho do 702, logo o idiota do 702, enrabava minha Sonja na sacada e eu acordei suando de ciúmes, desesperado, ouvindo Sonja uivando de prazer… Que dor!

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ACORDEI NO DIA SEGUINTE numa ressaca horrorosa. A primeira coisa que fiz foi correr pra sacada e procurar por Sonja. Enquanto procurava, minha atenção foi atraída pro colégio que ficava ao lado do meu prédio. Era a hora do intervalo e os alunos jogavam futebol no campo de areia. E pareciam especialmente animados naquele dia, correndo e gritando bastante. Quando saquei o motivo, quase tive uma síncope cardíaca: a bola do jogo era nada mais nada menos que… minha querida Sonja, que subia e descia pelo ar, toda desmantelada, um braço já faltando, parecia um molambo voador.

Gritei pra eles pararem com aquela selvageria mas não me ouviram. Então desci e fui correndo até o colégio, expliquei o que acontecera e minutos depois um funcionário me trouxe o corpo de Sonja, seco e totalmente desfigurado, a cabeça decepada… Levei-a de volta pra casa, tentei encher e remontar, mas foi impossível, o estrago fora enorme. Teria que comprar outra boneca pro meu amigo. Então deitei Sonja na cama e, olhando ela ali deitadinha… de bundinha murcha pra cima… pensei que ela merecia uma última e sincera homenagem.

Em toda a minha vida de perigoso maníaco sexual eu nunca antes havia transado com uma boneca inflável. Muito menos com um cadáver inflável. Olha só aonde a minha secura havia me levado! Estuprar uma boneca inflável morta, toda murcha, sem braço e sem cabeça…

Mas o estrago fora ainda maior do que eu imaginava. Aqueles monstrinhos assassinos haviam enchido os buracos de Sonja com todo tipo de coisa. Só da bucetinha dela tirei uma borracha, duas tampas de caneta Bic, um mp3 quebrado, um boneco Power Rangers e um bagaço de maçã, que horror. E o cu, o belo cuzinho rosado de Sonja, haviam tampado com um chiclete. Que absurdo, as pessoas não têm mais sentimento! Como podem fazer isso com um ser humano inflável?

Não deu, amiga, simplesmente não deu. Não consegui comer Sonja. Por mais maníaco sexual que eu seja, tudo tem um limite, né? A secura continuaria. Eita fase de urubu danada…

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APÓS A TRISTE DESVENTURA com Sonja, dei um tempo em minhas desesperadas tentativas de acabar com a secura sexual, que já chegava aos oito meses, que horror. Achei que era melhor me aquietar e deixar que as coisas acontecessem de forma mais natural. O problema é que as coisas não estavam acontecendo nem naturalmente e nem antinaturalmente, a maré tava braba mesmo. Sozinho numa cidade estranha, sem amigos, sem namorada, sem dinheiro pra sair, o que me restava?

Então tive uma ideia genial: decidi montar um harém. Sim, o Kelmer Harém de Celebridades (KHC). Pra quê? Ô, minha filha, que pergunta boba… Pra dar uma variada em minhas punhetas, lógico. Sim, variar, afinal fazia oito meses que eu homenageava minhas ex-namoradas quase diariamente, nem elas aguentavam mais tanta homenagem. Pra você ter uma ideia, desde que começara a secura, só pra Aninha eu já tinha tocado 105 punhetas. Você sabe o que significa isso, leitorinha querida? Pois vou te dizer. Se uma ejaculada tem em média 100 milhões de zóides, então só pensando na bunda da Aninha foram 10 bilhões de zóides que jamais tiveram nem jamais terão sequer uma remotíssima chance de ver um óvulo rebolando à sua frente, coitados, ninguém merece.

Pois bem. Em poucos dias o melhor harém que jamais existiu na face da Terra tava todinho dentro do meu noutibuk, que era velhinho, mas que com a chegada das meninas rejuvenesceu cinco anos. Tinha de um tudo no harém: loira, morena, ruiva, negra, índia, japonesa, esquimó. Tinha odaliscas do presente e do passado, de Brigitte Bardot às Sheilas do Tchan. Tinha celebridades e anônimas, lobas e ninfetas, profissionais e amadoras, ai, as amadoras. Infelizmente minha musa Ana Paula Bandeirinha ainda não havia posado pra Playboy… Senão ela também estaria no harém. Aliás, ela teria um harém só pra ela.

– Ricardinho, harém de uma odalisca só não existe…

– Ahnnn… É verdade, Ana Paula. Mas você teria mesmo assim. Pra você não tem impedimento.

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MAS CALMA LÁ, LEITORINHA. Só porque era um harém, não vá pensando que era só ser bonitinha ou gostosinha que já tava dentro. Nananinanão. Punheteiro safado sem-vergonha também tem seus critérios, ora! Afinal punheta é coisa séria, é uma homenagem singela e sincera às mulheres que amamos. E por mais tarado que a gente seja, a gente também tem nossas objeções. Essas modelos magricelas e sem bunda, por exemplo. Comigo não têm vez, quem gosta de osso é arqueólogo. Então magricela não entrou nenhuma.

Por falar em bunda, numa segunda fase o Harém de Celebridades se especializou: criei o harém dos peitos e o harém das bundas, olha que chique. Claro que por causa da minha tara que você já conhece, o harém das bundas ficou beeeeem mais numeroso. E como era o harém que eu mais visitava, todas queriam estar nele. Mas me mantive incorruptível. Adriane Galisteu, por exemplo, tentou dar uma de penetra mas foi barrada na porta, é muita pretensão mesmo! Gisele Bundchen tentou entrar também, mas ficou só no harém dos peitos. Sim, Gisele, eu sei que os gringos admiram sua bunda, eu sei, mas no Brasil, a média pra passar é bem mais alta, viu, fia?

O KHC tava indo bem. O problema era que, com essa minha velha mania de justiça, eu insistia em revezar as meninas, uma homenagem pra cada uma, pra que elas não se sentissem preteridas, você sabe, rola muita inveja nesse meio. Mas, putz, eram centenas de odaliscas! Se eu sentisse saudade da Karina Bacchi ou da Mulher Samambaia, que, por sinal, constavam com todo o merecimento nos dois haréns, eu teria que esperar cinco anos pra poder vê-las de novo.

– Ah, não, Riquinha, assim não – Karina reclamou, é lógico. – Pode dar logo um jeito nessa situação.

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FOI ENTÃO QUE DESCOBRI algo revolucionário: era possível organizar as fotos num programinha de slide e botar no automático. Uaaaaau! Ficou uma maravilha. O KHC tornou-se dinâmico, e eu nem precisava mais ficar clicando, agora a outra mão tava liberada pra dar um gole no Domecq. Minhas odaliscas passaram a desfilar ordenadamente, uma após a outra, cinco segundos pra cada uma me seduzir com suas curvas, protuberâncias e malemolências…

– Oi, Luma. Eu apareço depois da Grazielli. Já chamaram ela?

‒ Calma, Sabrina, antes dela ainda tem eu. Ops, é a minha vez, tchau.

Algumas tinham mais fotos que outras, claro, e por isso se demoravam mais pros meus olhos. Porém, depois estavam livres o resto do dia pra fazer o que quisessem, passear no shopping, tomar chá com as amigas, fazer a escova… Estavam livres até pra me trair com quem quisessem. Desde que no outro dia estivessem de volta, lindas e dadivosas, tudo bem.

Ah, foram três meses de paz e tranquilidade com minhas meninas…

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UM DIA FUMEI UNZINHO. Você já transou fumada, leitorinha? Uau, é uma loucura… Comigo as sensações ficam tão amplificadas que eu todo viro um imenso caleidoscópio sensitivo, o tempo estica… Pois bem, fumei, deitei na cama, pus o noutibuk do ladinho e mandei ver. Foi tão bom, mas tão bom, mas tão bom, e o gozo tão intenso, tão intenso, e viajei pra tão longe, tão longe… que de repente só escutei o barulho: Pooou!!! Abri os olhos e vi que o noutibuk tinha caído no chão. Que merda.

Tantas mulheres lindas e gostosas de uma vezada só foi demais pro meu velho noutibuk de guerra. Dia seguinte mandei o coitado pra oficina, mas não teve jeito de recuperar. Resultado: perdi todas as minhas meninas. Três meses formando meu harém e, de repente, elas se vão numa só gozada. Ô gozada poderosa! Fiquei tão arrasado que não tive forças pra chamá-las de volta, não quis mais saber de Danielas, nem de Julianas, nem de qualquer mulher de pixels. Nem mulher de papel. Nem de plástico. Enchi o saco de punheta. Quer dizer, esvaziei o saco. Caramba, eu precisava de uma mulher de verdade, dessas que todo dia passavam por mim na rua. E não me percebiam. Mas naquela cidade estranha, sem amigos e sem dinheiro, como fazer?

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NO CAPÍTULO ANTERIOR, você lembra, eu tava arrasado por ter perdido meu Harém de Celebridades, tão cuidadosa e criteriosamente montado. E tava sem qualquer ânimo pra montá-lo de novo, apesar de toda a insistência das meninas. Até a Vera Fischer implorou, olhassó, a Verinha, ela que naquele tempo andava quietinha, uma santa. Até a Priscila Fantin, aiai, que nunca posou pelada, prometeu que posaria caso eu reativasse o superfamoso e hiperconcorrido Kelmer Harém de Celebridades.

– Puxa, Rica, tô arrasada… Você seria o único motivo pra eu virar uma peladona.

– Gosto muito de você, Priscila, mas não vai dar.

– Se você não me quiser, vou entrar pro convento!

Não reativei o KHC, eu simplesmente não aguentava mais mulher de pixels. Eu precisava agora é de uma mulher de verdade, de carne e osso, mais carne que osso, claro. Eu precisava dar umazinha, só umazinhazinha, já tava na secura havia 11 meses!

Foi quando apareceu a oportunidade de um trabalho inusitado: escrever um roteiro sobre prostituição na Vila Mimosa. Uau!

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ENTÃO FUI CONTRATADO pra escrever o roteiro de uma revistinha em quadrinhos pra uma ONG que trabalhava com prostitutas na Vila Mimosa, tradicional zona de prostituição do centro do Rio de Janeiro. O roteiro deveria abordar temas como saúde, prevenção, doenças sexualmente transmissíveis e coisital. Topei na hora, tava muito precisando de um dinheirinho na conta, não aguentava mais comer miojo.

Imagine um centro comercial popular, desses que existem nos centros das metrópoles, aquele movimento incessante, os corredores cheios de gente olhando vitrine e comprando, a barulheira, a confusão… Pois a Vila Mimosa é a mesma coisa, sendo que as lojas são uma centena de bares e boates com quartinhos e a mercadoria é sexo. E é 24h!!! Fiquei bobo de ver.

Na Vila Mimosa tem menina de 18 a 70 anos e boa parte delas vive do que a Vila lhes dá. Algumas têm emprego formal (diaristas, vendedoras, secretárias…) e batem ponto lá alguns dias por semana pra completar o orçamento. Uma pequena parte mantém os estudos, ainda bem. Há também as meninas que cursam faculdade. E há também mulheres de nível superior, acredite, cheguei a entrevistar uma professora de geografia e uma enfermeira. E há também muitas mulheres casadas, que são mães, e às vezes os maridos ou maridas sabem de tudo.

Mesmo sendo mais culta ou mais bonita, não importa: se a mulher quer trabalhar na Vila Mimosa, tem que se adequar ao esquema popular e de alta rotatividade. Então o preço médio era (em 2005) R$ 25 por meia hora, sendo que R$ 5 ela repassava ao dono do estabelecimento pelo uso do quartinho. Conheci algumas que faziam uma média de 8 a 10 programas nos dias bons.

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FIZ TRÊS VISITAS à Vila Mimosa pra entrevistar as meninas. Na segunda noite conheci Rose, uma morena de 22 anos, e ela me contou sua história, o noivado desfeito, o desemprego em Goiânia, o filho pra sustentar, a ida pro Rio… Ela era bonita, tinha certa classe e usava vestidinho e sandália, tudo muito mimoso. E tinha uma boa bunda. Na terceira vez conversamos mais e, como agradecimento, presenteei-a com um crédito de R$ 10 no vendedor ambulante de calcinhas, dava pra comprar duas. Ela adorou e me deu um singelo beijo no rosto.

Puta nunca foi minha especialidade, você sabe. Nada contra, mas é que gosto quando a mulher também me deseja, gosto de beijar na boca, servir bebidinha, botar música pra ela, recitar poeminha safado no ouvidinho, rir junto, admirá-la enquanto vou e volto dentro dela… Ou seja, sou um cara romântico mesmo, assumo. Safado, ok, mas romântico. Então meu pau não se entusiasmou com a Vila Mimosa. Porém…

Naquela noite, como já havia fechado todas as entrevistas, sentei numa mesa pra tomar uma e relaxar, curtir o visual das meninas, os modelitos, o delicioso teatro do sexo pago. E convidei Rose pra beber comigo. Ela explicou que tava trabalhando, claro, tinha que fazer dinheiro. Mas como havia me achado um cara legal…

Conversamos descontraidamente por uma hora. Ela se soltou e falou mais sobre sua vida, contou detalhes dos programas, suas preferências, que às vezes, com uns poucos homens, ela sentia prazer mas que, na verdade, pra ser bem sincera, gostava de foder mais com mulher.

Você sabe, né, leitorinha, eu gosto de mulheres bissexuais, várias de minhas namoradas eram bi, sinto uma espécie de simpatia gratuita, uma cumplicidade natural com elas. Foi Rose me falar isso e, pronto, o Jeitoso virou o incrível Hulk dentro de minha calça: Me solta, me soltaaa, me soltaaaaaa!!

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EU TOMAVA UMA CERVEJA na Vila Mimosa, conversando com a morena Rose, e ao ouvi-la contar sobre os programas que fazia e sobre suas transas com mulheres, o Jeitoso, coitado, que havia 11 meses não via uma xaninha na sua frente, simplesmente enlouqueceu e virou o incrível Hulk dentro da minha calça, parecia um bicho destruindo a jaula: Me solta, seu disgramado, eu quero saiiiiirrr!!!

– Cabô o doce…

– Não me atrapalha que eu tô concentrado.

É Tábata, minha barata voadora de estimação. Não pode me ver escrevendo sobre mulheres que fica logo enciumada, fica voando na frente da tela toda histérica. Uma barata com ciúmes, pode uma coisa dessa?

– Cabô o doce e eu tô com fomeeeee…

Hummm, dessa vez não é ciúme. O docim de amendoim acabou mesmo, o potinho que fica aqui do lado do computador tá vazio. Putz, vou ter que sair pra ir na bodega comprar mais, eu e Tábata não passamos sem essas barrinhas deliciosas.

Dá um tempo, leitolinha linda do meu colação. Volto já pra contar o fim da história. Vem, Tábata. Bota o agasalho que tá frio.

E ainda gosta de passear, pode?

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PRONTO, VOLTEI. Tábata, de barriga cheia, ronca quietinha dentro do meu tênis. Eu já disse pra ela não dormir lá, é perigoso, mas ela simplesmente é louca pelo meu chulé. Pode?

Continuando a história. Estávamos numa mesa, eu e Rose, no interior de um daqueles barzinhos com jeito de boate, o bar embaixo e os quartinhos em cima. Com a pressão insuportável do Jeitosão (quando ele tá assim, é pior que você na TPM, acredite), percebi que havia chegado a hora, os onze meses de secura terminariam naquela noite mesmo. Ufa! Ainda bem que o pesadelo não passaria de um ano. Já que não foi com namorada, nem com amiga caridosa, nem com boneca inflável, seria com puta mesmo. Nada contra puta, claro, tenho muito respeito e admiração pela profissão, acho até que já fui puta numa vida passada. Mas ter que pagar por sexo, logo eu, que até outro dia era o terror da Praia de Iracema, quem diria…

Falei pra Rose que queria fazer um programa com ela. Ela, parecendo surpresa, disse que não esperava pois eu dissera que nosso contato seria apenas em função das entrevistas. Você quer mesmo?, ela perguntou.

– Ele quer! Ele quer, sim!!! Nós queremos!!!!! – gritou o Jeitoso, que nem um louco.

– Quem falou isso? – Rose quis saber, olhando ao redor.

– Ahn… Fui eu, sou ventríloquo, sabia? – falei, antes que o de baixo se manifestasse novamente. – Mas vamos ao que interessa, né?

Ventríloquo de bilau, ainda tem essa. Pois bem. Enquanto Rose ia ao balcão e solicitava um quarto à dona do estabelecimento, aproveitei e pedi que Jeitoso tivesse modos, ele tava simplesmente indomável, que coisa, rapaz, essa não foi a educação que eu te dei, viu?

Que nada. Ele continuou lá, arrebentando a jaula.

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ENQUANTO SUBÍAMOS A ESCADINHA em espiral, eu olhava pra bunda de Rose bem à frente dos meus olhos como o centroavante que há vários jogos não marca e que agora vai bater o pênalti e olha pra bola, ela ali, só esperando ele chutar… É um momento mágico. Mesmo que não haja ninguém vendo o jogo, tudo para na hora do pênalti, sabia? Pois saiba, o Universo inteiro para, o tempo para, nada mais importa. Os astrônomos estão errados. Não houve um Big Bang, houve um Big Pênalti.

O ambiente do primeiro andar era de penumbra e havia um corredor com três quartinhos de cada lado. Entramos num deles. Antes, porém, olhei de novo pro fim do corredor pra me certificar de que o que eu via não era nenhuma alucinação. Não, não era. Ali, encostado à parede do fim do corredor, reluzia uma privada, com um cestinho ao lado lotado de papel. Uma privada! Sem porta, sem nada. Apenas uma privada no fim do corredor, que coisa mais surreal. E, pelo odor, que era bem real, alguém tinha comido uma panelada vencida e depositado lá. Argh… Como alguém conseguiu fazer cocô naquele local? E se eu chego e tem um cidadão cagando?

O quartinho era um cubículo de dois metros por um. Tinha um elevado de cimento bem estreito com um colchonete, uns cabides e só. Nem luz tinha. E as paredes eram apenas divisórias que sequer chegavam ao teto, o que nos permitia escutar tudo o que acontecia nos outros cubículos. Hummm. Confesso que nesse momento cogitei desistir…

Mas não, não. Eu já havia ido longe demais pra voltar. Vamos, Rica, respire fundo e vá em frente, garoto!

Respirar fundo. Eu até tentei. Mas aquela panelada estragada lá na privada não deixou. Teria que ficar vinte minutos sem respirar, será que eu conseguiria? Aliás, vinte não, dezoito, o tempo corria.

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TIREI A ROUPA RAPIDINHO. Rose também. Ué, não tem nem um lençolzinho?, perguntei. E ela explicou que não sabia, que não fazia programas naquela casa, fazia na outra em frente. Vesti a roupa novamente e desci a escada. No balcão, pedi um lençol à dona, uma senhora que, pelo jeito, tinha muitos quilômetros de lençóis rodados. Ela perguntou se a menina que tava comigo não trouxera o lençol dela. Não, ela não trouxe, respondi, procurando manter meu famoso equilíbrio zen. A senhora então falou: Não costumo fazer isso mas vou te emprestar o meu, tá, depois me devolve. E me entregou um lençol dobrado, aparentemente limpo.

Subi a escada evitando pensar naquelas palavras “não costumo”, “emprestar”, “me devolve”… Eu só tinha agora dezesseis minutos.

Cobri o colchonete com o lençol emprestado (ai…), tirei a roupa novamente e sentei. Rose sentou ao meu lado. Do quartinho ao lado alguém sussurrava, hum, ahmm, aaahrnmmff…

De repente lembrei do meu primeiro namoro, doze anos, foi meio daquele jeito, os dois sentadinhos lado a lado, quer namorar comigo?, aceito, então tá, amanhã a gente continua. Isso lá é hora de lembrar uma coisa dessa, homem! Afastei a lembrança inoportuna e tentei me concentrar, vamos lá, garoto. Quinze minutos. Comecei a acariciar o corpo de Rose… a cintura… as pernas… beijei seus seios… apalpei sua bunda… Quando olhei pro Jeitoso, não acreditei: ele simplesmente não se manifestava. Ué, cadê o incrível Hulk?

– Não priemos cânico, não priemos cânico – falei pra mim mesmo, fingindo um senso de humor que naquele momento eu tava muito longe de ter. Doze minutos. Pense rápido, garoto, pense rápido. Então perguntei a Rose se ela, bem, se ela poderia me fazer um boquete. Afinal um copo dágua e um boquete não se negam a ninguém, né?

– Sem camisinha não dá.

– Ah, claro, claro…

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PEGUEI A CALÇA e, depois de procurar em todos os bolsos, encontrei uma salvadora camisinha na carteira, ufa! Voltei e sentei ao lado de Rose, que aguardava com uma paciência profissional. Peguei a camisinha, posicionei o Jeitoso e… Quem disse que camisinha desenrola em pau murcho? Aiaiai… Dez minutos. Metade do tempo já tinha ido pelo ralo e eu nem de pau duro tava, que merda. Vamos ao plano B, é o jeito. Então comecei a me masturbar freneticamente, tentando não ligar pra onda de terror que me engolfava mais e mais a cada instante.

– Vamulá, sua cobra caolha, não me abandone logo agora…

Mas o Jeitoso continuou desanimado. Oito minutos. O foda da brochada é esse maldito terror que imediatamente nos envolve logo que sentimos cheiro de brochada no ar, essa imediata sensação de que não, não vamos conseguir. Tsc, tsc, minha amiga leitora, você não saberá nunca o que é isso, só nós sabemos. Mas eu conseguiria, sim, vamulá, pensamento positivo, neurolinguística, método Silva de controle mental, nunca desista de seus sonhos… Putz, mas com aquele fedor horrendo ali do lado tava realmente difícil.

– Rose, será que você não poderia abrir uma exceção e me chupar sem camisinha? Eu tenho essa cara de maluco, mas eu sou limpinho. E por ele só passou menina bacana, viu? Bem, quer dizer…

Não, eu não falei nada disso. Mas quase falei, de tão desesperado. Em vez disso pedi pra ela tocar uma pra mim, quem sabe a mão feminina, mais delicada… Rose, compreensiva, aceitou, ufa. Sete minutos. Agora vai, agora vai.

Fechei os olhos e convoquei todas as ex-namoradas e casos e rolos e rolitos possíveis, por favor, Beatriz, me acode, você também, Silvinha, e você, Karine, seis minutos, e você, Bibi, aquelazinha que a gente deu no meio do laranjal, lembra, vamos, Maristela, Renata, cinco minutos, Tânia, Karine, Karine já foi, não, a outra, Gil, Andréa, Jaque, Beatriz, Beatriz já foi, mas vai de novo, vai de novo, quem mais, Leka, Paulinha, quatro, Larissa, Milene, que Milene?, aquela da garagem do prédio, ah, sim, Valéria, três, Laurita, dois, Bebel, um…

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– VINTE MINUTOS! Vinte minutos!

A voz vinha de algum lugar próximo, uma voz abafada, meio metálica…

– Vinte minutos! Desocupandôôô!!!

Abri os olhos. A voz feminina vinha de um tubo de PVC que saía da parede. Era a dona lá embaixo nos avisando que o tempo acabara. Sistema de som engenhoso…

– Putamerda, seu desgraçado duma figa! Não era você quem tava todo enlouquecido vinte minutos atrás?!! Como que você me faz uma coisa dessa, seu traíra?!!!

Não, eu não falei isso, sou incapaz de gritar com ele, o Jeitosão tem muito crédito comigo, você nem imagina o quanto ele já me salvou. Só pensei, dentro da minha mente extenuada e entristecida. Aliás, se eu fosse ele, também teria sentido a pressão, coitado, o cubículo feio, o lençol emprestado, os vizinhos barulhentos, a privada surreal, a panelada vencida, o tempo acabando… Pô, paudagente também é gente.

Afastei a mão de Rose e levantei. Vesti a roupa e calcei o tênis, enquanto ela se vestia também. Procurei algo pra dizer, na verdade pra não ter que escutar os hummms e ahnrmfs que vinham dos outros cubículos, mas não achei nada que valesse a pena ser dito, dizer o quê? Descemos, devolvi o lençol (quem seria o próximo?), paguei pelo quarto e paguei Rose também. Ela ainda tentou se desculpar, mas eu não deixei e falei que tudo bem, a companhia dela tinha sido muito agradável. E nos despedimos.

Caminhei até a praça e esperei passar algum ônibus, tendo como companhia a plena convicção do ridículo de tudo aquilo. Um dia ainda escreverei sobre isso e darei boas risadas, era o que eu pensava, pra ocupar o pensamento na madrugada fria e solitária. Mas o pensamento sempre escorregava pra um único fato: em três semanas a secura completaria um ano. Um ano.

O ônibus chegou e parou no ponto. O motorista abriu a porta e ele entrou, o centroavante que no último minuto do jogo chuta o big pênalti pra fora.

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DEPOIS DESSA ENTENDI que devia me concentrar no trabalho de vez e esquecer esse negócio de buceta. Até que consegui. Em parte, claro, pois o bicho homem masculino nunca consegue esquecer de verdade do famoso pé-de-barriga rachado. Mas fiz direitim meu trabalho de roteirista e recebi meu dinheirim suado. Suado e broxado.

Aí aconteceu duma leitora me enviar um e-mail dizendo que iria pra um congresso no Rio e queria aproveitar e comprar uns livros meus diretamente comigo, aproveitar e me conhecer pessoalmente, que ela só conhecia pelos meus textos na internet, que por sinal gostava muito e coisital. Claro, claro, será uma honra, eu disse.

Macaco velho, fui logo no Orkut dela pra saber quem era a criatura. Marília o nome dela, era de Santos, solteira (oba), bebia (obaaa) e não fumava (obaaaaa). Era uma balzaca morena, razoavelmente bonita, parecia ser mulher carnuda, mas como as fotos eram todas bem comportadas, não deu pra ver bem as curvas da estrada de Santos.

Pô, Kelmérico, deixa de ser tarado véi seboso! A moça quer apenas comprar uns livros, só isso, é tudo apenas negócio. Você e sua mente suja…

Bem, na verdade eu mesmo não pensei bobagem, juro que pensei apenas na graninha. Quem pensou bobagem foi ele, o Jeitoso, como sempre, esse pedaço cilíndrico de carne pendurado que só pensa naquilo, é um horror. Coitado, mais de um ano sem frequentar periquitas e rabichos, a gente entende, a gente entende.

Então, no dia marcado ela me ligou. Tava num barzinho perto do hotel, não era longe de onde eu morava, será que eu podia ir lá? Claro, claro. Troquei de roupa, botei os livros na mochila e peguei o busão.

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FIZ LOGO AS CONTAS: se ela me comprar dois livros, já vai dar pra fazer o supermercado da semana, ô maravilha, não aguento mais comer miojo com xarope de groselha.

Paralelamente às minhas contas, o Jeitoso também fez as dele: um ano e dois meses sem encarar uma periquita, 14 meses sem molhar o biscoito, 54 semanas sem ensaboar a banana, 378 dias sem acoplar à nave mãe, 9.072 horas sem espetar o cassaco…

Se você, leitorinha querida, tivesse um pingolim aí pendurado entre suas pernocas, você saberia o tanto que esses seres podem ser chatos, insuportavelmente chatos, quando estão desesperados na secura. A gente vai à praia e tem que ficar sentado pra não passar por tarado véi seboso. A gente olha pra uma chave de fenda e o pingolim só vê a fenda, é um horror, um horror.

Pois bem. Peguei o busão e fui encontrar Marília no bar, perto do hotel onde ela tava hospedada, em Copacabana. Ela me acenou de uma mesa na calçada, de frente pro mar, um ótimo lugar. Tava bronzeada, certamente pegara um solzinho. E era mesmo carnuda como nas fotos, do jeito que eu aprecio, humm. Vestia jeans e uma camisa preta com um top preto. Infelizmente não deu pra ver a bunda quando ela levantou pra me cumprimentar com dois beijinhos, mas tudo bem, eu tiraria a dúvida assim que ela fosse ao banheiro. Na mesa havia uma caipirinha pela metade.

Sentei e ela perguntou se eu aceitava uma caipirinha, eu disse que sim. Ela fez sinal pro garçom trazer mais uma e aí danou-se a falar, disse que tinha chegado mais cedo pra ver o pôr do sol, que adorava ir ao Rio de Janeiro, que aquela já era a segunda caipirinha, que adorava caipirinha, que caipirinha era sua perdição, e que era uma honra conhecer pessoalmente o autor dos textos que tanto a faziam rir no computador do trabalho, e falou dos que mais gostava, quis saber de onde eu tirava tanta ideia, como era o processo de criação, e pediu pra ver os livros, que eu tirei da mochila e pus sobre a mesa, e ela olhou todos, achou a capa do Insanidade bonita…

Eu juro, leitorinha, juro que tentei prestar atenção a tudo que ela dizia. Mas não dava. Com aqueles peitos olhando pra mim, simplesmente não dava. Marília tinha peitos grandes e bonitos, até aí tudo bem. O problema é que metade deles tava pra fora do top, sem exagero. Acho que ela errou o número quando comprou. Ou na pressa de fazer a mala, se enganou e botou o top da filha de oito anos. Será que todas as minhas leitoras de Santos andam na rua assim, com os peitos pra fora?

Senti que o Jeitoso começava a se inquietar. Aproveitei que Marília pedia mais uma caipirinha pra ela e dei um tabefe no Jeitoso, plá!, te aquietaí, ô saidinho, não vai me estragar uma venda boa! Mas o perturbado não se aquietou, tive que cruzar a perna pro outro lado pra disfarçar. E diabo dessa mulher que não se levanta pra ir ao banheiro! Ô Marília, minha filha, você não mija não? Não, claro que não perguntei isso, imagina, também não sou tão sem noção assim, né? Que juízo você faz de mim!

Por falar em juízo, vem cá, leitorinha, me diz uma coisa com toda sinceridade… O que uma mulher pretende quando vai encontrar um cara pela primeira vez e deixa metade dos peitos pra fora da roupa, heim? Você, leitorinha, já fez isso? Conhece alguma mulher que faz isso? Você deve saber, afinal você é mulher, você tem peitos, quer dizer, eu suponho que tenha. Não é possível que uma mulher faça isso assim de graça, sem ter noção da confusão que vai causar, principalmente pra sujeitos sensíveis como eu. Putz, vocês são realmente tão cruéis assim, são? Me diga que não, por favor, senão vou perder pra sempre o resto de confiança que eu ainda tinha na raça feminina…

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VOLTANDO À MESA. Lá tava eu confuso, sem saber o que deduzir. Tentava me concentrar na conversa de qualquer maneira, até virei a cadeira e sentei assim meio de lado pra não ter que olhar praquele par de melões morenos caindo do caixote da Ceasa bem na minha frente… e eu há mais de um ano sem comer. O Jeitoso, inclusive, já havia levado mais dois tapas e de nada adiantou, ele também queria ver os peitos da santista, claro.

É, tava difícil. A ideia de que aquela morena fornida podia estar interessada em algo mais que simplesmente comprar meus livros me deixava num estado tal de excitação e dúvidas e fantasias e nervosismo e esperanças e insegurança e expectativas que, de repente, tive medo de perder o controle e, sei lá, fazer uma besteira grande, tipo saltar pra dentro daquele decote, me agarrar nos peitos da morena ali na frente de todo mundo e ficar gritando lá pendurado: Fome zero! Campanha da fraternidade!! Eu podia tá roubando, mas tô aqui pedindo só uma chupadinha!!!

Olhei as horas no celular. Ela imediatamente perguntou se eu tinha pressa, e eu ia dizer que mais ou menos, mas ela me interrompeu e disse que fecharíamos a conta, que ela fazia questão de pagar, e que se eu não me importasse, nós dois iríamos ao hotel dela pegar o dinheiro dos livros, que ela queria comprar todos. Todos? Sim, quero todos, mas o dinheiro tá no meu quarto, vamos lá comigo pegar? Ahn, no seu quarto? Sim, no meu quarto, vamos?

Todos os livros… Vamos comigo no meu quarto… Aquelas palavras esvoaçavam feito borboletas zonzas em minha cabeça. Eu precisava responder algo, e de preferência algo assim que não revelasse meu estado de absoluta debilidade mental.

Subir, quarto, mim Tarzan, iú Jane – foi o que consegui dizer. Acho que foi uma boa resposta, pois ela sorriu e levantou-se, apontando pro hotel na outra quadra.

Fiz rapidamente umas contas pra saber quanto dava o total dos livros. Putz, daria pro supermercado do mês inteiro, que maravilha. E o Jeitoso, claro, fazia as contas dele: decote + caipirinhas + convite pra subir ao quarto = ripa na chulipa!!! Calma, Jeitoso, a lógica das mulheres não é como a sua, eu tentei explicar. Mas é como eu disse antes, leitorinha: quando eles estão assim, não tem jeito que dê jeito, como cantava o Raimundo Soldado. E quando eles estão assim há catorze meses, ou a gente vai logo pra guerra ou então volta pra casa e toca duas seguidas pra poder dormir.

Quando atravessamos a rua, deixei ela sair um pouco antes e finalmente consegui olhar a bunda da moça. Foi bem rápido mas foi o suficiente. A santista era muuuito bem nutrida de glúteos. Aiaiai… Pobre de mim.

Entramos no elevador e ela apertou o 12. Eu havia posto a mochila à frente da cintura, você sabe, o Jeitoso a essa altura parecia uma garrafa de coca-cola fechada depois de dez minutos chacoalhando, tava a um milímetro de explodir. Aí no 2 a porta abriu, era o andar do restaurante, e um senhor entrou. Vestia terno e gravata, parecia que ia ou vinha de um jantar de negócios. Ele olhou pra Marília e, sério, perguntou se ela tava indo pro quarto. Ela respondeu que sim. Depois a porta abriu no 12 e eu e ela saímos. Antes da porta fechar, percebi que o senhor olhava fixamente pra ela, muito sério.

Caminhamos pelo corredor até a porta de seu quarto. Não resisti e perguntei quem era aquele homem do elevador. E ela respondeu: Meu marido. Gelei no mesmo instante. Como assim, marido?, pensei, tentando organizar as ideias. Mas no Orkut o seu estado civil está como solteira, né? – pensei em perguntar. Mas desisti.

Primeiro aqueles peitões em minha cara. Depois me convida pra subir ao seu quarto. E depois me revela que é casada – e o marido tá ali no hotel! Afinal, leitorinha, que tipo de seres são vocês, heim? Por que vocês fazem isso???

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ENTRAMOS NO QUARTO. Marília fechou a porta, acendeu a luz e disse que eu ficasse à vontade pois ela iria ao banheiro. O quarto era bacana, cama de casal, poltrona, abajur, cortina na janela, quadro bonito na parede, frigobar, controle de som e tevê na cama. Aproveitei pra olhar dentro do guarda-roupa: nada de roupas masculinas, que estranho. Será que o marido tava hospedado em outro quarto?

O Jeitoso tava como eu, confuso, mas perguntou se eu tinha levado camisinha, ele sempre pergunta, menino atento, foi bem ensinado. Sim, eu tinha. Aliás, nos últimos tempos camisinha comigo sempre perdia a validade, que horror.

Marília voltou do banheiro e sentou na cama. E pediu pra eu sentar também. Sentei. Ela pediu que eu lhe mostrasse os livros. Abri a mochila, tirei e pus sobre a cama. Enquanto ela selecionava um exemplar de cada, eu tentava não olhar pro decote dela, parecia até que os peitos haviam crescido depois da ida ao banheiro. Marília perguntou quanto era, eu disse que era tanto mas daria um desconto, mas ela disse que não aceitava o desconto, tirou o dinheiro da bolsa e me entregou. Agora eu quero uma dedicatória bem especial, primeiro neste aqui – e me estendeu o primeiro livro.

– Quer tomar algo pra se inspirar? Um uisquinho?

Um uisquinho? Hummm, o que realmente aquela mulher tinha em mente? Bem, seriam seis dedicatórias especiais, eu precisaria de inspiração mesmo. Aceitei. Ela então levantou, abriu o armário e tirou de lá… uma garrafa de Jack Daniel´s! Lacrada. Eu não acreditei quando vi. Acho que ela percebeu minha cara de idiota:

– Eu sabia que você ia gostar…

Putz. Minha bebida predileta. Ela certamente lera em meu site ou no Orkut. Será que ela comprara minha bebida predileta só pra que eu escrevesse umas dedicatórias nos livros dela? Ou havia algo mais? Será que ela havia bolado tudo aquilo, todos aqueles detalhes, o encontro no bar, o decotão assassino, o convite pra subir ao quarto, o Jack Daniel´s, tudo foi pra me seduzir? Ou aquele era o jeito dela mesmo, simpática e espontânea, e a minha mente pérfida, junto com o Jeitoso, claro, é que imaginava besteira? Mas… e o marido? Onde ele estaria naquele momento?

Tirei o lacre e devolvi a garrafa. Ela serviu dois copos, eu disse que queria sem gelo, ela disse que preferia com, pôs três pedras no dela e brindamos. Ao escritor, ela disse. Qual escritor? Você, seu bobo. Ah, claro… eu… a mim, claro… não, a mim e a você, à leitoa, quer dizer, à leitora do escritor.

Putz, leitoa é foda. Será possível que eu não consigo falar nada que preste nesses momentos? Pelo menos uma vez na vida eu bem que poderia fazer como aqueles caras do cinema, que mesmo nas situações mais inesperadas sempre dizem a frase perfeita que a mulher quer ouvir.

Brindamos e bebemos. Só o cheiro do Jack já me leva às nuvens, é sério. E o primeiro gole, hummm, o líquido descendo a garganta feito um fogo gostoso queimando por dentro, a saliva que, ato contínuo, inunda a boca, o calor no estômago… e um acorde de blues soando em algum lugar de minha alma, sempre, sempre toca um blues quando bebo Jack Daniel´s. Ah, leitorinha, beber esse uísque não é apenas beber um ótimo uísque, é beber junto a história do blues, é beber com Muddy, Buddy, Billie, Eric, Jim, Janis e todos os outros.

E tem outra coisa. Jack Daniel´s é um poderoso excitante pra mim. No sentido sexual, inclusive. Não sei bem o porquê, mas é uma bebida que me deixa com tesão, que coisa louca, né? E se Marília sabia que eu gostava tanto do Jack, devia saber também desse complemento. Aiai. Que mulher era aquela?

Sentei-me na poltrona pra escrever as dedicatórias. Marília perguntou se eu não preferia escrever com música e antes que eu pudesse responder, ela ligou o rádio e Tim Maia preencheu o quarto com seu vozeirão, acho que era Azul da Cor do Mar. Achei ótimo. Mas quem disse que consegui escrever alguma coisa? Travei total, não consegui me concentrar. Aquela situação, eu e Marília naquele quarto, o lance do marido dela…

– Acho que preciso de outra dose… – pedi, após entornar o resto da primeira. E precisava mesmo, juro, meu coração tava aos pulos. Ah, se eu pudesse decifrar o que ela tencionava com tudo aquilo… Ou ela não queria nada, queria apenas brincar comigo e na verdade tava se deliciando com meu sofrimento? Gente, isso não se faz com o cidadão trabalhador. O que vocês ganham com isso, meninas, heim? Será uma espécie de necessidade atávica de vingança sobre os homens? Putz, logo comigo que defendo tanto vocês, que sacanagem.

Marília pegou a garrafa e enquanto me servia novamente, comentou que gostava muito daquela música. Então tomei coragem pra fazer a pergunta.

– Marília… ahn… você… aquele senhor…

– Depois você escreve – ela disse, me interrompendo e puxando delicadamente a caneta da minha mão. – Vamos dançar?

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DANÇAR?, EU PERGUNTEI, talvez não tivesse ouvido muito bem. Sim, dançar, esta música é tão linda, ela respondeu, como se convidar pra dançar um escritor que tá no seu quarto de hotel autografando livros fosse assim a coisa mais normal, corriqueira e lógica do mundo.

Levantei da poltrona e no instante seguinte lá estávamos nós dois dançando ao som de Tim Maia, girando devagarinho no meio do quarto, coladinhos, rosto com rosto, o perfume dela… e os peitos a pressionar meu tórax, aqueles dois peitões impossíveis de não sentir… eu afastava o rosto um pouquinho e podia vê-los logo abaixo do equador do meu queixo, os dois montes da perdição, aquele abismo entre eles sussurrando meu nome, Kelmeeeeeeer… Kelmeeeeeeer…, sim, não sei se você sabe, leitorinha, mas há peitos que sussurram nossos nomes, é um mistério milenar, os Peitos Sussurrantes, ninguém explica. Poizé, eles sussurram, e aí lá estamos nós, Ulisses eternamente a resistir ao chamado das sereias… ou a se jogar de vez ao mar.

Pois Ulisses não resistiu. Livrou-se das cordas que o mantinham preso ao mastro e, tchibum!, joguei-me ao mar. Não deu pra resistir, seo delegado, me prenda, me jogue na masmorra, me leve à guilhotina, mas a certas coisas o homem peniano masculino simplesmente não consegue resistir, o senhor sabe, né? Não deu pra resistir, leitorinha: no instante seguinte meu rosto se encontrava entre os peitos de minha leitora, as mãos a arrancar o top, aquele par de peitos impossíveis saltando fora e minha boca absolutamente descontrolada, sem conseguir se decidir entre um e outro, entre o outro e o um, os dois ao mesmo tempo, os três se três houvesse.

Foi a poltrona que amparou nossa queda. Caímos sentados, eu na poltrona, Marília em meu colo, de frente pra mim, os peitos em minha boca. Eu todo era um par de mãos enlouquecidas e uma boca descontrolada, um andarilho esfomeado diante do par de mangas maduras e suculentas, eu era o Tesão em esTado bruTo. E Marília em meu colo, forçando minha cabeça contra suas mangas, o sumo delas já escorrendo da minha boca, eu gemendo, ela assanhando meu cabelo, cravando as unhas no couro cabeludo, ela também rendida ao descontrole do desejo urgente.

Então era isso mesmo que ela queria…, pensei, num raro momento em que meu pensamento perdido conseguiu unir duas ideias. Tá vendo, eu não disse, eu não disse?, mandou de lá o Jeitoso, a voz abafada pelo peso do corpo de Marília a esfregar-se sobre ele. É curioso… Paudagente só pensa em sexo mas, vendo as coisas do ângulo dele, o ângulo de baixo, tudo são bundas e bucetas, tocas pra entrar, reentrâncias a preencher. Não dá pra culpá-los por pensarem sempre assim. Ok, Jeitosão, você tava certo, nunca mais discutirei com você.

Então Marília levantou-se, deixando meu colo. Minhas mãos pareciam pregadas com velcro nos peitos dela, tão difícil foi soltá-los. De pé à minha frente, ela arrancou o que sobrava do top e libertou de vez seus peitos, libertas quae sera chupem. Não sei se você sabe, leitorinha, mas todos os peitos anseiam por serem libertados, e é por isso, arrááá!, é por isso que eles sussurram nossos nomes: eles clamam por seus libertadores. Os Peitos Sussurrantes, mistério resolvido.

Marília tirou o jeans, a calcinha e deitou-se na cama, todinha nua, e sussurrou: Vem, meu escritor tarado. Escritor tarado só podia ser eu, não havia mais nenhum escritor naquele quarto. Levantei da poltrona e cinco segundos depois já havia atirado longe roupa, meia e tênis e tava agora ao lado dela na cama. Foi nesse exato instante, admirando seu corpo nu ao meu lado, que o descontrole e a impaciência, de repente, cederam lugar a outra sensação, a velha sensação que me acomete quando chega o momento da união sexual e que me faz ser possuído por um misto de encantamento e reverência à Mulher, aquela súbita percepção do Sagrado que a figura feminina simboliza, a certeza de que outra vez serei instrumento da vontade da Deusa na reedição do casamento sagrado do feminino com o masculino.

Parece estranho falar disso agora, eu sei, mas é que o sexo pra mim é algo meio místico. E a mulher que tá comigo nunca é apenas uma mulher: ela é a Filha da Deusa. E por isso ela é também a própria Deusa. Que me escolheu, entre todos, pra ser seu cavaleiro no sagrado ritual da fertilidade e…

– Porra! Deixa de viadagem e me põe logo lá dentro! – berrou o Jeitoso, me interrompendo. O danado tava lá todo empertigado, parecia uma serpente naja pronta pro bote.

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DEITEI MARÍLIA NA CAMA e por algum tempo admirei emocionado seu corpo nu, o moreno da pele contrastando com o branco do lençol, as marquinhas do biquíni, tudo formando um quadro mais bonito do que qualquer pintor poderia pintar. Putz, como as mulheres ficam lindas neste momento em que todo o seu corpo é um chamado silencioso e ardente para…

– Que chamado silencioso o quê! – protestou o Jeitoso. – Me bota logo lá dentro senão vou te denunciar à Sociedade Protetora dos Animais!

Ignorei o escândalo do meu pinto. Aquele era um momento especialíssimo e não seria um pinto falante e mal-educado que o estragaria. Depois de um ano e dois meses, eu estaria novamente dentro de uma mulher, que coisa! Tanto tempo… A secura chegara ao fim, finalmente.

Delicadamente pousei um beijo sobre o pé daquela que naquele momento era a representante da Deusa, meu gesto simbolizando minha rendição e reverência à beleza e ao mistério daquela mulher.

– Não tem mistério nenhum, idiota! Tudo que tu tem de fazer é me…

Deixei o menino maluquinho falando sozinho e continuei o ritual. E minha língua começou sua bela jornada pelo corpo de Marília, avançando lentamente pela trilha sinuosa de suas pernas, deixando pra trás um rastro de saliva agradecida. Ela passou pelo joelho, pelas coxas, demorou-se um pouco no interior delas e finalmente chegou a seu destino, feito o andarilho sedento que alcança o oásis onde saciará sua sede na fonte da água mais pura e saborosa.

Toc, toc, toc!!!

Não, não foi minha língua que bateu na porta do oásis. Até porque oásis não tem porta, né? Foi alguém que bateu na porta do quarto. Putamerda, o marido!, pensaram as minhas células, todas arrepiadas. E elas mesmas responderam, resignadas: Agora fudeu.

Como que eu pude esquecer do marido da outra, como?!

O susto foi horrível. E o que aconteceu depois foi bem rápido, nem sei como aconteceu. Só sei que no segundo seguinte após as batidas na porta eu me encontrava atrás da poltrona, todo agachadinho, parecia um embrulho ridículo. Tenho certeza que não saltei da cama direto pra lá, nunca fui ginasta olímpico. Acho que o susto foi tão grande que meu corpo se desmaterializou e, pufff, reapareceu atrás da poltrona, só isso explica a velocidade.

Marília levantou calmamente, vestiu um roupão, abriu a porta e o maridão entrou, bufando de raiva, o próprio incrível Hulk. Olhou no armário, não viu ninguém lá dentro. Foi no banheiro e também não viu ninguém. Então voltou e empurrou a poltrona com o pé. E eu apareci lá atrás, nu e agachado, morto de lindo.

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– TU QUERIA COMER MINHA MULHER, ô cabeludo?

– Quem, eu?

– Com esse pinto murcho aí?

– Quem, ele?

– Minha mulher me falou muito bem de ti.

– Quem, ela?

– Tão bem que eu me apaixonei.

Ih, agora fudeu…

Não, isso não rolou. Rolou apenas em minha mente doentia de roteirista de sitcom enquanto eu me agachava atrás da poltrona que nem um guaxinim com dor de barriga e esperava meu triste fim. Roteirista tem esse vício, tá sempre retocando as cenas da vida.

Mas já que falamos de piada, tem aquela clássica em que o marido chega em casa e o amante da mulher se esconde atrás do aparelho de som, mas deixa o saco aparecendo, e aí o marido nota algo estranho no aparelho e a mulher diz que é porque mandou trocar o botão do volume, que agora o botão é penduradinho, novo dezáine, aí o marido quer testar e bota um disco da Maria Bethânia e aperta o saco do coitado achando que é o botão do volume, e o cara geme baixinho, segurando o grito, aí o marido diz que não tá ouvindo a música e, crau!, gira o saco do cara todinho, e aí o cara não aguenta e solta o berro: Aaaaaaaaaiiiiiiiiiiiii!!!!!!!!! E continua imediatamente, cantando: Minha Mãe, minha Mãe Menininhaaaaaaa…

– Já vai – gritou Marília, enquanto vestia calmamente um roupão. Ela fez sinal pro guaxinim com dor de barriga continuar atrás da poltrona e se dirigiu à porta. O Jeitoso, coitado, tava mais apavorado que eu – cinco segundos antes ele era o fodão do pedaço e agora o infeliz tava tão encolhido que parecia que tinha entrado dentro do saco. O pinto que virou tatu. Ah, não ria, leitorinha, não seja cruel. Paudagente também é gente.

Escutei a porta abrir e percebi que Marília falava alguma coisa que não compreendi, pois o som do rádio continuava ligado. Depois escutei som de passos entrando no quarto, passos de homem. Agachei-me ainda mais, a testa colada no chão, e preparei-me pra morrer naquela posição ridícula, de bunda pra cima. Tão novo, quarenta anos, na flor da idade. Tinha um futuro brilhante pela frente, venderia livro que nem Paulo Coelho (mas recusaria a Academia de Letras), casaria com a Priscila Fantin num ritual xamânico à beira-mar, tomaria demorados banhos de Jack Daniel´s em seu ofurô…

Pô, agora falando sério: tanta gente bacana aí pra morrer e morro eu! Por que não o Maluf ou o casal Garotinho?

Dizem que nesses momentos o filme da vida da gente passa diante dos olhos, né? Pra mim não passou filme nenhum. Tudo que vi, por baixo da poltrona, foi um par de sapatos pretos masculinos ao lado da cama. Depois eles deram meia-volta e saíram de meu campo de visão. E escutei a porta do quarto fechar.

– Pode sair daí, gatinho.

A voz de Marília, me chamando.

– Não, obrigado, tá bom aqui, miaaau…

Ela me puxou pelo braço e me mostrou a bandeja sobre a cama.

– Eu tinha pedido um lanchinho pra gente e esqueci, a recepção mandou deixar. Tá com fome?

Caramba, então não era o marido, era o garçom. Ufa! Bem, eu não tava com fome mas talvez fosse melhor mesmo dar um tempo, forrar o estômago. Aproveitar e perguntar sobre o marido, vai que da próxima vez é ele quem bate na porta. Meu coração ainda ribombava no peito, afinal segundos antes eu tava a centímetros da morte e agora tava diante de um sanduíche árabe delicioso e de uma bela morena peituda vestida num robe branco me servindo uma nova dose de Jack Daniel´s. Diadorim tem razão, viver é muito arriscoso.

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O LANCHE TAVA DELICIOSO, deu pra forrar bem o estômago, e o bendito Jack me fez relaxar. Mas só relaxei verdadeiramente depois que Marília me explicou tudo: ela e o marido viviam um casamento não muito ortodoxo, separados mas ainda morando na mesma casa, e como eram sócios num negócio, às vezes viajavam juntos e geralmente ficavam no mesmo hotel, em quartos separados. Eu não deveria temer nada, ela garantiu.

Putz. Gente civilizada é otre chose.

Depois ela serviu mais Jack pra gente e riu muito, lembrando do meu jeito apavorado atrás da poltrona. Ri também, né, já dava pra rir da desgraça. Aproveitei e contei a tal da piada do marido que chega em casa e o amante se disfarça de aparelho de som, o que provocou uma crise de risos em Marília de tal forma que ela não conseguia mais parar de rir, e eu ria da risada dela, e durante um tempão ficamos nós dois lá na cama, nus e abraçados, gargalhando que nem dois dementes, rindo até chegar às lagrimas. Ai, rir é muito bom, e rir a dois, assim, é um prazer quase sexual. Sexo risal.

Enquanto aos poucos se esgotava o estoque de riso e nossos corpos se acalmavam, a boca de Marília começou a deslizar por meu peito, pela barriga, o umbigo… até chegar ao Jeitoso, já pronto pro serviço. Ela o envolveu delicadamente com a mão, sentindo-o pulsar, e falou baixinho:

– Ai, Jesus, que pau fantástico…

– Você diz isso pra todos…

– Eu juro.

– Ele é só três centímetros acima da média nacional, já pesquisei na Wikipédia.

Fiquei olhando a outra lá toda meiga em sua paixão à primeira vista pelo meu pau. Tem mulher que se apaixona pelo paudagente, é tão mimoso isso, dá vontade de tirar uma foto dela abraçada com ele pra levar sempre na carteira. Mas cá pra nós, leitorinha, o Jeitoso não tem nada demais. É até meio torto pro lado direito e tem uma marquinha que os fetiches sadomasoquistas de uma doida um dia me deixaram. Em concurso de beleza de pau, que nem aquele da piada do corcunda, ele levaria uma chuva de ovo.

Mas reconheço no parceiro uma grande virtude: ele é estrategicamente anatômico, vai enlarguecendo assim discretamente, como se pra permitir que o orifício se acostume com o volume dele, e assim, quando você se dá conta, pufff, El Ludibriador já tá todo serelepe lá dentro. É um chato convencido insuportável – mas é realmente jeitoso, admito.

Poizentão. O Jeitosão teve que ralar pra caramba nessa noite. Um ano sem sexo, você sabe o que é isso? A sorte é que Marília é do tipo que gosta muito do leriado, senão ela não teria aguentado as cinco horas, sim, cinco horas, de nheconheco. Mas aguentou com louvor toda a sequência de boquete, meia-nove, frango-assado, torninho frontal, torninho costal, diladinho, poltrona, janela, pia do banheiro, cahorrinho, segura-peão, carrossel da Xuxa, garupa de rã e a clássica posição chinesa ventania no bambuzal. Uau! A morena teve três, quatro, cinco, seis orgasmos e eu sempre retendo o gozo, deixando pro final.

Que maravilha quando uma mulher se entrega ao sexo livremente, sem pudores ou medo de ser considerada isso ou aquilo. Sim, eu sei que isso também depende de quem tá com ela, do quanto o outro ou a outra a deixa à vontade. Mas há mulheres que naturalmente gostam do sexo pelo sexo em si, como os homens, e se isso pode assustar alguns deles, a mim me fascina e encanta. Juro que não temo as mulheres livres.

Quando avisei que iria gozar, ela parou e sugeriu uma nova posição. E assim fizemos. Sentei-me bem na beirinha da cama com as pernas abertas, pra fora da cama, e deitei as costas. Marília ajoelhou-se no chão, entre minhas pernas, e envolveu meu pau com seus peitões generosos. Uma espanhola!, pensei, adorando a ideia de ser masturbado pelos peitos dela.

Hummm… Foi a melhor espanhola que já recebi nas últimas sete encarnações, inclusive a que vivi na Andaluzia. E o mais louco é que enquanto subia e descia seus peitos em torno do meu pau, ela ainda o chupava! Perfeito, leitorinha, simplesmente perfeito, só você tendo um pau pra saber como é.

Tive um orgasmo inesquecível, longo, intenso e emocionante. Urrei e me sacudi que nem um bicho. E ejaculei tanto que Marília se atrapalhou e não conseguiu engolir tudo. Quando eu enfim ressuscitei, lambi-lhe nos peitos e no pescoço as sobras fugitivas do meu gozo e as dividi com ela em sua boca. E logo depois apagamos os dois, bêbados, exaustos e em paz, abraçados sobre a cama em desalinho, roupas e lençóis e travesseiros e livros e pratos e copos e talheres pra todo lado, o hotel fora bombardeado, tudo destruído, Dresden após a bomba Orgasmoton.

DESPERTEI SEI LÁ QUE HORAS, ainda bêbado e de pau duro, e quando vi Marília nua ao meu lado, dormindo de bunda pra cima, não resisti. Como é que resiste? Ai, Marilinha.

Abri-lhe as nádegas e admirei seu cu retraído-depilado, tom castanho-médio, um tipo de boa cotação no mercado, bom que se diga. E caí de língua. Aos poucos, sem pressa, ela começou a reagir às minhas lambidas. Passei gel no dedo e brinquei com seu cu, e aí sim ela começou a gemer. Depois dois dedos, depois três… e o resto foi com o jeitosão ludibriador de reentrâncias traseiras. E foi assim que ela acordou, sua bunda preenchida de mim, docemente estuprada em sonho real, Marilinha gemendo as palavras mágicas não para e mete mais, ô coisa boa encontrar uma mulher que tem prazer pela bunda. E foi assim, meio dormindo, meio acordada, que Marília gozou mais uma vez, agora junto comigo, coisa boa gozar junto, dois cometas cujas trajetórias se cruzam no infinito espaço sideral e explodem numa chama orgástica que por instantes aquece a eterna noite fria do Universo.

Quando despertei novamente, já amanhecia lá fora. Vesti-me rápido e peguei a mochila. A morena adormecida de Santos continuava lá, curtindo o céu dos guerreiros sexuais, sem imaginar o alcance do maravilhoso presente que ela me dera aquela noite e o tanto que eu lhe seria grato por todos os seculum seculorum. Deixei um beijo agradecido em seu generoso derrière e saí, me deliciando por saber que tava ali dentro o registro do meu prazer, hummm, diliça.

Minutos depois, enquanto esperava o ônibus na Nossa Senhora de Copacabana, não pude deixar de atentar pro significado de estar ali, numa rua com aquele nome. A Deusa Eterna, reencarnada em trajes cristãos, ganhara nome de avenida. Bela homenagem, sem dúvida. Mas melhor homenagem lhe fazem sempre os amantes, ofertando-lhes a união de seus corpos e a essência sagrada de seus gozos transcendentais, reverenciando a Deusa do Amor e se fazendo instrumentos pra mais uma reedição do sagrado casamento alquímico entre o Feminino e o Masculino. Pro bem do mundo. Pro bem da vida.

Se o chato do Jeitoso estivesse em condições, ele já estaria reclamando desse papo místico. Mas ele agora era um morto-vivo, tadinho, dormiria o dia todo, só acordando pra mijar. Ele merece. Paudagente também é gente.

O ônibus chegou, hora de ir pra casa. A secura chegara ao fim, que alívio. Um ano e dois meses, que coisa… Só pode ter sido praga de ex, eu, heim!

Durante o trajeto a paisagem que eu via eram as cenas dessa história ridícula, todas as tentativas frustradas de sexo, tantas trapalhadas. Quem sabe um dia eu não escreveria essa história? Mas quem leria algo tão bizarro, punhetas, brochadas, um cara que conversa com seu pau?

– Tem gosto pra tudo, abestado – rosnou o outro lá embaixo, voltando, por alguns segundos, de sua dormência.

E outra vez o menino maluquinho tinha razão, precisei admitir.

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FIM

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Ricardo Kelmer 1998 – blogdokelmer.com

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A SECURA ACABOU EM MÚSICA
A banda Bardoefada compôs uma música inspirada no conto Um Ano na Seca. Veja o vídeo:

Bardoefada é uma banda que canta o tesão e a liberdade de amar.
Site da banda: bardoefada.com.br

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SÉRIES ERÓTICAS DESTE BLOG

As aventuras de Diametral e Ninfa Jessi – A mais bela e safada história de amor jamais contada

As taras de Lara – Desde pequena que Lara só pensa naquilo. E ai do homem que não a satisfaz

Um ano na seca – O que pode acontecer a um homem após doze meses sem sexo?

O último homem do mundo – O sonho de Agenor é que todas as mulheres do mundo o desejem. Para isso ele está disposto a fazer um pacto com o diabo. Mas há um velho ditado que diz: cuidado com o que deseja pois você pode conseguir…

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LEIA NESTE BLOG

Por trás do sexo anal – Há algo de divinamente demoníaco no sexo anal que, literalmente, a-lu-ci-na algumas mulheres

Arquivos Secretos – Sexo selvagem no convento, safadezas com chantilly, ensaio peladão, morenas turbinadas, minha experiência omossexual… Feche a porta do quarto e acesse.

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Comentarios01COMENTÁRIOS
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01- Sobre seu ano de abstinência uma curiosidade: vc contou o tempo? como foi o primeiro encontro? Suely, Brasília-DF – 2008

02- Meu desejo de ruiva é que você termine a historinha de 1 ano de seca. kkk Sucesso, Kelmer. Rafaela, Campina Grande-PB – 2008

03- Fiquei curiosa pra saber como vc foi levando a secura depois do 6º mês. Conta, vai! Ah, não esquece de contar também como foi que vc saiu desse 1 ano de secura! A pobrezinha sobreviveu? (brincadeirinha…) Jéssica (de onde mesmo?)- 2008

04- muito me interessou a sua experiência de um aninho sem nada..pobrezinho.. pq eu, nossaaaa, meu namo já sabe quando fico irritada.. das duas uma ou é tpm ou é falta…conte aí mais de como vc saiu dessa, todas nós mujeres queremos saber!!! besos 😉 GG, Fortaleza-CE – 2008

05-Você tá é enrolando, não quer continuar sua saga para nós, sensíveis mulheres que somos, nos deleitarmos com sua seca quase nordestina. Continue, continue… Rafaela, Campina Grande-PB – 2008

06- Como é que pode? Fico uma semana esperando ansiosamente você postar e no final das contas você não termina a história..Isso não é coisa que se faça com suas pobres leitoras! hehe Ow Kelmer, continuuaaaa, por favor. Flávia, Fortaleza-CE – 2008

07- Dessa vez, vc se superou! Sua narrativa tá tão engraçada que eu fiquei rindo sozinha feito doida, na frente do micro. Mas esse suspense todo já tá me dando ansiedade.  Conta logo o resto da saga, vaaaiii!!! Jessica (de onde mesmo?) – 2008

08- Oi meu querido…rapaz as meninas estão com toda razão..(vc faz muuuuuito suspense…)conta logooooo…vc não imagina o quanto nos deliciamos lendo suas histórias, reais ou não, e outra é tudo de bom vermos a opnião sincera de um homem, saber o que vcs pensam é tudo. Ahhh, quanto as risadas da Jéssica ela não está só (EU TAMBÉM.. HEHEHEH). PIOR, QUE SEMPRE LEIO NO TRABALHO… KKKKKK BJOOOOO. GG, Fortaleza-CE – 2008

09- Continua a história do 1 ano na seca q está ótima, tô imaginando quem seja a Sonja. Daniela, São Paulo-SP – 2008

10- Meu desejo pra 2008: saber o final da saga kelmérica de 1 ano na seca. Não faça assim, clemência!!! Prometo lhe indicar novos leitores. Mas, por favor, continue a saga da estiagem! Jessica – 2008

11- Ei, isso não vale! Ah, seu chantagista safado !!! Tô aqui, tremendo feito viciada (que de fato estou) nas tuas histórias, e vc me vem com essa, não vai terminar de contar sobre a tua abstinência… Isso não se faz, viu?! Hunf! Cristie – 2008

12- entresafra é fogo…continua e estoria meu escritor-favorito, vai. Christina, Rio de Janeiro-RJ – 2008

13- É. Eu não fazia idéia mesmo, fico sempre lhe subestimando e nunca acho que você vai se superar na continuação da saga de secura de 1 ano. E deve ser por isso mesmo que tomarei um remedinho pra cólicas daqui a pouquinho. Vai matar outro de rir, Kelmer, aliás, Ricardinho! (falei isso com a boca aberta e olhos arregalados, enternecidos…kkk) Rafaela, Campina Grande-PB – 2008

14- Vc sabe tudo… e a Sonja também… INCRIVEL…”catártico” Ô Ricardooooo Termina essa estória pelamordeDeus…rsrsr… Cristina Rodrigues, Santos-SP – 2008

15- hum.. já ficou assanhado lembrando da sonja e seu orifício dilicioso.. arráaaa Sou uma das leitoras que como foi mesmo que você disse .. ah.. as “bem comidas”.. meu marido faz a parte dele direitinho!! aiai Mas é claro que as vezes, ele está lá no seu dia de trabalho árduo e eu aqui em casa a pensar na vida…. ai já viu né.. não sei por causa de quê..??? começa a vim um fogo e olho para o relógio e penso: mãos pra que te quero.. e ai meu filho vai eu e o travesseiro, rolando de uma lado para outro… quer os detalhes né safado.. eu não.. só se você me explicar primeiro essa tal posição da ventania no bambuzal.. Pandora, Goiânia-GO – 2008

16- Hahahahaha! Diz que homem na secura é um horror…mulher mal comida então, sem comentários. O mau humor chega a ser quase palpável, ninguém merece! Ainda bem que meu namorado me mantem assim, muito, muito bem humorada. Lu Robles, São Paulo-SP – 2008

17- Fui seca na sua saga e vc não escreveu quase nada. rsrsrsrs Tá querendo matar a gente de curiosidade? Gosto dos seus textos com uma pitada de pimenta. rsrsrsrs. Alessandra Pereira, Brasília-DF – 2008

18- caramba, vc tem que continuar com os posts de ‘um ano na seca’, e quando acabar continue em ‘dois anos na seca’ e assim sucessivamente 😀 hahaha. Vamille – 2008

19- “Um Ano na Seca” me faz entender muuuiiito sobre o universo masculino. Rosa, Fortaleza-CE – 2008

20- Quando eu penso “Kelmer já esgotou toda inspiração que tinha, desse Um Ano de Seca não vai sair mais nada, já deu o que tinha que dar!”, lá vem tu com essa história de fazer um roteiro sobre prostituição na Vila Mimosa. Tá, já die meu braço a torcer. Agora continue, seu cabra. Rafaela, Campina Grande-PB – 2008

21- Desconfio que você tem um lado SADO… E olha que disso eu entendo, rsrsrs. Conte logo o final dessa história com a Rose. Mesmo usando minha imaginação, não é a mesma coisa. bjs. Clara Yasmin, Rio de Janeiro-RJ – 2008

22- Ai, Kelmer, e a Rose, hein? Marréóviu, marréclaro que eu quero ver esse final. Foi ou não? Beijos, querido! Cada vez mais fã, seu mimoso! Rosa, Fortaleza-CE – 2008

23- Como pode alguém fazer de uma situação ruím ,uma coisa engraçada,só vc mesmo,olha eu parecia uma louca rindo aqui no meu trabalho,kkkk,momentos taum engraçados,e que é dificíl naum te encaixar na foto,pq minha mente é fértil demais,por outro lado vc acaba passando para suas leitorinhas o homem romantico,carismatico e sensual que vc é,e fora outras cositas massss…..rsrsrs,deixa pra lá,dá vontade de ler td de novo.bjus e abraços. Lucia Lima, Fortaleza-CE – dez2010

24- Muito bem escrito e divertido. Adorei tudo, da Sonja à Marília. bjo. Renata Regina, São Paulo-SP – fev2011

25- Hoje li ‘um ano na seca’ e como me diverti! Espero me divertir mais sendo uma leitorinha VIP! Bjo! Gloria Guimarães, Fortaleza-CE – mar2011

26- Menino, hoje, quer dizer, ontem, tirei pra ler teu blog, e fui me envolvendo de um jeito que não consegi fazer outra coisa… São exatamente 3h25 e desde as 23h to aqui morrendo de rir das tuas loucuras, principalmente do Um ano na seca. Tu parece q tá dentro da cabeça da gente, ou que instalou um programa q percebe todas as nossas movimentações. Adorei a historia, voltarei sempre que sentir saudades de vc 😉 Grande beijo meu caro, obrigada por mais esse prazer literário… Nadine Araújo, Fortaleza-CE – out2011

27- A minha irmão está lendo o seu livro “Um ano na seca” e está adorando! Bjos saudosos! Juliana Melo, Fortaleza-CE – fev2013

27- Finalmente consegui terminar de ler. Chorei do começo ao fim (DE TANTO RIR!!!). O que é isso, meu filho? Eu tava ficando com tanta pena de você que tava quase reescrevendo o final da história pra te dar uma força. Mas confesso, foi bastante enriquecedor, aprendi sobre termos e objetos que não conhecia, kkkkkkkkkk. Só você mesmo pra escrever tanta maluquice! Adorei! Maria do Carmo Antunes, São Paulo-SP – jan2012

28- ah eu adoreiiiiiiiiii……=D. Laís, São Paulo-SP – jan2012

29- recomendo o livro UM ANO NA SECA..melhor e mais divetido dia dos namorados 🙂 Flávia Lemos, São Paulo-SP – jun2012

30- Olá Ricardo, Td bom?? Eu quero te agradecer pelo livro “Um ano na seca”, achei muito legal, chorei de rir…adorei! Mto obrigada mesmo! Logo mais quero adquirir o Vocês terráqueas [=D] Abraços. Tatiane Beltramini, Taboão da Serra-SP – ago2012

31- E aí meu xará? Antes de dormir li o “Um ano na seca” em um tapa e ri litros. Acabei que acordei inspiradão e escrevi uma música nova totalmente baseada no teu conto. Assim que eu gravar a música nova eu te mando. Abraço! Bardo, Santo Ângelo-RS – mar2013

32- Cara to lendo Um ano na seca! Rindo litros… Comecei a ler no ônibus e parei… o povo já tava curioso pra saber do que se tratava! KKKK. Kelmer, seus escritos sempre me divertindo muito! Jéssica Sousa, Fortaleza-CE – mar2013

33- Ricardo Kelmer, devorei o seu “Um ano na seca”! Ao mesmo tempo em que solidarizava pela situação de secura, bolava de rir com as situações descritas. Bom era eu lendo isso no trabalho, me abrindo de rir e o chefe olhando com cara de “valha, ela tá doida”! Leitura leve, satisfatória e bem, bem, gostosa, como a vida deve ser. 😀 Kaliza Holanda, Fortaleza-CE – mar2013

34- Só mesmo uma leitura pra gente abstrair todo esse trânsito infernal. Os delírios do Kelmer salvando a noite. 😉 Li quase de um fôlego só! Foi ótimo! Olha, não sei pra você, mas pra mim, foi maravilhoso. hahahahha. Jessika Thaís, Fortaleza-CE – mai2013

35- Infelizmente dei altas risadas da sua desgraça de um ano na seca hahahaha. Vika Mancini, Leme-SP – dez2014

15 Responses to Um ano na seca

  1. Chris disse:

    Simplesmente sensacional, magistralmente contada, a estória mais hilária que vc já escreveu.

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  2. márcia disse:

    Ufaaaaaaaa ,,, foi difícil chegar até o fim dessa saga , mas como ” …de tudo ao meu amor serei atenta …” agora vou deitar e gozar !!! rsssss

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  3. Chris disse:

    Só tu mermo…

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  4. Glória disse:

    Noooossa… Final de tarde com essa história deveras instigante foi bom hein! Adorei e ri um monte. Bjo.

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  5. willian_safadao disse:

    ATENÇÃO…garotas sapecas já estou a meia hora sem nada e parece um ano rsrsrs quer vim entao veiam tem pra todas…

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  6. Hislane gama disse:

    gente eu rir di mais com isso deixei de durmir amanha tenho uma prova mais quis terminar de ler muito engracadooo estou escrevendo esse comentario ainda rindo muito adorei conquisto uma mais nova fã!

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  7. SA disse:

    Ricardo, dei boas risadas com sua história, vc tratou de uma forma muito cômica, um assunto tão sério… eu diria até trágico, afinal de contas eu sei muito bem, por experiência própria, o que pode acontecer com uma mulher após um ano sem sexo….OOOhhhhh sofrimento infernal!!! Mas, como a “divina providência” opera milagres sem distinção, e convenhamos, safadinhos e safadinhas em períodos de estiagem, são filhos de Deus, então tudo sempre acaba bem. Comigo foi assim também! Agora a safadinha satisfeita aqui está querendo mais…

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